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Capítulo 2- Lados opostos

Olá, pessoal. Segundo capítulo de minha nova história. Espero que o apreciem e me deixem seus comentários de suas impressões dessa minha tão recente aventura. Beijos e obrigada por ler.

O olhar de Gilbert se estendeu até a janela da nova hóspede, se perguntando se a veria naquela manhã. Ainda era muito cedo, mas sua vida militar o preparara para estar de pé antes do sol nascer, e naquele dia como todos os outros desde que se tornara um soldado, a disposição de seu país, ele não fugira à regra, e como um bom combatente disposto e alerta, ele já estava vestido e alimentado às cinco da manhã.

Como seu turno na Cavalaria só se iniciaria no período da tarde, ele cavalgara até hospedagem de Mary e Bash para ajudar o amigo com sua provisão de madeira, pois o inverno estava a caminho, e nevava constantemente naquela região, o que impossibilitava cortar lenha ou tentar conseguir alimentos em qualquer horta, ou plantação. 

Por conta disso, a estocagem de tais itens começava meses antes para que ninguém perecesse nos dias mais rigorosos de frio intenso sem calor ou comida suficiente.

Gilbert costumava fazer isso sempre, pois Bash era um amigo muito antigo, e o ajudara inúmeras vezes no passado, principalmente quando perdera o pai, de quem o marido de Mary fora amigo também. Desta forma, a relação que tinham ia além da amizade, quase como se pertencessem à mesma família, por assim dizer.

John Blythe, o pai de Gilbert, também fora militar e acabara influenciando o filho na escolha de profissão quando o rapaz chegara aos dezessete anos, idade em que um rapaz era treinado para entrar para a Cavalaria Canadense. Porém, a escolha do rapaz em seguir os passos do pai nada tinha a ver com admiração por aquele tipo de vida, e sim por uma questão de sobrevivência e laços de sangue que sempre lhe cobraram um tipo de lealdade que ele nunca conseguira deixar para trás.

Gilbert era filho de um homem branco com uma índia. O pai a conhecera durante uma missão, e o jovem e orgulhoso oficial caíra de amores pela bela e doce índia, com quem tivera um intenso interlúdio de amor, e com quem pensara em se casar. 

Contudo, a tribo a qual ela pertencia, os Sinixt, jamais permitiria que uma de suas filhas se unisse a um branco cuja relação com o povo indígena nunca fora das mais amistosas. John Blythe representava o inimigo com quem eles vinham guerreando há séculos, e sua presença entre eles além de ser uma afronta àquela tribo, também significava que a ameaça branca estava cada vez mais próxima.

Todavia, Lua Prateada, a índia por quem John estava apaixonado e também filha do chefe da tribo, apesar de sua personalidade doce, ela tinha a índole dos grandes guerreiros de seus ancestrais e sua coragem ultrapassava qualquer bom senso, por isso não deu ouvidos aos seus, e decidiu viver seu amor ao lado do oficial branco, o que culminou em uma gravidez não planejada, ainda assim muito desejada por ambos os pais.

O pai de Lua Prateada quando soube da grande novidade não ficou exatamente feliz pelo neto ter sido concebido naquelas condições, mas não podia dar as costas à sua única filha. Assim, um casamento foi realizado nas tradições dos Sinixts, e John Blythe passou a viver entre eles pelo tempo em que durasse sua missão. Depois, ele pretendia levar a esposa e o filho para viverem com ele em Charlotte Town, e para isso também tivera que convencer o cacique da tribo, seu futuro sogro, que Lua Prateada e o bebê teriam a melhor vida que ele pudesse lhes dar.

Infelizmente, a jovem linda e de espírito vibrante que roubara o coração de um oficial da Cavalaria Canadense não pôde ver seu filho nascer, pois infectada pelo vírus da grande febre como os índios se referiam a influenza da época, causada pelos brancos e cujos sintomas os índios não tinham nenhuma defesa contra, morreu ao dar à luz a um menino robusto e forte, nomeado pelos índios como Estrela da Manhã e batizado pelo seu pai branco como Gilbert Blythe.

Desta forma, o garotinho que nasceu de um amor dividido entre dois povos, também cresceu dividido em seu coração. Levado pelo pai para viver na cidade logo após a morte da mãe, onde aprendeu a se comportar como um jovem cavalheiro canadense, era acolhido pelo avô nas férias escolares, onde ele mergulhava nos costumes ancestrais nos quais sua mãe fora criada, e assim o Estrela da Manhã que também era conhecido como Gilbert Blythe pela sociedade branca, carregava em seu sangue uma dualidade que lhe cobrava dupla lealdade.

Visto pelo pai como seu sucessor natural na carreira militar que abraçara em sua juventude, o corajoso rapaz também era idealizado pelo seu avô, cacique dos Sinixts, como o líder de seu povo após sua morte e deste modo, Gilbert Blythe perambulava entre dois mundos sem de fato pertencer a nenhum.

Mas dentro de seu coração jovem e valente, o rapaz sabia que chegaria o dia em que teria que escolher, e como em seu sangue corria a sedenta chama que clamava por justiça em nome de um povo que aos poucos desaparecia pela ganância do homem branco, ele entendia que sua linhagem branca teria que desaparecer para que ele se tornasse o Estrela da Manhã para sempre.

Entretanto, naquele instante, ele ainda era o Sargento Gilbert Blythe, e como tal estava ali para ajudar um velho amigo que conhecia suas origens e seus dilemas pessoais, e que lhe sorria com a franqueza de um homem de bem que também carregava na cor de sua pele a luta de seu próprio povo.

- Então, o Sargento Gilbert Blythe resolveu começar sem mim. - Sebastian disse com sua simpatia peculiar, carregando em uma mão um recipiente com água fresca, e na outra, seu próprio machado para se juntar ao rapaz no corte das toras de madeira que serviriam como combustível na lareira para o inverno rigoroso que chegaria dali a dois meses.

- Para você é só Gilbert, Bash.- O rapaz respondeu, enxugando com a manga de sua camisa de algodão o suor de sua testa.- Você sabe que acordo muito cedo, e espero que não se importe por eu a começar a trabalhar antes de você.

- É claro que não me importo. A minha casa é sua casa, você sabe disso. É que pensei que você estaria em uma missão essa semana.- Bash comentou, posicionando seu machado para começar a cortar sua primeira tora de madeira.

- Realmente eu tinha uma missão. - Gilbert respondeu, pensando no seu plano de seguir Roy Gardner, pois tinha algo pessoal a tratar com o canalha.- Mas fui designado para buscar a Srta. Shirley na estação.- ele disse com certo ressentimento.

- E o que achou da moça em questão?- Bash perguntou. - Eu ainda não a vi, mas Mary me disse que ela é muito bonita

- É um bibelô da cidade grande. Um tipo de mulher que eu nunca imaginaria neste lugar, e noiva  principalmente  de um homem como Roy Gardner.- Gilbert respondeu, se lembrando dos incríveis olhos luminosos que o encararam com uma inocência de menina encantadora.

- Acha que ela sabe quem ele é?- Bash perguntou, colocando o machado de lado e observando o trabalho que acabara de fazer.

- Creio que não, e também duvido que ela saiba como é a vida aqui. Ela é delicada demais para esse ambiente. - O rapaz também se lembrou das mãos macias, do corpo delicado em um vestido gracioso que combinava com ela, e suas mechas ruivas, infelizmente escondidas por um chapéu elegante. Quem dera ele pudesse vê-la com aquelas ondas soltas, espalhadas pelo ombro como se fossem o próprio sol em um dia de verão.

De repente, como se seus pensamentos tivessem sido ouvidos, a janela do quarto da nova hóspede se abriu, e Anne surgiu no parapeito. Ela parecia ter acabado de acordar, pois de onde Gilbert estava, ele tinha um rápido vislumbre de ombros alvos em uma camisola de alças que deixavam à mostra aquele pedacinho de pele macia. 

Os cabelos não estavam exatamente soltos como ele desejava ver, mas algumas mechas se soltavam do rabo de cavalo que ela parecia ter feito às pressas, e lhe emolduravam o rosto de forma que seus traços mais suaves se destacassem. Anne não parecia ter consciência nenhuma que estava sendo observada, ou não teria aparecido na janela tão à vontade daquela maneira.

- Uma hóspede ruiva. São raras por aqui.- Bash comentou ao seguir o olhar de Gilbert que não conseguiam se desprender de Anne.

- Realmente. - Ele comentou quase murmurando, e quando olhou para Sebastian, o rapaz viu um sorriso ali que conhecia bem e perguntou:

- O que está pensando, Bash?- Ele arrancou a camisa, pois o calor mesmo naquela hora da manhã o fazia transpirar em profusão.

- Acho que em todo esse tempo de amizade nunca te vi olhar para uma mulher assim.

- Assim como?- Gilbert perguntou ao mesmo tempo, em que tomava um gole da água que Bash trouxera com ele quando se juntara a Gilbert.

- Com tanto interesse.- Bash respondeu e Gilbert o encarou com seu rosto sério que raramente deixava escapar um sorriso, e disse:

- Isso é ridículo. Você sabe que não tenho tempo para essas coisas.

- Não tem tempo para o amor? Todo mundo tem tempo para o amor, Blythe.- Bash disse, olhando para o amigo com incredulidade.

- Eu não tenho.- O rapaz disse, olhando furtivamente para a janela de Anne, mas notando com certo desapontamento que ela não estava mais lá.- Você sabe que tenho outros planos em mente.

- Eu sei, e o respeito por isso. Mas um homem precisa de uma companheira em sua vida. Não pensa em um dia se casar e ter filhos? - Bash perguntou, mas em seu íntimo já sabia a resposta. Ele já tinha conhecido muitos homens com diferentes propósitos de vida, com um passado, uma história e sonhos. Mas, ele nunca tinha conhecido alguém tão jovem quanto Gilbert com um senso de honra tão grande. Isso para alguém como ele que vivia entre dois pesos e duas medidas podia ser mais uma maldição do que uma bênção.

- Não posso ter isso em mente, Bash. Você sabe pelo que eu luto. Uma esposa e filhos não cabem em meus planos.- Ele nunca pensara sobre isso na verdade, pois crescera ouvindo John Blythe recitar em seus ouvidos os dez mandamentos de seu regimento enquanto repetia vezes sem contar porque ele deveria ser grato por servir ao seu país, ao mesmo tempo, em que ouvia a voz de seu avô lembrando-o do seu dever com o seu povo. Então como ele poderia formar uma família com alguém, quando ele mesmo não sabia  que lado pertencia?

- Nem mesmo uma garota como a srta. Shirley?- Bash o confrontou com aquela pergunta ousada, e Gilbert mais uma vez o olhou surpreso enquanto a resposta veio sem que ele titubeasse, embora por trás dela houvesse uma certa ambiguidade:

- Principalmente uma garota como ela. Acha mesmo que Anne olharia para mim duas vezes se soubesse de minhas origens? Somos de mundos diferentes, Bash. E nem sei porque estamos discutindo sobre isso, pois ela está noiva do homem que mais desprezo no mundo.-

Ao pensar em Anne nas mãos imundas de Roy Gardner, Gilbert sentiu a bile do fígado chegar à sua garganta, e deixar um gosto de fel em sua boca. Aquela garota era inocente demais para viver ao lado de um homem que nunca saberia apreciar sua doçura, e o que a levara a aceitar tal casamento, o rapaz gostaria muito de saber, mas nunca teria intimidade o suficiente com ela para fazer-lhe tal pergunta.

- Teve notícias de Ka'kwet? - Gilbert retesou os músculos das costas enquanto segurava o cabo do machado com força, voltando ao trabalho de cortar pilhas de madeira enquanto respondia com a voz dura:

- Não. Ela está desaparecida faz dois meses. - Ele sentiu uma tristeza profunda ao pensar na prima de dezenove anos de quem sempre fora bem próximo desde criança. Ka'kwet fora uma garota doce, de sorriso fácil e educada, mas de repente, há alguns meses atrás, seu comportamento começou a mudar, e ela passou a mentir e esconder coisas dele e da família até que nos últimos dois meses ela fugiu, o que tudo indicava com um homem branco que pela descrição que Gilbert tinha era Roy Gardner. Por isso, ele andava seguindo o noivo de Anne, pois queria saber se eram verdadeiras as informações que ele tinha, e conseguir dessa forma descobrir o paradeiro de sua prima.

- Acha que Roy está envolvido no desaparecimento dela? - Bash perguntou, acompanhando Gilbert no trabalho de empilhar a lenha cortada.

- Tudo indica que sim.- Gilbert disse com o maxilar travado.

- O que pretende fazer?- Bash perguntou mais uma vez, preocupado com o brilho de ódio que viu nos olhos do amigo.

- Trazer Ka'kwet de volta e depois fazer Roy Gardner se arrepender de ter nascido.- Um arrepio passou pelo corpo de Sebastian a ouvir aquelas palavras, pois ele teve certeza que naquele momento quem as dissera foi Estrela da Manhã e não o Sargento Blythe.

Enquanto isso, dentro da casa, Anne aparecera na cozinha para tomar o café da manhã e conversar um pouco com Mary com quem tinha se simpatizado no primeiro momento.

- Bom dia, Anne. - Mary disse, depois se desculpou dizendo:- Ah, me perdoe por chamá-la assim. Talvez prefira ser chamada de Srta. Shirley.

- Não, por favor. Anne está ótimo. - A ruivinha disse com um sorriso amigável.

- O que está achando de nossa cidade, Anne? - Mary perguntou, servindo a ela uma xícara de café com leite.

- Bem, eu ainda não vi muita coisa, mas o pouco que conheci ontem achei adorável. As pessoas por aqui me parecem extremamente amigáveis.- Anne respondeu, bebendo um pouco do que Mary lhe servira.

- Não se engane, minha querida. Nem todos aqui são tão amigáveis assim.- Mary a alertou. - E o seu noivo? Se conhecem há muito tempo?

- Na verdade, nos conhecemos apenas por carta. Eu tinha esperanças de vê-lo ontem, mas quem foi me buscar na estação foi o Sargento Blythe.- Anne disse, corando um pouco ao se lembrar que depois que Gilbert fora embora, ela ficara desejando que seu noivo se parecesse com ele.

- Gilbert é um belo homem, não acha?- Mary perguntou de forma direta, fazendo Anne corar mais ainda e responder:

- Não sei se devo opinar já que estou noiva de outro homem.

- Ora, querida. Não há mal nenhum nisso. Estamos só nós duas aqui. Juro que não vou contar para ninguém. - Mary disse do seu jeito espontâneo que fez Anne rir.

- Sim, ele é um belo homem. Agora me diga uma coisa. Ele é daqui mesmo do Canadá? É que achei a fisionomia dele um tanto diferente dos tipos masculinos daqui.

- Gilbert é canadense, mas também tem descendência indígena. Pelo que Sebastian me contou, o pai dele teve um caso de amor com uma índia de uma tribo local, e desse relacionamento, o Sargento nasceu. - Mary lhe confidenciou.

- Interessante. - Anne disse, pensando consigo mesma que era por isso que o rapaz tinha traços tão marcantes,  já que em suas veias corria o sangue de dois grandes povos.- Ele é casado?- ela perguntou, tentando ser casual, sabendo que aquela pergunta apresentava um contexto bem íntimo, e não era nem um pouco apropriado que uma moça comprometida como ela a fizesse.

- Não, ele nunca se casou, e aos vinte quatro anos ele é em excelente partido por aqui.- Mary lhe confidenciou.

- Eu não duvido. - Anne disse, tentando entender como era possível que um homem tão atraente como aquele não tivesse sido fisgado por alguma debutante da região. E só não formulou aquela pergunta em voz alta, porque não quis parecer ousada demais.

- Anne, se me der licença, preciso levar um lanche para o meu marido. Ele está trabalhando na parte de trás da casa, e virá almoçar mais tarde hoje.- Mary disse, arrumando uma cesta com vários sanduíches e suco.

- Quer que eu faça isso para você? - Anne se ofereceu ao ver Mary extremamente ocupada com os afazeres da estalagem.

- Você não se importaria?

- É claro que não. Estou totalmente desocupada no momento. - Anne respondeu, pegando a cesta que a mulher havia preparado, e caminhando para a porta.

- Obrigada. - Mary disse.

- Disponha. - Anne respondeu, antes de sair.

O dia já estava bastante quente quando ela colocou os pés para o lado de fora, apesar de estarem no outono, e mesmo Anne não sendo tão fã do inverno, ela estava quase agradecida   por naquele momento,  as temperaturas estarem mais baixas do que  normalmente eram.

Assim, ela caminhou para a parte de trás da casa, mas parou de repente ao ver o Sargento Gilbert Blythe sem camisa, cortando madeira. Um calor súbito subiu pelo seu corpo, e instintivamente, ela colocou a mão direita sobre o coração que falhara algumas batidas ao se deparar com aquele homem tão viril, exibindo seus músculos ao ar livre. Ela nunca vira um corpo masculino tão perfeito antes, nem mesmo em seus livros de literatura, e também nunca se imaginara em uma situação tão íntima com homem que não fosse seu marido.

Ela queria sair dali, antes que alguém visse, e ela ficasse falada na cidade inteira como uma mulher libertina e sem moral, mas por alguma razão ela não conseguia se mexer. Estava atraída pelos movimentos dos músculos dos braços dele que atingiam o máximo de flexibilidade enquanto ele empregava toda a sua força para cortar a madeira à sua frente.

Então, ele se virou e a pegou observando-o com toda atenção do mundo, e sua vergonha foi completa, pois não conseguia disfarçar o fascínio que o físico dele lhe provocava.

- Desculpe-me por interromper o seu trabalho Sargento, mas Mary me pediu para trazer essa cesta com comida para o marido dela. - Anne se viu na obrigação de dizer para justificar o motivo por estar ali, enquanto observava o rapaz estender a mão e vestir a camisa, afastando de seus olhos aquela visão magnífica, deixando-a interiormente desapontada.

 - Ele foi buscar água, mas creio que já está voltando.- Ao dizer isso, Gilbert não pôde deixar notar o rosto de Anne adoravelmente corado, enquanto ela parecia tão perturbada pela presença dele como ele se sentia por estar com ela naquela situação. - Está bem instalada, senhorita? – Ele perguntou logo em seguida, para acabar com o clima estranho que se instalara entre eles.

- Estou sim. Eu queria agradecê-lo por toda a ajuda que me deu ontem.- A ruivinha disse, se aproximando dele, deixando Gilbert um pouco mais tenso do que gostaria de estar. Aquela garota o atraía, e isso não deveria acontecer em hipótese alguma. Ele tinha que se lembrar que ela estava noiva do seu pior inimigo para empurrar para longe qualquer pensamento inapropriado que pudesse ter em relação a ela.

- Eu não fiz nada demais. Está gostando da hospedagem? - Ele perguntou de forma casual, enquanto terminava de empilhar o último pedaço de madeira.

- Sim. Mary é uma pessoa maravilhosa.- Anne disse com entusiasmo. - Acho que fiz uma boa amiga por aqui. - Anne lhe deu um  sorriso tão lindo, que mais uma vez aquela sensação de que ela não mais estaria sorrindo daquele jeito após algum tempo casada com Roy Gardner o acometeu, e a sua necessidade de protegê-la foi maior que o seu bom senso que o fez disse sem pensar:

- Por que não volta para Toronto, Srta. Shirley?

- O quê? - Anne perguntou com o sorriso  desaparecendo imediatamente de seu rosto.

- Você me ouviu. Por que não volta para Toronto? Aqui definitivamente não é o seu lugar.- Ele disse com certo ressentimento direcionado a Roy Gardner, mas Anne entendeu que tinha sido direcionado a ela e respondeu:

- Eu não tenho mais para onde voltar, Sargento Blythe. Eu deixei tudo para trás quando vim para Charlotte Town, e a vida que eu tinha lá antes não existe mais. Portanto, como vê, aqui é sim o meu lugar, o senhor gostando disso ou não. Vou deixar aqui a cesta que Mary preparou para o marido. Por favor, entregue a ele. - Assim, ela se virou, deixando o rapaz sozinho, e caminhou de volta para casa, sem saber porque não ser bem-vinda por Gilbert naquela cidade a magoava tanto, ao mesmo tempo, em que o rapaz se perguntava por que tê-la magoado lhe importava tanto, já que mal a conhecia.

Muito mais tarde, em seu quarto, enquanto Anne escrevia uma carta para as freiras do convento, contando como havia chegado à cidade e suas primeiras impressões do lugar, ela ouviu passos no corredor, e uma presença poderosa parar na porta que deixara aberta quando entrara ali depois de sua conversa estranha com o Sargento Blythe.

Ao se virar, a surpresa e o impacto de vê-lo como a primeira vez a deixaram sem palavras, imaginando com um assombro imenso como um homem podia ser tão bonito daquela maneira atraindo-a para ele de forma assustadora, assim como Gilbert a olhava com avidez, não deixando de notar uma só linha naquele rosto singular, e sentia em seu coração uma emoção diferente que o fazia ter a nítida certeza de que estava olhando para o anjo mais lindo e delicado que já tinha conhecido na face da terra.

-O que faz aqui, Sargento Blythe?- Ela perguntou com certa dureza, após ter recuperado o domínio de si mesma.

- Eu vim lhe fazer um comunicado, Srta. Shirley. - Ele respondeu em seu tom de voz profundo.

- E que comunicado é esse?- Ela perguntou, pronta para uma nova discussão, imaginando que ele insistiria para que fosse embora novamente.

- Arrume suas coisas essa noite, e esteja pronta amanhã de manhã. Eu encontrei um lugar mais apropriado para que uma moça de sua classe possa ficar em companhia de outras mulheres naturalmente, pois não acho que seja oportuno fique aqui desacompanhada, mesmo que seja um lugar decente e familiar. - Ele explicou, olhando diretamente para ela, e a força daqueles olhos lhe causaram uma sensação estranha no peito.

- E poderia me dizer que lugar é esse?

- O forte dos Baynards. Jerry Baynard é meu superior no meu regimento e ficou satisfeito em hospedá-la pelo tempo que precisar. Ele é casado, e sua jovem esposa está grávida e precisa da companhia de mulheres da mesma idade. - Ele explicou, esperando pela resposta dela.

- Está bem, se é o que meu noivo deseja. - Ela respondeu, imaginando que Roy tinha dito a Gilbert que arrumasse um lugar assim para sua noiva até que ele voltasse de sua missão.

- Não foi o seu noivo quem me pediu isso, Srta. Shirley. - Gilbert respondeu com sua voz um tanto áspera.

- Então, quem foi?

- Eu fiz isso por mim mesmo, pois se vai ficar em Charlotte Town à espera de que seu noivo volte em duas semanas, então o forte dos Baynards é o melhor lugar para isso. Agora se me dá licença, eu tenho que cuidar de minhas obrigações. - Gilbert respondeu, e foi embora com um aceno de cabeça, deixando Anne a se perguntar porque ele tivera para com ela aquele gesto de tamanha gentileza.


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