Capítulo 16 - Ao pôr do sol
Aquela suave letargia era boa, como se a fizesse despertar de um sonho ruim para jogá-la em um universo paralelo, onde ela sentia que caminhava sobre nuvens de algodão, e fazia uma excursão completa por um paraíso onde ousara perambular apenas em seus sonhos.
Ela não queria abrir os olhos por medo de despertar e descobrir que estava apenas sonhando, e por isso manteve os olhos fechados, saboreando a sensação de ter seu corpo fisicamente satisfeito, e sua alma leve como uma pluma.
Experimentar o amor daquela forma era perfeito. Descobrir que através do toque de alguém se poderia compreender melhor os sentimentos de seu coração era incrível, pois nunca pensara que o amor sendo um sentimento abstrato, tomaria uma forma física e poderia ser sentido na ponta dos dedos.
E foi o que ela aprendera na noite anterior. Gilbert lhe ensinara algo importante, e também lhe mostrara que nada do que vivera com Roy Gardner tinha a ver com algum sentimento de afeição. Ele apenas usara seu corpo para ter seu próprio prazer físico, deixando que sobrasse a Anne apenas o horror de ter sido maculada em sua condição de mulher.
Roy era egoísta, enquanto Gilbert era generoso. Roy não sabia o que era partilhar nada, Gilbert compartilhara tudo com ela. Roy não sabia amar, mas Gilbert sabia dar a ela tudo o que necessitava emocionalmente e por isso naquela manhã se sentia a mulher mais feliz do mundo. E mesmo que não durasse para sempre, ela seria eternamente grata aquele jovem guerreiro, por ter lhe mostrado o que era ser amada de verdade como mulher e como parceira.
Vários beijos foram distribuídos por seu rosto, e Anne não conseguiu mais se manter de olhos fechados, e quando os abriu, a visão maravilhosa de Gilbert lhe sorrindo foi o que bastou para que o coração dela batesse tão rápido, que ela teve que respirar fundo para controlar sua respiração quase ofegante.
-Bom dia.- ele disse com o rosto tão cheio de luz, que Anne queria poder gravar aquela imagem para sempre dentro do seu coração.
-Bom dia. - ela respondeu timidamente. Não estava acostumada a ser acordada daquela maneira tão calorosa. Roy sequer olhava em seu rosto quando levantavam da cama, a não ser para lhe dar ordens, então, tudo o que estava começando a viver com Gilbert era uma completa novidade.
O olhar de Gilbert sobre ela era intenso, e embora ela estivesse uma manta sobre seu corpo nu, seus ombros estavam a mostra, e ela tentou puxar o tecido para um pouco mais para cima, mas o rapaz segurou em sua mão e disse:
-Não faça isso. Quero te olhar mais uma vez.- e com toda delicadeza do mundo, Gilbert afastou a manta, e expôs as formas femininas de Anne à luz da manhã, fazendo com que a ruivinha quase se encolhesse de vergonha, ao mesmo tempo que um sentimento excitante tomava conta de seu corpo. Nunca pensara que sentiria tanto prazer diante do olhar de um homem sobre o seu corpo. - Você é tão linda. Eu ainda não acredito que foi minha ontem a noite. Você me fez muito feliz.- Gilbert afirmou, fazendo um carinho suave no rosto macio dela.
Na verdade, sonhara tanto com aquilo, que quando acontecera fora melhor do que imaginara. Anne tinha uma natureza apaixonada, e uma forma natural de deixar que ele soubesse disso em cada toque em sua pele, e em cada suspiro. E observando-a deitada naquela tenda, com sua beleza exposta apenas aos olhos dele, era impossível impedir o súbito desejo de voltar a fazer tudo outra vez.
-Você também me fez muito feliz. Eu não sabia que algo tão íntimo assim entre duas pessoas pudesse causar tanto prazer.- ela confessou, o que fez Gilbert olhar para ela espantado e perguntar:
-Mas e você e seu marido?
-Nunca foi assim com ele. Roy nunca se importou comigo. Ele é egoísta demais para isso.- Anne respondeu com uma voz tão sentida, que fez Gilbert perguntar trincando os dentes:
-O que ele te fez, Anne? Ele machucou você?
-Acho que ele feriu minha autoestima como mulher.- ela respondeu com um olhar triste, que fez Gilbert querer tê-la para sempre em meus braços. - A culpa foi minha por não ter acreditado em você quando me contou quem ele era. Felizmente aquele horror acabou.- ela tornou a encarar aqueles olhos castanhos, onde encontrava sua paz interior verdadeira.
-Se eu pudesse, o faria pagar por ter sido um péssimo marido para você. - Gilbert disse, sentindo seu ódio por Roy aumentar. Como ele ousara machucar aquela rosa tão rara? Como ele ousara macular o seu amor?
Ele puxou Anne para seus braços, correndo os dedos pelo rosto dela todo. Ela era como um anjo perfeito demais, que merecia ser amada todos os dias com toda sua devoção. E isso ele faria, sem hesitar um segundo dali em diante.
A boca dele alcançou a dela com doçura, em uma gentileza que fez Anne derreter. Gilbert não tinha pressa, e essa era uma das coisas que amava nele. Aquele carinho explicito que ele sempre demonstrava quando a beijava, como se quisesse saborear devagar o seu gosto, explorando sua boca em todos os detalhes.
Gilbert a libertou daquele momento tão doce quando o oxigênio acabou, mas manteve suas testas coladas, onde podia mergulhar naqueles olhos azuis, e navegar neles como se estivesse em mar aberto, e disse:
-Ele nunca mais vai colocar suas mãos imundas em você. Agora você é minha mulher e vai ser tratada como tal. Quero te dar a vida que nunca teve, e vou te dar tudo o que precisa. - Anne sorriu diante daquelas palavras. Não ousava ainda sonhar com uma vida ao lado de Gilbert, porque tinha medo de perder tudo no meio do caminho, pois enquanto estivesse naquela aldeia, Roy não a encontraria, mas não sabia o que aconteceria se saísse da proteção que Gilbert e seu povo lhe davam.
No entanto, queria viver o que pudesse com ele, conhecê-lo melhor, amá-lo em quanto pudesse, pois se seu destino fosse outro, pelo menos, poderia encontrar conforto para sua solidão futura em suas lembranças.
Ela o beijou de leve nos lábios e respondeu:
-Eu não preciso de nada mais além de você. Eu quero só você.- então ela o puxou para si, e Gilbert ficou sobre seu corpo, buscando seus lábios por outro beijo que não foi exatamente calmo dessa vez, pois tinha sabor de uma paixão que fora liberada na noite anterior, que seus corpos ainda pareciam precisar daquela conexão física e emocional.
Eles se afastaram mais uma vez por falta de oxigênio, e Gilbert sussurrou, tocando seus lábios:
-Essa sua boca me deixa maluco. Quanto mais te beijo, mas eu quero te beijar.
-Então, por que não me beija?- Anne perguntou, tentando puxá-lo de volta, mas o rapaz resistiu dizendo:
-Não posso. Se eu começar, não vou conseguir parar, e preciso sair daqui a pouco.- Gilbert respondeu, acariciando o ombro desnudo dela.
-Como assim sair?- ela perguntou, olhando-o com toda atenção.
-Kak'wet foi encontrada. - Gilbert respondeu, subindo a mão até o pescoço alvo e delicado, onde fez alguns carinhos suaves.
-Onde?- Anne perguntou, arregalando seus olhos azuis cheios de surpresa, pois ela sabia o quanto encontrar a prima era algo no qual Gilbert havia se empenhado nos últimos meses.
-Em uma aldeia aqui perto.- ele respondeu, descendo as mãos pelas costas de Anne, se maravilhando mais uma vez com a pele sedosa dela, da qual não conseguia manter seus dedos longe. Tinha se contido demais desde que a conhecera, agora não queria perder mais tempo.
-Ela está bem?- Anne perguntou, tentando se concentrar na resposta de Gilbert, mas as mãos inquietas dele não permitiam, causando-lhe arrepios diversos.
-Não sei em que condições ela está, Anne, e é por isso que preciso ir até lá ver isso pessoalmente. - ele respondeu, se sentindo de costas no saco de dormir e a puxando para cima de seu corpo.
-Então, é por isso que já está todo vestido essa hora da manhã. - Anne comentou, deslizando as mãos devagar pelo peito dele coberto com uma camisa de algodão.
-Sim, vamos sair em meia hora.- o rapaz respondeu, continuando a deslizar as mãos pelas curvas dela, fazendo Anne se mexer em cima dele inquieta.
-Eu não quero que vá. Você ainda não se recuperou totalmente, e precisa de cuidados.- ela disse, protestando internamente contra a teimosia do rapaz.
-Eu já me recuperei sim. Você me ajudou muito nisso ontem a noite.- Gilbert respondeu em um tom sugestivo, que fez Anne corar embaraçada com a insinuação.
Gilbert sorriu ao ver os traços da antiga ingenuidade que Anne tinha quando a conhecera. Que bom que Roy Gardner com sua sordidez não conseguira mudá-la por dentro. Ela continuava adorável exatamente como quando a vira pela primeiravez. E mesmo na noite anterior, quando a tivera completamente sua, ele percebera que não havia nenhum tipo de malícia em seus olhos, ou toques em seu corpo, apenas uma clara curiosidade de uma mulher diante de seu homem pela primeira vez. Apesar de ter sido casada com um crápula da pior espécie, Anne continuava pura em sua alma e coração.
-Então, me leva com você. Fico pronta em poucos minutos, e poderemos partir sem problema algum. - Anne sugeriu, tentando se levantar para colocar em prática o que acabara de pensar, mas Gilbert não permitiu, dizendo:
-Não posso permitir que vá conosco, Anne. A viagem é difícil e cansativa, e você não está acostumada à esse tipo de atividade. É melhor que fique por aqui segura e à minha espera. Eu jamais a exporia à perigos desnecessários.- o rapaz acariciou a curva do pescoço de Anne enquanto a ouvia responder:
-Eu não sou frágil como pensa. Sou forte e aguento uma viagem de muitas horas. Por favor, me deixa ir com você. Vou ficar mais tranquila se puder ver com meus próprios olhos que está bem.- ela estava quase implorando, e Gilbert descobriu naquele instante o quanto era difícil dizer não aquela garota incrível, mas ele resistiu a ideia de levá-la. Era uma viagem dura demais e não queria vê-la exausta e morrendo de calor debaixo de um sol muito pouco piedoso à pessoas de pele clara como a dela.
-Sinto muito, Anne. Não posso permitir que vá. Como disse, são muitas horas em cima de um cavalo, calor insuportável e sol forte. Você poderia ficar com insolação outra vez. Não quero que isso aconteça. - Gilbert explicou, deixando um beijo suave no queixo dela.
- Então, promete para mim que vai se cuidar, e que quando voltar vai me ensinar tudo o que eu tenho que aprender para ser como as mulheres daqui.- Anne pediu. Ela não queria mais que Gilbert a visse como uma mulher fraca que não conseguiria sobreviver sozinha em um lugar como aquele. Ia provar para o rapaz que era tão resistente quanto uma verdadeira nativa daquela aldeia.
-Não quero que seja como qualquer mulher daqui. Eu quero que seja exatamente como é, mas posso sim te ensinar algumas coisas que te ajudarão a sobreviver nessa aldeia quando eu não estiver por perto. - Gilbert disse, brincando com uma mecha do cabelo ruivo.
-Eu ainda gostaria que não fosse.- Anne disse, apoiando o queixo no peito dele.
-Eu preciso ir, Anne. É minha prima e quero ver com meus próprios olhos como ela está, e mostrar à ela que está segura de novo com seu povo. Prometo que não vou demorar. É uma viagem de um dia entre ida e volta.- Gilbert disse, passando os dedos pela bochecha rosada dela, e depois comentou:- Sabe que eu nunca tinha reparado em quantas sardas você tem no rosto ? São adoráveis.
-Não são não. Sempre detestei isso em mim, e sonhava em ter uma tez clara como minhas amigas do orfanato. Essas sardas me renderam muitos apelidos na infância, por isso é que nunca gostei delas.- Anne respondeu com uma careta.
-Não devia. Elas são perfeitas, tudo em você é perfeito, e você é toda linda.- ele murmurou, beijando-a com ardor, fazendo Anne suspirar por entre o beijo, e aprofundá-lo, até que Gilbert gemeu, apertando-a contra seu corpo, e quando ia trocar de posição para tocá-la com mais intimidade, uma batida na entrada da tenda, fez Gilbert inspirar profundamente e dizer:- Preciso ir, está na hora.
-Vou ficar te esperando. Por favor, não demora.- Anne disse, com um olhar preocupado que fez Gilbert dar-lhe um último beijo antes de sair.
Assim que o rapaz partiu, Anne tornou a se deitar no saco de dormir para absorver o calor dele que ainda estava lá. Tinha sonhado com uma manhã inteira na companhia de Gilbert, mas infelizmente seus planos tiveram que ser mudados. Ela entendia a necessidade de Gilbert ir atrás da prima, mas esse fato não deixava de preocupá-la, principalmente, porque ele ainda não tinha recuperado sua forma física.
Anne girou o corpo, e se ajeitou melhor embaixo das cobertas. Tinha dormido tão bem na noite anterior, talvez a melhor noite que tivera desde que se mudara de Toronto para Charlotte Town, mas a companhia contribuíra muito para isso, ela pensou com certo humor.
Uma batida discreta na entrada da tenda a tirou de seus pensamentos mais secretos, e a fez dizer em voz alta:
-Espere um minuto. - em seguida, vestiu rapidamente uma camisa de Gilbert que chegava abaixo de seus joelhos, e correu para ver quem estava do lado de fora à sua espera, e ficou surpresa ao ver a anciã que a ajudara a cuidar de Gilbert durante sua convalescença com uma bandeja de madeira nas mãos, e com um sorriso amigável no rosto que lhe disse:
-Bom dia, filha.
-Bom dia.- Anne respondeu, olhando com curiosidade para a bandeja, sem entender o que aquilo significava. Compreendendo seu olhar, a anciã disse:
-Estrela da Manhã me pediu para trazer seu café.
- Não precisava ter tido esse trabalho. Eu poderia ter tomado meu café junto com as outras pessoas da aldeia.- Anne respondeu, se sentindo constrangida com aquela situação. Não se sentia bem recebendo tratamento especial quando o outros que viviam ali não tinham esse privilégio.
-Estrela da Manhã é um dos líderes desse povo, e o que ele determina é lei, por isso, filha aqui está o seu café.- a anciã disse, entrando na tenda, e colocando a bandeja em cima de uma mesinha improvisada.
- Mesmo assim, não me sinto bem com isso. Eu já tenho problemas de convivência com as pessoas daqui, e esse tipo de coisa só vai piorar tudo.- Anne disse suspirando.
-Você é a mulher do chefe. Ninguém tem o direito de contestar isso. Vão te respeitar com o tempo.- a anciã respondeu, olhando-a com certa compaixão.
-Eu só queria que me vissem como todas as outras mulheres daqui.- Anne disse desanimada, o que fez a anciã lhe dizer:
-Você nunca vai ser como as mulheres daqui, filha. É por isso que Estrela da Manhã te quer . Você é especial e é disso que as pessoas daqui tem medo, mas com o tempo vão ver que ser diferente não é um problema, e sim uma vantagem, pois pode agregar muitas coisas boas para essa aldeia. Viver com a diversidade amplia os horizontes de nossa mente.- Anne refletiu por alguns minutos sobre aquelas palavras, admitindo interiormente que havia muita sabedoria nelas, e vindas de uma mulher tão simples, mas tão sábia por sua experiência de vida, deveriam ser levadas em conta e guardadas no coração.
-Obrigada. - Anne disse simplesmente, e a anciã respondeu:
-Por nada, filha. Agora vou cuidar dos afazeres dessa aldeia, pois as pessoas daqui dependem de mim.- Anne quase ofereceu sua ajuda, mas por instinto não o fez. Ela também a via como a mulher do chefe, e não aceitaria que ela realizasse nenhuma atividade que não fosse autorizada por ele, por isso se limitou a assentir, e vê-la se afastar enquanto Anne tornava a ficar sozinha.
Sem muita alternativa, ela tomou o café da manhã simples, mas delicioso. Ela estava se acostumando com a maneira forte que preparavam a bebida ali, como estava se acostumando a tudo daquela vida sem luxos, mas tão encantadora. Ela procurara tanto pela felicidade em lugares que nunca lhe trouxeram nenhuma, e fora encontrar esse sentimento em um lugar no meio da natureza onde tinha muito pouco a oferecer em bens materiais, porém era rico em valores que ela estava aprendendo a priorizar.
Dez minutos depois, Anne já tinha terminado sua primeira refeição do dia, e decidiu dar uma volta lá fora, pois a tenda sem Gilbert estava muito solitária, e o dia ensolarado a convidava para um passeio ao ar livre. Assim, ela caminhou por algum tempo, curtindo a paz que aquele lugar lhe proporcionava e foi se sentar no seu refúgio favorito, que era a beira do lago.
A água brilhava como prata, pois o reflexo do sol surgiu dentro dela, irradiando luz por todo aquele espaço, tornando-o ainda mais fascinante de se observar. Anne estava tão absorta nessa contemplação que não percebeu uma aproximação sutil perto dela. Quando deu por si, uma garotinha sentada a seu lado lhe sorriu, e sem saber de onde aquela criança tinha surgido, ela perguntou:
-Como você se chama, meu amor ?- a garotinha apenas sorriu, mostrando sua banguela nos dois dentinhos da frente. Ela estendeu sua mão pequena e pegou uma mexa de cabelo de Anne. Depois sem pedir permissão, a garotinha sentou no colo dela, deslizando seus dedinhos rechonchudos pela face da ruivinha, que sorriu sonhadora, enquanto se imaginava com um bebê moreno em seus braços, fruto do seu amor com Gilbert.
Estava tão perdida naquele sonho que não percebeu mais nada ao seu redor, e se assustou violentamente quando um empurrão em suas costas a fez perder o equilíbrio, fazendo-a escorregar para dentro do lago com a garotinha em seus braços que lhe escapou no último minuto. Desesperada, Anne olhou para todos os lados, mas não enxergou a menininha em nenhuma parte do lago. Assim, ela prendeu a respiração e mergulhou na parte mais funda, encontrando a menininha que se debatia embaixo da água já quase desfalecida.
Anne a segurou pela cintura, e com um esforço sobre-humano, ela conseguiu subir até a superfície onde um grupo de mulheres a olhavam aflita, uma mais do que todas, fazendo Anne entender que aquela era a mãe da menina.
-Minha filhinha. - ela disse, pegando a menina dos braços de Anne, e a abraçando com força, enquanto as outras índias ajudavam Anne a sair da água.
-Muito obrigado por salvar minha filha.- a mãe da menina disse, olhando para Anne com admiração que lhe respondeu
-Que bom que ela está bem. Ela estava em meu colo quando senti alguém me empurrar pelas costas. Eu não entendi bem o que aconteceu, e quando cai na água, meu único pensamento foi para a garotinha.
-Eu vi o que aconteceu. Foi Pérola Negra que te empurrou. - uma das índias disse, fazendo Anne dizer espantada:
-Pérola Negra?- seria mesmo possível?, Anne pensou. A jovem índia tinha raiva dela por causa de Gilbert, mas daí chegar ao ponto de querer vê-la morta era algo demais para Anne registrar. Se fosse mesmo assim, ela corria muito perigo dentro daquela aldeia, e descobrir isso justamente quando começava a construir ali seu lar a deixava completamente arrasada.
-Sim, ela mesma.- a Índia confirmou.
-Como ela pôde fazer isso? Poderia ter matado minha filha. - a mãe da garotinha disse muito zangada, e Anne decidiu não abrir a boca sobre aquele assunto, que mais tarde resolveria pessoalmente com Pérola Negra. Por isso perguntou:
-Qual é o nome da garotinha?
-Raio de Luz, e eu queria também te dar um nome em agradecimento por ter salvado minha filha.
-Claro. - Anne concordou, percebendo que pela primeira vez em semanas, estava sendo aceita naquele grupo.
- De agora em diante vamos chamá-la de Sol de Verão, por causa de seu cabelo.- a Índia disse, apontando para os fios ruivos de Anne.
-Obrigada. Eu adorei. Como é seu nome?
-Nuvem de primavera.- a moça disse com simplicidade. - Você está bem? Quase se afogou no lago para salvar minha filha.
-Estou sim. Vou voltar para minha tenda. Acho que preciso descansar um pouco.- Anne respondeu, com a intenção de caminhar até lá, mas a voz da outra Índia a interrompeu:
-Devia denunciar Pérola Negra. Não foi certo o que ela fez e Estrela da Manhã não vai gostar de saber que ela tentou machucar você. - Nuvem de Primavera lhe disse.
-Vou falar com ele quando ele voltar.- Anne garantiu, e assim caminhou para sua tenda muito pensativa sobre tudo o que havia acontecido naquela manhã.
Ela passou o resto do dia reclusa, morrendo de saudades do seu amor, e um pouco deprimida por pensar que poderia existir alguém ali que poderia desejar sua morte. Escapara de um destino terrível com um homem ainda pior, e agora estava na mira de uma garota igualmente ruim, mas não deixaria que Pérola Negra arruinasse sua vida ali, especialmente agora que ela e Gilbert estavam juntos de verdade.
No meio da tarde, Nuvem de Primavera apareceu na tenda com um embrulho, o entregou a Anne e disse:
-É para você.
- O que é isso? - Anne perguntou espantada.
-É um presente por ter salvado minha filha.- ela respondeu comum sorriso, e quando o abriu, ela ficou surpresa como que havia dentro. Eram duas peças de roupas no estilo indígena, costuradas muito bem a mão e com o acabamento perfeito.- Achei iria desejar ter algo bonito para vestir quando Estrela da Manhã chegar.
-Muito obrigada, eu nem sei o que dizer - Anne respondeu sem jeito.
-Eu é quem tem que agradecer. Se não fosse por você, nem sei o que teria acontecido. Você é uma boa pessoa, Sol de Verão. Podemos ser amigas se desejar.- a moça disse com um sorriso tímido, ao dizer essas palavras, talvez por imaginar que Anne por ser mulher do chefe, pudesse recusar a oferta de amizade feita por alguém inferior à ela na hierarquia da aldeia.
-Sim, vou adorar ser sua amiga. - Anne respondeu, sentindo-se radiante. Pelo menos uma boa coisa resultara daquele acontecimento quase trágico.
E enquanto tomava seu banho refrescante naquela tarde, Anne sentiu finalmente que estava conquistando seu espaço naquela aldeia.
Naquele mesmo dia, Gilbert voltou para aldeia com Kak'wet segura em seu cavalo, agarrada à sua cintura e sem dizer coisa alguma. Eles a tinham encontrado em uma aldeia à vários quilômetros da dele, em um estado que Gilbert quase não a reconheceu. Seus cabelos tinham sido cortados bem curtos, e ela havia perdido tanto peso que as maçãs de seu rosto antes coradas e arredondadas, tinham se afinado drasticamente. Pelo que Gilbert pôde perceber, a tinham colocado para trabalhar como escrava naquela aldeia, e como Kak'wet havia chegado ali, o jovem guerreiro não fazia nenhuma ideia, e no estado em que sua prima se encontrava, o rapaz tinha certeza de que ela não lhe contaria.
A primeira coisa que Kak'wet fez ao ver Gilbert, foi começar a chorar como se não acreditasse que ele estivesse ali e viera salvá-la. Assim, ela estendeu os braços e quando Gilbert a abraçou, seu choro se tornou compulsivo seguido de soluços dolorosos, enquanto ele dizia para acalmá-la:
-Está tudo bem. Vamos levá-la para casa agora.- Naquele momento, ele lançou um olhar pelo ombro e viu o Olho de Águia fitando Kak'wet com uma expressão chocada no rosto. Gilbert imaginava o que ele estava pensando, e esperava que o amor que seu amigo sempre sentira por sua prima fosse forte o bastante para ajudá-la a superar todo o trauma daquela experiência ruim.
Quando chegaram aldeia, Gilbert ficou sabendo pela anciã o que tinha acontecido à Anne, e quem fora a autora de tal ato perigoso. Sem demora, ele deixou Kak'wet aos cuidados da boa senhora, e correu para a tenda a fim de ver Anne, por isso, deixaria para confrontar Pérola Negra depois, pois tudo o que importava à ele era a segurança de sua mulher.
-Ele entrou na tenda, onde Anne estava de costas penteando os cabelos e perguntou:
-Você está bem?
Ela se levantou e virou de frente para ele, pegando-o de surpresa com sua beleza resplandecente nas roupas novas que tinha ganhado de Nuvem de Primavera.
O olhar dele passeou pela saia de tecido semelhante à pele de onça, justa que chegava até no meio de suas coxas, deixando que o restante de suas pernas ficassem à mostra. O top que ela usava era feito do mesmo tecido, cobrindo a parte superior do corpo dela, mas deixando seu abdômen liso de fora. Os cabelos caíam pelos ombros em ondas suaves, enquanto seus olhos azuis tinham um brilho tão intenso que chegava a hipnotizá-lo.
-Eu estou bem.- Anne respondeu, caminhando em direção dele, sorrindo ao ver o olhar de admiração que ele lhe lançava sem esconder nada. Quando ela chegou mais perto, ele disse:
-Nunca pensei que você pudesse ficar mais linda do que já é. Quem lhe deu essa roupa?- ele perguntou, circulando a cintura dela com as mãos.
-Nuvem de Primavera me deu. - ela colocou os braços ao redor do pescoço dele e continuou:- Aconteceu algo que preciso lhe contar.
-Eu sei o que aconteceu. Já fui informado. E acho que deveríamos tomar providências sobre a pessoa em questão envolvida nisso. - Gilbert disse com a expressão séria, e Anne respondeu.
-Sim, mas não quero falar disso agora. Apenas quero saber como você está. - ela acariciou o rosto másculo do qual tanto sentira falta naquele dia. Ele parecia cansado e ao mesmo tempo angustiado como se carregasse um peso imenso nos ombros.
-Eu estou ótimo - ele respondeu, mergulhando seus olhos naquele azul dos dela que sempre foram seu pedaço de céu.
-E Kak'wet?- ela se atreveu a perguntar, vendo os olhos dele se tornarem tristes.
-Ela está sendo cuidada pela anciã da aldeia. Está muito debilitada fisicamente e psicologicamente também e vai precisar de tempo bem longo para se recuperar.- ele respondeu sem deixar de fitá-la nos olhos.
-Sinto muito. - Anne respondeu, pensando no quanto aquela garota tão jovem deveria ter sofrido nas mãos de Roy, e depois dispensada como se fosse nada por ele, que nem se preocupara com seu destino depois. Se pensasse bem, isso não deveria surpreendê-la, uma fez que ele praticamente fizera o mesmo com ela.
-Não é culpa sua. Você não é responsável pelas atitudes absurdas de Roy Gardner. Ele enganou você da mesma forma que fez com Kak'wet. Vocês duas foram vítimas de um homem sem escrúpulos nenhum.- Gilbert disse, beijando-a na testa. Não podia responsabilizar Anne por nada. Roy a enganara com seu porte de homem distinto, escondendo seus atos sórdidos por trás de seu uniforme de oficial. Anne em toda sua inocência não teria desconfiado de seu caráter e de suas intenções. Ela aprendera a conhecê-lo na intimidade de uma vida a dois, que lhe deixara marcas nada agradáveis em suas lembranças pelo que ela lhe contara. Ele iria curá-la também, assim como faria com Kak'wet.
-Posso vê-la?- Anne perguntou, desejando de alguma forma ajudar aquela garota que era tão importante na vida de Gilbert, como ele era na vida de Anne.
-Acho que é melhor esperar que ela melhore um pouco. Talvez em alguns dias isso seja possível. - Gilbert respondeu, acariciando os cabelos dela com carinho.
-Está bem.- Anne concordou, morrendo de vontade de beijá-lo, e quando ele inclinou o rosto indo em direção ao dela, a ruivinha achou que aconteceria, mas o rapaz a deixou frustrada, ao beijá-la no rosto e dizer:
-Vou tomar banho e volto para ficar com você.- Anne assentiu, e Gilbert saiu da tenda deixando-a sozinha, mas nem dez minutos tinham se passado quando ele voltou e disse:
-Tive uma ideia melhor. Quero tomar banho outro lugar, e desejo que me acompanhe.
-Onde?- Anne perguntou curiosa, enquanto Gilbert lhe sorria, deixando-a encantada. Ainda não tinha se acostumado a vê-lo assim tão descontraído. Quando o conhecera, não se lembrava de tê-lo visto sorrir nenhuma vez, e agora esse ato lhe vinha tão naturalmente, como se todas as suas preocupações anteriores tivessem sido despidas junto com o uniforme da cavalaria que ele deixara para trás quando assumira sua nova identidade.
-Você vai gostar. - ele respondeu, lhe estendendo a mão na qual ela segurou, sentindo a força dos dedos dele, entrelaçando os seus.
Assim, eles caminharam juntos por alguns minutos, sorrindo um para outro, partilhando aquela energia gostosa de início de uma vida em comum, e quando Anne percebeu, eles estavam de frente a um cenário encantador, que sequer tinha imaginado que havia por ali.
De onde estavam, via-se uma cachoeira que despejava suas águas cristalinas dentro de um rio, cuja transparência era quase irresistível para um mergulho, onde ao seu redor havia várias árvores altas, e também flores silvestres que em de dar um aspecto mágico ao local, também perfumavam o ar com seu aroma suave.
-Vamos entrar?- Gilbert perguntou, apontando para o rio.
-A água deve estar gelada.- Anne respondeu, encarando o rapaz que aproximou os lábios do ouvido dela, e disse:
-Eu te prometo que a última coisa que vai sentir ali dentro será frio.
Anne sentiu sua garganta secar com a implicação daquelas palavras, e se sentiu ainda mais ofegante quando Gilbert, sem esperar por sua resposta, se despiu completamente e entrou na água em um mergulho perfeito. Quando o rapaz voltou à superfície, ele lhe perguntou:
-Você não vem?
Gilbert parecia tão à vontade lá dentro que sua necessidade de se juntar a ele foi maior que seu receio, por isso, diante do olhar ardente dele sobre seu corpo, ela despiu cada peça de roupa que usava com certa lentidão. Quando finalmente nenhuma roupa restou sobre seu corpo, ela se juntou a Gilbert na água e assim que o alcançou, ele a fez circular sua cintura com as pernas e murmurou:
-Linda.
E logo seus lábios estavam grudados, induzidos por uma paixão difícil de resistir. Anne afundou suas mãos na nuca de Gilbert, acariciando-lhe os cabelos molhados, enquanto ele apertava seu bumbum de encontro ao próprio corpo, suspirando consecutivamente conforme o beijo ia se intensificando.
Ele se movimentou com ela dentro da água, levando-a para embaixo da cachoeira que caiu sobre os dois no instante em que Gilbert encostou Anne na barreira de pedras atrás dela, não deixando nenhum espaço entre eles.
Era uma experiência maravilhosa para Anne, sentir os lábios de Gilbert correndo pelo seu pescoço, alcançando seus seios enquanto o barulho da pressão da água abafava seus gemidos, fazendo-a jogar a cabeça para trás dando a ele livre acesso para seu corpo, que se rendia completamente aos lábios dele conforme eles desciam por sua pele, fazendo-a queimar inteira.
Ela fechou os olhos, mordendo o lábio inferior com força ao sentir a língua masculina chegar ao seu ponto mais sensível. Ela gemeu tão alto sem se importar se alguém ouviria, pois nunca pensara que havia tanto prazer em ser tocada daquela maneira. Suas unhas se cravaram nas costas de Gilbert, conforme seu corpo acompanhava o ritmo dos lábios dele que continuavam a provocá-la em sua intimidade. Quando Anne achou que não aguentaria mais, Gilbert a libertou de sua tortura e fez todo o caminho de volta, tornando a tocá-la em todas as partes até chegar aos lábios dela novamente.
Louca para tocá-lo também, Anne tocou o pescoço masculino dele com os lábios, descendo até o peito musculoso, indo em direção ao abdômen definido, e quase alcançando a intimidade do rapaz, mas antes que pudesse tocá-lo da mesma forma que ele fizera com ela, Gilbert a fez ficar de costas, encostando-a em seu tronco, enquanto ele beijava seu pescoço e seu ombro por trás, ao mesmo tempo que as mãos masculinas tornavam a tocar seus seios, apertando-os com delicadeza até fazê-la gemer descontroladamente.
Aquele som tão sensual agia como um estimulante em Gilbert, que desde aquela manhã não parara de pensar em como queria fazê-la sua outra vez. O gosto dela era seu sabor favorito, a pele macia era um convite para que ele a tocasse para sempre, e aquele corpo perfeito, desenhado apenas para o deleite de suas mãos era seu inferno interno. Ele precisava tocá-la mais e mais para saciar a fome de seu corpo pelo dela, pois Anne o deixava completamente desnorteado, quando movimentava seus quadris sobre os dele, causando uma fricção entre eles que rapidamente levava embora toda a sua razão.
Gilbert a fez ficar de frente novamente e atacou os lábios dela com uma sede insana, mordiscando-lhe o lábio inferior de vez em quando entre o beijo, e então ele a pressionou novamente contra a parede atrás dela, e a penetrou com uma única investida, fazendo Anne gemer ainda mais alto ao senti-lo dentro de si.
Seus corpos imediatamente começaram a se mover, como se estivessem em uma completa combinação. Anne se agarrou ao pescoço de Gilbert enquanto o rapaz não parava de beijá-la, e assim foram aumentando o ritmo até que a paixão os engoliu em suas labaredas ardentes, trazendo com ela um êxtase sem igual.
Quando tudo se acalmou, eles permaneceram abraçados, enquanto suas respirações descompassadas eram o único som que se ouvia entre eles, ao mesmo tempo em que a água da cachoeira caía sobre os dois aliviando o calorão de seus corpos.
Depois de alguns minutos em completo silêncio, Gilbert perguntou:
-Tudo bem?
-Sim.- Anne respondeu, acariciando o maxilar dele.
-Me perdoe, eu queria tanto você que não levei em conta sua fragilidade. Eu te machuquei?
-Não, eu também queria você demais, e você não me machucou. Não se preocupe.- ela respondeu sorrindo.
-Quer voltar para aldeia agora ou prefere ficar aqui mais um pouco?- ele perguntou lhe sorrindo de volta.
-Podemos ficar por aqui mais um pouco? Esse lugar é tão lindo.- Anne pediu com os olhos sonhadores.
-Podemos sim. - ele disse, beijando-a na ponta do nariz.
Assim, eles se enxugaram com uma toalha que Gilbert trouxera com eles, se vestiram e depois se sentaram em uma pedra juntos para verem o sol se pôr, enquanto a lua chegava de mansinho fazendo com que Anne sentisse que naquele instante tudo estava finalmente em seu devido lugar.
Olá. Aqui está mais um capítulo. Por favor me digam o que estão achando da história, pois vou adorar saber. Beijos.
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