28 | PAZ DE ESPÍRITO
CAPÍTULO VINTE E OITO | UN VERANO SIN TI
❝PAZ DE ESPÍRITO❞
❝você é minha paz de espírito, então eu vou com calma❞ ⸺ ANYONE BUT YOU; still woozy
HAVIA UMA CANÇÃO ESPANHOLA MUITO BAIXA PREENCHENDO SUAVEMENTE O ESPAÇO DO CARRO ENQUANTO GISÈLE DIRIGIA PELAS RUAS ESTREITAS DA CIUTAT VELLA EM BARCELONA. Suas mãos estavam firmes no volante do Cupra de Alexia, e o ritmo ao qual ela já estava acostumada, da cidade a aquela hora do dia, não era nenhuma surpresa. As janelas estavam fechadas, mas o som fraco da vida acontecendo era muito perceptível.
Era início de fevereiro e, embora o sol estivesse visível por grande parte do dia, com o céu aberto, e a temperatura estivesse subindo, o ar ainda carregava um toque de inverno, mas não o tipo de inverno com o qual Gisèle estava habituada, o que, num geral, estava começando a fazer sentir falta do tempo mais frio que carregava Londres. Alba estava ao lado dela, digitando algo em seu celular, enquanto Venetia se mexia alegremente na cadeirinha no banco de trás, sua mãozinha balançando e seus olhos focados nos prédios antigos que estavam ficando para trás.
— Ela está feliz hoje — disse Alba, deixando seu celular apoiado no assento, entre as pernas, e se virando ligeiramente para observar melhor sua sobrinha — Sério, você teve muita sorte. Ela é tão calma.
— E eu aprecio isso — Gisèle riu um pouco, seus olhos se desviando brevemente para a filha pelo espelho retrovisor interno antes de se voltar novamente para a estrada — Os dias são definitivamente mais fáceis. Ela me ajuda sem nem saber.
— Principalmente nos últimos dias, eu posso imaginar — disse Alba, sabendo que Alexia estava tendo uma semana corrida, então o tempo em casa parecia ainda mais curto. Gisèle estava em Barcelona de maneira definitiva, ou quase, e é claro que havia as ligações e visitas de Eli sempre que ela tinha um tempo fora do trabalho, mas na maior parte do tempo, os dias eram passados apenas com ela e Venetia.
— Sim. Quer dizer, somos só eu e ela, mas isso não é uma reclamação.
Naquele dia, Gisèle teve uma manhã simples. Era o início da tarde e, depois do almoço, Alba apareceu em casa, saindo de um táxi e as duas seguiram para pegar o bolo de aniversário de Alexia no Bubó, porque era o aniversário da mais velha e Gisèle estava se certificando de que tudo estava pronto para uma noite tranquila. Então, com sorte, Alba estava imaginando que roubaria algumas horas de paz com sua irmã mais velha antes que o futebol a consumisse novamente.
— Sabe, Ale nunca quer nada muito grande — Alba disse depois de um tempo — Tentei convencê-la a convidar pelo menos mais algumas pessoas além de quem chamamos, mas ela continuou dizendo não.
— Ela me disse — Gisèle assentiu — Algo sobre manter o foco para o jogo de amanhã contra o Eibar. O que, na verdade, é de se esperar. Ela não é exatamente o tipo de pessoa que fica animada com grandes comemorações. Eu realmente não esperava que ela concordasse com nada mais do que um jantar apenas com a família e alguns amigos. Estou surpresa que ela me deixou comprar um bolo para ela.
— Estou feliz que você fez isso. Ela merece algo legal. E, além disso, você sabe que ela sempre leva essas coisas muito a sério. Ela teria recusado se a temporada não estivesse indo tão bem, como antes das férias de inverno.
— Elas não perderam um jogo.
— Mas algo sobre o desempenho dela — Alba continuou — Foi o que ela disse. Agora ela parece mais contente. E ela trabalhou tanto para isso, mas continua só-
— Trabalhando.
— É, acho que às vezes ela esquece que tem permissão para aproveitar um pouco a vida.
Gisèle assentiu, porque parecia difícil não fazê-lo. Alexia tinha um jeito de colocar o peso do mundo em seus ombros, como se cada jogo e cada momento envolvendo o Barcelona fosse algo que ela tivesse que carregar sozinha, especialmente depois da temporada passada. Ela era perfeccionista e sempre se esforçava por mais. Com a saída de Vicky Losada no verão anterior, e com a braçadeira de capitã alcançando Alexia, ela estava ainda mais focada em dar tudo o que podia. Até o momento, na temporada que estava disputando, seus números tinham sido melhores do que tinham sido no mesmo ponto na temporada passada. Ela estava feliz, mas ainda pensando no espaço que tinha para melhorar.
— Para realmente fazê-la dar um tempo a si mesma... essa é outra história — disse Gisèle.
— Sempre foi assim. Mesmo quando éramos crianças, ela sempre sentiu que precisava entregar mais, e então ser mais forte, mais responsável. Claro, com o que aconteceu com nosso pai... bem, eu acho... eu acho que é mais difícil para ela agora, tentando não abrir mão de tanto controle sobre todas essas coisas, com tudo o que aconteceu. Ela conquistou muito e, é óbvio, mas estou muito orgulhosa dela, é só que às vezes acho que ela realmente precisa diminuir o tom.
— Estamos trabalhando nisso — Gisèle disse calmamente, estacionando em uma vaga do lado de fora da confeitaria que ela conhecia bem, por algumas idas até ali nos últimos meses — Devagar, talvez, mas... eu só... eu também não quero pressioná-la muito. Ela já tem o suficiente para fazer sem que eu adicione mais pressão sobre ela desse jeito.
— Você é boa para ela, sabia — Alba disse honestamente, sua voz mais suave do que antes — Você a equilibra. Acho que ela precisa disso.
— Eu só tento estar lá para ela. É tudo o que qualquer um pode fazer, certo?!
— Você faz mais do que isso — ela sorriu — Confie em mim. Você a faz feliz. E mesmo que ela não diga em voz alta, ela sabe que se sente mais leve quando você está por perto. Isso é importante.
Se tivesse escutado aquilo há anos atrás, talvez a Gisèle mais nova sentisse seu rosto ficando mais quente, porque ela odiava receber elogios ou qualquer coisa assim, mas ali, ela sorriu levemente com as palavras de Alba, mas não disse realmente nada em resposta. Em vez disso, ela voltou sua atenção para Venetia, e então murmurou na direção de Alba que ia descer para pegar o bolo, mas que não demoraria. Alba ficou ali sentada por um segundo, e abaixou o vidro do carro, vendo a rua agitada pela hora do dia, com o barulho fraco de outros carros passando e os passos das pessoas atravessando a rua de um canto a outro. Venetia tinha adormecido rápido no banco de trás, o que não era nada de novo também, com aquele tempo de vida ela passando mesmo mais tempo dormindo do que desperta. A garotinha estava ali, com a cabeça pendente para um lado. Alba se virou no assento para olhar sua sobrinha depois de ver Gisèle desaparecer na loja com fachada mais moderna.
Um momento depois, a inglesa voltou, segurando cuidadosamente a caixa com o nome da loja, carregando o bolo — nada realmente grande, e simples o bastante, com cobertura de creme de manteiga e recheio de chocolate meio amargo. A decoração tinha ficado por conta do "28" enfeitando o topo do bolo, com uma coroa e o nome de Alexia na frente, o que tinha sido uma escolha de Eli. Gisèle estendeu a caixa para Alba quando entrou no carro, que a pegou cuidadosamente com as duas mãos, e ajeitou em seu colo.
— Então, qual é o plano para os próximos dias? — Alba perguntou eventualmente, quebrando o silêncio depois que Gisèle voltou a seguir as ruas da cidade com o carro de Alexia — Eu sei que minha irmã tem aquela partida contra o Athletic Club, mas depois disso...?
— Hm, sim, ela tem o jogo em Lezama no domingo. Depois disso, temos uma semana em Paris com a Vee — ela disse, animada o bastante — Uma pequena pausa antes que tudo fique louco de novo com a liga, a Copa de la Reina e a Champions. Então pensamos... bem, eu pensei, por que não aproveitar?!
— Paris? — Alba levantou as sobrancelhas, olhando para Gisèle com um sorriso — Ok, isso é romântico. Viagem em família e tudo mais por conta da Vee, claro, mas romântico.
Gisèle assentiu e suas mãos deixaram o volante enquanto pensavam na viagem. Ela e Alexia não tinham tido muito tempo para si mesmas depois da pausa de inverno, ainda mais porque durante a pausa, as duas não estavam exatamente bem. E então, com a agenda de Alexia cheia por todos os cantos, a ideia de passar uma semana juntas em uma cidade como Paris parecia definitivamente uma fuga necessária.
— É. Estou realmente ansiosa por isso — Gisèle admitiu, sua voz suavizando — Acho que Alexia também está, ainda que ela não tenha realmente dito.
— Sim, eu posso imaginar. Entre a liga e todo o resto, tem sido ininterrupto para ela. E para você também — Alba disse — Vai ser bom para vocês duas apenas... respirar um pouco longe daqui.
Gisèle olhou para ela por um segundo, concordando com as palavras. Seria bom respirar um pouco longe de Barcelona e Gisèle estava pedindo por um momento como aquele, mais tranquilo e um pouco mais íntimo. Era meio que parte do que fazia tudo valer a pena.
*
Alexia fechou a porta da frente silenciosamente atrás de si, e o cheiro de comida foi o que a atingiu primeiro. Ela se despediu de Mapi do lado de fora da casa antes disso, depois de um trajeto relativamente curto saindo de Sant Joan Despí. Ela ainda estava cansada do treinamento, mas começou a relaxar um pouco mais depois do tempo no banho que tomou. Vestindo uma troca de roupa diferente daquela com a qual ela tinha saído de casa naquela manhã, um conjunto de moletom cinza da Nike, ela entrou no corredor que levava à sala de estar, tirando os tênis e ficando apenas com as meias. A bolsa que ela estava carregando acabou ali no chão, perto do cabide de casacos. Na sala de estar, a televisão estava ligada, enquanto na cozinha, era o som das panelas que estava presente.
A garota caminhou pelo corredor e então cumprimentou a irmã com um beijo na bochecha antes de continuar pelo adiante, seguindo o corredor até a porta aberta de seu quarto, onde Gisèle estava se arrumando. Ela a viu de relance, movendo-se entre o armário e o espelho, ajustando a blusa que havia escolhido, os lábios franzidos em concentração. Gisèle estava de costas para ela, o cabelo caindo sobre os ombros, o que era a imagem perfeita para Alexia. Ela cruzou o curto espaço até a garota, envolvendo os braços em volta da cintura dela. Alexia pôde sentir Gisèle se assustar por um segundo, o menor choque, antes de relaxar de volta nela, seu corpo mais leve no abraço de Alexia como se ela tivesse sido completamente feita para caber ali.
— Ei — Alexia murmurou suavemente, sua voz baixa, perto do ouvido de Gisèle. Ela apertou seu abraço, pressionando seu corpo um pouco mais perto, seu queixo descansando no ombro de Gisèle.
— Ei... — Gisèle disse de volta, imitando-a, sua voz tão suave, quase divertida. Ela inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, dando a Alexia mais espaço e um pouco mais de acesso. Alexia sorriu, a mais leve sugestão de um sorriso puxando seus lábios enquanto ela se inclinava, seus lábios roçando o lado do pescoço de Gisèle, tão leve que quase foi um beijo. Mas ela não parou por aí. Outro beijo, dessa vez mais baixo, depois outro, mais lento, mais longo.
— O que você está fazendo?
— Nada. Só... isso — Alexia murmurou, seus lábios continuando seu caminho preguiçoso ao longo do pescoço de Gisèle, pegando o menor traço de seu perfume.
Então, quase instintivamente, Gisèle se virou nos braços de Alexia, seu rosto a centímetros de distância, perto o suficiente para que Alexia pudesse ver cada detalhe dela — a maneira como os olhos de Gisèle suavizaram, seus lábios se separando levemente, os cantos de sua boca se curvando num sorriso mais leve. Nenhuma delas falou nada por um momento.
Alexia levantou a mão, afastando uma mecha de cabelo do rosto de Gisèle, seus dedos traçando levemente sua bochecha antes que sua mão encontrasse o caminho para a parte de trás do pescoço de Gisèle. Ela se inclinou, suas testas se tocando, e então, finalmente, seus lábios se encontraram. Não foi apressado. Não foi apressado de forma alguma. Alexia podia sentir o calor dos lábios de Gisèle, e a maneira como tudo parecia convidativo, o momento se estendendo entre elas, e nenhuma delas querendo que acabasse. Quando finalmente se afastaram, apenas uma fração de segundo depois, Alexia descansou a testa contra a de Gisèle, sua mão caindo e seu polegar correndo em pequenos círculos distraídos em sua cintura, mantendo-se ali.
— Eu te amo, sabia? — Alexia sussurrou e observou enquanto Gisèle sorria, um daqueles sorrisos honestos dela, real e completo. Finalmente, ela se inclinou novamente, pressionando outro beijo suave nos lábios de Alexia, como se dissesse que realmente sabia o quanto Alexia a amava. Mas nunca era demais ouvir isso repetidamente.
— Eu realmente não lembro de muito dessa manhã — disse Gisèle após uma pausa. Ela se mexeu o suficiente para se afastar um pouco, seus olhos encontrando os de Alexia, e o sorriso em seus lábios se alargou — Então... feliz aniversário, cariño. Acho que já te parabenizei hoje, mas estava com muito sono para lembrar se realmente aconteceu.
— Sim — Alexia soltou uma risada suave — Você me parabenizou, mas sim, acho que você ainda estava meio dormindo — ela provocou, suas mãos ainda descansando na cintura de Gisèle, puxando-a um pouco mais para perto.
— Aquela era a versão meio adormecida e incoerente de mim. Essa é a verdadeira — Ela envolveu seus braços mais apertados em volta de Alexia — Feliz aniversário, amor. Você merece o melhor dia. O melhor de tudo, de verdade.
— Obrigada — Alexia disse suavemente, pressionando seus lábios no topo da cabeça de Gisèle — Por isso... por estar aqui, por tudo — ela fez uma pausa, seus dedos roçando o cabelo de Gisèle — Eu não poderia ter pedido uma maneira melhor de passar meu dia. Eu sou tão sortuda — Alexia murmurou — Você e Vee são meu melhor presente de aniversário, de todos.
— Bem... — Gisèle riu suavemente — Fico feliz em ouvir isso. Mas, você sabe... preciso cortar o momento, porque tenho que terminar de me arrumar.
— Ugh — Alexia soltou um pequeno gemido brincalhão, seus braços ainda frouxamente se sustentando na cintura de Gisèle — Você tem que fazer isso mesmo? — ela disse com uma sobrancelha levantada, um sorriso puxando seus lábios — Quer dizer, nós podemos ficar aqui um pouco mais, eu não vou reclamar.
— Eu sei, eu sei — Gisèle assentiu, dando a Alexia um beijo rápido nos lábios antes de relutantemente se afastar — Mas eu preciso. Eu só preciso pegar um casaco e dar um jeito no meu cabelo.
— Ele está perfeito — disse Alexia.
— Ok, Prince Charming — a inglesa provocou, tirando uma mecha de cabelo do rosto de Alexia — Mas, falando sério, preciso terminar de me vestir.
— Tudo bem, tudo bem.
— Eu só vou demorar um minuto — Gisèle falou, dando um passo para trás dessa vez, alisando a regata que estava usando enquanto caminhava em direção ao espelho para voltar a se olhar.
— Eu provavelmente deveria ir ver a Vee de qualquer maneira — Alexia continuou se encostando na porta, os olhos ainda em Gisèle — E dizer oi para minha mãe... eu estou imaginando que ela ficou na cozinha a tarde toda.
— Ela fez isso — Gisèle se virou levemente, dando a ela um sorriso calmo — Mas vai lá, dizer oi para ela e ver como a Vee está. Eu juro que saio em um minuto.
— Eu estou te esperando — Alexia se afastou da porta e se voltou para a direção de Gisèle, dando outro beijo rápido na bochecha dela antes de se afastar.
Ela retornou para a sala, e seus olhos imediatamente caíram em Venetia, que estava deitada em seu DockATot, muito bem apoiada no sofá. A garotinha ali, com os braços balançando suavemente enquanto Alba se inclinava sobre ela, sorrindo, e falando num catalão apressado que era realmente seu comum.
— Oi, querida — Alexia murmurou, caminhando para mais perto, ocupando o espaço vazio no sofá e se aproximando para deixar um beijo suave na testa de Venetia.
— Ela estava começando a se perguntar onde você estava — Alba brincou, porque Venetia tinha acordado com o barulho de Alexia abrindo a porta e então passando pelo corredor e a sala em direção ao quarto.
— Bem, estou aqui agora — Alexia sorriu, passando um dedo gentilmente pela bochecha de Venetia. Ela se endireitou, se virando para Alba — Vocês passaram bem o dia?
— Ótimas. A mami passou a tarde na cozinha, e acho que estávamos todas apenas esperando a aniversariante para começar a organizar o jantar.
— Hm, a aniversariante chegou — Alexia brincou, e então apertou gentilmente a mãozinha de Venetia, se inclinando para um segundo beijo no rosto da bebê antes de se levantar e ir em direção à cozinha, apenas para encontrar Eli preocupada no fogão, mexendo algo em uma panela grande. Ela virou o rosto quando Alexia entrou, sentindo a presença da mais nova.
— Está sentindo esse cheiro? — Eli disse, sem tirar os olhos do que estava fazendo, mas claramente satisfeita consigo mesmo.
— Um pouco difícil não sentir — Alexia disse, caminhando até ficar ao lado de sua mãe, espiando a panela onde arroz ao estilo espanhol com frango e chouriço estava quente, com páprica tomando o ar ao lado do cheiro um pouco mais suave de alho na panela.
— É o seu favorito — Eli acrescentou, e então continuou, brincando — Mas não fale para ninguém que estou fazendo.
— Acho que até os vizinhos já sabem, mami — Alexia falou, e Eli olhou para o lado, dando um empurrão leve em sua filha com o cotovelo.
— Não é todo dia que eu posso mimar você um pouco — ela disse — Ainda mais com comida. Feliz aniversário, a propósito, cariño.
— Obrigada — Alexia se inclinou, dando um beijo rápido na bochecha de Eli — Por tudo.
Ela se recostou no balcão, observando, e seu olhar foi para a outra bancada onde um pequeno prato de leche frita estava descansando, dourado e polvilhado com açúcar. Era uma das coisas que Alexia mais gostava, junto com Pan com Tomate e Jamón — ambas as coisas que ela não se permitia comer com muita frequência, por conta da dieta que seguia. Mas era seu aniversário, e parecia inofensivo tirar apenas aquela noite para comer as coisas que ela gostava. Eli reparou na atenção da filha se voltando para o balcão, e abriu a boca para dizer algo.
— Eu fiz do jeito que você ama — ela disse, acenando para o prato na bancada — Tem geleia de morango na geladeira, eu trouxe hoje.
— De onde a gente comprava em Martorelles?
— Sim, querida.
Alexia hesitou apenas por um segundo antes de dar alguns passos até a outra bancada e estender a mão para pegar um pedaço do creme frito. Ainda estava quente, crocante e muito macio por dentro, o que era realmente perfeito. Ela deu seus passos na direção da geladeira, e pegou o pote de geleia de morango que estava logo na porta, e então o abriu mergulhando o pedaço que tinha pegado, deixando o líquido vermelho e doce cobrindo as bordas antes de dar uma mordida. Alexia voltou a geleia para o seu lugar, e fechou a geladeira, se recostando nela um segundo depois.
— Ainda é a melhor coisa do mundo — Alexia murmurou, com a boca cheia, e Eli riu — Você é a melhor, mãe.
Nesse momento, Gisèle entrou na cozinha, o barulho suave no piso de suas Birkenstock soando no chão. Ela estava usando uma regata branca de gola redonda que deixava certa quantidade de pele exposta acima de suas calças listradas, dando a vista do piercing que ela tinha no umbigo e que tinha voltado para o seu lugar apenas um mês antes, depois que ela tinha se livrado dele por conta da gravidez. Um suéter preto estava jogado por seu ombro em vez de usado realmente, porque apesar do tempo frio do lado de fora, ali dentro de casa estava um pouco mais quente. Além disso, alguns colares de ouro brilhavam em seu pescoço. Ela parecia chique sem esforço, casual, mas de alguma forma ainda perfeitamente arrumada para um jantar em casa.
Os olhos de Gisèle pousaram em Alexia, terminando o último pedaço de creme frito, e ela sorriu. A inglesa se mexeu, deslizando um braço em volta da cintura de Alexia e se inclinando levemente para ela, pressionando sua bochecha contra seu ombro.
— Isso é novo — ela murmurou, acenando para o pedaço já quase no fim da sobremesa que Alexia estava segurando.
— É meu aniversário. Eu ganhei um passe livre para sair da minha dieta.
— O jantar vai ficar pronto longo — Eli comentou, ainda focada em mexer algo na panela.
— Perfeito — disse Gisèle, voltando sua atenção para Eli — Mas ainda estamos esperando por Mapi, Jenni, Irene, Marc, Miriam e as suas duas amigas de Mollet, não?
Mapi tinha, inclusive, enviado uma mensagem para Gisèle apenas dizendo que passaria em casa antes de voltar para lá. Ela tinha deixado Alexia com um pouco de pressa por essa razão. Jenni e Irene muito provavelmente iriam juntas, com Irene levando também a esposa, Lúcia, e o pequeno Mateo que tinha nascido pouco mais do que um mês depois de Venetia. Marc e Miriam estavam saindo de Mollet, junto com outras duas amigas de Alexia, amigas de infância, que Gisèle ainda não conhecia, mas já tinha escutado o bastante sobre para quase sentir que sabia o suficiente.
— Sim — Alexia assentiu — Carla e Mica. Eu acho que eles não vão demorar. Marc me ligou quando eu estava saindo do CT, ele tinha dito que estava saindo do trabalho também.
Ele estava, e ainda precisou fazer o caminho de volta para casa antes de fazer o caminho para buscar as garotas e depois seguir para a casa de Alexia, mas não demorou até que estivesse batendo na porta dela. Pouco depois, foi Mapi, Jenni e Irene quem chegou, e a noite aconteceu do jeito que as noites perfeitas aconteciam, ou as noites quase perfeitas — sem pressa, e confortável. Venetia se agarrou aos braços de Mapi assim que a viu, depois aos de Alexia enquanto elas seguiam em direção à mesa, onde Eli já havia começado a arrumar as coisas, com a ajuda de Gisèle e Alba. Depois disso, o bebê de sete meses estava determinado a não perder um único momento, ficando acordada mais tempo do que o esperado, e ela teve companhia porque Mateo, seu aparente novo amigo, estava tão alerta quanto ela.
Nisso, o jantar foi animado, com a conversa nunca diminuindo. Mapi, que estava sentada do lado direito de Gisèle, não conseguiu ficar quieta enquanto Irene mantinha as coisas no chão, ocasionalmente olhando para o pequeno Mateo nos braço de Lucia, ocupado com um brinquedo de pelúcia na mão. O calor de todo o mundo ali, junto, fez a sala de jantar parecer menor, mas da melhor maneira possível, como se todos estivessem exatamente onde deveriam estar. Alexia sentiu falta de algumas pessoas, claro — Ricard e Anna, e outra parte da família de sua mãe, mas era uma terça-feira e a vida de todo o mundo estava acontecendo. Ela nem tinha mesmo se animado para comemorar nada inicialmente, mas estava ali, e não estava arrependida.
Depois do prato principal, do bolo junto do "parabéns para você", com todo mundo batendo palmas e comemorando enquanto Alexia apagava as velas, a noite se estendeu, quase como o esperado. Venetia ficou acordada por muito mais tempo do que o normal, mas Mateo se rendeu ao próprio sono e não foi muito tempo depois disso que Irene comentou que estava indo embora. Antes disso, claro, tiveram as fotos que depois passaram num borrão de sorrisos, abraços e até mesmo uma foto de Alexia com Nala no colo atrás do bolo.
Eventualmente, a noite foi caminhando para um fim. Lá pelas onze, todo mundo estava começando a se despedir. Eli e Alba ficaram um pouco mais, ainda assim, não tanto tempo mais. Não foram muitos minutos depois para Eli beijar a bochecha da filha, lembrando ela de descansar antes da partida do dia seguinte, e então ela fez questão de compartilhar algumas palavras com Gisèle porque elas se veriam na tarde seguinte de qualquer maneira — Gisèle estava indo para Mollet assistir a partida com a família de Alexia.
Depois que Eli e Alba foram embora, a casa ficou quieta novamente, muito mais quieta do que tinha estado pelo dia. E então Alexia e Gisèle entraram em sua rotina noturna, se preparando para dormir. Alexia foi até o berço de Venetia, com o bebê em seus braços por mais alguns momentos, já cansada demais por conta das horas agitadas. Gisèle foi trocar a roupa pelo pijama, mas ela não demorou e logo estava ali, observando na porta do quarto, com um sorriso gentil no rosto, Alexia deitando Venetia cuidadosamente, alisando seu pequeno cobertor, e ficando ali por mais um segundo, apenas mantendo a atenção na respiração do bebê que estava se acomodando num sono.
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