27 | PONTO DE VISTA DELICADO
CAPÍTULO VINTE E SETE | UN VERANO SIN TI
❝PONTO DE VISTA DELICADO❞
❝de alguma forma, você se tornou uma paranoia, como um sonho erótico, suspenso❞ ⸺ LITTLE FREAK; harry styles
ERA UM DAQUELES MOMENTOS QUE PARECIAM SURREAIS E INEVITÁVEIS AO MESMO TEMPO. Alexia tinha vencido tudo — ou pelo menos quase tudo — na temporada de 2021: a liga, a copa, a Liga dos Campeões e, mais recentemente, a Bola de Ouro. E então, menos de dois meses depois, ela estava prestes a fazer história novamente. Em uma segunda-feira de janeiro, ela estava recebendo o prêmio The Best de melhor jogadora de 2021, outro selo de aprovação, desta vez da FIFA, em uma cerimônia virtual realizada em Zurique, Suíça.
Mas Alexia não estava em Zurique. Ela estava sentada na sala de imprensa do Estádio Johan Cruyff, elegantemente vestida para as câmeras, esperando ouvir seu nome ser chamado. O lugar não estava lotado — este foi outro momento tranquilo para ela — mas ainda havia alguns rostos familiares: sua mãe Eli, sua irmã Alba e Venetia, o pequeno pacote de energia de seis meses embalado firmemente nos braços de Gisèle.
Essa era a parte que ainda parecia estranha, mesmo em meio à honra do prêmio. Gisèle estava lá. Elas não tinham realmente falado desde aquele beijo no intervalo da partida contra o Real Sociedad. Isso porque a partida tinha sido no dia anterior, e claro, houve trocas, mas nada que se qualificasse como uma conversa real.
Não era como se a discussão delas ainda estivesse persistindo, havia negócios inacabados espreitando no fundo enquanto todo o resto avançava, mas elas não estavam em um espaço ruim. De qualquer forma, os jogos, os prêmios, o reconhecimento, a imprensa — a vida não parava. Então, entre elas, era como apertar o botão play sem realmente saber quando apertaria o pause novamente.
Alexia olhou para onde Gisèle estava sentada algumas cadeiras de distância, fora da câmera, balançando Venetia gentilmente em seu colo, sussurrando algo em seu ouvido para mantê-la entretida. Venetia riu, uma risada que encheu a sala. Eli sorriu ao som, inclinando-se para cutucar sua pequena bochecha.
O anúncio estava a minutos de distância, e Alexia tinha que estar pronta, e de certa forma ela estava, mas não conseguiu deixar de olhar na direção de Gisèle e só se perde ali por um segundo. Jenni, sentada mais perto de onde Alexia estava — e também uma das indicadas ao prêmio — gentilmente cutucou a garota mais nova com o cotovelo.
— Você está bem? — ela perguntou, sua voz baixa, apenas entre elas.
— Sim, sim — Alexia deu um pequeno aceno de cabeça, embora não tivesse certeza se era verdade — Só... você sabe, muita coisa na minha cabeça. Eu odeio falar em situações como essa.
— Bem, se é disso que se trata... — Jenni acenou para as câmeras prontas para transmitir as duas em alguns minutos, em quadros separados, como se elas não estivessem no mesmo lugar — Você vai se sair muito bem.
— Obrigada — Alexia sorriu para a tentativa de Jenni de quebrar a tensão ou o que quer que fosse.
A voz do apresentador do FIFA The Best estalou pelos alto-falantes na tela do outro lado da sala, chamando sua atenção de volta para o momento. Estava na hora. Ela se endireitou na cadeira, observando alguém vir ajustar seu microfone enquanto o vídeo na tela mudava. Havia uma montagem de sua temporada de 2021 — seus gols, seus passes, a maneira como ela lidou com cada momento que teve que assumir o comando do time em campo. A campanha que rendeu a tríplice coroa do Barcelona, os destaques de sua carreira durante aqueles anos no Barcelona. Ela deveria estar emocionada, mas seu estômago estava embrulhado, embora o óbvio estivesse prestes a acontecer, e ela já soubesse disso.
E então lá estava. Outro pedaço de sua história sendo registrado quando seu nome apareceu naquele papel em um palco em um estúdio de Zurique, sendo falado por Gianni Infantino.
A sala de imprensa do Barcelona Femení explodiu em uma rodada educada, mas barulhenta, de comemoração. Jenni, que estava na transmissão um segundo antes, dividindo a tela com Alexia e uma imagem estática de Sam Kerr, desapareceu para dar lugar ao momento da ex-namorada.
Alexia sorriu, e então houve as gentilezas de sempre — os agradecimentos, os parabéns, o discurso sobre o quão honrada ela estava em receber aquele prêmio e o que isso significava. Ela agradeceu as suas companheiras de equipe, seus treinadores, sua família. Ela mencionou o quão especial era vencer depois de uma temporada tão histórica com o Barcelona e o quão orgulhosa ela estava de representar o clube. E ela estava realmente orgulhosa. Ela quis dizer cada palavra.
Houve um breve momento, quando todos estavam focados no prêmio e nas câmeras, que Gisèle chamou sua atenção novamente. Ela estava lá sorrindo, apenas sorrindo, como a coisa mais perfeita em toda a sala, e de repente Alexia estava sorrindo também, tentando focar sua atenção no que ela estava ouvindo no ponto em seu ouvido. Não era muito, mas era alguma coisa.
Com isso, o tempo no ar acabou — para a alegria de Alexia — e ela finalmente saiu da tela, e as pessoas começaram a se filtrar para fora, lentamente saindo da sala de imprensa, enquanto a equipe se preparava para ir ao estúdio instalado ao lado, onde a Barça TV transmitiria uma entrevista com Alexia e Jenni, com a presença de Joan Laporta. Alexia ficou para trás parou um tempo, minutos, deixando o momento apenas chegar até ela.
Quando a sala esvaziou, Gisèle estava saindo também. Venetia tinha encontrado, cuidadosamente, conforto nos braços de Eli, que tinha saído em direção à porta com Alba. Gisèle aproveitou o espaço, parando na porta. Ela olhou para Alexia por um momento, então deu a ela um pequeno sorriso, não exatamente cansado, mas longe de animado.
— Ei — Gisèle disse, tão baixinho — Estou realmente orgulhosa de você.
— Obrigada — Alexia conseguiu dizer.
— Nós... nós deveríamos conversar — ela disse, suas palavras cuidadosas, como se estivesse tentando não pisar no lugar errado.
— Eu sei — Alexia assentiu — Nós deveríamos.
*
Alexia estava deitada de costas, os olhos fixos no teto, enquanto Gisèle descansava contra ela, a cabeça em seu ombro, os dedos distraidamente fazendo círculos preguiçosos sobre sua pele.
Estava quieto no quarto. Quieto demais. Venetia estava na casa de Eli com Alba, dando a elas uma noite sozinhas, o que era raro e, em teoria, o momento perfeito. Elas fizeram amor, lento e familiar, do jeito que ambas gostavam. E ali, com o brilho do momento já começando a desaparecer, o silêncio das duas de semanas anteriores pairou novamente. Do outro lado do quarto, as roupas de Alexia, que ela usara na transmissão, estavam jogadas ao acaso em um canto, bem ao lado das de Gisèle. A roupa da inglesa estava pendurada sobre uma cadeira, meio escorregando para o chão.
Alexia se mexeu um pouco, tentando encontrar as palavras certas para quebrar o silêncio, mas, como sempre, elas estavam em algum lugar bem no fundo dela. A ironia, ela pensou, era meio evidente. Ela podia comandar um campo de futebol inteiro com facilidade, levar o Barcelona e a Espanha à boas vitórias com alguns passes bem colocados e defesas impressionantes. Mas quando se tratava disso — falar — especialmente com Gisèle, a mulher que aparentemente a conhecia melhor do que ninguém por todo aquele último ano, ela se sentia estranha, como se estivesse praticando um esporte novo que não entendia direito.
— Eu... uh... eu estava pensando em nós — Alexia começou.
— Mmm — Gisèle praticamente murmurou contra a pele dela, sua voz suave e sonolenta, seus olhos fechados, mas havia uma sugestão clara de que ela não adormeceria sem realmente falar primeiro com Alexia. Ela abriu os olhos — Não vamos evitar isso para sempre, vamos?
— Não — Alexia soltou um pequeno suspiro, um meio riso — Eu não acho que podemos.
Por um momento, nenhuma delas disse nada. Elas apenas se entreolharam, como se tentassem descobrir por onde começar. Elas tinham discutido, sim. Elas tiveram lampejos de frustração e mal-entendidos, de tempo separadas e coisas não ditas, mas agora que estavam ali — só as duas, sem distrações — parecia que tudo tinha que sair. Todas as coisas sobre as quais elas não foram corajosas o suficiente para dizer depois da manhã em que Alexia cometeu um erro.
— Sinto muito — disse Alexia, sua voz quase um sussurro. As palavras pareciam simples demais para tudo o que ela queria mesmo dizer, mas era um começo — Eu disse isso ontem, no estádio, mas é verdade.
Gisèle piscou, seu olhar suavizando. Ela não revirou os olhos ou brincou como faria semanas atrás, quando as coisas estavam mais leves entre elas, como uma piada. Realmente era hora de falar sério.
— Você já disse isso — disse ela.
— Eu não queria que... — Alexia engoliu em seco, estendendo a mão para acariciar o cabelo de Gisèle — As coisas tivesse caído naquele lugar.
— Não foi só você — os lábios de Gisèle se contraíram em um pequeno sorriso triste — Eu também não fui exatamente inocente. Acho que fiquei muito brava, e então ter praticamente fugido para Londres...
— Mas eu entendo. Eu simplesmente odeio isso. Eu odeio que tenha demorado tanto para nós simplesmente... conversarmos.
— Bem, estamos conversando agora — Gisèle disse, e Alexia beijou o topo de sua cabeça, sua mão descansando gentilmente em suas costas.
— Senti sua falta — ela murmurou, sua voz quase um sussurro.
— Também senti sua falta — a inglesa respondeu.
— Eu fui uma idiota — Alexia disse baixinho, olhando de volta para o teto agora, como se esperasse que de alguma forma isso lhe oferecesse uma maneira melhor de se explicar — Você sabe. Sobre... Mapi.
— Amor...
— Eu sei, eu sei — Alexia a interrompeu, passando a mão pelo cabelo — Eu exagerei. Eu estava em um lugar estranho e fiz algo do nada, sem sentido. Eu... eu não sei por que fiz isso.
— Você não sabe por quê?
— Quer dizer... — Alexia hesitou — Eu estava tão cansada. Eu estava estressada com tudo, e então, de repente, eu vi vocês duas conversando e rindo, perto uma da outra, e isso simplesmente... me atingiu errado. Mas nem era sobre você e Mapi, sabe?! Era sobre mim. Eu estava apenas sendo estranha, minha mente estava por todo o lugar, e acho que entrei em pânico.
— Você sabe que nada aconteceu, certo?! Mapi... bem, ela é a Mapi. Ela é como uma irmã que ganhei de brinde quando te conheci.
— Eu sei. Eu só... eu confio em você, Elle. Eu realmente confio. É só que... eu não estava confiando em mim mesma, eu acho. Parece tão estúpido dizer isso em voz alta agora.
— Não é estúpido, mas você não precisava ficar com ciúmes. Você é a única pessoa que eu quero.
— Sinto muito — Alexia sussurrou — Por ser tão idiota sobre isso.
— Você foi bem idiota sobre isso, sim.
— Obrigada por concordar — Alexia riu um pouco, revirando os olhos.
— Mas... — Gisèle continuou, inclinando-se mais para perto, mudando de posição até ficar mais em cima de Alexia do que qualquer outra coisa. Sua testa descansou na da mais velha — Você é minha idiota. E eu não trocaria você por nada. Nem mesmo pelo charme completamente caótico da Mapi — ela brincou — Além de todas aquelas tatuagens...
— Bem... — Alexia revirou os olhos, sentindo o último resquício de constrangimento entre elas se dissolver, como se nunca tivesse existido para começar. Logo, ela estava brincando — Eu definitivamente sou mais organizada que a Mapi, pelo menos. Eu meio que tenho isso a meu favor.
— Hmm, você tem. — Os lábios de Gisèle se curvaram em um sorriso, sua mão traçando o contorno do maxilar de Alexia antes de descer pelo ombro, seus dedos apontando sua pele com o toque mais leve.
— E o que você acha das minhas tatuagens? Porque... Não sei se você notou, mas eu tenho algumas.
— Ah, eu notei — Gisèle riu baixinho, sua respiração quente contra os lábios de Alexia — Não é como se fosse difícil também.
Gisèle fechou a distância e beijou Alexia. Sua mão se enroscou no cabelo de Alexia, seu corpo pressionado mais. Alexia respondeu igualmente, suas mãos deslizando para a parte inferior das costas de Gisèle, o cobertor ao redor delas escorregando, deixando-as expostas ao ar mais frio do quarto. Mas o beijo ficou mais quente, mais insistente. As mãos de Gisèle vagaram pelo corpo de Alexia. Ela mudou seu peso, encaixando sua coxa entre as pernas de Alexia, provocando um suspiro suave da garota.
Os dedos de Alexia cravaram nos quadris de Gisèle, puxando-a para mais perto, e então ela interrompeu o beijo por um momento.
— T'estimo, Gisèle (Eu te amo, Gisèle) — Alexia sussurrou em catalão e por mais que o catalão de Gisèle não fosse exatamente o melhor, ela sabia o que aquelas palavras significavam — T'estimo molt (Eu te amo tanto).
— Eu sei — Gisèle fez uma pausa, seus lábios emparelhando a poucos centímetros de Alexia.
— Não, eu não acho que você saiba — Alexia murmurou. Seus dedos apoiados apertando a cintura de Gisèle, puxando-a ainda mais para perto — Eu te amo mais do que tudo, mais do que futebol, mais do que tudo isso... tudo isso, mais do que qualquer coisa — sua voz falhou um pouco — Sinto muito. .. por antes.
Gisèle não disse nada, ela apenas se inclinou, encostando os lábios nos de Alexia em um beijo que era definitivamente mais gentil. Alexia respondeu sem precisar pensar, até que Gisèle se afastou uma última vez.
— Jo també t'estimo (Eu também te amo) — ela arranhou, suspirando entre o último encostar dos lábios.
— Eu não mereço você, honestamente — Alexia murmurou, mas Gisèle balançou a cabeça negativamente, seus lábios encontrando os de Alexia mais uma vez.
— Você merece. Você merece tudo.
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