23 | GARRAFAS DE VINHO
CAPÍTULO VINTE E TRÊS | UN VERANO SIN TI
❝GARRAFAS DE VINHO❞
❝acabamos no carro transando e, ao terminar, desenhamos corações no vidro embaçado❞ ⸺PERO TÚ; karol g, quevedo
ALEXIA ESTAVA NO CORREDOR, COM AS CHAVES DE CASA TILINTANDO NA MÃO E UM PEQUENO SORRISO PUXANDO OS CANTOS DA BOCA. Era fim de manhã e ela estava saindo para um dia agitado. Primeiro, ela tinha um carro novo para pegar. Não era qualquer carro que ela estava pegando - era um novo Cupra Formentor, um presente da marca que tinha entrado como patrocinadora do Barcelona quando a Audi deixou o acordo em 2019. Um presente depois do que tinha sido uma temporada espetacular para Alexia, que terminou com uma boa campanha que ela fez ao lado de Gerard Piqué, uma campanha que tinha ido melhor do que o esperado do ponto de vista de entrega e resposta, e o carro era parte da recompensa.
Mas mesmo ali, parada perto da porta, com a luz do sol entrando pelas cortinas e enchendo a sala, tudo ainda parecia um pouco surreal. Ela olhou para o sofá, onde Gisèle estava descansando, uma perna cruzada sobre a outra, iPad equilibrado em seu joelho. Venetia estava enrolada ao lado dela em seu DockATot, dormindo feliz, seu pequeno peito subindo e descendo naquele jeito rítmico que os bebês faziam mesmo, completamente em paz. Gisèle estava percorrendo listas de casas em Barcelona, mergulhada em pensamentos, ocasionalmente tocando na tela com o dedo. Alexia sabia o que ela estava fazendo. Procurando por algo maior, algo mais permanente, para as três. Era engraçado como essa mudança aconteceu rapidamente - em um minuto ela estava se preparando para pegar um carro novo, enquanto também estava vendo Gisèle vasculhar todo site de casas procurando uma propriedade. A última parte um pouco por sua própria insistência, Alexia admitiu. Mas ela não estava reclamando se Gisèle estava concordando.
— Estou indo, cariño — Alexia disse suavemente, se inclinando para beijar Gisèle, saindo do corredor. Ela deixou seus lábios permanecerem na bochecha de Gisèle por apenas um segundo a mais do que o necessário. O cheiro do perfume da garota a acalmou um pouco, e ela sorriu. Gisèle olhou para cima, sorriu de volta e então voltou sua atenção para o iPad.
— Boa sorte com o carro — ela murmurou, embora Alexia percebesse que sua mente estava em outro lugar, mais especificamente no site imobiliário e em coisas como metragem quadrada, distritos escolares, bons bairros e decoração que não parecesse tão datada - o que era um pouco difícil se tratando de Barcelona — Me avise quando voltar. Ainda temos planos com as garotas, certo? Mariona, Patri, Mapi...
— Sim, vamos sair hoje à noite — Alexia assentiu — Mapi vai vir me buscar em casa se eu cancelar de última hora.
— Ok — Gisèle disse, olhando para cima novamente, deixando seu iPad de lado. Ela continuou, brincando — Vou me certificar de ficar realmente bonita.
— Como se isso fosse difícil.
Alexia riu feliz depois que Gisèle segurou seu rosto entre as mãos e a puxou para um segundo beijo. Então Alexia tocou gentilmente a mãozinha de Venetia do outro lado, deixando um beijo em sua bochecha antes de sair de casa antes que se atrasasse.
Era uma coisa engraçada, realmente - essa vida que elas construíram juntas. O futebol, as campanhas novas de Alexia, a procura por uma casa, as saídas à noite com as amigas. Na superfície, parecia tão normal, mas havia algo extraordinário na maneira como tudo se encaixou de uma forma que elas não poderiam saber que daria certo um ano atrás. Na verdade, se tivessem seguido seus próprios planos, Gisèle estaria tentando descobrir como ser mãe e talvez se preparando para falar com Alexia sobre o que poderiam ser romanticamente. Elas se apressaram, mas não se arrependeram. Foi melhor do que realmente esperar, para que tudo parecesse menos bagunçado. No final, a bagunça delas se resolveu entre elas mesmo. De uma forma que até os momentos mundanos - como pegar um carro - pareciam monumentais no contexto de todo o resto.
Quando ela fechou a porta atrás de si, com as chaves ainda na mão, seus pensamentos permaneceram em casa enquanto ela subia no banco de trás do carro que havia chamado de um serviço de transporte por um aplicativo. O carro antigo dela estava em Mollet - não exatamente antigo, porque ela o havia comprado pouco menos de dois anos antes. Então, ainda estava novo e bom o suficiente para Alba usar, embora a mais nova tivesse insistido que estava bem com o carro do tio, que ele mesmo mal usava, então Alba o fazia porque vivia indo e vindo de Barcelona. Mas se Alba insistiu nisso, Alexia insistiu no oposto e era difícil dizer 'não' para a jogadora.
Alexia enviou uma mensagem rápida para Gisèle pouco antes de chegar à Catalunya Motors em Sants-Montjuïc, dizendo que estava a caminho e que iria gravar algumas coisas, então provavelmente não verificaria o celular por um tempo. Ela terminou a mensagem com "eu te amo" e, alguns momentos depois, seu celular vibrou de volta.
"Diga oi para o carro novo por mim ;) Vou almoçar com sua mãe e irmã. Não se esqueça de parar para almoçar também. Eu te amo."
Alexia sorriu, guardando o celular no bolso do casaco antes de ver o carro seguir adiante por mais um ou dois minutos antes de parar. Do outro lado da cidade, Gisèle estava se preparando para sair de casa. E então, quase uma hora depois, ela estava sentada em um restaurante com Eli e Alba, o Terraza Martínez, onde tinha conhecido Alexia um ano atrás. Eli já estava falando animadamente sobre como Venetia tinha sido um anjo nas poucas vezes em que cuidou dela e como ela estava animada para fazer isso de novo naquela noite, e Alba, tomando um vermute com gelo e limão, olhou para Gisèle, antes de abrir a boca.
— Ei... Ouvi dizer que vocês estão procurando uma casa.
— Alexia deixou escapar, não foi? — Gisèle riu.
— Ela não queria — Eli sorriu por um momento antes de deixar uma risada nasal encontrar o caminho em sua voz — Mas você conhece Alexia. Às vezes as coisas simplesmente... escapam.
— Principalmente quando ela está tentando esconder algo da gente — disse Alba — Ela sempre conta tudo, mesmo que não queira. É só hábito.
— É, bem — Gisèle deu de ombros — Não me importo. Já olhamos alguns lugares, mas queremos um lugar com um pouco mais de espaço. Não estamos preocupadas com o lado financeiro das coisas, mas ainda não encontramos o lugar certo. Estou procurando algo que pareça um espaço de verdade, onde possamos construir algo.
— Nada de bom até agora? — Alba assentiu, recostando-se na cadeira e levando o copo aos lábios, tomando um gole de sua bebida.
— Alguns lugares bons — respondeu Gisèle — Um com um jardim enorme, o que seria ótimo para Venetia, mas o interior não era muito bom. Outro que tinha o layout certo, mas sem espaço ao ar livre. Mas também não estamos com pressa para isso.
— Você já pensou em lugares nos arredores? Você pode encontrar mais espaço e ainda ter acesso rápido à cidade. Mollet, por exemplo — Eli sugeriu, sorrindo para Venetia antes de olhar para Gisèle.
Mollet ainda era um bom lugar, e Alexia definitivamente tinha um espaço especial em seu coração para onde ela nasceu e foi criada, mas ela não queria voltar para lá. Ela gostava de estar na cidade.
— Nós pensamos sobre isso. Há alguns lugares que gostamos que são um pouco mais distantes. Mas, você sabe, é complicado. A agenda de Alexia significa que ela precisa estar perto do CT, e eu não sou exatamente fã de passar horas no trânsito para chegar a reuniões na cidade, o que vai acabar acontecendo se eu for morar aqui porque vou ter que encontrar um espaço e um estúdio. E então há a escola para pensar, quando chegar a hora.
— Escola já? — a sobrancelha de Alba se ergueu e ela estendeu a mão para pegar a mãozinha de Venetia — Mas nossa bebecita ainda é tão pequena.
— Mas temos que pensar sobre isso — Gisèle sorriu — Prefiro encontrar algo agora onde possamos crescer do que ter que nos mudar novamente em alguns anos. Quero que Venetia tenha estabilidade. Um lugar onde ela possa se sentir em casa, especialmente porque ela obviamente terá que dividir seu tempo entre Barcelona e Londres. É bom para ela ter lugares estáveis em ambas as cidades.
— Entendo. Hm, o que você acha de Sarrià? — Alba ofereceu, inclinando-se para frente — É familiar, tem muitos parques, não muito longe do centro, mas ainda parece residencial. Conheço algumas pessoas que moram lá e elas adoram.
— Sarrià? Ainda não dei uma olhada, mas vou anotar.
— É adorável — Eli assentiu — Tranquilo, mas com boas escolas, bom acesso a tudo. E não é muito longe de Sant Joan Despí, o que pode ser perfeito para Alexia. Treze minutos de carro até o centro de treinamento.
— É perto do Camp Nou também — lembrou Alba — Sabe, se eles realmente começarem a levar os jogos femininos para lá.
— Com certeza vou dar uma olhada — disse Gisèle — Só quero um lugar que não pareça uma parada temporária.
— E, sobre a casa, vocês realmente precisam de um espaço grande — Alba sorriu, tomando seu vermute — Do jeito que a carreira de Alexia está indo, você vai precisar de espaço para todos esses troféus também. O The Best está batendo na porta.
— Ah, por favor — Gisèle riu, balançando a cabeça — Se tivermos mais espaço, talvez eu tenha que dedicar uma sala só para os prêmios dela, mas não estou reclamando.
A conversa parou quando o garçom trouxe a comida, uma bandeja cheia com três pratos. O Terraza Martínez era um dos restaurantes de paella favoritos de quem morava em Barcelona, mas isso era sabido. Construído em uma colina e existindo por uma década, os anos foram gentis com Martinez e tudo lá era bom. Como os almoços de frutos do mar na Espanha geralmente começavam com um aperitivo de vermute seguido de cerveja ou vinho branco, foi isso que Alba pediu, caindo para vinho branco depois do vermute, mas Gisèle não estava bebendo, então ela se limitou a um suco de laranja e cenoura, e Eli se juntou a ela.
A refeição para Alba e Eli foi fideuà, onde macarrão de vermicelli curto substituiu o arroz com frutos do mar que vinham descascados. Gisèle pediu o arroz com lagosta no estilo "socarrat", com as bordas tostadas e caramelizadas ao redor do prato de paella, que para ela era a parte mais deliciosa. Quando o garçom saiu, depois de ajeitar tudo por ali, Gisèle tirou Venetia dos braços de Eli e a acomodou no bebê conforto apoiado na cadeira ao lado dela, e então mudou o foco de volta para a conversa, e para a noite fora que ela teria.
— Obrigada por ficar com a Venetia hoje à noite, a propósito — ela disse a Eli, que dispensou o "obrigada" com um sorriso.
— Não é nada, passar um tempo com ela é sempre incrível.
— Vocês duas estão saindo com Mapi e as garotas de novo? — Alba perguntou.
— É, elas têm esse lugar em mente, em El Raval — Gisèle assentiu — Deve ser uma noite divertida.
— Só se lembrem de estar em casa em um bom horário — Eli tomou um gole de sua bebida e acrescentou — El Raval é um pouco mais perigoso durante a madrugada.
— Nós vamos lembrar disso — Gisèle garantiu — Mas não se preocupe, Alexia vai controlar a hora de todo mundo voltar para casa. Amanhã o dia é livre, mas elas têm treino na quarta-feira.
— Ah, claro — Alba riu — Ela vai ser a pessoa a mandar vocês de volta para os carros como um bando de crianças no fim da noite. Ela é boa nessa tarefa.
Gisèle riu disso, mas não conseguiu deixar de pensar o quanto estava ansiosa pela noite, na verdade. As amigas de Alexia eram todas divertidas, e Gisèle tinha sido recebida com carinho. No seu início em Barcelona, Alexia tinha morado com Patri e Mariona, dividido um apartamento com elas, então as três eram também mais grudadas, bem como Alexia era com Irene e Jenni, e Gisèle as via sempre. Era parte também da nova vida que as duas estavam sustentando, uma coisa interessante.
Com o assunto girando na mesa, e Gisèle comentando qualquer coisa que Eli respondeu em seguida, no escritório de Josep, não tão longe dali, Alexia se recostou na cadeira atrás de uma mesa de madeira na sala fechada, com as caixinhas vazias do almoço entre eles no tampo. Eles passaram a última hora analisando a logística do documentário que Alexia tinha recebido uma sondagem para fazer - os horários, as reuniões, as câmeras sempre presentes que se tornariam parte de sua vida e que começaram a registrar parte de alguns momentos já na cerimônia da Bola de Ouro. Não que Alexia não gostasse da ideia; na verdade, uma parte dela achou aquilo quase engraçado. Mas a ideia de ser constantemente filmada, sua vida e pensamentos dissecados para o mundo ver, parecia ser tão estranho. E então havia também as entrevistas. E eles gravariam por um ano inteiro. Alexia não tinha ideia do que poderia acontecer por um ano inteiro, e ela não tinha controle de nada. O último ano dela tinha sido algo brilhante, e ela estava disposta a repetir isso, mas não conseguia dizer e prometer que o faria.
— Eu sei que é muita coisa para assumir — disse Josep, notando o silêncio pensativo de Alexia — Mas é uma grande oportunidade. As pessoas querem ver os bastidores, conhecer você além do campo de futebol, ainda mais com a atenção do Ballon d'Or. Você viu, suas redes cresceram do dia para a noite. Todo mundo quer entender quem você é.
— Sim, eu sei — Alexia concordou, traçando a borda de sua xícara de café com o dedo, que ela tinha enchido logo depois do almoço, mas que ainda estava quente — E Gisèle acha que é uma ótima ideia. Ela tem me pressionado a fazer mais dessas coisas. Não exatamente pressionado do jeito errado... você entende. Ela só acha que eu preciso aproveitar isso.
— Ela está certa, sabia — Josep falou, se inclinando para a frente, os cotovelos apoiados na mesa. Ele sempre era direto com ela, porque se sentia quase como um irmão mais velho, beirando o que a figura de um pai poderia ser também. Eles se conheciam há uma década, desde o início de tudo. Josep tinha abertura — Isso vai te colocar em outro nível, você é mais do que apenas uma jogadora agora, Ale. As pessoas gostam de você. Elas te admiram. Isso pode fazer com que elas se conectem com você ainda mais. E você tem alguém como Gisèle que entende esse mundo. Ela passou por tudo isso sozinha. Se alguém souber o que fazer ou não é definitivamente ela.
— É, ela é meio que profissional nisso — Alexia disse, balançando a cabeça — E tudo com ela é tão despreocupado. Às vezes sinto que estou quilômetros atrás dela quando se trata de lidar com... toda essa atenção. Ela sabe exatamente como lidar com isso. Enquanto isso, eu só quero jogar futebol, sabe?
— Mas-
— Mas não se trata mais só de futebol — Alexia o interrompeu, completando exatamente o que ela sabia que ele diria — Eu sei.
— E é parte do motivo pelo que isso é tão importante. As pessoas já respeitam seu jogo. O que eles não sabem é como você se prepara para isso, como você pensa sobre isso, a maneira como você equilibra sua vida, seus relacionamentos. É isso que a torna atraente para que a Amazon queira fechar o contrato de distribuição. E eles têm uma boa diretora para isso. Joanna Pardos já assinou, e olha, não estou dizendo que isso será fácil. Haverá momentos em que as câmeras parecerão intrusivas ou você desejará ter mais privacidade. Mas é sua história, Alexia. Você controla o que compartilha, como é vista. É uma chance de moldar isso.
— Eu só não quero que isso mude as coisas tão abruptamente também — Alexia continuou — Apenas deixando claro. Com Gisèle, com Venetia, com a minha família. Não quero que elas sejam arrastadas para tudo isso do jeito errado.
— Isso não vai acontecer — Josep a tranquilizou — E eu já disse, você pode definir esses limites. Você está no controle. Não é um reality show onde eles estão filmando cada momento de sua vida sem espaço para apontamentos. É um documentário. Você decide o quanto o que quer compartilhar. E se em algum momento parecer demais, nós nos afastamos. É mais simples do que parece.
Alexia assentiu novamente, embora dessa vez houvesse mais determinação no gesto. Josep estava certo sobre isso e ela confiava nele. Gisèle também tinha sido seu apoio constante durante toda aquela loucura e ela tinha opiniões sobre - desde o Ballon d'Or. As câmeras tinham feito parte de sua vida naquela noite. E sim, o documentário parecia mais um passo, um grande passo. Talvez grande demais, mas saber que Gisèle estava a favor tornava as coisas um pouco mais simples.
Eles encerraram a reunião quase uma hora depois, porque ainda tinham outras coisas para discutir - como a extensão do contrato de Alexia com a Nike e todas as coisas que ela tinha para gravar, como as campanhas de fim de ano que tinha assinado. Apesar disso, Alexia checou seu celular por todo aquele tempo, com algumas mensagens de Mapi confirmando a saída daquela noite, e mais outras mensagens de Gisèle perguntando se Alexia poderia a fazer um favor, e então a encaminhando uma mensagem do contato de Santa Eulália, uma loja de roupas ali de Barcelona, confirmando que as roupas que Gisèle tinha comprado naquela manhã estavam prontas para retirada.
No caminho para casa, Alexia foi até a loja, sem pressa pelo trânsito de fim de tarde de Barcelona. Em Santa Eulália, ela pegou as sacolas e duas ou três caixas com casacos bem dobrados e embalados de roupas da The Row que Gisèle havia encomendado - porque ela estava um pouco obcecada pela marca. Todo o processo foi tranquilo, e ela ajeitou tudo no porta malas. Depois seguiu para a Egea, uma outra loja na Carrer de la Diputació, que Alexia tinha ido uma única vez e pesquisou no Google só para ter certeza de que ainda existia. Ela voltou para o carro depois dessa segunda parada e deixou o pacote da Egea embaixo da parte de trás do seu banco, se esquecendo um pouco que estava realmente ali, pelo resto do caminho.
Mais tarde, quando ela entrou em casa, o silêncio a atingiu, porque Gisèle ainda não tinha chegado. Por um momento, Alexia se deixou relaxar, tirando os sapatos e indo para o quarto com todas as sacolas de Gisèle, as deixando perto da cama. Ela checou o celular novamente quando voltou para a sala, tirando seu casaco, ficando apenas com a camisa preta que estava usando e se sentando no sofá, discando para Gisèle, que atendeu após o primeiro toque.
— Ei — a voz de Gisèle soou normal, não tão baixa, e ainda assim Alexia conseguiu ouvir o barulho do trânsito no fundo — Acabei de deixar Venetia e Nala com sua mãe. Deixei a Vee com tudo que ela vai precisar até amanhã de tarde.
— Ficou preocupada?
— Eu sempre fico quando vou ficar tantas horas longe dela — Gisèle confessou — Mas sua mãe está preparada para tudo.
— Ela sempre está — Alexia reforçou — Você está voltando já?
— Sim — ela assentiu, ainda que Alexia não conseguisse ver do outro lado — Eu estou há uns trinta minutos de casa.
— Ótimo, porque eu estou meio que sentindo sua falta.
— Ah, é? — Gisèle deixou uma risada escapar, meio irônica, mas gentil — Você esteve fora o dia todo, ocupada com reuniões, correndo por aí. Achei que ficaria feliz por um pouco de silêncio agora.
— E estou — disse Alexia, embora não quisesse dizer isso totalmente. Antes, ela adorava o quão silenciosa sua casa conseguia ser, ainda mais que o bairro era afastado, no alto, rodeado de verde. Tudo parecia sempre muito calmo, mas Alexia tinha se acostumado com mais barulho, com a televisão ligada, com Gisèle sempre falando com ela ou com alguém pelo celular, e com Venetia fazendo barulho por qualquer coisa — Mas eu prefiro quando você está aqui.
Por um segundo, nenhuma das duas falou nada, apenas o som do trânsito atrás de Gisèle e o barulho baixo dentro do táxi, que estava com o rádio ligado, escapou pelo celular. Alexia não queria desligar, não queria mesmo. Quase um dia inteiro longe parecia longo demais para ela, como se o espaço entre as duas tivesse se estendido demais. Ela só estava com saudade, mas nada de novo também.
— Você pode ficar na linha se quiser — Gisèle ofereceu gentilmente.
— É, eu gostaria disso... — Alexia foi sincera — Mas acho que vou aproveitar a academia aqui perto por um tempo, até você voltar.
— Claro que vai — a risada de Gisèle voltou e o sorriso de Alexia continuou ali também, no canto de seus lábios — Juro, um dia você vai se desgastar, e será totalmente sua culpa. Hoje é o dia certo pra não fazer nada.
— Eu só não consigo ficar sem fazer nada — Alexia disse — E se, bem, se pelo menos um dia isso acontecer, eu me desgastar, vou estar em boa forma, você vai ver.
— Eu não posso discutir com isso, mas estou começando a pensar que deveria fazer você se concentrar um pouco mais em relaxar. Você não precisa ser tão perfeita o tempo todo, só te lembrando.
— Eu não sou perfeita, já te disse isso mil vezes. Longe disso.
— Mas você está mais perto do que a maioria — disse Gisèle suavemente, e Alexia podia imaginar a maneira como seus olhos quase fechariam quando ela sorrisse, o calor mais suave em sua expressão.
— Não sei como você pode dizer isso enquanto estou aqui de calça de moletom e com meu cabelo todo bagunçado.
— É exatamente assim que eu gosto — Gisèle brincou e Alexia riu um pouco.
— A que distância você está mesmo?
— Não devo demorar muito.
— Mais vinte ou trinta minutos, você disse? — Alexia perguntou e ouviu o "aham" como sua resposta — Parece uma eternidade.
— Bem — disse Gisèle, sua voz sendo arrastada — Você poderia começar com a academia, gastar essa energia. Ou... apenas me fazer companhia até eu entrar pela porta.
— Eu poderia fazer as duas coisas.
— Multitarefas agora, não é?
— Para você? Sempre.
— Eu estou chegando logo, mas vou gostar disso. Senti sua falta hoje.
— Eu também senti sua falta — a voz de Alexia caiu para quase uma sugestão.
— Acho que isso significa que vamos ter que compensar o tempo perdido quando eu chegar aí — Gisèle murmurou, seu tom misturado com algo brincalhão e um pouco sugestivo.
— Ah, eu estou pensando sobre isso — o sorriso de Alexia cresceu mais um pouco, seus dedos distraidamente traçando seu joelho sobre a calça.
— Mesmo?
— Aham.
— É melhor você estar pronta quando eu passar por essa porta, amor.
— Estou pronta agora, cariño.
*
Alexia estacionou o carro no meio-fio logo atrás do Bar Resolis. Ela guiou seu Cupra para uma vaga que costumava usar quando estava por ali. E a rua era estreita, o tipo de espaço onde um carro estacionado um pouco longe demais para a esquerda causava problemas para qualquer um que tentasse passar. Mas Alexia fez parecer fácil, deixando espaço o bastante, desligando o motor e olhando para Gisèle, que já estava se mexendo no assento, se inclinando para frente e ajustando a bainha de sua calça jeans. Um dos poucos postes de luz rua estava espalhando luz pelo para-brisa, iluminando o carro, mas iluminando bem pouco, e então Alexia ligou a luz de dentro, lançando o tom amarelado pelo rosto de Gisèle.
— Você está bem? — ela disse, seus olhos observando a roupa de Gisèle pelo que deveria ter sido a décima vez naquela noite. A inglesa estava voltada mais para o casual, com jeans claro, uma camisa branca simples que, se Alexia olhasse por muito tempo, a fazia esquecer por que elas estavam se encontrando com amigas em primeiro lugar. A jaqueta de couro preta por cima, com os Adidas Sambas em cor escura nos pés.
— Sim, estou bem — Gisèle ofereceu um sorriso rápido enquanto abria a porta do carro e saía para a rua, puxando a blusa para baixo, o que não adiantou de nada, enquanto o vento mais frio batia em seu abdômen — Embora eu esteja congelando um pouco agora, o que é novo para essa cidade.
— Você deveria ter usado algo mais quente — Alexia comentou, saindo do carro também, depois de apagar a luz, fechando a porta e o trancando. Sua própria roupa, um vestido mais curto e justo, também não era exatamente prático para a noite fria, e sua pele estava se arrepiando, mas tinha valido a pena porque ela sabia que Gisèle notou.
Elas caminharam lado a lado em direção ao Bar Resolis, um lugar que parecia estar na linha entre o charme do velho mundo e o chique boêmio e descolado do novo. O espaço do lado de fora tinha algumas mesas, a maioria já ocupada por alguns grupos de amigos. A noite estava movimentada, mas não demais também porque Barcelona e suas noites eram sempre movimentadas. E ali estava uma mistura de moradores locais e pessoas que gostavam de se ver como locais porque viviam nos arredores, mas poucos turistas. Na frente, tinha também o cheiro de tapas deixando o lado de dentro e o aroma de alho e azeite de oliva se misturando a tudo.
— Lá estão elas — Gisèle apontou para a frente, seus olhos pousando em Mapi, que acenava de uma das mesas na frente. Patri, Mariona e Pina já estavam sentadas, cada uma delas com uma bebida na mão, rindo de algo que, de fora, provavelmente não faria muito sentido de qualquer forma.
— Vocês duas demoraram bastante — Mapi acenou enquanto elas se aproximavam, seu sorriso mais cheio como sempre. Ela estava vestida com um moletom jogado sobre jeans rasgados como se não se importasse realmente com nada, mas de alguma forma parecia que ela tinha pensado naquilo. A manga do moletom estava subindo seu braço, deixando suas tatuagens à mostra, e Mapi estava com os cabelos descoloridos presos apenas em cima, deixando o resto do comprimento cair pelos ombros.
— Algumas de nós temos coisas para fazer, você sabe — Alexia retrucou, sorrindo enquanto puxava uma cadeira para Gisèle, para então se sentar na cadeira ao lado dela.
— Coisas para fazer ou pessoas para fazer? — Patri entrou na conversa, sorrindo enquanto tomava um gole de seu vinho, seus olhos passando deliberadamente entre Alexia e Gisèle.
— Ainda não chegamos nisso — Gisèle levantou uma sobrancelha, dando a Patri um olhar mais descontraído, antes de voltar sua atenção para o menu que estava jogado no meio da mesa — Ainda.
— Meu Deus... — Alexia revirou os olhos, mas riu — Nós vamos pedir ou vocês vão ficar falando merda a noite inteira?
— A gente estava esperando vocês chegarem, na verdade — Mariona falou e encarou Alexia — Achei que você tinha opiniões fortes sobre a seleção de vinhos.
— Opiniões fortes sobre tudo, se for valer de algo — Mapi acrescentou com um sorriso e se desviou do guardanapo de papel que voou em sua direção e terminou caindo no chão. Ela se inclinou para o pegar e o amassou antes de deixar ali mesmo na mesa.
O garçom se aproximou da mesa delas depois de um tempo, e o grupo recitou seus pedidos numa confusão um pouco maluca de espanhol, catalão e inglês - mas eventualmente, vinho, mais coquetéis e uma variedade infinita de tapas para compartilhar foram escolhidos, com o garçom garantindo que ele não demoraria a voltar com tudo.
Alexia apoiou as costas na cadeira, ajeitando sua postura e sentindo o frio em suas pernas descobertas, mas tentando não se importar. Ela deixou seu olhar vagar até a garota do seu lado, percebendo a maneira como a jaqueta de Gisèle se movia levemente a cada vez que ela se mexia, revelando apenas um toque de pele sob sua camisa branca. Gisèle a pegou olhando em um momento e levantou uma sobrancelha, com um pequeno sorriso puxando o canto de seus lábios enquanto Patri e Mapi discutiam alguma coisa de frente para as duas.
— Você está bem?
— Sim — Alexia assentiu — Estou bem.
E ela estava bem mesmo. Com o barulho da rua, o barulho de copos e as brincadeiras entre as amigas. Tudo parecia certo. E foi assim que a noite foi caminhando, mais rápido do que Alexia pudesse esperar caminhar. Mas era o que acontecia quando ela estava rodeada pelas pessoas que mais gostava.
O garçom voltou, e depois manteve o vinho fluindo ao longo da noite, trocando as garrafas de um branco gelado que combinou perfeitamente com a comida. E aí vieram os pratos, patatas bravas, croquetes e polvo grelhado ocuparam parte da mesa, e Mapi começou a comer reclamando que nem deveria estar fazendo aquilo.
— Isso é ridículo — ela disse, segurando um dos croquetes como se fosse algum tipo de prêmio, antes de enfiar na boca — Juro, eu venho aqui e esqueço o que é controle de porções.
— Controle de porções? Você está fazendo isso? — Patri revirou os olhos, seu sorriso mais aberto enquanto ela fazia uma bagunça em seu prato com um garfo — Acho que isso nunca foi uma coisa para você.
— Na sua cabeça, sua merdinha — Mapi retrucou, colocando outro pedaço de comida na boca — Diferente de você eu levo a sério minha dieta.
Alexia e Gisèle trocaram um olhar, antes da mais velha se inclinar e comentar algo com a namorada, que terminou rindo. Alexia se viu fazendo muito isso também. Ela riu de um bocado de coisa, mais do que há algum tempo tinha feito, com a tensão daquele dia mais cheio também escapando a cada gole do vinho, que ela se permitiu tomar, e a cada mordida de comida.
Em algum momento, a conversa mudou, como sempre, para futebol. Mariona estava na metade de uma história sobre uma sessão de treinamento que saiu dos trilhos na semana anterior, algo envolvendo Pina e então elas falaram também sobre a próxima convocação para a seleção, e o assunto ficou mais sério.
— Então... — Patri tomou o resto de sua bebida antes de encher uma taça de novo — Ano que vem... Euro na Inglaterra...
— Prontas? — Pina perguntou — Se vocês forem convocadas.
— Ansiosa — Alexia deu de ombros — Se todo o resto estiver mais ou menos bem, quem sabe a gente tem alguma chance real.
— A Inglaterra vai ser um pouco selvagem — Mapi comentou — A Wiegman no comando... E eles ficaram tão animados depois de sediar esse ano, além do fato de que as garotas novas parecem realmente boas.
— Hm, é, a Euro masculina — Gisèle acrescentou — Aquela derrota para a Itália? Toda aquela merda em Wembley... — ela fez uma pausa — Mas vocês sabem, obviamente, estarei torcendo para que as Lionesses se saiam bem.
— Você? — Alexia levantou uma sobrancelha — Torcendo pela Inglaterra? Isso é algo que eu não esperava.
— Idiota — Gisèle riu, inclinando-se para perto, seus lábios tocando os de Alexia enquanto a beijava por um único segundo — Eu vou torcer por vocês também — ela sussurrou, sua mão deslizando para trás da cadeira de Alexia, enquanto a outra descansava em sua perna — Eu posso fazer várias coisas ao mesmo tempo, gente.
— Oh, ótimo — Patri fingiu suspirar irritada, balançando a cabeça com falsa desaprovação, mas ela riu — Ela está jogando dos dois lados agora.
— Inteligente, se você me perguntar — Mariona interrompeu, sorrindo enquanto se servia de mais vinho — A melhor maneira de não desapontar ninguém.
— Honestamente — Mapi, que estava girando seu vinho com gelo no copo, finalmente falou, e foi meio que a compreensão geral que ela iria falar mais sério — Só espero que quando o torneio começar, as coisas tenham melhorado na RFEF e na própria seleção nacional. Caso contrário, todo o talento do mundo não vai fazer diferença fazer alguma, como sempre.
A mesa caiu em um breve silêncio, com as palavras de Mapi se acomodando entre elas. A tensão entre as jogadoras e a federação não era exatamente um segredo, e embora elas tentassem rir disso na maioria dos dias, a frustração subjacente estava sempre lá. As coisas eram diferentes para elas. Os jogadores sempre tiveram mais espaço para conversar, mais estrutura e apoio. Eles poderiam dizer que era porque a seleção masculina entregava mais, mas então seria mentira. Nada fazia muito sentido. Mapi já tinha comentado algumas vezes, mas ela sempre falava quando tinha espaço, que eles só tinham uma equipe feminina porque precisavam ter.
— A gente tem tempo — Alexia falou calmamente, sua mão cobrindo a de Gisèle em sua perna — Muita coisa pode mudar em meio ano.
— E muita coisa pode permanecer a mesma, Ale, você bem sabe — Mapi murmurou meio irritada, mas a tensão se dissipou quando ela encontrou o olhar de Alexia e deu de ombros.
Eventualmente, os pratos ficaram vazios, os copos também e o frio no ar se tornou mais presente. Alexia olhou para Gisèle, que estava distraidamente brincando com sua taça de vinho, seu rosto relaxado daquele jeito que só ficava quando ela se sentia completamente à vontade. E assim, a noite começou a se quebrar para o fim, e logo todas estavam de pé, se espreguiçando, puxando as jaquetas mais contra a pele por conta do frio, se juntando para pagar a conta, se despedindo e prometendo fazer tudo de novo em breve, sabendo que realmente fariam.
Enquanto caminhavam de volta para o carro, Alexia deslizou sua mão na de Gisèle, antes de murmurar que aquilo tinha sido divertido. Gisèle concordou, com um sorriso nos lábios, mas dizendo que estava pronta para ir para casa, honestamente.
Alexia destrancou o carro quando elas se aproximaram, segurando a porta aberta para Gisèle antes de dar a volta e deslizar para dentro. Quando se afastaram do meio-fio, as luzes da rua estreita foram borrando no espelho retrovisor.
Logo, Alexia estava dirigindo pelas ruas silenciosas e mal iluminadas de Barcelona antes de chegar em uma das vias principais, que mesmo naquela hora estava cheia. A mão de Gisèle descansava sobre a de Alexia, seus dedos entrelaçados no apoio central. O silêncio entre elas caiu pelo espaço, mas não foi nada ruim. Honestamente, as duas estavam apenas pensando em chegar em casa e aproveitar o fato de que tinham uma madrugada sem o choro das quatro da manhã de Venetia, o que queria dizer que elas tinham também mais tempo para fazer o que bem queriam. Alexia estava querendo mais contato o dia todo por parte de Gisèle, e os breves momentos que elas compartilharam - a corrida para tomar banho juntas, e depois a corrida para se arrumarem, não tinham causado nada porque elas não queriam se atrasar.
Gisèle se mexeu no assento, seus olhos traçando as luzes da cidade enquanto elas seguiam em alta velocidade. Seu corpo se inclinou um pouco mais para perto de Alexia. No próximo semáforo, Gisèle se inclinou de vez para a garota, aproveitando a parada. Seus lábios tocaram a pele macia do pescoço de Alexia, com lentidão. Alexia respirou fundo, seus olhos se voltaram para ela antes de fechá-los por um breve segundo. Ela sentiu o calor da respiração de Gisèle contra sua pele, e se arrepiou.
— Você está me provocando o dia todo — Alexia murmurou.
— Você não pode realmente me culpar — Gisèle riu baixinho.
— Não acho que quero esperar até chegarmos em casa — Alexia se mexeu no assento, tentando se concentrar na estrada quando ela viu que o sinal se abriu, mas seu corpo já estava mais leve. O sorriso de Gisèle se alargou contra sua pele.
— Então não vamos esperar.
Alexia olhou para ela de novo, mas hesitou. Elas tinham mais vinte minutos até chegar em casa. Mas ela não queria esperar mesmo, ainda que tivesse esperado o dia todo. A coisa era que o toque de Gisèle estava deixando tudo mais difícil a cada segundo.
Sem dizer uma palavra, Alexia virou o volante, saindo da estrada principal e seguindo direto, mais à frente, entrando no estacionamento vazio de um antigo posto de gasolina, fora de operação há não muito tempo. O prédio estava no escuro total, escondido e silencioso, mas o estacionamento era aberto, e ainda assim isolado o suficiente para que ninguém notasse duas pessoas enfiadas em carro novo com vidros escuros.
Quando o carro parou, o motor continuou funcionando suavemente. Alexia se virou para encarar Gisèle, sua respiração irregular, os olhos mais escuros. A mão de Gisèle se moveu para a coxa de Alexia, seus dedos traçando a pele dela, empurrando apenas o suficiente para cima, para fazer Alexia expirar bruscamente.
— Quer mesmo fazer isso? — a voz de Gisèle soou quase como uma provocação, mas ela estava honestamente dando espaço a Alexia. Elas tinham vinte minutos de caminho, sim, mas também tinham uma cama as esperando.
Alexia não respondeu com palavras. Em vez disso, ela se inclinou para perto, seus lábios colidindo com os de Gisèle em um beijo que foi tomado por necessidade, puxando ela para mais perto também, com sua mão deslizando para a parte de trás do cabelo de Gisèle.
Gisèle sorriu entre o beijo e pegou a mão de Alexia, puxando-a para o banco de trás com um puxão lento e cuidadoso. Alexia não precisou de muito para a seguir. Elas se arrastaram desajeitadamente entre os bancos da frente, meio que rindo enquanto tentavam fazer aquilo funcionar, irem para o espaço de trás sem se desgrudar. Alexia se ajeitou primeiro, com as costas contra o banco, e Gisèle acabou montando nela. A jaqueta de couro que Gisèle usava rangeu levemente quando ela se inclinou para frente, seus lábios encontrando o pescoço de Alexia, beijando ao longo de seu queixo.
As mãos de Alexia se moveram para a bainha da camisa de Gisèle, tirando primeiro a jaqueta e a jogando para baixo, e então puxando a camisa para cima com uma espécie de urgência. Em troca, as mãos de Gisèle puxaram as alças do vestido de Alexia, deslizando-as lentamente por seus ombros. Elas estavam enroscadas uma na outra, roupas meio despidas, pele se tocando, e aí, quando Alexia se mexeu, seu pé acabou chutando algo sob o assento do motorista.
— Merda — ela murmurou, meio rindo, meio frustrada, enquanto se afastava um pouco, sua cabeça inclinada em direção ao chão — O que eu acabei de chutar?
— Como eu vou saber, amor... — Gisèle parou e olhou para baixo no momento em que Alexia se inclinou. Seus olhos se estreitaram enquanto ela alcançava algo sob o assento. Sua mão tocou em qualquer coisa, e quando ela puxou o que parecia uma caixa para si, quase quis fechar os olhos porque tinha se esquecido completamente de que aquilo ainda estava ali.
Era uma pequena caixa de papelão, discreta. Gisèle observou enquanto Alexia a abria, e suas sobrancelhas se ergueram quando viu o que havia dentro - um brinquedo, com uma tira para prendê-lo na cintura. O olhar no rosto de Alexia estava preso em algum lugar entre constrangimento e diversão, mas muito mais o segundo que o primeiro porque ela tinha, honestamente, aprendido a ser mais aberta para aquele tipo de coisa estando com Gisèle. Não que o relacionamento delas fosse cem por cento pautado na parte física da coisa toda, mas era parte dele.
— Bem... eu não estava pensando em usar isso aqui — ela disse, segurando a cintura de Gisèle depois de deixar a caixa de lado, no banco — Eu comprei hoje, na verdade. Na Egea, aquela loja na Gran Via.
— Você comprou isso hoje? — Gisèle disse, sua voz caindo um pouco, se inclinando para mais perto do rosto de Alexia — O que você estava planejando fazer com isso?
— Sinceramente, eu estava me imaginando convencendo você a me deixar usar isso em você... — ela admitiu.
O sorriso de Gisèle se aprofundou quando ela pegou a caixa no banco, passando os dedos sobre a borda dela, com a parte de cima aberta, deixando mais do que claro o que tinha ali dentro.
— Bem — Gisèle continuou, seus olhos ficando um pouco mais escuros enquanto ela olhava para Alexia — Nós ainda podemos tentar... mas talvez a gente mude as coisas mais uma vez hoje à noite.
Alexia não precisou de muito para entender a sugestão de Gisèle, e o coração de Alexia bateu um pouco mais acelerado, um pouco nervoso, seu corpo respondendo antes mesmo que sua mente tivesse processado completamente a ideia. Ela não esperava por aquilo, mas o pensamento e a possibilidade, não parecia nada ruim.
— Você quer dizer...?
— Eu quero usar isso em você, Ale — ela disse suavemente.
Alexia se mexeu um pouco embaixo dela, sentando-se mais ereta, sentindo o couro do banco de trás pressionado contra ela enquanto Gisèle se acomodava mais confortavelmente em seu colo. Ela poderia dizer que não estava acostumada com aquilo, em deixar outra pessoa assumir o controle, mas com Gisèle tinha entendido que gostava de não estar por cima de tudo. Muito porque no trabalho, a posição dela era aquela. Normalmente, ela era a única no controle, em todos os aspectos da vida, a única guiando as coisas. Mas pelo menos na cama, com Gisèle, era bom não ser. Ainda mais ali, com a garota montada nela, suas mãos descansando levemente em seus ombros. Ela realmente gostava de entregar o controle. Talvez porque fosse apenas diferente.
— Você está falando sério? — Alexia perguntou e viu Gisèle inclinar a cabeça para o lado.
— Muito — ela disse — Mas só se você quiser.
Não havia pressão em sua voz, apenas uma oferta. Alexia engoliu em seco, e seus dedos passaram a descer pelos lados de Gisèle, até estarem exatamente onde queriam estar.
— Tudo bem — Alexia finalmente disse — Vamos tentar.
Se a mais velha não tivesse sido convencida, o sorriso de Gisèle poderia a convencer com facilidade. A garota se inclinou, juntando seus lábios nos de Alexia em um beijo mais lento. Alexia a beijou de volta, suas mãos agarrando o tecido do jeans de Gisèle enquanto seus corpos se moviam um contra o outro. O espaço não tão pequeno do carro novo parecia menor. Gisèle então se separou, sua respiração um pouco descompassada, seus dedos traçando a linha do maxilar de Alexia antes de deslizar para sua clavícula. Ela se inclinou para trás, seus olhos nunca deixando os de Alexia enquanto ela alcançava a pequena caixa que havia causado tudo aquilo em primeiro lugar. Os olhos de Alexia seguiram seus movimentos, enquanto Gisèle tirava tudo da caixa, a jogando no chão, desabotoando a tira, com o material deslizando por seus dedos com facilidade.
Alexia se mexeu novamente, suas costas ainda pressionadas contra o assento. Gisèle ajustou as tiras, e apoiou o brinquedo no banco, antes de se ajeitar para se livrar da sua calça, que acabou no chão também. Mas ela se manteve usando a camisa branca - sem realmente nada por baixo, o que fez com que Alexia conseguisse ver o contorno dos seios dela como um todo, pelo tecido fino da camisa, um detalhe que ficou bem escondido pela jaqueta durante a noite. Mas também não que Gisèle fosse se importar com isso. Ela manteve a volta do brinquedo para si, terminando de o prender na cinta e com uma facilidade sem esforço, como se já tivesse feito aquilo, ela o ajustou em volta de sua cintura. Alexia terminou com a respiração mais superficial e começou a subir o próprio vestido, mas Gisèle a impediu. Ela parou as mãos de Alexia no exato momento em que elas puxaram seu vestido para cima.
— Não — ela murmurou.
Não houve tempo para o hábito de tirar cada peça com cuidado; Gisèle queria tudo mais rápido partindo dali, mais imediato, porque elas estavam enfiadas em um carro. Ela se inclinou, seus dedos deslizando por baixo do tecido do vestido de Alexia, encontrando o cós de sua calcinha. Com um movimento mais rápido, ela a puxou para baixo enquanto a descartava no chão do carro, em cima de sua calça jeans. A cinta que Gisèle estava usando acabou tocando a intimidade da mais velha embaixo de si no caminho, e ela suspirou mais forte.
— Amor... foda-se.
Gisèle se mexeu, abrindo um pouco mais as pernas de Alexia, seus dedos traçando a pele sensível em suas coxas enquanto ela encontrava o ângulo certo para se inclinar, ajustando sua posição para melhor acesso. Ela se moveu com cuidado, mas então algo cintilou em sua expressão. Sem uma palavra, ela se mexeu um pouco, suas mãos nunca deixando totalmente a pele de Alexia, apenas o suficiente para mudar sua posição. Ela torceu as duas no banco de trás, as pernas emaranhadas, encontrando uma maneira de usar todo o banco, fazendo o espaço não tão extenso trabalhar a seu favor. E então ali, com mais espaço do que antes, Gisèle se demorou, com seu toque ficando mais lento. Seus dedos encontraram Alexia, a tocando, ainda não mergulhando. Ela não estava com pressa exatamente ali, ainda que estivesse com pressa segundos antes, e ainda que o momento pedisse mais pressa por conta de onde ela estava, e embora a respiração de Alexia estivesse mais rápida. Mas ela desacelerou porque precisava que a garota embaixo de si estivesse pronta, para que aquilo não fosse desconfortável para ela. Gisèle então tomou seu ritmo, seus dedos se moveram com intenção. A respiração de Alexia se tornou mais descompassada, seu corpo respondeu enquanto a mão de Gisèle a prendia, sabendo exatamente o que ela estava fazendo. Mas logo, tudo se tornou um pouco demais.
— Eu quero você lá dentro, amor — Alexia choramingou.
— Eu não ouvi direito — Gisèle se alinhou contra Alexia, se encaixando nela, mas não exatamente — O que você quer, Ale?
— Eu quero você dentro de mim, amor.
Alexia gemeu quando Gisèle entrou em contato com seu ponto mais sensível, mas não foi desconfortável. Não foi uma primeira vez, mas também tempo o bastante tinha se passado desde que ela tinha estado em uma situação como aquela, então ela estava achando tudo muito. Não de um jeito ruim. Os olhos dela se fecharam e ela mordeu os lábios, o que abafou o gemido que veio do fundo de sua garganta. Em um movimento suave, Gisèle chegou mais fundo e então começou a se mexer, em um ritmo vagaroso, e um pouco mais solto. A visão do rosto concentrado da inglesa, e a maneira como ela atingia todos os pontos certos imediatamente carregaram a sensação de um orgasmo iminente na direção de Alexia quando ela abriu os olhos. Ela ficou surpresa consigo mesma, porque logo não estava conseguindo ser silenciosa, como costumava ser. Gisèle agarrou os quadris de Alexia e se reposicionou, porque ela parecia estar perseguindo seu próprio ápice também, com a parte de trás da cinta em contato direto com ela, ainda que pelo tecido fino da calcinha que ela ainda estava usando. Ela acelerou seu ritmo e estava grunhindo baixinho. Alexia já estava realmente se aproximando do seu limite, mas Gisèle agarrou seus pulsos.
— Me diga se você está perto — ela ofegou.
— Eu estou muito perto — Alexia gemeu e isso fez Gisèle diminuir o ritmo.
— Você é tão boa para mim, amor — Gisèle murmurou, se inclinando de vez e então terminando indo mais fundo. Ela enfiou o rosto no pescoço de Alexia e suas estocadas ficaram cada vez mais rápidas, dificultando o controle da garota embaixo dela, mas Alexia queria mesmo ser obediente.
— Elle-
— Eu só preciso que você me espere, amor.
— Eu não acho que consigo — ela disse, sem ter nenhum controle sobre isso.
Alexia tentou de tudo para atrasar seu próprio orgasmo, porque ela queria chegar lá com Gisèle, mas estar sentindo a garota indo para dentro e para fora de si era um pouco demais para que ela conseguisse segurar qualquer coisa. Os sons vindos da garganta de Gisèle diziam que ela estava realmente perto e Alexia revirou os olhos quando ela empurrou mais fundo e mais rápido. Alexia sentiu a respiração trêmula de Gisèle contra seu pescoço e mudou o aperto nela, com as mãos em suas costas, ao redor de seu corpo para segurá-lo mais perto, mais fundo. Seus dedos correram pelas suas costas, mas Gisèle se afastou.
— Eu preciso ver seu rosto quando você gozar — Gisèle falou — Mas você pode decidir se quer deitar ou sentar em cima de mim, porque você tem sido perfeita, amor.
— Só não para, amor — a inglesa sorriu e se inclinou sobre ela, dando alguns beijos em seu rosto até terminar encontrando sua boca.
Ela não queria mais estender aquilo e se moveu dentro de Alexia outra vez, desta vez apenas com a intenção de a levar ao seu clímax. Ela segurou suas coxas enquanto atingia todos os pontos certos e então quando alcançou o espaço perfeito, os olhos de Alexia se fecharam e sua cabeça se inclinou para trás.
— Olhe para mim — Gisèle pediu e Alexia forçou seus olhos a se abrirem enquanto uma sensação mais forte tomou conta de seu corpo.
Ela sentiu tudo em todos os lugares. Seus olhos se reviraram e a sensação caiu de suas pernas, seus músculos ficaram tensos antes de cederem completamente e o espaço molhado entre suas pernas ficou ainda mais molhado. Apenas aconteceu. Seu corpo inteiro parecia prestes a se perder, onda após onda de prazer rolando por ela, e antes que Alexia pudesse tentar entender o que estava acontecendo, ela se sentiu completamente solta, com seu corpo liberando tudo o que estava segurando.
Gisèle se moveu rapidamente, quase instintivamente. Ela se abaixou, pegando sua jaqueta do chão do carro, cobrindo o assento com ela, bem a tempo de evitar que elas fizessem uma bagunça. Ela se inclinou para frente, já sem se mexer, mas ainda dentro de Alexia, deixando um beijo suave em seus lábios antes de começar a rir, o corpo de Alexia voltando lentamente para a terra.
— Eu te amo — Gisèle sussurrou, seus lábios pairando sobre os de Alexia.
— Eu também te amo — Alexia conseguiu dizer, ainda recuperando o fôlego, seu corpo um pouco trêmulo pela intensidade de tudo. Ela olhou para Gisèle, meio atordoada, confusa — O que... o que aconteceu?
— A gente se empolgou um pouco.
Alexia se mexeu um pouco embaixo de Gisèle, seus dedos traçando círculos em suas costas enquanto sua respiração se acalmava. Então, com um pensamento arrependido cruzando sua mente, ela olhou meio de lado para o assento abaixo delas, e então se mexeu, sentindo Gisèle ainda dentro de si.
— Espere — ela murmurou — O banco do meu carro...?
Gisèle soltou uma risada suave, pressionando um beijo na lateral do pescoço de Alexia enquanto se afastava dela, saindo com cuidado e se livrando da tira presa a sua pélvis e deixando o objeto que estava usando antes de lado, no chão, em cima da caixa em que minutos antes ele estava bem embalado.
— Não, não se preocupe — ela disse — O banco do seu carro está ótimo, mas... — ela se ajustou para trás, apenas para conseguir pegar sua jaqueta de onde ela a tinha jogada embaixo dela e de Alexia para evitar qualquer bagunça. Ela não precisou levantar a peça, porque Alexia direcionou o olhar para o tecido — Eu não posso dizer o mesmo da minha jaqueta — Gisèle viu algumas desculpas começando a se formar na mente da mais velha, mas ela as dispensou, com um sorriso brincando em seus lábios — Não se preocupe com isso; É só uma jaqueta. Eu posso lavar isso e tenho mais cinco enfiadas na minha mala, exatamente iguais.
— Você pensou rápido — Alexia mordeu o lábio, meio sorrindo, enquanto seus olhos iam da jaqueta para a pele nua de Gisèle por baixo de sua fina blusa branca, ainda um pouco agarrada ao suor que tinha escorrido em seu torso pelo momento.
— Bem, você sabe — Gisèle começou, se inclinando para beijar Alexia novamente — Alguém tem que fazer isso.
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