21 | ALMA PRATEADA
CAPÍTULO VINTE E UM | UN VERANO SIN TI
❝ALMA PRATEADA❞
❝formas mudando em silêncio, dançando em seu jardim e observando enquanto as nuvens escorregam❞ ⸺ MOONLIGHT; niceboy ed
GISÈLE ACORDOU MAIS CEDO QUE ALEXIA, O QUE NÃO ERA NENHUMA SURPRESA. Alexia estava exausta do jogo da noite anterior e do voo noturno para Londres. Ela estava deitada ali, respirando suavemente, um braço pendurado para fora da cama, completamente inconsciente da manhã rastejando através das cortinas e do vidro. Com isso, Gisèle saiu da cama silenciosamente, e o ar frio no quarto nem a sacudiu, mas ela percebeu que a temperatura parecia muito baixa considerando o clima lá fora, então desligou o ar condicionado, pensando em Alexia.
Na mesa ao lado da cama, logo abaixo, os sons suaves de Venetia já estavam saindo pelo monitor de áudio do bebê, mas Gisèle não se apressou, porque essa era a rotina com a qual ela estava acostumada. Ainda era cedo, e Venetia já estava acordada, como todos os outros dias, mas Gisèle sabia que ela não estava acordada há muito tempo e poderia esperar dois alguns minutos. Então Gisèle seguiu para o banheiro para escovar os dentes e vestiu uma camisa de botão por cima da regata que estava usando antes de ir para o quarto da filha.
No berço, Venetia chutava suas perninhas, seu rosto caindo em uma espécie de reclamação sonolenta, como se quisesse sair dali e sair logo. Gisèle sorriu, pegando-a com cuidado, antes de ir arrumar o que precisaria para os próximos minutos. Abriu o armário e pegou uma muda de roupa, assim como tudo que usava todas as manhãs, e foi para o banho, que Venetia aceitou sem problemas. Algo como trinta minutos depois, Gisèle estava sentada na poltrona no canto do quarto, se acomodando para amamentar sua filha adequadamente, algo que ainda era difícil às vezes, mas que também havia se tornado instintivo. Naquela manhã em questão, elas não tiveram problemas, e logo o único som no quarto era a sucção suave de Venetia e o som da chuva começando a cair lá fora.
Depois disso, Gisèle passou silenciosamente pela porta do quarto em seu caminho para baixo, com sua filha em seus braços, mas ela notou que Alexia estava acordada, apoiada com as costas contra com a cabeceira, com apenas as pernas cobertas pelo lençol, olhando algo em seu celular. Ela sorriu quando viu Gisèle, mas não disse nada - apenas estendeu os braços enquanto olhava para a garotinha nos braços de Gisèle, que a encarava de volta. Gisèle entregou Venetia a ela e deu um beijo em sua bochecha.
— Vou fazer café — ela sussurrou, e Alexia assentiu antes de ver Gisèle se afastar e seu foco mudar completamente para o pequeno bebê em seus braços.
Ela cuidadosamente acomodou Venetia ao seu lado. O bebê se contorceu por um momento, mas suas perninhas acabaram chutando o ar antes que sua mãozinha se esticasse e agarrasse o polegar de Alexia. Ela a deitou de costas, como ela deveria ficar, e a bebê continuou observando tudo ao seu redor com curiosidade. O quarto ficou em silêncio por um momento, enquanto Alexia começou a pensar no que poderia dizer a alguém que nem a entendia de verdade, mas logo ela estava superando isso, e então ela começou a falar sobre qualquer coisa.
— Sabe, você é muito jovem para entender qualquer coisa, eu sei, mas vou falar com você de qualquer maneira — a mão de Venetia agarrou seu polegar com mais força, e Alexia sorriu. Ela se mexeu um pouco, ficando mais confortável na cama, seu braço esticado ao lado de Venetia para que o bebê ainda pudesse segurar seu dedo — Hum, tivemos um jogo ontem à noite — ela começou — Contra o Alavés. Não foi um daqueles jogos realmente difíceis, mas também não foi um passeio. Acho que foi apenas o tipo de jogo em que você tem que manter a cabeça no lugar, manter o foco, mas também tentar não exagerar porque... bem, a Champions está chegando. Nós temos que estar bem.
Alexia olhou para Venetia, que parecia completamente absorta no ato de segurar sua mão, ou pelo menos um de seus dedos, ainda olhando para nada em particular.
— Estou realmente ansiosa por isso, para ser honesta. Quer dizer, defender o título... Essa é a grande coisa. Nós vencemos no ano passado, e éramos imparáveis, mas agora... agora todo mundo está nos observando. E todo mundo quer nos vencer. Mas acho que podemos fazer isso de novo. Não, não, eu sei que podemos fazer isso de novo. Você verá, pequena. Vou ganhar outra Champions e desta vez você vai estar lá para ver, mesmo que tenha estado lá da primeira vez, mas de uma forma diferente.
Venetia fez um pequeno barulho com a boca, o que não significava nada, mas parecia que ela estava envolvida na conversa. Com isso, Alexia continuou falando, mesmo que fosse mais para si mesma do que para Venetia.
— Você nasceu em Barcelona, sabia? Isso faz de você catalã, como eu. Bem, pelo menos de alguma forma... Acho que isso conta para alguma coisa. Eu realmente espero que isso signifique que você vai crescer torcendo pelo Barça — ela fez uma pausa, olhando para a porta como se esperasse que Gisèle entrasse naquele exato momento, como se ela estivesse ouvindo tudo, mas a cozinha era no andar de cima e a garota estava longe demais para escutar qualquer coisa — Sua mãe... bem, ela vai tentar fazer você torcer para o Arsenal, e seu avô fará o mesmo, e tenho certeza que seus tios também farão, com exceção de Robbie porque ele respira o Tottenham. Mas, quero dizer, eu entendo. Sua mãe realmente ama o Arsenal, apesar de que eu tenho percebido que ela aprendeu a amar o Barça também. E, honestamente, o time dela não é ruim, mas não me entenda mal, pequena, é só que... O Arsenal não é o Barça. E você nasceu em Barcelona, então, você meio que tem que torcer pelo Barcelona — Venetia piscou algumas vezes, completamente alheia ao assunto — Mas você tem tempo, no entanto. Nós vamos descobrir. Talvez você apoie os dois. Isso seria algo, não seria? Eu não me importo, sério — Alexia murmurou — Contanto que você esteja feliz, claro. Você não precisa amar futebol só porque eu amo também. Às vezes você nem vai torcer para nada também... Ou então você talvez goste de outro esporte. De um jeito ou outro, eu posso lidar com isso.
Alexia continuou falando sozinha, mas depois de cerca de minutos vinte, Gisèle entrou no quarto, se apoiando no batente da porta. Ela estava segurando uma caneca, com o vapor subindo, e estendeu ela na direção de Alexia quando se dirigiu para ela. A mais velha deu um pequeno aceno de cabeça, murmurando um "obrigada", e viu Gisèle se inclinar e dar um beijo na testa da filha antes de pegá-la com cuidado.
Elas subiram as escadas até a cozinha depois disso, e Alexia viu a disposição no balcão assim que colocou os pés no espaço. Tinha pãezinhos chelsea - realmente bons, apesar do nome - algumas frutas, iogurte, algumas fatias de queijo e fatias de um pão de batata que era feito na frigideira, e que era mais gostoso do que era bonito. Ao lado, tinha uma prensa francesa com mais café, além daquele que tinha enchido a caneca de Alexia.
Apesar da prensa francesa, com o café do jeito que Alexia gostava, Gisèle tinha uma máquina de café maior. Mais pesada e cara, que usava grãos moídos na hora para cada xícara. Era o café dessa máquina que ela estava bebendo. O copo dela estava ali, completado com leite vaporizado. Ela tomou um gole da própria caneca, antes de a apoiar no balcão e se sentar nas cadeiras altas, ajeitando Venetia nos braços. Alexia se acomodou na cadeira da frente.
— Usei aqueles grãos da Bean Shop, aqueles que você achou muito chique da última vez e quase não quis experimentar.
— Certo — Alexia sorriu — Eles são realmente bons. Você venceu.
— Eu sempre venço — Gisèle piscou por um momento.
— Eu não vou discutir — ela brincou, dando uma mordida em uma das fatias do pão doce e então bebendo mais um gole de café — Qual é o plano para hoje?
— Luke vem buscar a Vee em algumas horas — Gisèle olhou para a filha — Então temos uma manhã livre.
— E que horas ela volta?
— Lá pelo começo da tarde.
Alexia acenou, pensando sobre aquilo. Entre jogos, treinamento, um bebê e aquela distância entre Londres e Barcelona, o tempo sozinha com Gisèle vinha sendo difícil de encontrar, então ela não estava reclamando. Além de que parecia ótimo que Luke estivesse tendo seu tempo com a filha. Fazia parte da coisa toda.
— Eu estava pensando... — Gisèle continuou — Talvez possamos ver uma exposição na Somerset House. Tem uma sobre a história queer da comunidade negra, e eu li sobre isso dias atrás, depois que minha irmã comentou sobre... eu queria ir de qualquer forma, mas já que você está aqui...
— Podemos fazer isso — Alexia concordou sem realmente precisar de convencimento — A gente tem uma manhã livre, então é uma boa.
— Você vai adorar Somerset também.
— Mesmo?
— Aham — ela assentiu — Fica ao sul da Strand e é realmente lindo. A gente pode inclusive voltar pela Strand e almoçar no Savoy Grill.
— Isso é tipo um dos seus restaurantes estranhos?
— Não — Gisèle riu — É um lugar bem conhecido. Culinária francesa e toda essa coisa. Eu realmente gosto de lá, apesar de nunca ir tanto. Mas, hm, só preciso verificar o horário certo em que Luke vai vir para cá, e então a gente decide
*
O som do trânsito na Strand era agitado ao redor da estrada. Era fim de manhã e o céu estava cinza claro, como o costume na cidade. O braço direito de Alexia estava casualmente em volta dos ombros de Gisèle, puxando-a para perto enquanto caminhavam em um ritmo lento, sem muita pressa. Gisèle tinha sua mão direita entrelaçada na esquerda de Alexia, como se mais contato ainda fosse pouco.
As duas estavam vestidas para o dia mais frio. Gisèle estava usando uma camisa da Nike com um desenho desbotado do Michael Jordan se destacando sob seu longo sobretudo. Era uma das camisas de Alexia, não de Gisèle, mas de alguma forma combinava com ela e não era a primeira vez que a usava. Gisèle a combinou com calças pretas largas e velhos Adidas Samba, também pretos, que ela parecia usar em todos os lugares nas últimas semanas. Enquanto Alexia estava usando jeans claro, uma camisa branca e um sobretudo creme. Em seus pés, um par de tênis Nike que Gisèle já tinha visto antes, e parecia honestamente o preferido de Alexia em meio a modesta coleção de sapatos que ela tinha.
— Você fica bem na minha camisa — comentou Alexia em dado momento, depois que atravessaram a rua, saindo definitivamente do espaço de Somerset, indo na direção oposta.
— Acho que fica melhor em mim do que em você.
— Não é mentira — Alexia se moveu, deixando o braço cair dos ombros de Gisèle para envolvê-la na cintura, puxando ela um pouco mais para perto.
— Adorei como você simplesmente trouxe isso aqui quando nem usa.
— Nunca se sabe quando vai precisar. Além disso, eu enfiei na mala para você mesmo. Eu sabia que acabaria assim, obviamente.
— Obviamente — Gisèle sorriu, notando logo como chegaram a uma esquina e então pararam esperando o sinal abrir, com o ar frio tocando seus rostos. Gisèle olhou de lado para Alexia — Ei, obrigada por vir comigo hoje. Sei que isso não é realmente a sua coisa, mas foi divertido, não foi?
— Talvez não fosse antes — Alexia deu de ombros e olhou para a garota como se ela estivesse dizendo o ponto óbvio da coisa toda — Mas é agora. E sim, foi divertido. Eu realmente achei divertido.
Gisèle entendeu o que ela quis dizer e sorriu. Não eram os passeios, as exposições ou as caminhadas por Londres. Era o panorama geral. Elas estavam aprendendo sobre seus mundos, um pouco mais a cada dia, e isso de alguma forma parecia mais importante do que qualquer outra coisa. Elas se conheciam a quase um ano - faria um ano em poucas semanas - e todo dia era um dia diferente, no sentido de que sempre havia coisa nova para que uma entendesse ou descobrisse sobre a outra.
Quando o sinal abriu, elas começaram a atravessar a rua. O casaco creme de Alexia balançava levemente a cada passo, e ela tirou a mão esquerda da de Gisèle para ajeitar um dos botões, enfiando a mão no bolso logo em seguida, só para ter certeza de que seu celular ainda estava lá.
— Para onde estamos indo agora? — Alexia perguntou depois de um momento, sua mão retornando para a de Gisèle enquanto elas entravam em uma rua mais silenciosa e estreita — Almoço?
— Sim, pensei que poderíamos ir para L'ulivo Strand em vez do Savoy. Eu sei que disse que iríamos lá hoje, mas sinceramente, estou pensando em algo um pouco menos cheio, e o Savoy está sempre lotado. Além disso, a massa do L'ulivo é muito boa.
— Ok, não conheço nenhum dos lugares, mas estou confiando em você — O tom de Alexia soou quase irônico demais, o que rendeu um leve empurrão de Gisèle e uma risada em resposta de Alexia, que abraçou a garota mais perto dela.
— Em algum momento eu já dei indicações ruins? Especialmente quando o assunto é comida.
— Eu poderia enumerar alguns momentos, na verdade — Alexia disse — Mas aí, é difícil dizer se suas indicações são ruins ou só seu país que não tem uma culinária de verdade.
— Uau — Gisèle valorizou o tom ofendido — Atacando meu país inteiro agora, não é? Você realmente está indo com tudo hoje.
— É só a verdade — Alexia deu de ombros, e sua risada acabou saindo em seguida enquanto ela tentava manter Gisèle por perto, quando a garota tentou se desvencilhar do aperto dela.
— Eu tô me afastando de você agora, a gente acabou por aqui — disse Gisèle, se desviando para fora do alcance de Alexia. A mais velha escutou a risada dela e a viu dar alguns passos rápidos à frente, mas Alexia foi mais rápida, alcançando Gisèle em questão de segundos.
— Como se você fosse mesmo acabar comigo assim — Alexia murmurou enquanto agarrava a mão de Gisèle e a puxava novamente, dessa vez com mais força, ainda assim não tanta força, não a deixando escapar tão facilmente.
Gisèle não conseguiu evitar rir, e se virou para encarar Alexia, suas testas quase se tocando agora enquanto elas diminuíam o ritmo, com a brincadeira diminuindo em algo mais suave como se as duas não estivessem no meio da rua. Como se não tivesse gente olhando, e como se não houvesse câmeras as fotografando. Mas, de maneira óbvia, ainda que elas soubessem de todos esses pontos, só não estavam se importando.
— Você me irrita muito às vezes — disse Gisèle, sorrindo para Alexia, não falando realmente sério.
— Eu sei — respondeu Alexia, seu próprio sorriso se abrindo mais — Mas você me ama de qualquer maneira.
— Sim — Gisèle suspirou, e ela foi dramática e exagerada, propositalmente, como se não tivesse escolha no assunto, mas seu sorriso permanecendo a traiu — Sim, eu amo. Contra qualquer ideia sã que eu possa ter, claramente.
Alexia riu e puxou Gisèle para um beijo antes que a inglesa a apressasse para que elas quebrassem aquilo - um pouco a contragosto. Elas continuaram andando, abraçadas uma à outra, com a provocação substituída por um silêncio fácil. As ruas eram mais silenciosas por ali, um pouco mais longe da agitação do movimento de ruas atrás. As duas caminharam por pelo menos mais cinco minutos até pararem em frente ao L'ulivo, um aconchegante restaurante italiano escondido em um canto perto do distrito dos teatros. A placa não era nada chamativa, e o interior era espaçoso, com dois andares e uma decoração feita em tons terrosos com detalhes em coloridos. Havia muita conversa acontecendo, junto com o som de pratos saindo da cozinha, mas o lugar era despretensioso. Não estava lotado, e havia muito mais pessoas lá embaixo do que em cima. Por esse motivo, Gisèle e Alexia se sentaram no andar de cima, perto de uma janela, com uma boa vista para a Strand.
O garçom veio pouco depois e elas pediram sem realmente tanta demora. Gisèle escolheu o Tortelloni Collina; uma massa recheada com ricota e espinafre e coberta com óleo de trufas, tomate cereja, molho de alho e queijo Grana Padano ralado, enquanto Alexia pediu o Risotto Pescatora, que era arroz arbóreo cozido com camarões, mexilhões e lulas cozidos com alho, manjericão e vinho branco em um molho de tomate leve. Elas pediram uma garrafa de vinho para acompanhar, um bom tinto italiano que Gisèle recomendou sem hesitação, sabendo que não podia beber muito, mas sem se importar também com isso porque ela conseguia controlar os próprios limites.
A comida chegou quase que trinta minutos depois, enquanto as duas conversavam, e assim que Alexia deu a primeira mordida em sua própria comida, ela soube que Gisèle tinha feito a escolha certa em relação ao restaurante, o que era quase uma novidade. Não que a garota não tivesse boas recomendações, como elas bem tinham conversado, mas a maioria das experiências gastronômicas de Alexia em Londres não foram particularmente agradáveis.
Após a refeição principal, quando o garçom veio com a sobremesa que Gisèle havia pedido para dividir com Alexia - um fondant de chocolate com sorvete de baunilha -, a jogadora se recostou na cadeira, cruzando os braços sobre o peito. Ela tomou um gole do expresso que tinha chegado até a mesa minutos antes e suspirou meio incerta, com um olhar que Gisèle sabia que significava que ela tinha algo em mente. Talvez nada muito sério, mas ela definitivamente tinha. A sobremesa foi colocada entre elas, o sorvete já começando a derreter no chocolate mais quente, mas Alexia não fez nenhum movimento para pegar uma das colheres. Quem fez isso foi Gisèle que tirou parte do fondant, alcançando o sorvete e então comendo uma colherada, antes de repetir o movimento, mas dessa vez estendendo a colher na direção de Alexia que sorriu suavemente antes de aceitar.
— Você está pensando em ficar em Londres por mais algumas semanas? — Alexia falou aproveitando o momento, voltando a encostar as costas na cadeira.
— Não — Gisèle olhou para ela, depois para a sobremesa — Não sei. Talvez.
— Você deveria voltar para Barcelona comigo — ela continuou — Seria bom estar em casa, para nós duas.
— Eu sei...
— Além de que- — ela se interrompeu por um momento — O que você acha de se mudar para lá de vez? — Alexia perguntou, mais cuidadosa — Quero dizer... nós vamos nos casar, certo? Mesmo que não tenhamos marcado uma data. Então, por que não começar a pensar sobre isso... Posso procurar casas maiores.
— Isso parece... um plano — Gisèle murmurou, e por um segundo sua colher estava apenas emparelhando ali no ar, esquecida. Então, ela deixou de volta no prato, se esquecendo completamente da sobremesa — Eu amo Barcelona, você sabe, e eu posso ver isso acontecendo. Morar lá, mas...
— Mas? — Alexia a incentivou, sem acusação, apenas curiosa para ouvir o que Gisèle tinha a dizer.
— Nem tudo é tão simples — Gisèle soltou um pequeno suspiro, se ajeitando na cadeira — Tem Venetia e Luke. É mais fácil para ele, para nós, se eu estiver em Londres com ela por agora, ainda que dividindo as semanas entre lá e cá. Mudar para Barcelona, permanentemente, quero dizer, tornaria tudo... mais complicado.
— Eu entendo — ela disse após uma pausa, e ficou bem claro pelo seu tom que ela não estava realmente feliz com isso, mas ela realmente entendia.
— Não estou dizendo não também, Ale. Só não quero apressar nada. É uma decisão importante. E eu amo você e amo sua cidade, mas isso é mais do que apenas eu e você. Tem minha filha agora também.
— Eu sei — Alexia acenou — É só que... eu quero que fiquemos juntas. Realmente juntas. Não apenas indo e voltando entre cidades. É cansativo, você sabe, e eu não estou dizendo que não estou disposta a continuar fazendo isso, mas... Mas seria bom se não precisasse fazer.
— Nós temos tempo, não temos? — Gisèle disse, e Alexia assentiu — E eu não vou a lugar nenhum.
— É, tudo bem — ela suspirou, então transmitiu mais fraco — Acho que estou sendo impaciente.
— Só um pouco — Gisèle disse gentilmente, tentando melhorar o clima, mas Alexia não a encarou completamente. Em vez disso, ela levou uma das mãos até a nuca, esfregando ali por um único segundo. Gisèle estendeu o braço sobre a mesa, seus dedos tocando levemente a mão de Alexia — Ei, eu realmente quero tudo com você, e eu espero que sobre isso não exista dúvida.
Alexia concordou lentamente, sem precisar ouvir o complemento do que Gisèle tinha para dizer, se é que ela tinha algo para dizer. Alexia ainda estava absorvendo as palavras da garota. Ela entendeu. Ela sempre entendia. Mas isso não tornou a coisa toda mais fácil de engolir.
— Eu sei que você está certa — ela disse — É que... às vezes eu sinto que estou presa entre o que eu quero e o que é realmente possível no momento, e não é como se isso fosse a coisa mais legal do mundo.
— Bem, mas meio que faz parte da vida, encontrar o equilíbrio entre isso.
— Claro...
— Eu não quero que você fique chateada com isso.
— Eu não estou — respondeu Alexia, mas havia uma pitada de decepção em sua voz que dizia o contrário — É que... É só difícil não querer tudo agora estando com você.
— Quando a hora certa chegar, você sabe, vai ser melhor do que se nos apressarmos assim.
— Você realmente acredita nisso?
— Sim, eu acredito.
Depois que a conversa sobre mudança ficou em segundo plano, Alexia e Gisèle terminaram a refeição em silêncio. Os últimos pedaços de sobremesa foram compartilhados, e Alexia chamou a atenção do garçom e pediu a conta assim que elas terminaram. Quando a conta chegou, ela pegou seu cartão sem realmente dizer nada e Gisèle não se incomodou em discutir. A mais velha murmurou um "obrigada" em espanhol depois de pagar a conta, sem realmente perceber que tinha trocado a língua, e então ela se levantou e saiu do restaurante com Gisèle. Alexia pegou a mão da mais nova, entrelaçando seus dedos como o costume, e elas começaram a andar lentamente pela rua.
— Ei — Gisèle disse gentilmente depois de um tempo, um pouco incomodada com o silêncio. Sua voz cortando o espaço de maneira repentina, que fez Alexia virar a cabeça com o tom — E se marcamos algumas data? Para, você sabe, pensar sobre uma casa em Barcelona, para que a gente possa conversar sobre eu me mudar.
— Data? — Alexia levantou uma sobrancelha, olhando para ela curiosamente.
— É — disse Gisèle, apertando a mão de Alexia levemente — Tipo, pelo menos tentar planejar quando começaríamos a procurar uma casa. Não quero que você sinta que estou enrolando. Sei que é importante para você. Poderíamos planejar um cronograma conjunto para ver o que funciona e então eu posso aproveitar meu tempo em Barcelona e fazer isso.
Alexia ficou quieta por um momento, seu olhar mudando para a frente enquanto elas continuavam caminhando. Estava claro que ela estava pensando, avaliando tudo. Gisèle esperou, dando a ela espaço para processar a coisa toda.
— Eu não quero que você sinta que precisa dizer isso porque eu-
— Não — Gisèle a interrompeu — Eu estou dizendo isso porque quero.
— Certo... Eu sei que as coisas não são simples com tudo acontecendo agora, mas seria bom ter algo concreto.
— Mas não precisamos nos apressar.
— Sim, claro — o aperto de Alexia em sua mão se ajeitou — Claro.
— Mas é bom ter planos.
— Parece realmente ótimo.
— Só que nós vamos indo devagar. Temos tempo e vou começar a pensar na mudança com calma. Luke tem sido muito flexível, mas eu ainda preciso planejar tudo certo e conversar com ele, porque eu quero que ele entenda como nós vamos fazer a coisa com a Vee funcionar.
— Ok — Alexia concordou novamente, e Gisèle a encarou de lado, sorrindo.
— Mas nós vamos dar um jeito também — ela continuou.
— Claro que vamos — Alexia disse — Estou feliz que estamos falando sobre isso.
— Eu também, amor — Gisèle murmurou inclinando o rosto para cima para conseguir deixar um beijo no rosto de Alexia enquanto elas seguiam andando — Meio que é assim que as coisas funcionam. Nós conversamos.
*
Gisèle parou na frente da casa da mãe, com Venetia acomodada no assento do carro logo atrás dela. A rua estava tranquila, mas bem iluminada, e parecia uma daquelas noites perfeitas para estar em casa. Em um dia normal, era lá que Gisèle estaria, em casa, mas naquela noite as coisas estavam acontecendo de forma diferente.
Pela primeira vez desde que Venetia nasceu, ela estava saindo para uma noite fora, e não tinha certeza de como se sentir sobre isso. Parecia estranho, como se ela estivesse entrando em uma versão diferente de sua vida, ou voltando para uma versão que ela estava desacostumada há muito tempo, aquela em que ela costumava sair para o Carwash ou ir para a Tape e virar à noite com seus amigos. Mas antes, ela não tinha que se preocupar com fraldas ou horários de amamentação - e ela não estava reclamando, porque tinha se acostumado. De certa forma, ela estava quase se forçando a viver um pouco fora de sua própria bolha, porque ficar em casa não parecia tão ruim assim. Gisèle olhou para Venetia pelo espelho retrovisor interno, observando seus olhos absorverem seu novo ambiente, focados na janela do carro, completamente alheios ao fato de que sua mãe estava prestes a deixá-la com sua avó naquela noite. Seria apenas por algumas horas, Gisèle lembrou a si mesma, mas ainda parecia muito tempo.
Quando Alexia desligou o motor, Gisèle juntou as coisas de Venetia - mais do que o suficiente para apenas algumas horas, mas era melhor estar superpreparada do que despreparada. A bolsa do bebê estava cheia de mamadeiras, com leite que ela havia extraído usando uma daquelas bombas de leite, junto com fraldas, algumas mudas de roupa e o cobertor favorito de Venetia, que ela segurava firmemente em sua pequena mão. Ela tirou Venetia do assento do carro e a carregou até a porta da frente, pendurando a bolsa em seu ombro. Sua mãe, Celeste, abriu a porta antes mesmo que ela pudesse bater, porque a viu deixando o carro pela janela lateral.
— Aí está, habibti — Celeste sorriu, estendendo a mão para tirar Venetia dos braços de Gisèle — Olha só você, toda agasalhada. Vovó sentiu sua falta.
— Você a viu ontem, mãe — Gisèle murmurou, mas não o fez com acidez. Ela estava sorrindo, e Celeste balançou a cabeça.
— Mais de 24 horas atrás, querida. É muito tempo.
— Bem, eu empacotei tudo que ela pode precisar — Gisèle continuou, tirando a bolsa do ombro — Mamadeiras, fraldas, roupas extras...
— Você se preocupa demais, querida — Celeste riu, embalando Venetia gentilmente em seus braços e Gisèle quase quis dizer que tinha puxado aquilo dela, mas ela permaneceu quieta — Nós vamos ficar bem. Eu já fiz isso antes, sabia. Cinco crianças me ensinaram algo, Gigi.
— Eu sei, eu sei, é só que... é minha primeira noite fora desde que ela nasceu, mãe.
— E você tem que aproveitar. Eu vou cuidar bem dela.
Gisèle sabia que sua mãe cuidaria bem de Venetia, e nem era esse o ponto, mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa sobre isso, seu irmão mais novo desceu as escadas. Ele estava vestindo uma camisa do Ajax, a nova camisa do time inspirada em Bob Marley - um presente de seu pai. O garoto parecia mais alto, e ele realmente estava. Ele estava crescendo mais rápido do que Gisèle conseguia acompanhar, e ainda era um pouco difícil para ela entender o fato de que River tinha feito 18 anos há menos de três semanas. Ele ainda tinha aquela suavidade juvenil de alguém que não era muito adulto, mas ao mesmo tempo era crescido. Ele estava se preparando para partir para a Escócia, para a faculdade, para viver sozinho pela primeira vez na vida. As coisas estavam mudando mais rápido do que Gisèle havia registrado, ela pensou, e isso não era mentira alguma.
— Ei, G — ele disse enquanto se aproximava, inclinando-se para beijar sua bochecha.
— Ei, Bubba.
— Vai sair hoje?
— Sim — Gisèle disse com uma risada, ajeitando a camisa do irmão apenas por costume, apoiando uma das mãos em seu ombros — Primeira vez em muito tempo.
— E ela vai ficar com a gente? — River perguntou, acenando para Venetia, que agora balbuciava algo nos braços da avó.
— Vai, mas vou buscá-la assim que sair da Fabric, provavelmente tarde, mas não tarde demais.
— Vocês vão para a Fabric? — Celeste perguntou, para ter certeza, e Gisèle assentiu — Tome cuidado, querida. Ouvi dizer que eles reabriram, mas você sabe como são as coisas lá.
Gisèle sabia, mas não estava preocupada. Havia uma cultura de uso de drogas no clube que a gerência e a segurança no local pareciam incapazes de controlar antigamente. O lugar abriu em 99, mas fechou em 2016. Nos últimos quatro anos antes do fechamento, houve seis mortes relacionadas à Fabric e envolvendo drogas. Cinco dessas eram pessoas com menos de 25 anos. O local era bem conhecido em Londres, mas depois de ter sua licença revogada e quase enfrentar o fechamento permanente, eles apelaram e três anos depois o conselho de Islington disse que aceitaria com 32 novas condições apresentadas que deveriam impedir o abuso de drogas para que permitissem que o clube abrisse suas portas novamente. Mas então a pandemia aconteceu, e a Fabric não abriu quando deveria abrir. O espaço teve a oportunidade de voltar a funcionar apenas semanas antes.
— Eu vou tomar cuidado — Gisèle se inclinou, dando um beijo na cabeça de Venetia, respirando o cheiro familiar dela antes de se afastar — Obrigada por olhar ela, mãe.
— Estou aqui sempre que precisar.
Gisèle voltou para fora depois das despedidas, mas ela mal tinha saído da porta. E do lado de fora, Alexia estava esperando no banco do motorista de seu carro, estacionado na frente da casa. Alexia deixou escapar uma risada anasalada quando Gisèle deslizou para o banco do passageiro, soltando um longo suspiro que soou mais dramático que o esperado.
— Tudo pronto — ela disse, apertando o cinto de segurança — Minha mãe está com ela.
— E você está bem?
— Sim — ela assentiu — É tão estranho sair um pouco da rotina.
— Bem, acho que vai ser bom para você — Alexia disse, ligando o motor — E sou eu quem estou falando isso, que adoro qualquer oportunidade para ficar em casa.
— É, eu sei — Gisèle riu, e estendeu a mão, apertando a mão livre de Alexia que tinha achado seu caminho até sua coxa — Obrigada por dirigir.
— Sem problemas — Alexia sorriu — Eu ainda acho horrível usar a mão inglesa, mas seu carro é realmente bom — ela meio que brincou, o que rendeu uma risada entre as duas antes de Alexia entrelaçar de vez os dedos das mãos com as de Gisèle, a levantando, para beijar o dorso de sua mão.
As ruas de Londres passaram rápidas, e as casas perto do Hyde Park ficaram para trás com o carro indo em direção a Farringdon. E não foi nem mesmo nove minutos mais à frente quando o SUV parou mais distante da entrada da Fabric. Quando Gisèle saiu do carro com Alexia o resto do caminho foi feito a pé, mas elas nem deram tantos passos até entrarem por uma porta lateral mais silenciosa, depois de Gisèle cumprimentar um dos seguranças, ignorando a fila extremamente longa em frente ao clube. As mãos de Alexia descansavam levemente na cintura de Gisèle, a seguindo pela passagem inicial até chegar no espaço fechado e escuro lá dentro com as paredes de tijolos, a luz vermelha, e a música alta do DJ que estava no meio de um set em uma cabine em cima do palco.
Elas foram caminhando até chegarem à área VIP lá em cima. A primeira pessoa que Gisèle viu no espaço foi Misha, descansando confortavelmente em um dos sofás de veludo com Jonny ao seu lado, o braço dele em volta dos ombros dela. Misha agitou a mão acenando quando viu sua irmã e seu sorriso cresceu. Claudia estava por ali também, e os três já acomodados com bebidas. Robbie estava conversando animadamente com Henry e um amigo que Gisèle não soube imediatamente quem era, todos eles se inclinando sobre uma mesa baixa, definitivamente já tendo começado a noite.
— Vocês demoraram — Misha falou mais alto quando se levantou para dar um abraço rápido em Gisèle antes de se virar para Alexia — Ei, Ale.
— Eu fui deixar a Vee com a minha mãe — Gisèle falou, escapando do abraço de Alexia apenas o tempo suficiente para cumprimentar todos os outros quando ela se aproximou do restante do pessoal. Jonny e Claudia acenaram primeiro, mas se levantaram para abraçar a garota, e então Henry e Robbie fizeram o mesmo. A outra pessoa com quem eles estavam conversando se apresentou, um garoto mais alto de vinte e poucos anos, de cabelos claros e usando um terno com uma gravata que ele tinha afrouxado, como a que Henry estava usando, e a explicação de quem ele era veio logo depois com Henry também explicando que eles tinham ido para lá direto do trabalho e que Guy, o garoto que estava com ele, trabalhava no andar de cima, com Daria - eles eram amigos, ou pelo menos estavam começando a ser. Daria inclusive que, sem muita surpresa, tinha passado a saída daquela noite. Numa hora naquelas ela ainda estava no escritório, mas no dia seguinte não estava trabalhando.
Aproveitando o espaço, Gisèle se acomodou ao lado de Misha enquanto Alexia se sentou ao seu lado direito. As mãos da mais velha repousaram sobre o corpo de Gisèle, uma em sua coxa enquanto o outro braço pendia sobre o encosto do sofá, os dedos apenas tocando o ombro de Gisèle de um jeito distraído. Depois de alguns minutos de conversa, Alexia se inclinou, com a respiração quente contra o ouvido de Gisèle enquanto ela murmurava que iria pegar algumas bebidas com Henry, que estava acenando do outro lado, já se levantando. Alexia deu um beijo rápido nos lábios de Gisèle antes de se levantar, e então ela se foi, seguindo em direção ao bar, sumindo entre as pessoas por ali.
— Vocês está bem? — Misha disse — Em deixar a Vee com sua mãe...
— Ah, perfeita — Gisèle respondeu — Só tentando me acostumar com isso aqui de novo. Tem um bom tempo desde que botei meus pés na Fabric, ou em qualquer outro lugar assim para ser honesta.
— Mas isso é algo que não se esquece — disse Jonny do seu canto, sorrindo — Você nunca esquece, na verdade. É como andar de bicicleta. Voltar para cá...
— Exceto que em uma bicicleta, você não precisa de tantas bebidas para continuar seguindo, hoje aqui você vai precisar — Claudia acrescentou, arrancando uma risada de Misha.
Quando Alexia voltou, com drinks sem álcool na mão para ela e Gisèle, ela entregou um dos copos para a garota e voltou a se sentar ao lado dela. Seu braço voltou a descansar no encosto do sofá e Gisèle se recostou contra ela.
Depois de um tempo, Misha se levantou com um sorriso no rosto puxando Gisèle para a acompanha. Uma faixa eletrônica mais antiga estava tocando, e Claudia foi se juntar a Gisèle e Misha também alguns minutos depois. Seguindo uma sequência de umas cinco músicas, Gisèle se rendeu a um drink alcoólico quando Misha foi buscar outra bebida para si mesma, e então, cerca de vinte minutos depois, quando Gisèle estava indo apenas para seu segundo drink com álcool, bem quando "You Are My High" de Demon começou a tocar, a garota sentiu uma presença atrás de si. Ela não precisou se virar para saber quem era. Os braços de Alexia deslizaram em volta de sua cintura, seu peito pressionado suavemente contra as costas de Gisèle. A mais nova se apoiou nela e deixou sua cabeça cair para trás no ombro de Alexia, sentindo os lábios de sua namorada tocarem o lado de seu pescoço antes de a virar para beijá-la com cuidado.
Alexia não era do tipo que dançava - não realmente, de qualquer forma - e Gisèle podia sentir uma tensão sutil em sua postura, um pouco hesitante, como se ela não tivesse certeza de como se encaixar no ritmo do momento. Mas Gisèle era paciente e começou a se mover mais devagar, encorajando Alexia a segui-la. Ela estendeu os braços, entrelaçando seus dedos com os de Alexia enquanto seguia um ritmo próprio. Aos poucos, Alexia começou a se soltar mais, e o aperto dela em volta da cintura de Gisèle se tornou mais firme.
Elas se moveram juntas, mas lentamente, apesar da batida rápida. Seus corpos mais próximos. Gisèle olhou para cima em algum momento, encontrando os olhos de Alexia, e sentiu aquele mesmo calor familiar se espalhando pelo seu corpo enquanto Alexia se inclinava, para então a beijar de novo, mas lentamente, e então depois mais profundamente. Quando elas se separaram, Alexia sorriu, de um jeito mais fraco, o que fez Gisèle rir um pouco.
— O quê? — Gisèle disse, sua voz apenas audível sobre a música porque as duas estavam realmente muito perto uma da outra.
— Eu só... eu sou absurdamente louca por você — Alexia admitiu, mas não estava envergonhada de dizer aquilo em voz alta, porque estava querendo dizer cada palavra.
— Absurdamente?
— Sim — Alexia assentiu, e sua mão desceu pelo lado de Gisèle, traçando a curva de sua cintura
Gisèle inclinou a cabeça levemente e seus lábios terminaram se levanando em um pequeno sorriso.
— Isso é... muito — ela disse com a voz mais voltada para uma brincadeira, beirando a ironia, mas mais suave também. O olhar de Alexia desceu para a boca de Gisèle, depois voltou para cima, se fixando em seus olhos.
— Eu sei — ela respondeu e apenas se moveu um centímetro para frente, fechando a distância entre elas, beijando a mais nova.
Foi lento no início, quase lento demias, mas durou um segundo. Assim que seus lábios se encontraram, o aperto de Alexia na cintura de Gisèle aumentou, puxando-a para mais perto, como se ela precisasse de mais. O beijo se aprofundou de vez. Gisèle acompanhou a intensidade, suas mãos subindo para descansar no rosto de Alexia, puxando-a para ainda mais perto. A música continua tocando, mas nenhuma delas pareceu se importar. Tudo virou ruído de fundo. Alexia se atrasou um pouco depois, mas apenas o suficiente para abrir a boca.
— Eu não estava brincando, sabe — ela murmurou — Eu sou realmente louca por você.
— Eu posso ver — Gisèle respondeu, e assim, Alexia a beijou novamente. Dessa vez com mais pressa de início, e Gisèle correspondeu, seu corpo se apoiando ainda mais contra o de Alexia.
O resto da noite não desapareceu rápido, mas ninguém estava reclamando. A Fabric se encheu mais um pouco depois, e então quando tudo começou a ficar ainda mais agitado, foi também quando a noite começou a acabar para Gisèle. A garota tinha tomado apenas dois drinks, se mantendo bem o tempo todo enquanto Alexia não tinha tocado em uma gota de álcool. Era assim que era com ela - temporada em andamento, todo mundo sabia. Ainda assim, mesmo sem uma bebida na mão, ela se divertiu. Eram quase 3 da manhã quando Gisèle decidiu que era hora de encerrar a noite. A multidão tinha crescido e Misha ainda estava profundamente envolvida em uma conversa com Jonny, e os dois tinham desaparecido em algum lugar perto do bar, mas Henry já tinha começado a parecer inquieto, meio que se rendendo a ideia de que aquela era a hora dele também.
Quando Gisèle saiu da mesa onde eles estavam, dizendo que estava indo embora, Henry aproveitou o movimento e se levantou também, esticando os braços, ajeitando seu terno e aumentando a voz sobre a música apenas para dizer que estava indo embora.
Os três saíram do clube com o tempo mais frio do que quando entraram. O lugar ainda estava agitado do lado de fora, mesmo naquela hora, mas a loucura da fila quilométrica do início da noite havia se acalmado. Henry andou com a irmã, com as mãos no bolso e a acompanhou até o carro do outro lado da rua. Ele se despediu dela e de Alexia quando eles se aproximaram do carro, e então acenou para o táxi que tinha pedido pelo TaxiApp minutos antes, estacionado mais à frente.
Gisèle o observou ir embora por um segundo, então se virou para Alexia, que já estava destrancando o carro. As duas se mexeram para dentro, e Gisèle pegou seu celular que tinha ficado ali mesmo, enviando uma mensagem rápida para a mãe, perguntando se ela ainda estava acordada. A resposta positiva veio um minuto depois, logo que Alexia deu partida e foi seguindo o caminho pela Strand.
*
Era cedo - apenas sete da manhã - e a luz suave que entrava pelas cortinas disse a Gisèle que ela provavelmente só tinha dormido algumas horas desde que tinha passado na casa da mãe para pegar Venetia e depois voltado para casa para descansar. Ela ficou lá por um minuto, olhando para o teto, então ouviu os pequenos sons vindos do monitor do bebê. Venetia estava acordada, inquieta, mas definitivamente não era fome porque Gisèle a tinha amamentado antes de ir para a cama. De qualquer forma, a minglesa saiu da cama o mais silenciosamente que pôde, tomando cuidado para não acordar Alexia, que estava esparramada de lado, o edredom chutado até a metade do corpo, deixando-a apenas de calcinha, com o cabelo solto no travesseiro. Gisèle entrou em passos calmos no quarto da filha, abrindo a porta e a deixando aberta. O chão estava frio sob seus pés descalços, mas ela não se importou. Os olhos de Venetia estavam abertos, seus braços se agitando levemente, enquanto um som que realmente não significava nada escapava de seus lábios, e com isso Gisèle sorriu, depois sussurrou um "oi" para a filha, abaixando-se para pegá-la. Ela segurou Venetia perto enquanto voltava para o quarto.
Quando chegou à beira da cama, Gisèle percebeu que Alexia estava acordada, afinal, com os olhos meio abertos, um sorriso sonolento surgindo em seu rosto. Ela não estava totalmente alerta, mas estava lá, consciente. Gisèle sorriu de volta e, sem dizer uma palavra, colocou Venetia gentilmente nas costas de Alexia, apoiando seu pequeno corpo contra ela. Alexia sorriu mais amplamente, seu rosto ainda meio enterrado no travesseiro, mas sua mão livre instintivamente se estendeu para trás, encontrando a pequena perna de Venetia e a segurando gentilmente, apenas para mantê-la firme.
Gisèle deitou-se ao lado de Alexia, estendendo uma das mãos também, apoiando sua filha, apenas para ter certeza de que ela estava bem acomodada, embora fosse quase óbvio que estava. A mesma mão eventualmente se moveu para cima, seguindo o rosto de Alexia, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, para ver seu rosto melhor.
— Ela está crescendo tão rápido — murmurou Alexia — Por que bebês são assim?
— Não tenho ideia, mas é isso que acontece. Bebês crescem mesmo.
— Ugh... — sorriu Alexia suavemente, mas revirou os olhos logo em seguida — Ela poderia crescer mais devagar.
Ainda meio adormecida, Alexia voltou a fechar os olhos, mas seguiu sentindo a respiração de Venetia contra sua pele, e sua mão continuou ali, a sustentando, ainda que não precisasse. Depois, ela quase pôde ter certeza que escutou Gisèle falar algo, mas só registrou a coisa em si depois de um tempo.
— O que você acha de tomar café da manhã fora? — perguntou Gisèle.
Alexia piscou lentamente, seu cérebro alcançando as palavras. Ela levantou a cabeça ligeiramente, tomando cuidado para não se agitar tanto com Venetia em suas costas.
— Fora? — ela ecoou, com a voz ainda grogue de sono.
— É, talvez no Gail's ou algo assim.
— Gail's? — Alexia sorriu levemente, ainda não totalmente acordada.
— Eu realmente preciso de um café gelado, e talvez um café preto para você, já que você não toca em nada com açúcar antes das 10 da manhã.
— Hm, você me conhece bem, amor — Alexia riu um pouco, se ajustando um pouco sob o peso de Venetia, que parecia realmente confortável com a posição atual.
— Só um pouco — Gisèle usou seu tom irônico, e então continuou — Mas falando sério, o que você acha?
Alexia pensou por um momento, e sentiu os dedos de Gisèle traçando distraidamente pequenos círculos em suas costas, até que tocaram a pequena mão de Venetia. Suspirando, Alexia considerou a ideia de sair para longe dos limites da casa, mesmo que fosse apenas para o café da manhã. Ela estava cansada, mas também não queria dizer "não" para Gisèle. Ainda assim, o aconchego tranquilo do momento - Venetia esparramada em cima dela, Gisèle meio deitada na cama, a luz suave entrando pelas cortinas - era o suficiente para fazê-la se sentir melhor. Ela só queria ficar ali por mais um tempinho.
— O Gail's parece bom — ela respondeu — Mas você sabe... não estou com pressa. Podemos levar o nosso tempo.
Gisèle sorriu, se esticando ao lado de Alexia e se apoiando em um só cotovelo.
— Claro, não precisamos ir a lugar nenhum ainda — ela se inclinou para mais perto, sua voz caindo para um sussurro. Ela beijou Alexia na bochecha antes de se mover para levantar Venetia de cima dela, dando a mais velha a oportunidade de se virar, puxando o cobertor com ela — Você pode dormir mais um pouco.
Alexia queria dizer que conseguiu realmente pregar os olhos por mais algum tempo, mas depois de um tempo, ela se mexeu na cama, minutos depois de ter cochilado por não mais do que uns vinte minutos. Ela se espreguiçou e então passou a mão pelo cabelo, encarando Gisèle sentada com a filha nos braços, encostada na cabeceira.
— Vou tomar um banho — ela murmurou, e Gisèle assentiu.
— Já que estou nisso, vou dar um banho nela — disse a garota, se levantando com Venetia em seus braços.
Alexia desapareceu no banheiro e logo o som dom de água caindo encheu o quarto, mas Gisèle já estava longe, se preparando para o banho de Venetia e não escutou isso. O banho da garotinha que, como os outros dias, foi cuidadoso. Após o banho da filha, Gisèle a secou, a vestiu com um macacão macio e a acomodou de volta no berço com um beijo gentil em sua testa.
Quando Gisèle voltou para o quarto, viu Alexia saindo do banheiro. Elas se cruzaram no quarto, Alexia indo em direção ao closet onde sua mala estava bem ajeitada, e Gisèle parou por apenas um segundo, a pegando pelo braço. Seus lábios se encontraram em um beijo breve, antes de Gisèle perguntar se Alexia poderia ir ficar com Venetia enquanto ela ia tomar um banho também. Alexia concordou, emendando que iria assim que se vestisse.
Quando Gisèle desapareceu no banheiro, Alexia sumiu pelo armário, mas não demorou tanto tempo. Minutos depois, ela estava deixando o quarto e se acomodando na poltrona ao lado do berço de Venetia. Ela espiou pela borda, observando enquanto a garotinha caía no sono outra vez, seu pequeno peito subindo e descendo com cada a respiração mais calma.
Um pouco mais tarde, pelo meio da manhã, Venetia estava bem acordada de novo, sendo levada pela Upper Street em direção à Gail's Bakery em Islington. Ela estava confortável e aconchegada no canguru preso ao tronco de Alexia, essa que estava em um moletom preto e jeans também escuros, num caimento mais reto e solto. Ela parecia bem com o bebê, mas sua mão esquerda estava descansando protetoramente sobre as costas de Venetia, mesmo com a garotinha muito bem presa a si, como se Alexia estivesse com medo que ela caísse. A outra mão da mais velha estava entrelaçada a de Gisèle, que caminhava ao lado dela, quente o bastante em um cardigã esverdeado.
Na frente, o Gail surgiu depois de um tempo. O espaço era conhecido e tinha outras 79 lojas espalhadas por Londres. Não era a primeira escolha de Gisèle, mas ela realmente gostava do que eles ofereciam, e o café do lugar era realmente bom, ou pelo menos ela achava que era. Entrando, Gisèle encontrou uma pequena mesa perto da janela e puxou uma das cadeiras para que Alexia pudesse se sentar, com Venetia parecendo querer dormir de novo, mas dessa vez contra o peito de Alexia. Gisèle tinha a amamentado antes de sair de casa, e se não estava com fome ou então focada em qualquer coisa nova ao seu redor, ela estava dormindo. A vida dela era simples assim.
Aproveitando o garoto com uniforme do Gail's que se aproximou, Gisèle pediu um Iced Coffee e alguns scones com geleia de morango e creme, enquanto Alexia optou por um café preto e algo que parecia suspeitamente quebrar sua dieta - uns pãezinhos doces com um creme branco por cima junto de mince pie, uma torta tipicamente britânica com carne e uma mistura de frutas que não era tão ruim quanto parecia ser. Mas, de qualquer maneira, Alexia não tentou pensar nada sobre isso.
Depois do café da manhã, que não durou mais do que quarenta minutos, elas voltaram para casa, mas para apenas ajeitaram a bolsa de Venetia, e então pegaram um táxi até a casa do pai de Gisèle, aproveitando que naquele fim de manhã ele ainda não tinha seguido para o centro de treinamento do Arsenal. Mas a visita mal demorou e então o caminho seguinte foi até o Hyde Park. Voltando para casa na hora do almoço, elas se encontraram com Henry em um café perto do Tâmisa para o chá da tarde, com Venetia em seu carrinho de bebê e, durante a noite, elas estavam de volta em casa, enquanto lá fora a chuva do dia finalmente caiu. Alexia estava deitada no chão da sala de estar, com Venetia deitada em seu peito enquanto um filme passava na televisão. A bebê piscou sonolenta para ela algumas vezes, e em todas elas Alexia não conseguiu deixar de sorrir, traçando um dedo sobre sua pequena mão antes da garotinha agarrar seu dedo. Gisèle estava na cozinha, andando de um lado para o outro enquanto o cheiro de macarrão com molho branco, queijo e espinafre estava começando a encher o apartamento.
O jantar ficou pronto não muito tempo depois, e seguindo ele, Gisèle desceu as escadas para preparar Venetia para dormir. Ela ajeitou o monitor de áudio ao lado do berço da filha, e então depois da rotina de todas as noites, o único som ao fundo era o da chuva lá fora enquanto a garotinha dormia com seu cobertor preferido bem ajustado em seus braços.
No quarto, Alexia estava preparando o banho. Ela abriu as torneiras da banheira, observando o vapor subir lentamente, e então acendeu algumas velas suaves com um cheiro cipreste que tomou o espaço todo. Quando Gisèle voltou, o banho estava pronto, e Alexia estava sentada na borda da banheira, já sem realmente nada por baixo do roupão, mas usando o roupão justamente por conta do clima mais frio ali dentro.
— Ei — Gisèle disse com a voz mais baixa. Ela já estava tirando seu suéter, mas Alexia se levantou, a encontrando no meio do caminho.
— Aqui, deixa eu te ajudar — ela disse e seus dedos se moveram facilmente para os botões da calça de Gisèle. Ela se livrou delas com cuidado, deslizando a calça pelos seus quadris antes de dar um passo para trás.
Gisèle apenas deixou Alexia tirar o resto de suas roupas, e quando ela já estava sem nada, as duas se beijaram, devagar, antes do roupão de Alexia também escorregar de seus ombros. E então, as duas se moveram com cuidado, entrando na banheira. Gisèle entrou primeiro e Alexia a seguiu, se acomodando atrás dela. Gisèle se ajeitou entre as pernas de Alexia, e suas costas descansaram confortavelmente contra seu peito, enquanto os braços de Alexia a envolveram naturalmente. Elas ficaram quietas por um momento, e a água morna foi se ajustando a elas.
— Você vai embora amanhã — Gisèle comentou.
— É. O voo é durante a tarde. Não estou ansiosa por isso.
— Você nunca está — Gisèle se mexeu um pouco, inclinando a cabeça para poder dar uma olhada no rosto de Alexia por cima do ombro — Você odeia ter que frequentar aeroportos tanto quanto frequenta.
— Não é nenhuma mentira — Alexia acenou e mexeu suas mãos apoiadas no abdômen de Gisèle — Tem sempre gente demais e eu já tive experiências ruins com as minhas bagagens... É sempre terrível. Mas, bem, eu tenho que voltar ao treinamento e toda essa coisa... Eu também tenho alguns compromissos envolvendo alguns dos patrocinadores do clube. As últimas semanas foram tão cheias que, honestamente, eu estou apenas feliz que consegui vir para cá.
— Então voltando para Barcelona você vai estar ocupada.
— Como sempre.
— Eu espero que pelo menos você arranje um tempo para mim — Gisèle comentou — Eu estou indo para Barcelona em três dias. Eu só não vou te acompanhar amanhã porque ainda tenho algumas coisas para resolver aqui, e eu tenho que avisar Luke e então ver como vamos fazer isso, porque acho que vou ficar um tempo por lá.
— Mesmo? — os braços de Alexia se apertaram levemente ao redor de Gisèle, antes que ela levantasse uma das mãos para ajeitar o cabelo da garota, o tirando de seu rosto por um momento.
— Aham — Gisèle assentiu — Quero dizer, a menos que você não queira que eu vá para Barcelona — ela brincou.
— Você nem brinca sobre isso — Alexia beijou o lado do pescoço dela, sorrindo — Sério, você não tem ideia do quão ruim é a sensação de não te ter lá.
— Eu te acostumei meio mal — Gisèle provocou.
— Só um pouco — Alexia disse e Gisèle riu. Elas caíram em um silêncio mais ameno logo em seguida, mas depois de um minuto, Alexia continuou — A gente deveria fazer algo amanhã de manhã, antes de eu ir embora.
— Como o quê?
— Eu não sei... talvez a gente consiga ir até onde fomos aquele dia... Brighton. Ver o mar.
— Brighton é um pouco longe demais para o tempo que a gente tem.
— Uma hora, não?
— Quase três, amor.
— Bem... não tem realmente uma praia tão perto da cidade, tem?
— Não realmente — Gisèle disse — Mas tem Lido, em Hillingdon. É ótimo para caminhar e tem essa pequena "praia", que é ótima no verão, não tão divertida em outras épocas do ano, mas é alguma coisa. Só que ainda tem esse tempo-
— Mas esse tempo está sempre assim por aqui.
— Estou falando do clima mais frio e não da chuva.
— Mais frio? — Alexia jogou sem realmente esperar resposta — O ano inteiro o clima é esse. Mas ok, eu continuo esquecendo o que "frio" significa em Londres.
— Tá mais frio que o normal, Ale, você só não reparou porque Barcelona é quente sempre.
— Não sempre.
— Mas quase sempre — Gisèle continuou — Seu inverno nem é tão frio assim também, honestamente. Ele é basicamente nosso verão. Mas, de qualquer modo, voltando para Hillingdon... não é exatamente o lugar mais lindo, mas é divertido e nunca tá tão cheio. Se você quiser ir...
— O que você quer fazer?
— Ficar em casa é uma escolha?
— Meu Deus, você tá quase parecendo demais comigo.
— Acho que é a coisa toda sobre a convivência. Fui infectada por suas tendências.
— Ei, eu senti seu tom de crítica — Alexia disse, mas ela estava sorrindo quando falou isso — Ficar em casa é subestimado.
— Não estou te criticando. Eu realmente prefiro ficar por aqui mesmo, e então eu tenho a companhia da Vee agora...Eu acho que estou gostando até de mais de me manter assim.
Alexia entendia, e ela disse isso, e então a conversa seguiu continuamente dali. Os planos para o dia seguinte acabaram caindo para o comum. Ficar em casa realmente não parecia tão ruim, ainda mais quando Alexia teria apenas mais algumas horas na cidade.
Passando por isso, quase quarenta minutos depois, as duas estavam se levantando da banheira, com Alexia oferecendo uma mão para ajudar Gisèle a sair. O banheiro estava mais quente, mas o quarto estava absurdamente frio. Ainda assim, Gisèle se sentou na beirada da cama, com apenas um conjunto de lingerie a cobrindo depois de se enxugar, mas sentindo o calor da água ainda grudada em sua pele. Alexia se moveu para o seu lado da cama, jogando uma toalha no cesto que ficava no banheiro antes de puxar as cobertas e se enfiar lá embaixo, usando uma calça de moletom cinza e uma regata branca. Ela terminou alcançando a cintura de Gisèle para a puxar para si, a abraçando por trás.
A manhã seguinte chegou lentamente, e nenhuma delas estava com pressa para se levantar, ainda mais porque Gisèle tinha acordado no meio da madrugada para lidar com Venetia chorando e Alexia a acompanhou sem que ela realmente pedisse por isso, e apenas porque Alexia era como aquilo mesmo, ela gostava de mostrar e sentir que estava sempre ajudando em algo. Independente disso, Gisèle foi a primeira a se mexer de manhã, se ajeitando levemente sob o edredom, seu corpo ainda quente do sono. Ela olhou para Alexia, que ainda estava meio adormecida, seu braço na volta de sua cintura, do mesmo jeito que elas tinham ido dormir, para onde Gisèle tinha voltado depois do pequeno momento com a filha no meio da madrugada.
Elas ficaram na cama um pouco mais, aproveitando o silêncio. Eventualmente, porém, elas se levantaram e foram para o banheiro antes de irem até a cozinha, onde Gisèle preparou um café na máquina ao canto da cozinha enquanto Alexia ajeitava a bancada com o que elas comeriam pela manhã. Sem pressa, elas gastaram a próxima hora nisso, com apenas o conforto de estar no mesmo espaço, conversando sobre qualquer coisa.
O fim da manhã e o início da tarde acabaram voando sem que Alexia pudesse realmente pensar muito sobre isso. Ela ficou em casa com Gisèle e aproveitou os últimos momentos com ela e Venetia antes que as visse de novo em três dias. Quando finalmente chegou a hora de ir embora, elas se vestiram e se prepararam, e o clima foi mudando um pouco conforme as horas iam se arrastando até o horário do voo.
A viagem de carro até o aeroporto foi tranquila, apesar disso. Venetia estava sentada em sua cadeirinha, quietinha enquanto Gisèle dirigia. No aeroporto, Alexia se abaixou para beijar a testa da garotinha antes de se virar para Gisèle, que desceu para a acompanhar até lá dentro. Elas então se beijaram, demorando um pouco mais do que o normal, antes de Alexia finalmente se afastar, dizer mais alguma coisa e caminhar em direção à entrada onde deveria ir. Gisèle ficou ali por um momento, observando ela desaparecer, sabendo que elas se veriam novamente em breve.
Mas, mesmo sabendo disso, por aquele momento, o silêncio do dia parecia um pouco mais alto enquanto ela dirigia de volta para casa com Venetia.
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