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18 | RAZÕES PARA AS LÁGRIMAS

CAPÍTULO DEZOITO | UN VERANO SIN TI
❝RAZÕES PARA AS LÁGRIMAS

eu não sei quem você é, mas eu te amo. deixa eu me apresentar. eu estive esperando por você minha vida toda❞ FINAL BREATH; paloma faith

ALEXIA SAIU DO AVIÃO E ENTROU NA ONDA DE AR QUENTE DO FIM DE MANHÃ DE BARCELONA, ​​COM UMA ANSIEDADE AUMENTANDO EM SEU PEITO A CADA SEGUNDO QUE ESTAVA LONGE DE ONDE DEVERIA ESTAR. Ela não perdeu tempo na esteira de bagagens e, depois, não conversou com outras pessoas no aeroporto, embora algumas tenham acenado para ela, e a jogadora poderia jurar que viu duas ou três garotas prontas para selfies - o que, honestamente, ainda era algo a que ela estava se acostumando. Mas, independente disso, ela tinha um foco único que a levou direto pelo aeroporto, passando por tudo e saindo para a fila de táxis do lado de fora. Ela tentou ligar para Gisèle duas vezes durante o voo, mas ninguém atendeu. Alba a tranquilizou dizendo que havia chegado ao hospital com Eli, mas depois ficou completamente em silêncio. E então o desconforto que atormentou Alexia durante todo o voo, de não ter ideia do que estava acontecendo, só a pressionou ainda mais.

A l'Hospital Sant Joan de Déu, si us plau (Para o Hospital Sant Joan de Déu, por favor) — ela disse rapidamente ao motorista, usando o catalão antes mesmo de registrar o que estava fazendo. O motorista acenou e o táxi partiu, entrando na loucura que era o trânsito de Barcelona em todos os momentos do dia. Alexia pegou o celular novamente e apertou o botão de discagem quando encontrou o contato de Gisèle, praticamente rezando para que ela atendesse.

O toque em si pareceu durar uma vida inteira. Ele veio e foi, e então tocou por mais três segundos, o que pareceu horrível da perspectiva de Alexia. Até que, finalmente, a ligação foi completada.

— Oi — a voz de Gisèle veio, suave, um pouco mais baixa, mas havia um barulho no fundo, como se alguém estivesse falando com outra pessoa.

— Elle, estou tentando ligar para você desde que saí do hotel em Madrid — disse Alexia — Como você está, cariño?

— Estou bem, Ale — respondeu Gisèle, mas Alexia podia ouvir a exaustão em sua voz, o leve tremor em seu tom. Ela imaginou que dor era provavelmente a única coisa que a garota estava sentindo, e Alexia mal conseguia definir o que era isso, porque obviamente ela não tinha passado por aquilo — Eles me colocaram no quarto agora, então estou apenas esperando. As contrações ainda estão lentas, mas... elas estão chegando. Elas definitivamente estão chegando.

— Eu estou no táxi, indo para aí — Alexia apertou a mão livre contra si mesma, mais por frustração por não estar lá do que por qualquer outra coisa, e então começou a mexer no botão do casaco que estava usando, ansiosa — Você está com muita dor?

— Não é nada insuportável — Gisèle disse com uma risada mais suave, embora claramente forçada. Alexia pensou que ela simplesmente não queria preocupá-la, mas ainda no trânsito e praticamente duas horas e meia depois de Alba ter ligado pela primeira vez, com tudo o que tinha acontecido, Alexia já estava preocupada de qualquer maneira — Mas também não é a melhor coisa do mundo. Estou seguindo o plano, sabia...?

— Parto normal?

— Sim, desde que tudo esteja indo bem como agora.

— Ótimo... Bem, eu chego em trinta minutos, no máximo — Alexia garantiu enquanto o táxi acelerava pelas ruas, deixando para trás a parte menos movimentada da cidade, perto do aeroporto. A jogadora pressionou a testa contra a janela fria, ouvindo Gisèle respirar do outro lado da linha.

— Henry está voando com minha mãe e Daria — Gisèle acrescentou — Eles devem chegar aqui em algumas horas. E Luke... ele está vindo de Lisboa, eu acho. Ele teve um problema com o voo, mas mandou uma mensagem há alguns minutos para dizer que tinha chegado.

A mandíbula de Alexia se apertou ao mencionar Luke, mas ela deixou para lá. Não era sobre ele. Não era sobre nada disso. Era sobre Gisèle e o bebê, e ela estar lá. E, claro, ela ainda tinha aqueles momentos em que a realidade a atingia e ela percebia novamente que sim, aquele bebê tinha um pai. Sempre teve. Luke era um cara legal, e Alexia sabia disso, mas ela ainda tinha um pouco de ciúmes, quase irracionalmente, quando se tratava de Gisèle e do bebê - mas não era que ela gostasse também de sentir aquilo. Ela odiava, e estava tentando não pensar muito e deixar para lá.

— Estou feliz que sua família esteja vindo — ela disse, sua voz suavizando — Minha mãe está aí?

— Sim — Gisèle confirmou — Sua mãe tem sido incrível, amor. E sua irmã... bem, ela tem falado mais do que o normal, sob o pretexto de me distrair, mas acho que ela está apenas nervosa.

— Ela está definitivamente nervosa — Alexia sorriu com o pensamento, fazendo Gisèle rir também.

Houve uma pausa do outro lado da linha, e Alexia ainda conseguia ouvir os sons abafados da sala - o arrastar de pés, o murmúrio distante do que parecia ser mais pessoas, e então uma porta se abrindo.

— Eu só queria que você já estivesse aqui — Gisèle admitiu um segundo depois.

— Eu sei, cariño — Alexia disse — Estou perto.

— Certo... — Gisèle respirou fundo — Vai ficar tudo bem, Ale.

— Vai sim.

— Nós vamos cuidar disso, certo?!

— Claro que vamos — Alexia assentiu, mesmo que Gisèle não conseguisse ver.

A inglesa se despediu de Alexia pouco depois, embora se dependesse da jogadora ela teria continuado ali até estar pisando no hospital. Mas algo sobre o médico responsável ter ido verificar Gisèle a fez dizer "tchau", depois de Alexia garantir mais uma vez que não demoraria. A ideia era que não demorasse mesmo, mas ela tinha uma parada antes de seguir caminho, e então se inclinou um pouco para frente, encontrando o olhar do motorista pelo espelho retrovisor.

— Desculpe, você poderia... hum, você poderia fazer um desvio rápido? — ela disse, sua voz um pouco apressada — É só uma pequena parada, em uma loja na Carrer de Mallorca.

— Tem certeza? — o motorista olhou para ela, momentaneamente confuso — O hospital não é longe, mas se fizermos o desvio...

— Sim, eu sei, mas é importante. Vai levar apenas um minuto.

O mais velho deu de ombros, e o motorista virou em uma rua lateral. Alexia se afundou novamente em seu assento, pensando que tinha adicionado pelo menos mais vinte minutos naquela viagem. Mas aquilo era importante. Ela não podia aparecer no hospital daquele jeito - não quando estava pensando naquilo uma semana inteira em Las Rozas.

O aniversário de Gisèle tinha sido no dia seguinte à partida de Alexia para o training camp. 13 de junho. Ela fazia aniversário no mesmo dia que Mapi, e Alexia estava numa comemoração pequena para a garota de Saragoça enquanto Gisèle passava o dia mais consigo mesma, longe da família. Se fosse valer de algo, ela recebeu diversas mensagens e ligações, e sua casa em Londres passou o dia inteiro recebendo flores. Robbie estava por lá, com a chave do lugar, e ajeitou tudo. A sala de Gisèle estava linda, mas talvez cheia demais, com flores que definitivamente acabariam em outro lugar que não aquele. De qualquer forma, Alexia passou o primeiro aniversário de Gisèle, desde que tinham começado a ter algo, longe dela. E a culpa estava com ela desde então. Ela ligou, é claro, enviou uma mensagem de voz, até arranjou flores também para sua casa em Barcelona, ​​mas isso não foi o suficiente para si mesma.

E então, havia também o bebê - Uma garotinha que ainda nem estava ali, mas já havia mudado sua vida completamente. Alexia estava esperando fazer aquela parada com mais calma quando voltasse, mas ela tinha encomendado dois presentes, e deveria os pegar naquele fim de tarde. Ela estava algumas boas horas adiantada, mas pelo menos não dias adiantada. Então, estava esperando que pudesse encontrar algo quando colasse os pés na pequena loja com placa discreta enfiada em uma rua estreita.

Uns vinte minutos depois, quando o carro parou, Alexia saiu com seu tênis batendo no pavimento enquanto ela andava apressada para a porta. Lá dentro, a loja estava silenciosa de conversas, mas havia um barulho suave de uma música mais antiga tocando ao fundo. Uma mulher mais velha atrás do balcão levantou os olhos de uma revista, dando a Alexia um sorriso.

— Você está aqui pelo colar, certo? — ela disse, já pegando uma pequena caixa preta embaixo do balcão.

— Sim, obrigada — Alexia assentiu, respirando um pouco mais aliviada. A mulher mais velha abriu uma caixa para mostrar o delicado colar de prata. O presente de aniversário de Gisèle. Um pequeno pingente em forma de "A" pendia da corrente, fino e discreto, mas por um momento pareceu demais. Alexia tentou enfiar aqueles pensamentos para o fundo da própria mente e levantou o olhar — E a pulseira?

— Claro, claro... — disse a mulher, se virando para puxar uma segunda caixa na prateleira mais embaixo, logo atrás. Dentro havia uma pequena pulseira de ouro, pequena o suficiente para caber no pulso de um recém-nascido, com um único "V" gravado no pingente. Alexia sorriu para si mesma quando abriu a pequena caixinha.

Alexia pagou logo em seguida, sem realmente muito tempo para isso. Ela colocou as duas caixas no bolso do casaco, dispensando qualquer sacola, antes de caminhar de volta para o táxi. Quando o táxi saiu de frente da loja e retomou seu caminho em direção ao hospital, Alexia finalmente se viu respirando um pouco mais aliviada porque tinha sim mais minutos de trajeto e preocupação, mas estava mais perto. O estresse que tinha sentido quando colocou os pés em Las Rozas e a loucura de Vilda, tudo envolto aquilo também. Ela tinha tido quase que duas semanas envoltas em estresse, mas ali havia apenas Gisèle, o bebê e o pensamento do que a esperava naquele quarto de hospital.

*

Alexia saiu do táxi em frente ao hospital, tirando seu casaco com cuidado e o apoiando nos braços. Ela estava usando ainda a camisa de treino da seleção da espanhola, num tom de azul marinho, e hesitou por um momento antes de continuar andando, olhando para a placa chamativa com o nome do lugar. Sua experiência com lugares como aquele não era nenhum passeio calmo. A última vez que realmente tinha passado mais do que alguns minutos em um hospital, estava ao lado do pai, mas a experiência tinha sido diferente.

Quando ela entrou, seguindo para a recepção, com os olhos procurando a placa mais próxima para apontar a direção certa, pegou o barulho de passos ao seu lado, e então virou o rosto vendo a figura, alta, com o cabelo bagunçado para frente, carregando uma mochila nas costas, que se esgueirou ao lado dela até os dois estarem indo para o mesmo lugar. Luke parecia alguém que não dormia direito há dias, mas estava se mantendo em pé até que bem. Ele e Alexia trocaram olhares, com um reconhecimento claro se estabelecendo entre os dois, mas ninguém disse nada além de acenos.

A recepcionista olhou para os dois, perguntando quem eles tinham ido ver ou o que tinham ido fazer, e antes que Alexia pudesse responder, Luke já estava abrindo a boca, o que foi realmente uma surpresa. A resposta veio em inglês, mas ele tinha entendia espanhol o bastante para saber se virar.

— Estamos aqui pela Gisèle... Hm, Hyland o sobrenome dela. Ela entrou no trabalho de parto há algumas horas... — houve um momento de silêncio, e a mulher levantou os olhos. A maternidade era conhecida o bastante, e cara o suficiente para que não fosse tão estranho receber alguns rostos mais famosos. Mas Gisèle era Gisèle, e a coisa toda com ela tinha sido da última hora. Dinheiro não era um problema, e ela conseguiu um quarto espaçoso, com dois médicos que surgiram como recomendação de sua médica de volta em Londres. Ali, estava todo mundo um pouco alheio ainda a situação, mas o pessoal por perto definitivamente não — Essa é a namorada dela. Eu sou o pai do bebê.

Alexia não tinha realmente o que falar além de concordar. A situação era aquela mesmo, e a recepcionista digitou algo no computador, assentindo como aquele tipo de coisa acontecia o tempo todo, e então pediu documentos de ambos, antes de gesticular para o corredor.

— Quarto 218 — ela disse, num inglês realmente bom — Só pegar o elevador, e então virar à esquerda.

Os dois agradeceram, então não ficaram ali por nem mais um segundo, saindo desajeitadamente para o mesmo caminho. Luke ajustou a alça da mochila, Alexia enfiou as mãos nos bolsos do casaco. O silêncio entre eles ainda era estranho, mas não totalmente desconfortável, e era ótimo que fosse daquela maneira, porque nem um nem outro sairia dali tão cedo, de maneira óbvia.

— Então — Luke disse, quebrando o momento enquanto eles dobravam o corredor, saindo do elevador — Como foi o voo? Gisèle comentou que você estava com sua seleção.

— Ah, tudo bem. Longo demais para apenas uma hora. O tempo parecia não passar, mas tudo bem.

— Eu entendo. Eu voei de Lisboa, completamente de última hora. Sei lá... Não esperei que isso acontecesse hoje, mas, bem, você sabe como é.

— É, imagino que as coisas nem sempre saem como planejadas nesse tipo de coisa.

— Você pode dizer isso de novo — Luke brincou — Eu achei que tínhamos mais umas duas semanas, e então eu tinha até a passagem para Londres comprada.

— É, a ideia era essa...

— Mas sem reclamações — Luke continuou — Tô ansioso para ver minha filha. Acho que essa palavra ainda não se assentou direito na minha mente.

Alexia olhou de soslaio para ele. A palavra "filha" parecia gigante de certa forma, algo que nunca perderia seu peso. E apesar da estranheza do momento, havia algo honesto naquela conversa breve entre os dois.

Quando eles chegaram à porta do quarto de Gisèle, o ar lá dentro estava tingido com o cheiro estéril de um hospital. O coração de Alexia acelerou um pouco quando viu Gisèle parada perto do pé da cama, enquanto ela se preparava para continuar andando pelo quarto, como o médico havia sugerido minutos antes. Seu rosto estava vermelho, seus olhos castanhos mais claros, e ela estava com mais dor do que antes, embora não estivesse deixando isso a consumir. Tinha suor em sua testa, mesmo com o ar condicionado ligado no quarto, que estava na temperatura mais baixa.

No momento em que Gisèle viu Alexia, seu rosto inteiro mudou, definitivamente mais aliviada. Não houve interrupção ali, e Alexia sentiu o próprio peito mais apertado de uma forma que não tinha nada a ver com nervosismo e tudo a ver com a mulher na frente dela.

— Cariño — Gisèle respirou, sua voz falhando cuidadosamente. Ela não perdeu um segundo, e estava logo dando um passo em direção a Alexia, e antes que a jogadora pudesse pensar, seus braços deslizaram ao redor das costas de Gisèle, a acomodando com cuidado. A subida e descida constante da respiração de Gisèle continuou agitada, mas ela estava melhor, e Alexia deu um beijo suave em sua cabeça, sentindo o cheiro do shampoo que ela sempre usava nos cabelos.

— Ei — Alexia sussurrou — Estou aqui agora. Sinto muito por não ter chegado antes.

Gisèle se demorou um pouco no momento, e então levantou o olhar, apenas o suficiente para encarar Alexia nos olhos, com sua expressão presa entre dor e uma tentativa fraca de sorrir. Ela se inclinou para deixar um beijo fraco nos lábios da jogadora.

— Tudo bem — Gisèle murmurou, e então afastou o rosto e desviou o olhar para a frente, vendo Luke sobre o ombro de Alexia — Ei...

— Ei... — ele acenou e sorriu suavemente — Andar deveria ajudar, certo?! Era por isso que você... — Luke gesticulou sem realmente uma direção certo. Gisèle concordou.

Os dois tinham ouvido aquilo em praticamente todas as consultas. A obstetra tinha dado boas dicas, e talvez fosse só a maneira como tudo tinha acontecido, mas nenhuma delas estava ajudando Gisèle. Ou talvez a dor era só terrível demais para que ela conseguisse assimilar qualquer coisa, ou também então, tudo só fosse diferente com ela, porque cada experiência era uma experiência. A dela estava não sendo exatamente boa. Ela estava quase se arrependendo de ter escolhido o parto normal, enquanto por dentro estava praticando rezando para qualquer coisa além para que aquilo se acelerasse.

— É, bem — Gisèle revirou os olhos, apoiando o rosto no ombro de Alexia, que parecia contente em ter ela tão perto — Eu não tenho mais tanta certeza sobre isso.

Ela se mexeu um pouco, estremecendo quando outra contração começou a agarrá-la. Sua mão instintivamente apertou o braço de Alexia, sentindo ela tensionar um pouco.

— Você precisa de alguma coisa? — as sobrancelhas de Alexia se uniram enquanto ela afastava uma mecha de cabelo do rosto de Gisèle, a puxando para que pudesse a encarar.

— Estou bem, mesmo — Gisèle balançou a cabeça — Só... só esperando as coisas acelerarem.

— Há algo que eu possa fazer?

— Você pode só continuar me abraçando.

Luke, sentindo o momento, mas não querendo se intrometer, deu um passo para trás e encontrou um lugar perto da janela, de onde poderia olhar para o estacionamento abaixo. Ele não estava evitando nada, mas Alexia entendeu que ele estava tentando dar espaço para as duas - dar espaço a Gisèle. De certo modo, era tudo o que podia fazer. Do outro lado, Eli e Alba, que ficaram em silêncio por aquele tempo breve, cumprimentaram Alexia e então acenaram para Luke, e logo em seguida o silêncio voltou para o quarto. Mas também não por tanto tempo.

— Você quer sentar um pouco? — Alexia perguntou, e logo pensou como não conseguia dizer nada se não aquelas perguntas, querendo reafirmar que tudo parecia bem o bastante com Gisèle. Ela estava preocupada, e era simples assim.

— Não, eu preciso continuar me movendo. Isso me distrai. Ou... acho que sim. Não sei mais.

Alexia concordou, mantendo uma mão nas costas de Gisèle enquanto as duas recomeçavam uma caminhada lenta e arrastada pelo quarto. A tensão entre as contrações parecia uma paz muito frágil, o único momento em que Gisèle conseguia realmente respirar, e Alexia se viu prendendo a respiração junto com a garota, esperando a próxima onda cair sobre o corpo dela. Mas Gisèle, apesar de todo o seu desconforto, estava lidando com isso com um tipo de força que parecia realmente difícil de explicar.

— Quanto tempo mais você acha? — Alexia perguntou gentilmente, embora não tivesse certeza se Gisèle ou qualquer pessoa seria capaz de lhe dar uma resposta.

— Não faço ideia.

— Bem... — Alexia murmurou suavemente, e sua mão alisou as costas de Gisèle — Você está indo muito bem.

— Sua opinião é tendenciosa porque você me ama demais — a mais nova sorriu um pouco — Mas eu aceito.

Elas continuaram sua caminhada lenta, o braço de Alexia envolveu protetoramente a cintura de Gisèle, enquanto o ritmo constante de seus passos terminou sendo o único som no quarto por um tempo. Cada contração ia e vinha, cada uma um pouco mais forte que a anterior, mas Gisèle se esforçou, se apoiando mais em Alexia quando necessário.

O quarto permaneceu quieto em meio a isso, se não as perguntas de Luke sobre como Gisèle estava se sentindo, mas o silêncio em si à parte disso não era o tipo de silêncio pacífico. Era o tipo de silêncio em que todos estavam cansados ​​​​demais para falar qualquer coisa, nervosos demais para realmente relaxar. Luke parecia ter se cansado de ficar em pé em certo momento, e logo estava caminhando para perto do sofá, se sentando ao lado de Alba, parecendo mais inquieto do que qualquer um. Ele estava fazendo a mesma pergunta várias vezes, como um disco arranhado, e lá estava ele de novo.

Cerca de uma hora depois, Luke se levantou, olhando para seu celular. O celular de Gisèle tinha vibrado minutos antes, mas ela estava alheia demais a tudo aquilo para sequer reparar. Então, uma mensagem que caiu para o celular dela, e acabou não sendo lida, também terminou no celular de Luke, com Henry dizendo que estava ali em Barcelona, ​​chegando no hospital.

— Sua mãe está aqui, G — ele disse, olhando para a mensagem — Com seus irmãos. Eles estão parando aqui na frente. Eu vou... Eu vou lá os encontrar.

Alexia assentiu, apertando Gisèle um pouco mais, sentindo a maneira como o corpo de Gisèle se inclinava para ela em busca de ainda mais apoio. Ela reparou como a garota não parecia nada disposta a dizer nada tão alto, e escutou ela murmurando qualquer coisa em seu peito, então apenas tomou a frente dizendo que elas iriam continuar ali - de maneira óbvia, já que aquelas horas tinham sido apenas aquilo. Elas realmente não tinham tanto o que fazer se não esperar.

Luke deu a ela um pequeno aceno de cabeça, e com um rápido olhar para Gisèle, ele foi em direção à porta. Gisèle soltou um gemido baixo, e Alexia conseguiu sentir o peso do momento se acomodando ao redor delas. E tinha tanto por ali. A espera, a dor. O fato de que o tempo parecia apenas não passar. Mas, de qualquer maneira, elas continuaram andando.

*

Um dos médicos obstetra tinha entrado e saído de manhã e a tarde toda, verificando e tranquilizando Gisèle e Alexia de um jeito que deixava claro que já tinha feito aquilo mil vezes, mas Gisèle não tinha feito, então ela estava nervosa em cada passo do caminho. Era o fim da tarde e as horas tinham se estendido, a sala de espera se tornou um barulho distante de vozes e passos. A família de Gisèle tinha ido e vindo, cada um deles andando com cuidado ao redor da cama como se tentassem não perturbar o momento. Eli e Alba continuaram ali por um tempo, mas depois de um tempo todo mundo foi embora, esperando na sala privada ao lado.

Então, eram apenas Alexia e Gisèle.

O quarto parecia mais silencioso. Mais calmo. Alexia sentou-se na poltrona ao lado da cama, com uma mão segurando a de Gisèle que tinha se deitado minutos antes. O médico não retornou muito tempo depois. Ele sorriu como todas as outras vezes e deu a Gisèle um aceno antes de murmurar que iria verificar como elas estavam. Como todas as outras vezes. Com a diferença que, daquela vez, quando ele olhou para cima, sua expressão parecia mais aliviada do que antes.

— Você está pronta — ele disse — Está na hora.

Foi simples assim, e logo o corredor do lado de fora da sala de parto estava parecendo mais longo do que deveria, como se a inglesa estivesse andando por um túnel que se estendia para sempre enquanto ela estava sendo levada lentamente até a sala de parto. Alexia se manteve por perto, apenas um passo atrás, observando cada movimento dela, tentando avaliar como ela estava se sentindo, mas elas passaram pela sala de espera, e lá, pela porta aberta, estava todo mundo. Então, Alexia acabou ficando ali. A mãe de Gisèle estava de pé, com uma preocupação em seus olhos. Alba estava sentada no sofá no canto, e Eli estava perto da janela, com uma garrafa de água pela metade na mão conversando com Henry numa mistura de inglês e espanhol que parecia estar funcionando. Luke, no entanto, bem, Luke parecia um homem prestes a conhecer sua filha pela primeira vez. Mas ele ainda não sabia ao certo como tudo funcionaria, então estava esperando qualquer direção.

A direção veio quando uma das enfermeiras obstetra se aproximou, passando o olhar pelo espaço e procurando Alexia, porque tinha a visto com Gisèle minutos antes. Mas ela sabia sobre a situação, então logo em seguida estava encarando Luke também.

— Quem vai acompanhar Gisèle? — ela disse, seu tom prático, esperando que aquela fosse uma decisão que já havia sido discutida mil vezes. Mas não tinha. Na verdade, não.

Alexia parou no meio do caminho, olhando para Luke instintivamente. Isso não era algo sobre o que eles tinham conversado porque eles mal tinham conversado. Quem estaria lá na sala, observando-a dar à luz sua filha, isso ainda era uma discussão. Alexia sabia que Gisèle queria que Luke se envolvesse de algum jeito, mas ali, Gisèle estava com dor, e quando ela estava com dor, era Alexia quem ela queria. Ainda assim, isso era sobre ela, mas também era sobre a filha de Luke. Então parecia complicado ou bastante.

— Você deveria ir — disse Alexia, virando-se para encarar Luke.

— Eu não sei se ela iria querer isso — ele admitiu — Ela está mil vezes mais confortável com você.

— Bem, o número de acompanhantes tende a variar de hospital para hospital — a enfermeira disse, seus olhos alternando entre Alexia e Luke — Normalmente, permitimos apenas uma pessoa na sala, mas... eu posso conseguir que vocês dois assistam ao parto. Não é padrão, mas dada a situação, eu posso pedir.

— Você tem certeza? — Alexia perguntou.

— Vou fazer o meu melhor — a mulher acenou, e viu Luke concordar — Ver o que posso fazer para colocar vocês dois lá dentro. Não é uma promessa, mas vou tentar.

Uma enfermeira desapareceu no corredor e, por um momento, tudo ficou quieto entre eles. Luke mexeu a mão entre os cabelos, e Alexia tentou não olhar muito para ele, mas era impossível não notar o quão nervoso ele estava. De um jeito, era quase como se ambos estivessem tentando ficar fora do caminho um do outro, embora estivessem ali pelo mesmo motivo.

Quando a enfermeira voltou, depois do que pareceu uma eternidade, ela estava sorrindo, um pouco mais suave dessa vez, e gesticulou para que eles a seguissem, emendando que os dois poderiam acompanhar o parto, mas que tudo poderia ser intenso demais, então eles não deveria ter medo de apenas esperar do lado de fora se precisassem.

Lá dentro, para onde Gisèle tinha sido levada, o quarto estava mais claro do que Alexia talvez estivesse esperando. Gisèle estava na cama, os joelhos dobrados. Ela estava suando, e o cabelo estava grudado na testa em mechas úmidas. Seu rosto estava tenso, apertado com o esforço de tudo. Ela havia optado por não receber anestesia, sem epidural, e ali, com a dor totalmente visível, tinha se arrependido um pouco. Mas ela não diria isso em voz alta.

Desde muito jovem, ela tinha ouvido a mãe comentar em conversas à parte com as amigas que para ela o parto nunca foi algo para se temer. A mãe, a avó e as tias de Gisèle tiveram 14 partos naturais, sem nada que pudesse facilitar o processo. Não parecia clara a razão para que elas conseguissem dar à luz sem intervenção, embora algumas tenham tido partos longos e outras tenham tido bebês enormes com quadris pequenos. Era um pouco o caso de Gisèle.

Se mais para frente, a perguntassem o quanto doeu, honestamente, Gisèle não conseguiria exemplificar. Isso porque havia vários níveis de intensidade que subiam e desciam. Mas algo que ela não esqueceria, e Alexia também - muito provavelmente Luke lembraria também -, era o som que fez nos primeiros minutos de trabalho de parto. Um gemido baixo e gutural como um animal que não conseguia pular uma cerca ou que então estava preso em um rio prestes a morrer. Foi terrível como isso. As ondas que Gisèle estava sentindo eram exatamente isso - começando lentamente e depois aumentando e, à medida que aumentavam, ela respirava, fechava os olhos e relaxava até não conseguir relaxar mais. Tudo no corpo dela tinha sido treinado para relaxar em vez de ficar tenso por todos aqueles últimos meses. Ela tinha conversado por horas com a obstetra, e então nas últimas semanas adicionou a rotina horas de ioga pré-natal, hipnoterapia, leituras e visualizações baseadas em outros partos normais para que pudesse entender o que estaria vivendo. Gisèle encontrou conforto no desconforto, mas na prática tudo era ainda mais intenso.

Naquele momento de parto ativo, não havia uma voz de negatividade nem medo no quarto. Todos que estavam auxiliando testemunharam silenciosamente a progressão do trabalho de parto, fornecendo o que era necessário para o momento. Tudo fisicamente no corpo dela estava se esforçando para baixo - para baixo e para fora, para baixo e para fora - se movendo nessa dança única de ir para onde ela precisava.

A médica obstetra responsável pelo parto realmente chegou às 18h25 - o que era quase vinte minutos depois que Gisèle tinha mudado de quarto. Ela viu a médica preparando qualquer coisa ao lado de si - luvas esterilizadas, agulhas de vários tipos, baldes, toalhas. Isso fez Gisèle pensar que ela estava muito perto. Então, o escopo da sala se estreitou gradualmente durante o parto, à medida que Gisèle se aproximava do primeiro choro do bebê.

Finalmente, alguns minutos depois, uma das enfermeiras obstetras acenou murmurando um "a cabeça está bem ali", na direção da médica obstetra. Foi talvez o único momento em que Gisèle conseguiu abrir a boca e falar algo, e o que saiu foi algo como "quanto tempo até eu ter o bebê?". A médica riu e respondeu que em breve aquilo acabaria. Mas em breve era muito vago, e Gisèle quis saber quantos minutos. "Em breve", a médica repetiu. Gisèle ainda queria uma resposta definitiva. Ela estava apenas se questionando porque o parto não era quantificável como o Google prometia. Ela queria uma meta para trabalhar. Mas não. O parto era inquantificável. Gisèle estava odiando a experiência.

Especialmente porque ela esperava envolver o bebê profundamente no processo de trabalho de parto. Ela sabia o sexo do bebê, então isso não era surpresa. Ela tinha escolhido definitivamente o nome dela com Luke. Mas durante o parto, ela quase esqueceu que o bebê estava envolvido. Algo como "ah, sim, o bebê, ela está aqui ainda durante tudo isso". O pensamento poderia parecer bizarro, mas a situação toda parecia tanto sobre Gisèle, e de certo modo era mesmo. O corpo dela e a dor dela.

O corpo dela era dono do palco, apenas o corpo dela e nada mais - não quem ela pensava que era, ou o que acreditava ser, ou de onde ela era, ou como parecia, ou qualquer coisa de quem ela tinha sido até aquele momento. O corpo que tinha abrigado a alma dela por tanto tempo agora era tudo o que existia mesmo. O músculo mais forte dentro de Gisèle se flexionou, e os pés de seu bebê foram empurrados cada impulso. E então, de repente era o corpo de outro pessoa. A cabeça de Gisèle pendeu para trás. Havia o maior escopo do universo ao seu redor, enquanto tudo o que ela sentia era exatamente o que estava acontecendo. Sem realmente muito o que fazer, ela empurrou de vez.

A médica pediu que ela empurrasse mais devagar, e Gisèle obedeceu. Ela empurrou novamente, e então foi como um soco. Ela podia sentir seus ombros, seus cotovelos, seus joelhos, seus tornozelos e seus pés. Gisèle nunca tinha conhecido o corpo dela tão intimamente quanto naquele momento. Nunca mais conheceria provavelmente. Ela a sentiu dentro de si. O presente de todo aquele trabalho. Ela conhecia cada ângulo da própria filha. E veio uma onda mais forte. Foi quando ela pensou que choraria. Mas ela não chorou, não de imediato.

As lágrimas caíram quando Ynes, uma das enfermeiras, deslizou o corpo da filha de Gisèle contra o peito dela. Ela então se entregou completamente com a sensação prazerosa do cordão umbilical ainda saindo de si, com o último tecido conjuntivo ainda ali. A pequena ainda estava nela. Ela estava ali, com ela apoiada em seu coração, mas ainda estava lá, dentro de si. O coração do bebê e o de Gisèle ficou conectado por apenas mais alguns momentos enquanto a criança se contorcia, nua e gritando. Poucos minutos depois, foi a voz de Luke que surgiu no espaço, e foi então que Gisèle tomou consciência de que todo aquele momento tinha sido assistido.

— É uma menina mesmo?

— Sim, é uma menina — a médica obstetra murmurou, sorriu um pouco, mas fez isso alto o bastante para que Gisèle conseguisse escutar.

O tempo parou um pouco, mas Gisèle precisou se afastar da filha, e então ela viu de relance o momento entre Luke e o bebê, e o mais velho acenando para Alexia, quase sussurrando para que ela se aproximasse um pouco mais.

Gisèle quis continuar enfrentando a cena por mais tempo, mas a placenta era maior do que ela esperava e depois de dar à luz, ela precisou lidar com aquilo. Ela pensou que a placenta deslizaria para fora sem ser notada, mas não, porque era volumosa. Não foi doloroso também, mas ainda assim foi algo que precisou de um pouco de carinho para ser ejetado. E então, depois disso, depois de Alexia sair para dar a notícia, insistindo que Luke continuasse ali, e depois que o bebê teve uma chance de mamar pela primeira vez, Ynes e mais uma outra enfermeira, junto com a médica, Alicia, avaliaram o rompimento de Gisèle. Ela teve sorte, ou foi o que elas disseram - não houve nenhum rompimento perineal profundo, possivelmente por causa de uma combinação de elasticidade do tecido da pele e a massagem perineal que a garota tinha feito por meses. Ou foi pura sorte.

As próximas horas correram quase como um borrão. Gisèle se limpou quando conseguiu levantar, com a ajuda de Alexia. E então, no quarto, estava Luke e a pequena Venetia quase apagados na poltrona ao lado da cama. Luke tinha aberto a camisa de botão que usava, então estava peito a peito com a filha, com a luz baixa do quarto ainda acesa. Houve uma sensação de manhã de Natal por ali, mesmo que fosse primeiro de julho. Mas o quarto era como um lugar aconchegante para se refugiar durante uma tempestade de neve - aquela tranquilidade, aquela segurança, o conforto necessário honrado por dentro. Quando Gisèle saiu do banheiro, ela subiu na cama com Alexia se acomodando na poltrona do outro lado, e então Luke apoiou a filha no peito de Gisèle, e por mais que a inglesa estivesse cansada, ela não dormiu. Apesar do tempo de parto, e não ter pregado os olhos por todo aquele dia, tudo o que Gisèle queria fazer era ficar acordada para olhar para o corpo vivo e respirando da filha.

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