09 | DE UM MODO TÃO PARTICULAR
CAPÍTULO NOVE | UN VERANO SIN TI
❝DE UM MODO TÃO PARTICULAR❞
❝me juntaria pra te amar, nos teus cabelos me enrolar, mais enrolada que eu já tô nesse momento. tem um mundão pra aventurar, eu sei, seu ascendente é mar e a nossa foto aumentou meu engajamento❞ ⸺ IMPREVISTO; yago oproprio, rô rosa
O APARTAMENTO ONDE A MÃE E A IRMÃ DE ALEXIA MORAVAM FICAVA EM UM COMPLEXO DE PEQUENOS PRÉDIOS DE CINCO ANDARES. Elas moravam em um espaço mais aberto, no quarto andar, com sala de estar, cozinha, três quartos e dois banheiros. Era grande o suficiente para duas pessoas. Tinham se mudado há quase cinco anos, deixando a casa da família onde Alexia e Alba cresceram.
Alexia ajudou a encontrar o lugar e investiu parte de seu próprio dinheiro nele. E o espaço era definitivamente mais confortável e moderno. Mas, apesar da mudança, elas não estavam longe. O irmão de Eli ainda morava perto e, na verdade, o antigo bairro ficava a menos de dez minutos de caminhada. Eli ainda visitava os amigos e os recebia em sua casa. Ela ainda ia aos mesmos lugares e a vida não havia mudado nada, exceto pelo fato de que tinha um novo lugar, o que para ela e Alba era perfeito.
Quando Alexia estacionou em frente ao pequeno prédio, Gisèle sentiu todo o nervosismo que conseguiu manter no fundo de sua mente voltar à tona. E nada disso era normal. Para alguém que já teve vários relacionamentos, conhecer a família do parceiro nunca foi algo que a deixasse particularmente ansiosa. A inglesa lembrava bem quando Luke a levou para conhecer a mãe na França. Elas pareciam velhas amigas e, em geral, Gisèle insistiu mais para o encontro do que Luke.
Mas esse era um cenário diferente. Alexia falava muito bem da mãe e da irmã, e era óbvio o quão forte era o vínculo entre elas. Além disso, embora já conhecesse Alba bem o suficiente, levando em conta que tinha se encontrado algumas outras vezes, ela só tinha visto Eli uma vez, e as duas mal tinham se falado. Naquele dia também, quando se conheceram, Gisèle e Alexia ainda não tinham nada. Mas não naquele momento, porque Alexia a pediu para ser sua namorada. Era oficial, embora elas tivessem dito inicialmente que esperariam.
As duas não conseguiram esperar e, de um momento para o outro, tudo o que deveria ser lento pareceu estar se movendo absurdamente rápido.
— Estamos bem? — Alexia perguntou ao parar o carro, tirando o cinto de segurança e colocando uma das mãos na perna de Gisèle novamente.
Ela estava dirigindo com a mão exatamente ali, mesmo que não fosse exatamente a coisa certa a fazer. Duas mãos no volante — Alexia sabia. Mas parecia impossível não estar em contato constante com Gisèle.
— Só um pouco nervosa — Gisèle não mentiu — Ei, você acha que eu deveria falar sobre ela?
O olhar de Gisèle não precisou cair em sua própria barriga para Alexia entender de quem eles estavam falando.
— Só se você se sentir confortável.
Alba já sabia da gravidez, e era muito improvável que ela não tivesse contado a Eli sobre isso. Mas os tios de Alexia também estariam lá, assim como alguns de seus amigos. Gisèle não estava usando nenhuma das camadas de roupa que ela havia se acostumado a usar nas últimas semanas. Um vestido, meias e tênis, junto com um cardigan, eram a escolha. Parecia meio óbvio que havia algo diferente.
— O que você vai dizer sobre nós? — Gisèle perguntou, e imediatamente quis revirar os olhos para si mesma, irritada por estar tão visivelmente ansiosa, assustada e apreensiva.
— Bom, acho que vou apenas dizer que estamos juntas — disse Alexia — Sem mais detalhes. Meu tio, irmão da minha mãe, pode ser extremamente curioso, então pode ser complicado, mas nada demais.
— Ok... — a palavra ficou no ar, e Alexia apertou a pele de Gisèle carinhosamente, sentindo sua mão cobrir a dela logo em seguida. A jogadora inverteu a posição um segundo depois, entrelaçando os dedos com os dela.
— Se você não se sentir confortável, posso mandar uma mensagem para minha mãe, inventar alguma coisa, e nós vamos embora.
— Não acho que isso vá funcionar, eu tenho quase certeza que vi sua irmã na janela — brincou Gisèle, mas não exatamente, porque um minuto atrás Alba tinha realmente aparecido, dando uma olhada no carro que havia estacionado. Alexia riu levemente — Eu quero fazer isso, só estou um pouco nervosa. É uma grande coisa conhecer sua mãe.
— Você já a conheceu.
— Realmente conhecê-la — corrigiu Gisèle.
Parecia mesmo uma grande coisa, e Gisèle reconheceu naquele exato momento, porque Alexia significava muito para ela, mesmo em tão pouco tempo. O peso era diferente. Ela não queria deixar espaço para ninguém falar contra, e só a ideia de fazer algo estúpido estando com pessoas que realmente importavam para a jogadora era um pouco assustadora.
Mas ela superou isso. Ela saiu do carro com Alexia, e esperou a jogadora alcançar as duas caixas cheias de magdalenas no banco de trás, então juntou sua mão direita com a esquerda dela, e as duas caminharam até estarem enfiadas em um elevador, subindo os poucos andares do prédio, para então baterem na porta do apartamento de Eli. Foi, de fato, Elisabeth quem abriu a porta, sorrindo.
— ¡Hija! Tu tío acaba de llegar también (Filha! Seu tio também acabou de chegar) — disse ela, antes de puxar Alexia para um abraço, deixando um beijo em sua bochecha. Então Eli encarou Gisèle e deixou qualquer formalidade de lado, se inclinando para um abraço também. Naquele ponto, Gisèle já tinha entendido que era como os espanhóis funcionavam. Contato nunca era um problema — Cariño, estaba tratando de saber cuándo me volverías a ver. Alexia no dejaba de hablar contigo cada vez que te llamaba (Querida, eu estava tentando saber quando você veria outra vez. Alexia não parava de falar com você, sempre que ligava).
A mais velha deixou um beijo no rosto da inglesa, antes de voltar a encarar a filha.
Enquanto na Inglaterra um aperto de mão já parecia demais, e apenas gastar conversa no meio do chá da tarde - antes de sorver o primeiro gole da xícara -, poderia parecer falta de educação, ali em Barcelona abraços e beijos eram exemplo de gentileza. Em Londres, as pessoas evitavam contato até na rua. Em Barcelona, não era nada fora do normal ver amigos se abraçando como se tivessem acabado de voltar da guerra, quando na verdade só não se viam há três dias.
— Mami... — Alexia ralhou, mas sem realmente se incomodar. Não era nenhuma surpresa, ou nenhum segredo. Ela realmente falava sobre Gisèle, e talvez mais do que as pessoas gostariam de ouvir. Nas últimas semanas, ela também tinha enchido o ouvido de Mapi.
— "Mami", nada — Eli retrucou, se afastando e dando espaço para as garotas passarem — Entrem, entrem.
— Adrián comentó si vendría? (Adrián comentou se viria?) — Alexia perguntou.
— No dije nada (Não disse nada) — Eli respondeu — Pero su esposa está visitando a su familia, así que está solo. Creo que aparecerá, insistí en que viniera (Mas a esposa dele está visitando a família, então ele está sozinho. Acho que vai aparecer sim, eu insisti para que ele viesse) — a mais velha notou as caixas que a filha estava segurando e apontou para elas, lendo o nome do 'Baluard', um café em Eixample, na embalagem — ¿Qué trajiste? (O que você trouxe?).
— Sólo unas magdalenas (Apenas algumas magdalenas).
— Sabes que he preparado demasiada comida, ¿no, cariño? (Você sabe que eu já fiz comida demais, não sabe, querida?).
— Sí, me lo imaginé (É, eu imaginei) — Alexia deu de ombros — Por si acaso (Só por precaução).
Alexia quem fechou a porta de entrada, e Eli guiou o caminho, gesticulando em direção à sala.
Ricard e Anna estavam sentados no sofá, com as costas para o corredor, enquanto Marc e Miriam tinham a visão direta de onde as garotas vinham, atrás de Eli. Marc olhou para cima primeiro, e um sorriso cresceu em seu rosto enquanto ele se mexeu para se levantar e ir cumprimentar a amiga. Isso atraiu atenção, e logo Ricard estava virando o rosto para a cena.
— Oye, has estado desaparecido desde la última vez (Ei, você sumiu desde a última vez) — Alexia abraçou o amigo, e até tentou pensar em qualquer desculpa pela distância, mas naquele ponto Marc já tinha se acostumado aos sumiços da garota durante a temporada.
À parte disso, ela parecia estar aproveitando um bom tempo com Gisèle - mas isso Marc apenas imaginou. Por mais que ele tivesse visto a garota semanas atrás, quando eles estavam juntos no jogo do Barcelona, não tinham trocado tantas palavras, e Alexia não tinha oferecido tantas explicações além do: "Nos conhecemos há algum tempo. Somos amigas".
— Sabes... (Você sabe...) — começou Alexia.
— Días ocupados (Dias agitados) — ele completou e ela assentiu. Marc se afastou, e pediu antes de estender a mão na direção de Gisèle — Nos vimos no jogo do Barcelona há um tempo atrás, não sei se você se lembra.
— Claro — Gisèle falou sincera. Ela aceitou o contato com Marc e voltou a sentir a mão de Alexia roçando levemente na dela quando eles se separaram, enquanto de lado a jogadora sorria, a observando — Não conversamos realmente, mas eu definitivamente me lembro de você.
— Bem... — Marc acenou para o sofá — Essa é Miriam.
— Nós três estudamos juntos — Alexia comentou, quando viu a amiga se levantando, pronta para estender a mão para inglesa.
Ela fez isso, e o cumprimento terminou com uma troca de sorrisos. Diferente de Marc, Miriam não sabia exatamente se mudar para o inglês era o melhor, e por mais que Gisèle estivesse disposta a dar uma chance para o seu espanhol, Marc tinha tomado a frente e trocado a conversa para a língua de Gisèle - tentando ser gentil.
Enquanto Eli se movia em direção à cozinha, ela parou no arco da porta antes de sumir de vez, e olhou para Gisèle.
— Siéntete como en casa. La comida no debería tardar mucho en estar lista (Sinta-se em casa, querida. A comida vai ficar pronto logo).
Alexia ficou encarregada de terminar as apresentações. Ela se virou com Gisèle na direção dos tios - depois que a garota se arriscou em seu espanhol para trocar mais do que algumas palavras com Miriam -, e acenou entre eles. Ricard abraçou a sobrinha, e ouviu ela comentando sobre Gisele e os apresentando - sem realmente entregar muito. Ela não disse a palavra "namorada", e também não falou mais do que deveria. Gisèle agradeceu silenciosamente porque sentiu o nervosismo que ela tinha esquecido por aqueles últimos minutos voltando outra vez. Mas, como um anúncio bom, Alba apareceu parecendo disposta a dispersar todas aquelas apresentações.
A irmã mais nova de Alexia surgiu sorrindo e logo estava abraçando Gisèle. Alexia aproveitou a presença dela e apenas interrompeu o momento, com a desculpa de que iria apresentar o restante do apartamento para Gisèle. Alexia deixou as duas caixas com bolinhos nas mãos da irmã e saiu puxando a namorada em direção ao corredor que levava a outra parte do apartamento - mas não que tivesse exatamente muito mais para ver.
Elas voltaram alguns minutos depois, e a mesa já estava postada. Ricard, Anna, Alba, Marc e Miriam já estavam sentados, e Alexia puxou uma cadeira para Gisèle, mas antes que ela pudesse se acomodar ao lado dela, a batida na porta tomou toda sua atenção.
Eli estava passando pela cozinha, em direção a sala de jantar com uma travessa na mão, e pediu para a filha ir atender a porta. Alexia seguiu para a entrada e Adrián estava lá, com uma garrafa de vinho na mão, sorrindo para a amiga.
— Sólo debería verte al final de la semana (Eu deveria te ver apenas no final da semana) — ela comentou, brincando. Adrián riu, antes de dar um passo adiante e abraçar a amiga.
Alexia fechou a porta quando eles se afastaram.
— Lamento frustrar tus planes (Desculpa frustrar seus planos) — Adrián fingiu um pesar — ¿Cómo estás? (Como você está?).
— Bien (Bem) — ela respondeu — Mejor que ayer, definitivamente (Melhor do que ontem, definitivamente).
— ¿Por el juego? (Por conta do jogo?) — o mais velho disse, dando espaço para que Alexia liderasse o caminho, mas ele manteve o passo ao lado dela.
— Aham.
— No eras tan malo como crees, lo sabes, ¿no? (Você não foi tão ruim quanto acha que foi, sabe disso, não sabe?).
— "No fue tan malo", lo que implica que en realidad fui malo ("Não foi tão ruim", o que implica que, na verdade, fui ruim).
— Estabas desconectada- (Você estava desconectada-)
— Y sigues exigiendo esto de mí (E você vive me cobrando isso) — ela sabia que não era a mesma coisa, mas quis irritar Adrián um pouco, e quando ganhou a resposta do mais velho revirando os olhos, terminou rindo.
— Eso no es de lo que hablamos (Não é disso que conversamos) — foi o que ele disse, antes que os dois alcançassem o espaço da sala de jantar — Hola, hola... (Oi, oi...) — Adrián chamou a atenção para si.
— Adrián! — Alba sorriu, levantando-se para abraçá-lo brevemente antes que ele desse a volta na mesa, trocando cumprimentos com Ricard, Anna, Marc e Miriam.
Quando chegou onde Alexia tinha se acomodado, ele notou Gisèle e convidou um sorriso gentil para o próprio rosto - um pouco confuso, e definitivamente perdido. Diferente das conversas incontáveis com Mapi, Alexia tinha mantido Adrián levemente no escuro sobre tudo o que estava acontecendo com Gisèle. Claro, ele sabia parte da coisa toda - uma parte bem rasa, honestamente. Mas ter ela ali era algo, e por mais que ele não fosse o homem mais ligado na música mainstream, era um pouco difícil não saber quem Gisèle era. Ela estava em todos os lugares.
— Ei, acho que ainda não nos conhecemos — disse ele, estendendo a mão para Gisèle — Adrián.
— Oh, você é o cara sobre quem eu ouvi todas aquelas reclamações algumas boas horas por semana — a inglesa brincou.
— É bom saber que sou bem falado.
— Eu tento o meu melhor para fazer justiça as nossas sessões — Alexia deu de ombros e Adrián riu — Ei, hm, eu te falei sobre a Elle...
— Claro — ele acenou — Ainda que não tão abertamente — o mais velho olhou diretamente para a inglesa — É difícil arrancar qualquer coisa dela quando o objetivo parece ser manter segredo.
— Sem segredos, cara — Alexia contrapôs — Você apenas não me perguntou nada.
— Não é como se você fosse dizer de qualquer forma — ele falou.
— Bem, estou falando agora. Essa é a Gisèle. Minha namorada — Alexia colocou a mão gentilmente sobre a perna da garota.
Por uma fração de segundo, a mesa ficou em silêncio, porque a notícia era nova e tinha escapado da maneira mais honesta - e casual - possível. Marc, que estava tomando um gole de sua bebida, quase engasgou quando olhou de Alexia para Gisèle. A cabeça de Alba virou tão rápido que quase parecia um milagre que ela tivesse conseguido fazer aquilo. A boca de Miriam se abriu de surpresa, e Ricard e Anna trocaram um olhar surpreso, para dizer o mínimo.
— O quê? — Marc finalmente deixou escapar, sua voz mais alta do que o pretendido — "Novia"? ("Namorada"?)
Alba se inclinou para frente, não que precisasse - na disposição da mesa, ela estava entre Marc e o fim da mesa. Alexia do outro lado de Marc. Alba tinha visão da irmã, mas ela realmente queria a encarar melhor.
— Espera, desde quando?
— Hum, oficialmente desde ontem — Gisèle respondeu, usando um tom leve e relaxado que enganou bem o que ela estava realmente sentindo.
— Ontem? — Alba continuou.
— Isso era para ser um segredo? — Marc perguntou.
— Não exatamente — Alexia deu de ombros — Eu acabei de contar, não? É só que... Nós só não queríamos fazer uma grande confusão sobre isso.
Não era exatamente uma mentira. Ela poderia ter falado sobre assim que colocou os pés no apartamento da mãe, mas não quis acrescentar em nada no nervosismo da namorada. Depois, parecia que tempo o bastante tinha passado, e falar como se fosse a notícia mais simples do mundo, quase tirava um pouco do peso da coisa toda. Ainda que, obviamente, não fosse a notícia mais simples do mundo.
Mas ninguém ali era um exemplo de descrição, e logo as perguntas saíram um pouco do controle. Bem, pelo menos até Eli entrar na sala de jantar com uma bandeja nas mãos, colocando-a no centro da mesa. Seu olhar varreu o espaço, e ela reparou no quase "pedido de socorro" da filha enquanto Alba dizia alguma coisa.
— Bien, ¿qué pasó? (Ok, o que aconteceu?) — Eli perguntou, estreitando os olhos de brincadeira enquanto se sentava. Ela olhou para as filhas, depois para Gisèle, que tinha um anúncio de sorriso no canto dos lábios.
— Mama — Alba começou, ainda olhando para Alexia — Alexia acaba de anunciar como si nada lo más interesante que le pasó en los últimos meses (Alexia acabou de anunciar a coisa mais interessante que aconteceu com ela nesses últimos meses como se não fosse nada).
— Alba-
— Tu hiciste esto (Você fez isso) — a garota encarou a irmã.
— ¿De qué estamos hablando? (Do que estamos falando?)
— Acabo de mencionar que estamos saliendo (Acabei de comentar que estamos namorando) — Alexia disse, e viu Eli levantando as sobrancelhas. A mesma expressão que tinha tomado o rosto de Alba estava ali, e Gisèle não conseguiu não pensar como a garota mais nova era uma cópia da mãe. Alexia se parecia também, de alguma maneira, mas Alba... Era quase assustador.
— Oh — a mais velha sorriu animada — ¡Eso es increíble, cariño! (Isso é incrível, querida!).
— Incrível... — Marc murmurou — Mas estamos todos aqui tentando descobrir como nenhum de nós sabia. Desde quando vocês estão se vendo?
— Não muito tempo — Gisèle respondeu, arriscando o próprio espanhol pela primeira vez naquele dia.
Em algum momento em toda aquela conversa, o idioma tinha mudado de qualquer maneira, então a garota apenas tentou se encaixar. Ela tinha entendido grande parte de tudo aquilo também, então pelo menos não estava tão perdida quanto achou que ficaria.
— Como Alexia te pediu em namoro? E, por favor, me diga que foi ela quem fez isso — Alba perguntou.
— É, a pergunta partiu dela.
— Esto es una especie de milagro (O que é uma espécie de milagre) — Adrián brincou. Ele tinha encontrado seu espaço na mesa e estava sentado ao lado de Ricard, do outro lado, entre o mais velho e Miriam — Em uma situação normal você teria que esperar uma vida inteira.
— Você é tão engraçado, Adrián — Alexia resmungou, balançando a cabeça, mas havia um sorriso puxando os cantos de seus lábios — Realmente muito engraçado.
— Ela se saiu bem, na verdade — Gisèle deu de ombros.
— Não estamos falando da mesma pessoa — Miriam comentou, e Alexia quase perguntou se aquilo tinha virado um momento especial para implicarem com ela.
— Está bien, está bien, demos un respiro a Ale (Tudo bem, tudo bem, vamos dar um tempo para Ale) — disse Ricard, com a voz calma, mas mal se aguentando de curiosidade. Não foi realmente necessário muito para Alexia entender isso — Creo que estoy un poco perdido aquí (Acho que estou um pouco perdido aqui) — ele intercalou o olhar entre a sobrinha e Gisèle — ¿Cómo se conocieron ustedes dos? (Como vocês duas se conheceram?).
— Por favor — Anna assentiu — No sabía que estabas saliendo con alguien, Ale (Eu mal sabia que você estava vendo alguém, Ale).
— Como se ela contasse alguma coisa — Alba falou.
Alexia se mexeu na cadeira, sua mão deixou a perna de Gisèle e se arrastou para a mesa, até ficar entrelaçada aos dedos dela. Ela olhou para a inglesa por um momento, como se perguntasse silenciosamente se estava tudo bem para falar sobre aquilo, muito porque falar sobre aquilo implicava em falar sobre o contexto da coisa toda. Ninguém tinha realmente comentado sobre a clara situação da garota - ela estava grávida, e diferente de outras vezes, parecia visível. Gisèle apenas concordou.
— Mira... (Vejam...) — a mais velha encarou os tios — Nos conocimos en un restaurante. Fue el día que salimos a cenar a Martínez (Nos conhecemos em um restaurante. Foi no dia que saímos para jantar no Martínez) — ela encarou a irmã, e a viu assentir — Final de outubro.
— Acabamos nos encontrando no banheiro, porque eu estava quase tendo uma crise de ansiedade, ou qualquer coisa assim — Gisèle disse, mas pelo olhar que ganhou dos mais velho, ela reconheceu que eles mal tinham entendido o que ela tinha falado. Então, a inglesa tentou continuar — Nos reunimos en el baño del restaurante porque estaba a punto de tener un ataque de ansiedad (Nos encontramos no banheiro do restaurante, porque eu estava quase tendo uma crise de ansiedade).
— Entonces supongo que, bueno, intenté ayudar (E então acho que, hm, bem, eu meio que tentei ajudar).
— Na verdade — Gisèle continuou — Hay un poco más en esta historia (Tem um pouco mais nessa história) — ela olhou para Alexia, apenas para ter certeza que parecia clara o bastante para ser entendida. A garota assentiu — Nos conocimos en el restaurante, y entonces tuve una pequeña crisis... Ese día... me acababa de enterar que estaba embarazada (Nós nos conhecemos no restaurante, e então tive uma pequena crise... Naquele dia... eu tinha acabado de descobrir que estou grávida).
Alba obviamente sabia disso, então não pareceu nenhuma surpresa. Eli sabia porque a filha mais nova tinha comentado, mas ela não forçou Alexia a falar sobre em todas as chamadas que a escutou comentar sobre Gisèle - até porque, a notícia não era dela para ser dada. Mas Gisèle parecia bem em falar.
— É, disso eu sabia — a irmã de Alexia murmurou do outro lado e Gisèle sorriu gentilmente.
— Eu tinha ido ao banheiro e estava meio... bem, surtando. Alexia estava saindo, e... ela apenas ajudou. Ella me ayudó con la situación (Ela me ajudou na situação).
— No fue gran cosa (Não foi nada demais) — a jogadora foi modesta.
— Foi realmente alguma coisa.
— Esa es... una gran noticia (Isso é... Uma grande notícia) — Anna falou — ¿Están usted y el padre del niño...? (Você e o pai...?)
— Tía... — Alexia tentou chamar a atenção da mulher mais velha.
— Ai, Ale — Anna revirou os olhos — Es sólo una pregunta (É uma pergunta apenas).
— Tudo bem — Gisèle apertou suavemente a mão de Alexia — Hace tiempo que no estamos juntos, pero tenemos una buena relación. Estamos tratando de mantener las cosas bien, ya sabes... Para ella (Nós não estamos juntos há um tempo, mas temos uma boa relação. A gente tá tentando manter as coisas bem, sabe... Por ela) — a mão livre da garota acabou caindo em sua barriga, e o olhar de Eli se acendeu.
— Dios mío, ¿es una niña? (Meu Deus, é uma garota?).
— Aham — Gisèle concordou com a pergunta da mãe de Alexia.
— Eso es perfecto, cariño... perfecto (Isso é perfeito, querida... perfeito) — ela sorriu — Hablando desde experiencia personal (Falando por experiência própria).
A conversa do almoço girou, praticamente, ao redor de tudo aquilo. Alexia tinha avisado a namorada, mas ainda foi uma surpresa quando Ricard pareceu especialmente curioso para saber mais Gisèle. Ele era o irmão de Eli e, mesmo que Alexia já tivesse dezoito anos quando o pai falecera, Ricard estava lá para ela, pronto para tentar fazer o melhor que pudesse. Ele não esperava assumir o lugar de Jaume, não tinha pretensão alguma porque sabia o impacto que ele tinha sobre a filha, mas estava tentando ajudar.
Então, em todos os aspectos da vida dela, de certo modo, ele era muito preocupado. Alexia era, e ele sempre falava sobre isso, uma das pessoas mais boas que ele conhecia. Tinha visto ela crescer, e viu o bom trabalho que Eli e Jaume haviam feito. Ricard reconhecia que ela merecia alguém tão bom quanto. Gisèle causou uma boa primeira impressão e logo Ricard estava falando animado sobre a sobrinha.
— Sabes (Você sabe) — ele começou, depois que Marc comentou algo sobre o tempo de escola, ali em Mollet — La carrera futbolística de Alexia comenzó con una pequeña mentira (A carreira de Alexia no futebol começou com uma pequena mentira).
— Oh si, es verdad (Ah, sim, é verdade) — Eli assentiu — La llevamos a Sabadell, donde ya estaba en el equipo una amiga de la familia. El problema era que la edad mínima era ocho años y Ale sólo tenía seis en ese momento (Nós a levamos para Sabadell, onde uma amiga da família já estava no time. O problema era que a idade mínima era oito anos, e Ale tinha apenas seis anos na época).
— Su papá tuvo que mentir un poco (O pai dela teve que 'trapacear' um pouco) — Ricard riu — Les dijo que tenía ocho años sólo para internarla (Ele disse a eles que ela tinha oito anos só para coloca-la dentro).
— Não sei se isso é algo para se orgulhar, mas deu certo — Alexia comentou.
— Você me falou sobre isso. Seu pai deve ter visto algo desde o começo.
— Oh, el vio (Ah, ele viu) — o tio de Alexia falou — Solía decir que aunque era un poco más pequeña que los otros niños, era terca. Y de todos modos, no le tomó mucho tiempo alcanzar a los niños mayores (Ele costumava dizer que, mesmo que ela fosse um pouco menor que as outras crianças, ela era teimosa. E, de qualquer forma, não demorou muito para ela alcançar as crianças mais velhas).
— ¿Recuerdas cómo solían turnarse para llevarme a practicar después del trabajo? (Vocês se lembram que costumavam se revezar para me levar para o treino depois do trabalho?)
— Por supuesto (Claro) — Anna sorriu — Sabadell está a media hora aproximadamente (Sabadell fica a cerca de meia hora de distância) — ela olhou para Gisèle — Siempre encontramos una manera (A gente sempre dava um jeito).
— Quando era a vez da minha tia — Alexia acenou para Anna — Ela colocava um capacete enorme em mim, e eu andava na garupa de uma Benelli seis cilindros que ela tinha. Eu devia estar parecendo ridícula.
— Eu lembro daquela moto — Alba riu.
— Eu estava jogando com meninas de 11 ou 12 anos, e chegava em casa reclamando que não conseguia chutar a bola tão forte quanto elas. Mas honestamente, eu amava mesmo assim. Eu mal conseguia esperar para voltar todas as vezes.
— Você nunca parava também — Marc disse — Na escola, você sempre organizava os jogos.
— E depois montava os times — Miriam lembrou.
— Claro, isso — Marc deixou uma risada tomar o espaço, e balançou a cabeça negativamente — Ela sempre escolhia os melhores, e sempre era a capitã. Eu odiava cada minuto daqueles momentos.
— Você odiava porque sempre perdia.
— Você nunca me escolheu, Ale!
— Porque você era péssimo, Marc! O que eu poderia fazer?
— Não, não — ele acenou — Eu me encontrei no gol depois das primeiras partidas.
— Você se encontrou? — Miriam murmurou, e Marc logo entendeu que ouviria alguma coisa a mais partindo dali — Claro que foi isso... Não era como se todos concordassem que era melhor você não correr pelo campo, então te enfiaram lá atrás.
— Alguém tinha que parar todos aqueles chutes que Alexia continuava dando, então eu não tenho ideia do que você está falando.
— Foi isso sim — Alexia ironizou.
— Olha, não estou dizendo que eu estava destinado a ser pro, como você, mas eu me segurei lá atrás por boas semanas.
— Para ser justa com o Marc, Alexia levava a sério tudo, até as brincadeiras de escola— Alba falou.
— Olha, é quase como se nada tivesse mudado — Adrián tentou irritar a amiga, e ele teria ganhado um empurrão pelos ombros se não estivesse do outro lado da mesa.
— Ale, você parece horrível quando ele fala assim — Gisèle falou, rindo um pouco.
— Tá vendo, não é difícil de entender — Marc apontou.
— Você deveria estar do meu lado nisso.
— Bem, quero dizer — Gisèle deu de ombros, olhando para Marc — Eu consigo imaginar você sendo mandona, mesmo mal tendo tamanho. É bem a sua cara.
— Eu não era tão ruim.
— Fue un poco peor (Era um pouco pior) — Marc murmurou — Es verdad, es verdad (É verdade, é verdade).
— Ok, ok, talvez eu estivesse um pouco... Imersa... apenas focada demais.
— Pelo menos agora a braçadeira de capitã combina com você. Você basicamente agia como uma quando éramos crianças, de qualquer forma.
— Hm, isso... É, ele está certo — Gisèle falou, concordando com Marc — A braçadeira combina com você.
— Combina? — Alexia murmurou, com a voz um pouco mais baixa e parecendo uma criança buscando por aprovação — Você realmente acha ou está apenas dizendo isso porque tá levemente presa comigo agora?
— Talvez, talvez... — Gisèle brincou — Talvez um pouco dos dois.
Alexia riu e segurou o queixo de Gisèle com uma das mãos, cortando completamente o espaço, deixando um beijo suave, mas não demorado, nos lábios da garota. A jogadora teria aprofundado o contato, se elas estivessem no conforto da privacidade. Mas, acabou sendo apenas um selinho simples. Apesar disso, Adrián estava logo fingindo limpar a garganta e abrindo a boca para soltar um comentário que ganhou como resposta um revirar de olhos de Alexia.
*
No banco da frente do carro, Alexia olhou para o espelho retrovisor, onde Mapi estava sentada confortavelmente, um dos lado dos fones de fio no ouvido, passando o dedo pela tela do celular, com a música tocando alta o suficiente para que a mais velha pudesse ouvir um pouco do barulho. Do lado de fora, o estacionamento que levava ao aeroporto El Prat estava movimentado, e logo atrás da janela do carro de Alexia, parado perto de um poste de luz, o guarda-costas de Gisèle, Samih, estava parado à certa distância, esperando com os braços cruzados que a cantora saísse do carro. Ele estava usando roupas normais - jeans e uma camisa polo - mas havia um pequeno fio de comunicação que passava pela gola da camisa e entrava no ouvido.
Samih não tinha mais do que dez anos a mais que Gisèle, e parecia ainda mais jovem do que realmente era — era um homem alto, com cerca de 1,88 m, sua pele tinha um tom oliva mais frio e ele tinha feições árabes claras; seu pai era palestino e sua mãe belga. O cabelo de Samih era preto e longo, chegando quase aos ombros, levemente ondulado nas pontas, e complementado por uma barba cheia e bem aparada. Ele estava com Gisèle há cerca de três anos, ou talvez quatro. O homem mais velho era certamente mais solícito do que o chefe de segurança de Gisèle e, ela não mentiria, ela preferia a companhia dele, especialmente quando estava deixando a Espanha para voltar para casa, sem que ninguém realmente soubesse.
Alexia se virou para Gisèle, que estava sentada ao seu lado, e cuidadosamente desafivelou o cinto de segurança. Ela sorriu, mas não estava exatamente animada, e o sorriso mal alcançou seus olhos. Gisèle não precisou ouvi-la dizer que não queria vê-la ir para saber que era exatamente isso que ela estava pensando.
— Você tem tudo aí? — Alexia perguntou suavemente, acenando em direção à mala de mão de Gisèle que estava no banco de trás, ao lado de Mapi.
— Sim — a mais nova assentiu — Você sabe... Eu volto assim que puder.
Gisèle não queria marcar uma data, porque não tinha uma, mas sabia que faria o possível para voltar a Barcelona o mais rápido possível. A garota se inclinou para mais perto da namorada e Alexia sorriu. Os dedos da jogadora seguiram até uma mecha do cabelo preso de Gisèle, que tinha insistido em se desprender, e a colocou atrás da orelha, antes de fechar o espaço completamente e deixar um beijo em sua bochecha.
O beijo na bochecha se transformou em um beijo nos lábios, mas não por muito tempo. Gisèle acabou pressionando sua testa contra a de Alexia por apenas mais um segundo, e então, do banco de trás, Mapi deu um suspiro dramaticamente alto e pigarreou.
— Me haces querer vomitar (Vocês me fazem querer vomitar).
— Cállate, Mapi (Cale a boca, Mapi) — disse Gisèle, se afastando de Alexia, e a garota ergueu as sobrancelhas em surpresa.
— Você realmente tem passado muito tempo com a Ale. Um fim horrível para você, eu te digo.
— Ela só está dizendo isso porque não tem ninguém — Alexia murmurou, fingindo abaixar a voz para que Mapi não a ouvisse, mas ainda falando alto o suficiente.
— "Ela" ainda está aqui — disse a defensora, revirando os olhos, mas ela riu mesmo assim.
— Estou feliz que você nos avisou — Gisèle olhou para a garota e a viu revirar os olhos novamente — Bem, acho que te vejo mais tarde. Eu vou te ligar assim que chegar em Londres.
— Eu vou esperar.
— Sim, sim — Mapi se inclinou para frente, dando um rápido abraço em Gisèle do outro lado do assento— Tente não demorar muito, porque sei que não consigo lidar com Alexia sozinha por mais do que uma ou duas semanas.
— Tenho certeza de que você vai ficar bem.
— Eu não acreditaria nisso — Mapi sorriu.
Quando Gisèle saiu do carro, depois de um último abraço em Alexia, Samih assentiu, gesticulando que tudo estava pronto para ela embarcar. A garota estava tentando não chamar atenção para si mesma, e levantou o capuz do moletom preto que estava usando - o moletom que, por sinal, pertencia a Alexia. Ela abriu a porta traseira do carro, e Mapi estendeu sua mala de mão em sua direção, acenando logo depois.
Assim que Gisèle desapareceu com Samih, Mapi se inclinou para o banco do passageiro da frente. Ela deslizou para o lado, tomando cuidado para não bater na amiga, e se acomodou no assento, puxando o cinto de segurança e prendendo-o.
— Como você está?
Os olhos de Alexia permaneceram na entrada por mais um segundo antes de finalmente ligar o carro. Ela soltou um pequeno suspiro e olhou para a amiga, pensando por um momento antes de responder qualquer coisa.
— Estou bem... — ela deu de ombros — Eu acho. Quer dizer, vou sentir falta da Elle, é claro, mas não é como se ela tivesse ido embora para sempre. Eu também não posso pedir para ela ficar aqui indefinidamente.
— Na verdade, você pode.
— Não — Alexia balançou a cabeça — Não posso.
— Certo — Mapi balançou a cabeça — Mas você deveria, se vai ficar triste como um cachorrinho toda vez que ela for embora.
— Não estou triste como um cachorrinho.
— Ale, vamos lá. Sua expressão inteira grita "Estou triste!". Eu sei como isso vai ser. Em três dias você vai querer implorar para ela voltar.
— Eu vou visitá-la antes de ir para Eibar — Alexia falou, saindo de vez do El Prat, se preparando para entrar na C-31, que a levaria em direção a Sant Joan Despí.
— Ela não falou que tentaria voltar para cá o quanto antes?
— Não acho que ela vá conseguir. Ontem ela passou o dia no telefone com a agente dela, e depois teve uma reunião com o produtor por chamada de vídeo. Não sei, acho que ela tem muito para resolver em casa.
— Você acha?
— Eu não quero atrapalhar também — Alexia deu de ombros — Diferente de mim, ela nunca parece tão animada para falar de trabalho, então estou só supondo.
— Bem, se você vai para Londres, provavelmente vai conhecer os pais dela... Pelo menos, eu estou imaginando isso.
— Eu não tenho ideia — Alexia falou, tentando não pensar muito.
Ela não sabia o que esperar disso, na verdade. Muito porque tinha consciência que ninguém além da irmã mais nova de Gisèle sabia que elas estavam namorando. Então, era um processo. A garota precisava dar a notícia antes que elas pudessem pensar em qualquer outra coisa. Mas, apesar de qualquer nervosismo, Alexia estava disposta a conhecer os pais da inglesa se ela sentisse que era o momento. Naquele ponto, era muito pouco o que ela diria e que Alexia não faria.
Com o caminho de quinze minutos até o CT, o carro ficou consideravelmente silencioso depois daquele início da conversa. Mapi ligou a rádio, para quebrar o silêncio, e uma música pop que ela nunca ouviu na vida soou pelo espaço.
Quando Alexia estacionou o carro, Mapi desceu primeiro, mas elas caminharam juntas e, passaram uma boa parte do dia grudadas. Mais tarde, quando Alexia voltou para casa, Mapi a acompanhou, muito porque ela talvez fosse precisar da companhia.
Elas pediram comida, o que dificilmente acontecia já que Alexia sabia se virar na cozinha - mas era um início de noite desacelerado.
Não foi muito tempo depois que as caixinhas com comida chinesa chegaram que o celular de Alexia acendeu. Mapi tinha ajeitado as caixinhas de comida na mesa do centro, enquanto ela e Alexia estavam sentadas no chão. Quando Alexia atendeu a chamada de vídeo, Mapi estava no campo de visão da câmera, sentada ao lado da amiga. Alexia sorriu com a imagem de Gisèle - em casa, talvez na sala de estar, com uma luz baixa a iluminando.
— Oi, cariño — Alexia inteligente.
— Ei — Gisèle devolveu o mesmo sorriso — Como foi o dia?
— Agitado — ela deu de ombros — Mas nada fora do normal.
— Hola, Gigi (Oi, Gigi) — Mapi entrou na conversa, acenando para o celular.
— Oi, María.
— Sem nomes inteiros, por favor — a mais nova brincou, revirando os olhos, e Alexia riu.
— O que você fez hoje? — Alexia voltou a atenção para uma namorada.
— Não muito — Gisèle começou — Cheguei em casa há pouco tempo, na verdade. Mas fui em um encontro com meu produtor, me encontrei com minha publicista e depois fui almoçar com Misha e Daria. "Almoçar" — ela fez aspas com a mão — A gente se encontrou já pelo meio da tarde.
— E como foi?
— Bem, muito bem — Gisèle respondeu — Nós fomos a um pequeno restaurante perto de Covent Garden. Havia alguns fotógrafos por lá quando saímos, então isso foi ruim, mas nada com que não estou acostumada — ela balançou o rosto suavemente — Agora eu estou esperando meu irmão. Ele falou que iria aparecer aqui hoje, então... É, minha noite não vai ser muito mais movimentada. Acho que vamos pedir alguma coisa e assistir a algum filme ou qualquer coisa assim.
— A nossa também não — Mapi murmurou de lado, com a boca cheia de comida — Nossa noite não vai ser movimentada.
— É, eu vou levar Mapi para casa daqui a pouco, mas nada além disso — Alexia disse — O dia começa todo de novo amanhã.
Gisèle se interessou em ouvir sobre aquilo - o que Alexia parecia ter para fazer no dia seguinte. Mas a conversa não passou realmente disso. Se fosse por elas, as duas provavelmente ficariam quatro horas seguidas em uma mesma chamada, mas Robbie chegou uns trinta minutos depois, fazendo barulho para que a porta fosse aberta. Gisèle se levantou prometendo que ligaria antes que Alexia fosse dormir, e a jogadora esperou que ela fizesse isso mesmo, porque talvez não conseguisse pregar os olhos se não fosse com ela.
Mapi estava terminando de comer, ainda sentada no chão, ao lado de Alexia, mas com o celular em uma das mãos, passando qualquer coisa na tela. Ela deixou a caixinha de comida de lado e alcançou o copo ainda cheio com nada mais se não água, e então sorveu parte do líquido.
— Você ouviu os rumores sobre a janela de transferências?
— Hm, não — Alexia estava rolando algumas fotos de paparazzi de Gisèle naquele dia. Ela normalmente não faria isso, mas as fotos tinham aparecido na página de "descoberta" do Instagram e ela clicou, por curiosidade. Gisèle estava linda, ela pensou, enquanto também pensava como o dia tinha se arrastado um pouco sem ela. A garota parecia realmente leve nas fotos, usando boas camadas de roupa para o frio - e para esconder a barriga de quase quatro meses e meio. Alexia sorriu distraidamente para uma foto da namorada, mas ela desviou a atenção para Mapi logo em seguida, bloqueando o celular e apoiando o aparelho na mesa — Eu deveria ter escutado algo?
— Acho que sim — Mapi deu de ombros — Vicky comentou sobre isso outro dia.
— Sobre quem estamos falando?
— Summer "alguma coisa" Bennett... Acho que ela ganhou atenção no United.
— E qual é a coisa com ela? — Alexia perguntou — Nunca realmente prestei atenção, apesar do nome não ser estranho.
— Bem, eu estava vendo um pouco do jogo dela... — Mapi começou — É só pensar no Nemanja Vidić, na época do United, quando ele jogava com o Rio Ferdinand. Eu estava assistindo aquele programa da BBC Sports e, apesar do inglês terrível de se entender, acho que a comparação que eles estavam fazendo era essa. Ela é um pouco louca no campo, Ale.
— Saindo de campo arrebentada e todas essas coisas? — Alexia perguntou, porque era como se lembrava do Vidić na época dos Red Devils. Ele gostava de defender, e não era realmente muitos que podiam dizer isso. Ele também não tinha problema em deixar tudo em campo.
— Algo assim — Mapi assentiu — Lembra daquele tackle que Vidić deu pra cima do Kyle Walker?
— Hm, em 2013 — Alexia assentiu.
— Tem umas jogadas dessa garota que batem perto disso. Último jogo, uma jogadora do City levantou o pé para alcançar uma bola alta pelo canto direito, e sem querer meio que tirou um pedaço da garota, falando sério. O pé dela acabou quase no peito da garota. A Bennett também tentou ganhar a posse de bola e parecia certo que ela estava completamente ferrada no fim daquilo ali, mas foi a jogadora do City quem saiu pior, e a Bennett estava rindo poucos momentos depois de se levantar, tipo, rindo mesmo... Rindo depois de ter um pé sendo acertado no próprio peito — Mapi comentou — Mas, quero dizer, a transferência, é apenas boato até aqui — ela deu de ombros — Você acha que ela iria querer vir pra cá? O contrato dela com o United chega ao fim nessa temporada, eu acho. Talvez ela queira deixar a Inglaterra.
— Se a gente conquistar a treble, acho que ela tem motivos para querer mesmo.
— É... bem, isso vai acontecer — Mapi deu de ombros, sem querer soar confiante demais, mas parecia tão certo que ninguém tiraria aquelas conquistas. Pelo menos, era como ela estava se sentindo. A garota acenou e mudou o caminho da conversa logo em seguida — E sua namorada vai estar na final da Champions, então você pode fazer toda a comemoração romântica e eu estarei bem do seu lado reclamando porque aparentemente o amor não é para mim — Mapi disse com um sorriso idiota de lado, apoiando as costas de vez no sofá.
— Mapi... — Alexia ralhou.
— Ok eu fui um pouco dramática, mas agora é sério — Mapi se inclinou para frente, seu tom suavizando um pouco conforme o sorriso desaparecia — Espero que você a chame para a final mesmo. É muito importante.
— Eu quero que ela esteja em Gotemburgo, e se depender de mim ela vai estar, mas... ainda não chegamos lá, — Alexia disse calmamente — É só... É só um passo de cada vez.
— Claro, claro... Bem, de qualquer forma, é legal ver você assim.
— Assim como?
— Feliz.
— Eu estava feliz antes também — Alexia retrucou — Colocando assim parece que estive muito descontente pelos últimos, sei lá... os últimos meses.
— Não que você estivesse, mas você brilha diferente quando tá com a Gisèle — ela deu de ombros — Então acho que isso é algo. Talvez seja só uma questão de estar apaixonada. Faz muito tempo que isso não acontece.
*
Gisèle ficou um pouco "louca" três dias depois de deixar Barcelona, e mandou entregar rosas e uma nécessaire Louis Vuitton — que custou cerca de € 1.050 — para Alexia em sua casa em Vallvidrera. Ela achou incrível o que era possível encontrar na internet. Em um artigo de "curtidas e descurtidas" de um site espanhol com o qual Alexia havia feito algumas entrevistas mais descontraídas, lá estava, a garota comentando que achava especialmente bonitas as malas e bolsas da LV.
Algumas pessoas poderiam achar aquilo demais, mas era apenas Gisèle tentando mostrar que se importava, especialmente quando tinha uma leve sensação de que não voltaria a Barcelona tão cedo quanto esperava. Gisèle reconheceu isso como partes do caráter que herdou de sua mãe. Parte de quem uma pessoa se tornava vinha precisamente do que ela via e aprendia. Não que Duncan não fosse gentil e preocupado, mas Celeste gostava de deixar sua afeição clara com ações óbvias — fosse lembrando de suas escolhas de café da manhã, comprando presentes ou algo assim. Gisèle gostava de fazer isso também. Havia outras coisas, coisas mais profundas, que estavam com ela há anos, e tudo o que a inglesa pensava era em como queria passá-las adiante. Coisas que ela gostava em si mesma, como aquela, que esperava ver na filha. Ela tinha um bom pressentimento sobre isso. Nos últimos dias, ela imaginou a filha, um pouco mais velha, com outras crianças na escola, sendo gentil, certificando-se de que elas estavam bem.
Mas quanto ao presente, apesar da escolha sábia, a ligação que ela recebeu de Alexia foi apenas com a jogadora insistindo para que ela não fizesse isso, e não porque ela não tinha gostado do presente, mas porque gastar "tanto dinheiro" com ela não parecia exatamente a coisa certa a fazer — não que Gisèle tivesse registrado a reclamação. Com "tanto dinheiro", quando Alexia disse isso, quase fez parecer muito dinheiro, mas Gisèle sabia melhor. Não realmente. Não para ela.
Apesar disso, na segunda-feira de manhã, Alexia apareceu no vestiário carregando o presente de Gisèle e atraindo alguns olhares. Ela não falou com ninguém no trabalho sobre o que estava acontecendo com Gisèle — ninguém além de Mapi. Principalmente porque ela não seria a garota que entrava no vestiário pela manhã se gabando de que estava namorando uma estrela pop. Não era ela. Embora a maioria do elenco já conhecesse Gisèle e tivesse visto o jeito como Alexia era perto dela, a confirmação não aconteceu.
E talvez não acontecesse tão cedo, se os rumores não tivessem começado de qualquer maneira. Gisèle sabia que estava fadado a acontecer. Rumores, não importa o que fossem, eram algo com que ela convivia desde que tinha mergulhado naquela vida. Alexia podia não estar acostumada a aquele tipo de atenção e às especulações que vinham com isso, mas Gisèle tinha que estar. Na verdade, parecia que não demoraria muito para que os rumores parassem de ser apenas rumores e o relacionamento se tornasse "público". Isso porque haviam as fotos de Gisèle naquele primeiro jogo no Camp Nou e registros dela com Mapi no Estadi Johan Cruyff, bem como outras imagens dela na cidade com Alexia - que nenhuma das duas haviam visto como tinham sido tiradas.
Com toda essa fofoca circulando, chegou ao ponto em que Alexia tinha meia dúzia de fotógrafos acampados do lado de fora de sua casa em Barcelona por dias, apenas esperando Gisèle aparecer. A jogadora nunca tinha passado por algo assim, enquanto Gisèle tinha, é claro. Então foi realmente Gisèle quem tomou a decisão de tornar aquilo algo mais do que apenas especulação.
Três semanas depois que Gisèle deixou Barcelona, e no dia seguinte a manhã que ela apareceu para sua consulta com Vinita — entrando em sua vigésima semana e confirmando de uma vez por todas que teria uma menina — ela ligou para dizer que iria ver Alexia e que estava feliz e bem o suficiente para acabar com todo o segredo recente. Elas sabiam o que significavam uma para a outra, então era melhor decidir onde e quando o público descobriria com certeza que elas estavam juntas, antes que as pessoas fizessem aquilo por conta própria e tornasse a relação algo delas.
Alexia deveria ir a Londres, para comparecer à consulta e talvez conhecer os pais de Gisèle — não que elas tivessem combinado alguma coisa, mas parecia a coisa óbvia a fazer se ela colocasse os pés na cidade. Mas a jogadora não conseguiu encontrar tempo e logo estava partindo para outra rodada da Liga F. Cinco dias depois, ela tinha o primeiro jogo contra o Fortuna Hjørring pela Champions, e foi exatamente no dia dessa partida que Gisèle estava desembarcando em Barcelona.
No banco de trás do SUV preto, a inglesa batia os dedos levemente no joelho, olhando pela janela enquanto as ruas de Barcelona passavam rapidamente. Ela havia conversado com Holly sobre isso, sobre ir assistir Alexia — de novo. A conversa aconteceu depois da conversa sobre a gravidez. Um minuto de silêncio e Holly, estranhamente, ficou extremamente calma quando soube. Todos sabiam que ela e Luke não estavam juntos, e a ideia de que eles teriam um filho certamente seria uma surpresa, mas nada que Holly não pudesse lidar, do ponto de vista da imagem.
Naquela tarde, Gisèle não só iria ver Alexia, como também estava tornando o óbvio público. Usando uma camisa preta e curta, que deixava a barriga à mostra, calça cargo branca e um sobretudo preto que estava aberto, ela sabia que teria atenção naquela tarde, e não apenas estava preparada para aquilo, como em Londres, Holly estava da mesma maneira. Preparada para todas as questões.
— Você está bem? — Henry perguntou, erguendo os olhos do celular, e olhando para Gisèle, sentada ao seu lado.
— Sim, só um pouco ansiosa — ela admitiu — Não é a primeira vez que vou ver a Ale jogar, mas agora estou meio que falando dela... — a garota apoiou a mão na própria barriga — É uma grande coisa.
— Você está linda, inclusive — o mais velho sorriu.
— Eu sei — Gisèle riu vendo Henry revirar os olhos, antes de rir também, acompanhando a irmã.
— Claro que sabe.
O carro virou em uma rua mais tranquila enquanto se aproximava do estádio Johan Cruyff, num caminho que Gisèle tinha feito semanas antes. Havia uma concentração específica de pessoas no lugar, e era bem como um daqueles dias que as garotas jogavam de casa cheia. Gisèle olhou para o seu celular, enquanto Samih contornava para estacionar, e viu a última mensagem de Alexia iluminando a tela. Eles conversaram pela manhã, e então trocaram algumas mensagens durante a tarde. A última de Gisèle era ela dizendo que estava embarcando, ainda em Londres. Na resposta de Alexia, havia um emoji sorrindo, junto a um coração e as palavras: "Ansiosa para te ver depois do jogo".
Samih estacionou o carro e quando eles saíram, o burburinho de conversa os cumprimentou. Os fãs já estavam se reunindo, alguns usando camisas do Barcelona com nome e número das garotas, outros com as camisas do time masculino. Henry passou o braço pelo de Gisèle, se juntando a ela, e junto com Samih eles caminharam até a entrada que os levariam para a seção de "família e amigos".
Lá, a agitação era um pouco menor. Gisèle se sentou correndo o olhar pelo campo, e ela não precisou de muito até ver Alexia se aquecendo com suas companheiras de equipe. O aquecimento pré-jogo sempre tinha um ritmo familiar — exercícios, alongamentos, passes leves - e como todos os outros dias, Alexia estava focada, um pouco séria, mas nada fora do normal. De qualquer maneira, a expressão dela se suavizou quando Mapi chutou uma bola em sua direção, com aquele mesmo sorriso habitual no lugar. Elas estavam passando a bola para frente e para trás por alguns minutos, mas Mapi tinha se afastado quando Patri começou a falar alguma coisa e logo depois elas estavam rindo. Quando Mapi voltou a se aproximar, ela ainda estava com um meio sorriso no rosto.
— Nervosa?
— Não — Alexia foi honesta, chutando a bola na direção da mais nova.
Mapi acenou, levantando a bola antes de empurrá-la com o pé de volta para Alexia.
— Então, você não se importa se eu mencionar que sua namorada muito famosa acabou de se sentar e agora tá todo mundo olhando para ela, né — o olhar de Alexia correu para frente, até parar exatamente onde sabia ela que Gisèle possivelmente estaria, porque elas tinham falado sobre aquilo. Antes que ela pudesse realmente colocar os olhos na garota, Mapi estava caminhando para o seu lado, passando o braço ao redor de seus ombros — Lá está ela, sua Rainha.
— Cale a boca, Mapi — Alexia disse e a mais nova riu.
— Ela está sentada na seção de família. É meio que oficial agora?
— Ela está aqui pelo jogo. Ninguém tá falando sobre isso.
— Todo mundo deve estar falando sobre isso.
— Você é realmente irritante, sabia?!
— Ah, eu sei, mas só sou irritante com você.
O olhar de Gisèle alcançou o de Alexia, enquanto Mapi ainda falava algo, e elas sorriram entre si, mas o momento foi breve o bastante porque Gisèle teve a atenção tomada. E Alexia viu sua mãe chegando, com Alba do lado, e cumprimentando a inglesa. A jogadora reparou que o irmão de Gisèle estava lá também naquele momento, quando Eli estendeu a mão para apertar a dele, e ela observou a cena toda, até precisar se afastar.
Quando o jogo começou, o Barcelona dominou a partida em todos os momentos e de fato conseguiu marcar gols, diferente do adversário. Jenni abriu o placar, com uma boa assistência de Graham e depois o Barça continuou a jogar de maneira agressiva com várias oportunidades claras de gol para Aitana, Patri e Graham. Perto do fim do primeiro tempo, Jenni marcou de novo.
No segundo tempo, após mais chances perdidas de Aitana, Graham e Mariona, Jenni mais uma vez acertou a bola para o fundo da rede, completando seu hat-trick. O tempo ainda teve inúmeras oportunidades para marcar o quarto - duas chances claras de Alexia, que ficou extremamente frustrada quando as perdeu. Mas, no minuto 82, a insistência de Alexia acabou por render, após um arremesso lateral cobrado de Melanie, a garota mandou para a rede.
Quando o apito final soou e o barulho da torcida ecoou por todo o espaço, Alexia cumprimentou as adversárias e abraçou as companheiras de equipe, antes de caminhar para perto das grades onde sua mãe estava acenando. Alexia conversou com ela antes de falar com Alba, e depois se virou sorrindo, vendo Gisèle se inclinar em direção a a divisão. Alexia parou a poucos passos da namorada, erguendo as mãos em um aviso honesto.
— Eu estou encharcada de suor, você realmente não quer me abraçar agora.
— Não estou me importando com isso, Ale — Gisèle disse, revirando os olhos, e sem esperar pelo protesto de Alexia, ela se esticou para frente, apoiando o cotovelo na grade baixa e agarrando a frente da camisa de Alexia e puxando-a para um beijo rápido.
Alexia riu contra os lábios da garota, mas sem realmente se importa com o que tinha dito um minuto antes, e mais do que feliz em apenas obedecer a namorada. Mas o contato foi breve, apesar de suave. Quando elas se separaram, Alexia balançou a cabeça, sorrindo.
— O que você achou?
— Você foi incrível lá.
Alexia se apoiou na grade um pouco mais, e seus olhos caíram sobre Gisèle com mais cuidado. Mapi e Patri ainda estavam no campo, chamando pela amiga, mas ela mal registrou isso quando reparou no que a namorada estava usando.
— E você está linda — os lábios de Gisèle se curvaram em um sorriso quando ela reparou que os olhos de Alexia caminharam até sua barriga e então de volta para o seu rosto — Meio que brilhando.
Gisèle olhou por cima do ombro da jogadora, encarando Mapi e Patri e então desviou a atenção.
— Eu acho que você precisa ir.
— É... — Alexia olhou para trás por um momento — Elas podem esperar.
— É sério — Gisèle balançou a cabeça, ainda sorrindo — Eu te encontro lá fora.
— Na verdade — Alexia começou — Você pode me encontrar lá dentro? — ela acenou na direção do túnel — Para sairmos juntas.
— Ok, ok... Acho que isso funciona.
Alexia concordou, seus dedos caminharam pelo braço da mais nova, e ela se inclinou para deixar um último beijo suave em seus lábios.
— Te vejo em alguns minutos.
Talvez a pessoa menos inclinada a ter um relacionamento tão chamativo e exposto fosse Alexia, mas de alguma forma ela tinha acabado completamente apaixonada por uma garota que tinha os olhos do mundo para cima de si. Quando as duas se viram minutos depois, deixando o estádio Joahn Cruyff, já não tinha uma pessoa online que não estava ciente de toda aquela tarde agitada. Gisèle tomou a timeline de um bocado de gente, com todas as suas reações observadas e registradas pelo jogo - ela com a mãe e a irmã de Alexia, conversando e rindo. Ela beijando a jogadora, por um único momento, como se não existisse mais ninguém ali.
As primeiras fotos das duas juntas - à parte das fotos no campo, que estavam longe e não exatamente bem tiradas. As primeiras fotos mesmo foram tiradas quando elas saíram do estádio, de mãos dadas, parecendo uma versão mais nova e atualizada de Posh e Becks e suas fotos de aeroporto - pelo menos foi o que disseram quando a foto correu não apenas o twitter como alguns programas de esportes e fofoca daquela noite.
Assim que a história saiu oficialmente, exatamente naquela tarde, Alexia tentou não internalizar aquilo, assim como procurou absorver tudo o que ouviu de Gisèle depois que as duas caminharam no carro para seguirem em direção a um restaurante em Barceloneta. A partir dali ela sabia que seria uma confusão. Flashes estourando em todos os lugares que estava com Gisèle, histórias em todos os jornais quase todos os dias e todos tendo uma opinião sobre elas e suas vidas. A atenção seria intensa porque eles estavam falando de Gisèle; Afinal, ela estava nas manchetes toda vez que piscava ou dava um passo.
Alexia seria honesta consigo mesma, ela não estava animada para aquele lado das coisas, mas ao mesmo tempo, era um pouco emocionante porque era um lembrete diário de quão boa Gisèle era no que fazia. Ela estava no topo do próprio jogo, e Alexia amava o pacote inteiro. Ela amava sua aparência, sua personalidade, sua energia. Ela, definitivamente, amava suas pernas. Mas também a amava por si só, ao ponto de estar completamente pronta para enfrentar o reconhecimento aos olhos do público que viria por causa daquela relação.
Alexia sabia que não era a única pessoa que achava que Gisèle era uma estrela - a inglesa tinha mais um milhão de vozes gritando isso para ela. Então, saindo do estádio, Alexia meio que viu o que ia acontecer - a atenção, claro. Gisèle também viu
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