07 | UMA XÍCARA DE ROSIE LEE
CAPÍTULO SETE | UN VERANO SIN TI
❝UMA XÍCARA DE ROSIE LEE❞
❝mas vejo os restos de uma londres que eles pensaram que poderiam apagar, toda vez que ouço os mais velhos falarem sobre os bons e velhos tempos ou toda vez que assisto futebol e tomo um ruby com os rapazes❞ ⸺ THE ANGEL - NORTH LONDON FOREVER; louis dunford
— "OS BRITÂNICOS ESTÃO CHEGANDO" — HENRY LEU O QUE ESTAVA ESCRITO NA LATERAL DO ÔNIBUS DO TIME FEMININO DO ARSENAL, OBSERVANDO DE LONGE ENQUANTO ELE PARAVA.
— Meu Deus, isso quase parece uma ameaça — Gisèle murmurou.
— Eu acho que é.
Duncan desceu do ônibus assim que ele parou. Sorrindo com uma nova animação, o mais velho apressou os passos até os filhos e os puxou para um único abraço.
— Estou feliz que vocês puderam vir.
— É, pensamos em ir ver a partida contra o City na quarta-feira, mas Elle tem um compromisso — Henry disse, assim que se afastou do pai.
— E ele vai comigo — Gisèle acrescentou.
— Eu vou — o irmão mais velho da garota assentiu.
— É para descobrir o sexo?
— É — ela assentiu com a cabeça para a pergunta do pai — Acho que vamos conseguir ver, mas se não estiver na posição certa, então...
— Você vai ter que esperar — Duncan completou.
— Exatamente.
— E o que estamos querendo? — o homem mais velho sorriu.
— Não quero dizer que estou querendo criar expectativas sobre isso — Gisèle disse — Mas uma menina, bem, seria incrível.
— Quando a mamãe estava grávida de mim, ela sabia que era um menino? — Henry perguntou com um pensamento realmente curioso. Isso nunca tinha sido um tópico, mas com sua irmã grávida, essas perguntas eram simplesmente algo.
Henry, que nunca tinha perguntado tanto além de como aqueles primeiros anos foram para seus pais, com um filho e não muito além de um começo de vida juntos em Kent, começou a pensar mais sobre a coisa toda. Gisèle tinha um pouco mais de sorte, e até ela admitia isso. Ela e Luke estavam definitivamente em uma posição melhor do que Duncan e Celeste quando Henry era um bebê.
— Ela não tinha ideia — disse Duncan — Mas com Robbie, ela soube imediatamente. Ela disse que estava se sentindo da exata maneira como quando estava com você. E então veio Elle, e eu lembro que estávamos conversando depois da notícia, ela estava com oito semanas de gravidez, tínhamos acabado de ter 100% de certeza, e ela disse algo como "vamos ter uma menina" e eu realmente não perguntei como ela poderia saber disso. Mas ela estava certa.
— Você se sente assim? — Henry encarou a irmã.
— Eu não tenho ideia, Henry — ela foi honesta.
— É, bem... — Duncan passou um dos braços ao redor dos ombros da filha, a puxando para si enquanto ele acenava para que eles seguissem caminhando — É diferente com cada um. Agora, nós precisamos entrar, mas eu queria apresentar as garotas. Falei muito de vocês para elas.
Mais a frente, a equipe estava desembarcando, prontas para entrar no Madejski Stadium, mas Duncan chamou a atenção delas e logo havia uma agitação inesperada com o mais velho realmente animado em apresentar os filhos a todos aqueles novos rostos. Semanas antes, Duncan havia assinado com o time e se tornado oficialmente o treinador. Ele estaria naquela posição pelas próximas duas temporadas, com a possibilidade de uma extensão se o projeto desse certo.
Por mais novo que tudo fosse, Duncan tinha um espírito próprio e se dava bem com todos. O fato de o Arsenal ser quase uma extensão dele porque ele cresceu amando o time ajudava muito. Havia pessoas no elenco como ele.
Sua animação era alta e continuou alta quando ele se separou dos filhos e os viu indo encontrar o caminho onde ficariam durante o jogo. Junto com o resto dos fãs, um pouco mais perto do campo.
Mais tarde, quando o lugar começou a abrir as portas, entre alguns olhares e pessoas realmente se aproximando de Gisèle para pedir fotos, Henry apenas ficou de olho na irmã, que talvez fosse a pessoa mais solícita que ele conhecia. Pouco antes do jogo começar, Gisèle estava de volta ao seu próprio espaço, sem fotos ou vídeos. Apenas ela e Henry, bebendo uma bebida sem álcool que o mais velho tinha ido buscar alguns minutos antes.
— O que você sempre quis fazer? — Henry perguntou. Ele estava com o braço colado no da irmã, não havia muita distância entre eles, e sua voz saiu consideravelmente baixa, mas ela ouviu, apesar do barulho ao redor deles.
O estádio estava começando a encher e, aos poucos, praticamente todos os cantos estavam sendo tomados pelos fãs.
— Calar a boca, mas infelizmente não posso — Gisèle sorriu ironicamente, e Henry revirou os olhos, mas riu.
— Sério, mate.
— Por que a pergunta?
— Não sei — ele deu de ombros — É só uma pergunta. Eu acho... Quero dizer, o que você faz é muito legal, mas a atenção é sempre demais.
— Ah, você está falando de trabalho. Quanto a isso, bem, eu já me acostumei.
— Mas se você não fizesse isso, o que estaria fazendo? Algo que sempre quis fazer, vamos lá.
— Eu sempre quis fazer isso, Henry — ela apontou para qualquer coisa, para si, para o momento, mas então suspirou e continuou — Só que, bem, se não tivesse dado certo, então eu teria ido para Oxford.
— Claro — ele assentiu — Era sua coisa. Você teria ido sem problemas.
— Eu era muito boa em Rye.
— Os professores amavam você — Henry a lembrou — E o que você faria em Oxford?
— Arte.
— Certo — ele assentiu, muito imperceptivelmente — Nada como as coisas que Misha faz e as merdas que eu me meti.
— Finanças? — Gisèle encarou o irmão — Ugh, eu meio que me canso só de te ouvir falar sobre seu trabalho. Isso não é para mim. É realmente ótimo que minha coisa com música tenha dado certo, eu seria uma bagunça completa tendo que me enquadrar nessa coisa de ter horários durante a semana e todas essas coisas que você faz. Precisar me reportar para alguém e então cumprir todas essas metas. Na maioria do tempo, a minha coisa com a música é apenas eu tentando convencer meu produtor e a gestão que a ideia que tive pode dar certo. Ou então eu me enfiando no estúdio no meio da madrugada e irritando o Blues sobre isso.
— Oh, é. O Blues deve te odiar — Henry concordou, falando sobre o produtor da irmã — Mas tudo isso por si só já é cansativo, e você tem mais horários que eu — ele conversou — Além de que, naqueles primeiros anos, você tinha tipo 17, 18 anos, e não parava no mesmo lugar nem por um minuto.
— É, mas eu gostava — Gisèle disse — Eu acho que não queria estar tanto em casa quanto vocês.
— Mesmo?
— É, quero dizer, eu amo Londres, mas naquela época queria entender o que era não estar em Londres.
— Se você fosse se mudar hoje em dia, se precisasse no caso — Henry especificou — Para onde você iria? Ou melhor, você iria?
— Não sei — ela deu de ombros — Agora, exatamente agora, eu estou bem em Londres. Mas- — Gisèle se interrompeu antes de completar o que tinha para falar, e Henry o incentivou a continuar — Eu fiquei em Barcelona pelos últimos dias.
— Você está dizendo que se mudaria para lá?
— Não seria a pior coisa do mundo.
— Isso tem a ver com sua nova namorada? — a pergunta de Henry saiu um tom mais ácido, e ele esperou pelo retorno da irmã. E eventualmente ganhou. A garota suspirou cansada e levantou o olhar, se forçando a não o revirar.
— Misha te falou sobre isso?
— Ela nunca consegue guardar nada — Henry riu — Ela comentou, quando nos vimos na casa da mamãe, sobre o jogo que vocês foram ver, e aí depois da sua ideia de ficar em Barcelona por mais tempo. Mas Daria quem me contou realmente o que estava acontecendo depois, porque eu imaginei que se você precisasse falar com alguém, seria com ela.
— É, nós conversamos sobre isso.
— Diga-se de passagem, você levou Misha para ir assistir a um jogo do Barcelona?
— Ela se divertiu! — Gisèle ralhou.
— Ela odeia futebol!
— Isso é o que ela diz — a garota gesticulou as mãos por um momento — Eu não sei se acredito. Ela fica maluca vendo os jogos do Chelsea.
— Isso é por causa do pai dela. Mas ok, voltando a outra coisa, como foi?
— O jogo?
— Seu tempo em Barcelona.
— Divertido — Gisèle foi sucinta, e Henry não ganharia mais do que isso de qualquer forma.
— E sua namorada? — ele tentou se ajudar.
— Ok, é importante esclarecer que eu não tenho uma namorada — ela falou — Eu gosto de alguém, e na verdade, a pessoa gosta de mim.
— "Mas" — o mais velho falou — Sinto que tem um "mas".
— Mas decidimos que o momento não é o certo.
Gisèle queria poder dizer que Alexia e ela conversaram por horas. Que a garota tinha dito que faria tudo certo, e que de um jeito muito torto ela quase havia recebido um pedido de casamento, ou pelo menos o compromisso de um, mas se falasse sobre isso, então tudo pareceria absurdamente real. Henry, com toda certeza, teria algo para falar, e Gisèle precisava ser honesta consigo mesma, ela não era tão contra manter o que tinha com Alexia - aquela amizade no limiar de parecer algo mais -, para elas mesmas.
— E vocês vão conversar de novo ou isso é definitivo?
— É, hm, acho que vamos conversar — Gisèle deu de ombros.
— Ok — Henry concordou — E qua-
— Eu preciso que você fique quieto, Henry — ela levou a mão até a boca do irmão quando viu as garotas entrando. Ele reclamou a afastando, e ela riu quando o viu revirar os olhos.
Aquele era o primeiro jogo da equipe feminina em 2021. Era também o primeiro jogo que os irmãos Hyland viam da equipe feminina estando no estádio. E o primeiro jogo sob o comando de Duncan. Mas mesmo com expectativa alta, aquele acabou sendo um domingo decepcionante. Se Robbie estivesse por lá, ele estaria consideravelmente dividido - não exatamente triste pelo Arsenal, porque torcia e trabalhava junto ao Tottenham, mas frustrado que a estreia do pai não parecia perfeita. Gisèle e Henry, eles estavam completamente irritados.
Anna Patten estava estreando pela segunda vez no Arsenal após retornar ao clube uma semana antes, enquanto Lia Walti estava fazendo sua primeira partida como titular desde que tinha retornado de uma lesão. Alinhando em uma formação ofensiva 3-2-2-3, Duncan esperava um início rápido do tempo, mas foram os anfitriões que saíram voando, com dois ex-Gunners se combinando para o gol de abertura. Após uma cobrança de falta, Emma Mitchell fez uma jogada perigosa na área de pênalti e Lauren Bruton ficou à disposição para finalizar depois de apenas cinco minutos.
Aquela deveria ter sido o chamado para acordar que o Arsenal precisava, mas na meia hora seguinte, as garotas continuaram desleixadas na posse de bola e ficaram lutando a todo momento para cortar a pressão agressiva do Reading.
Mas, Vivianne Miedema precisou apenas de uma chance na frente do gol para dar um respiro para o primeiro tempo, então, quando o cabeceio de Jill Roord foi defendido e empurrado para a área de pênalti, Viv estava bem posicionada para empatar o placar. Apesar disso, esse empurrão no final do primeiro tempo não foi suficiente para Duncan, pois ele optou por uma mudança tripla no intervalo.
Com os problemas em jogar na defesa, Jen Beattie e Leah Williamson substituíram Lotte Wubben-Moy e Anna Patten, enquanto Malin Gut foi trocada por Beth Mead, com Lisa Evans preenchendo a lateral direita. Essas mudanças as fizeram criar três oportunidades de ouro em rápida sucessão. Primeiro, Miedema chutou para fora de perto após uma jogada excepcional de Mead, antes que esta última fosse jogada em direção ao gol e disparasse de forma incomum por cima do travessão. O esforço instintivo de Jill Roord foi então de alguma forma defendido por Grace Moloney. O tempo passou com elas buscando a vitória, colocando os Royals sob alguma pressão tardia, mas, no final, elas foram obrigadas a pagar por uma performance desleixada no primeiro tempo e pela falta de compostura e qualidade no final.
Duncan se viu insatisfeito, mas qualquer irritação construída dentro de si acabou sendo arrastada para trás quando ele parou para conversar com as garotas. Uma Leah Williamson, gesticulando em frustração, precisou de mais atenção, e foi caminhando ao lado dela que Duncan saiu da vista dos torcedores que também já estavam saindo do estádio.
Henry e Gisèle ficaram dentro do estádio até que a agitação abaixasse, até que grande parte das pessoas saíssem e então parecesse minimamente seguro ir embora sem ter que passar por um mar de gente.
Eles voltaram para Londres no mesmo dia, algumas horas antes do pai. Durante a noite, os três foram se encontrar no Nando's da Clink Street, e dessa vez Robbie estava junto. Foi durante o jantar que Gisèle recebeu uma ligação de Luke.
Ele ainda estava na França, mas tinha data para voltar. No dia seguinte, exatamente. Então, um pouco incerto, mas tentando se acostumar a ideia de que deveria voltar a agir de maneira normal com Gisèle - porque, sim, eles tinham terminado, mas teriam um filho -, o mais velho perguntou quando seria a próxima consulta dela. Uma resposta depois, e ele emendou a pergunta se poderia estar lá.
*
Depois de ter a pergunta "estou grávida?" respondida por uma cópia de teste que recebeu por mensagem de texto, Gisèle acabou chorando no banheiro. Mas depois disso, sua próxima pergunta foi "vou ter um menino ou uma menina?" Ok, talvez isso tivesse sido a terceira pergunta, porque a segunda acabou sendo algo como "vou ficar com esse bebê?". Ainda assim, Gisèle estaria mentindo se dissesse que não queria ter descoberto antes, e embora muitos métodos — alguns legítimos, outros apenas para satisfazer uma curiosidade momentânea, não tão certo de muita coisa — pudessem prever o sexo do bebê mais cedo, o ultrassom de 16 semanas era geralmente o que oferecia uma resposta bastante confiável — com algumas ressalvas. Mas Gisèle chegou às 16 semanas. E na quarta-feira, ela estava com Henry e Luke, pronta para descobrir se estava tendo um filho ou uma filha.
Como qualquer ultrassonografista, a médico estava usando um transdutor para enviar ondas pela barriga de Gisèle. Antes disso, a consulta foi exatamente como antes, exceto que aquela era a primeira vez que Luke estava presente. Então chegou o momento de realmente descobrir o que eles estavam esperando.
— Só temos uma, certo? — Luke perguntou, quebrando o silêncio que se instalou.
Vinita, a médica que estava monitorando Gisèle, assentiu. Ela era uma mulher mais velha, devia ter pouco mais de quarenta anos. Seu cabelo era tingido de um tom mais claro de castanho, e se seu nome não entregasse de onde ela era, suas feições deixavam claro. Mas ela tinha ido para a Inglaterra quando era muito jovem, saindo de Gujarat. À parte disso, seu sotaque era extremamente carregado, algo como o sotaque scouse de Liverpool.
Gisèle a havia escolhido com base em uma recomendação, e a escolha tinha sido a certa. Vinita era gentil, e sempre proporcionava um ambiente seguro, o que para Gisèle acabou sendo essencial, especialmente quando nas primeiras semanas, ela mal sabia para onde estava indo a partir dali.
— Você esperava que fôssemos surpreendidos por mais? — ela perguntou — Vocês pensaram nisso quando decidiram tentar?
A mulher mais velha sorriu, e Gisèle sorriu suavemente, só para ser gentil. Luke se mexeu um pouco sem jeito, e Henry mal sabia para quem olhar, para sua irmã ou para o homem que até alguns meses atrás ainda fazia parte de sua família - de alguma forma.
— Não decidimos tentar.
— Aconteceu — Luke acrescentou.
— Sem planos — Gisèle emendou.
Ela não havia entrado em detalhes com Vinita sobre isso, então o erro foi honesto, e a mulher mais velha murmurou algo como "oh", seguido por algo que Gisèle mal conseguiu entender.
— Mas vocês estão... — ela balançou a cabeça, as mãos ocupadas com o que estava fazendo com o transdutor — Juntos?
— Não — Gisèle respondeu, não deixando espaço para Luke fazer isso.
— É, mas estamos sérios sobre isso — disse o ator — Sem drama sobre a coisa toda.
— Isso é bom — Vinita murmurou — Não é difícil ver histórias complicadas passando por esta porta. Às vezes, complicadas demais. Mas, bem... — Vinita apontou para a tela — Tenho uma boa visão, a posição é oportuna.
— Aquilo é ele? — Henry perguntou apontando para a tela, abrindo a boca pela primeira vez desde que entrara ali, dizendo algo além do "olá" que dissera, é claro.
— Ela — Vinita corrigiu.
— Ela? — Luke quase engasgou antes de poder repetir o que ouvira.
— Sim — a mulher assentiu — Veja aqui, você pode ver, onde há essas duas linhas distintas, bem aqui. É uma menina. Procuramos esses marcadores anatômicos específicos para ajudar a determinar o sexo, mas tenha em mente que, embora o ultrassom seja bastante preciso, ele não é 100% infalível porque ainda é cedo. Por enquanto, posso dizer que, pelo que vejo, é uma menina. Vamos ter certeza mesmo da próxima vez que nos vermos.
— Posso tirar foto dela? — Luke apontou para a tela, e Vinita sorriu gentil.
— Posso te conseguir uma cópia — ela disse — E o vídeo, se quiser.
— Eu quero — ele assentiu, ainda um pouco atordoado, mas não de uma maneira ruim. Então, como se tivesse saído de sua própria mente, o ator se virou para sua ex-namorada, sorrindo suavemente. Ele pegou a mão dela e apertou-a gentilmente — Ela vai ser linda, Elle. Eu mal posso esperar para a ver.
Poucas pessoas percebiam que ter um filho, de uma forma ou de outra, te amarrava a ter um relacionamento com o pai - ou mãe - da criança, mesmo que o relacionamento tivesse terminado. Gisèle e Luke entenderam isso claramente, por mais óbvio que parecesse.
Eles teriam uma filha e estavam dispostos a fazer essa coisa de coparentalidade funcionar. Gisèle também tinha um bom exemplo em casa. Seus pais se separaram quando ela ainda era adolescente. Os filhos mais novos ainda jovens demais. Daria tinha treze anos e Isaac tinha nove. Mesmo no que parecia ser um momento difícil, os dois fizeram um ótimo trabalho. E eles ainda eram grandes amigos. Se ela ia ter algo a ver com Luke, então Gisèle estava feliz em pensar que fosse algo assim.
Quando estavam saindo do consultório, Luke e Gisèle andaram um pouco atrás enquanto Henry apressou o passo após comentar que estava esperando sua irmã no carro. O carro de Luke estava do outro lado, e eles pararam no meio do estacionamento no subsolo, um de frente para o outro.
— Vou para Paris por um tempo. Alguns dias apenas — Luke comentou — Você vai ficar bem?
— Você sabe que não precisa se preocupar — Gisèle disse, mas sem soar rude ou qualquer coisa do tipo. Ela disse gentilmente — Nós vamos ficar bem.
— Claro... — o mais velho assentiu, e então levou uma das mãos para a própria nuca, a passando ali, um pouco nervoso — Bem, qualquer coisa, você pode me ligar. Eu vou estar com o celular do lado o tempo todo. Volto em duas semanas, e então podemos ir ver toda a coisa do enxoval. Minha mãe provavelmente vai insistir muito para que nos ajude, mas eu prometo que vou convencer ela em nos deixar fazer isso por nós mesmos.
— Ela pode nos ajudar se quiser — Gisèle falou, surpreendendo Luke um pouco. Ela adorava a mãe dele, mas a mulher às vezes sabia ser demais. E com tudo que estava acontecendo, ele apenas assumiu que ela gostaria de fazer as coisas com calma e mais no tempo dela, sem realmente um milhão de opiniões — Minha mãe definitivamente vai querer fazer isso, então pode ser ótimo elas terem uma a outra. Além de que, bem, ela vai ter duas casas.
— Ela vai precisar ter tudo em dobro — Luke completou.
— Algo assim — a garota falou suavemente.
— Então acho temos um plano — Luke falou — Bem, eu te ligo depois, ok?
— Ok — ela se inclinou na direção dele, e eles se abraçaram, trocando dois beijos nas bochechas e se despediram.
Os dois seguiram caminhos distintos, e quando Gisèle entrou em seu Cadillac XT6, que Henry estava responsável pela direção, o mais velho a esperou se acomodar e então deu partida.
Gisèle voltou a atenção para o celular. Ela tinha salvado as imagens do ultrassom, e estava com o vídeo no aplicativo de mensagens. Sem realmente um segundo pensamento, ela encontrou um dos últimos contatos com quem tinha conversado e logo apertou o botão de "enviar".
gisèle: é uma garota!!!
ale: MENTIRA
ale: isso é incrível
ale: meu deus
ale: posso te ligar?
gisèle: eu estou no trânsito
gisèle: te ligo quando chegar em casa?
ale: eu espero
— Enviando as imagens para a mamãe? — Henry desviou o olhar da estrada por um segundo.
— Não — Gisèle enfiou o celular dentro da Birkin — Alexia.
— Oh — ele sorriu de lado — Sua jogadora.
— Por que as pessoas insistem em falar isso, que ela é minha? — Gisèle revirou os olhos.
— Quantas pessoas te disseram isso? Porque, veja bem, às vezes quer dizer alguma coisa.
— Ok, você é o tipo de segunda pessoa que diz isso, mas eu estou tentando ser um pouco dramática.
— Bem, de qualquer forma... — ele balançou a cabeça — Parece sério.
— Não é, porque não temos nada — Gisèle disse — Somos amigas, isso então é como se eu tivesse enviado uma mensagem para Misha comentando que vou ter uma filha, com "ei, quer ver as imagens?".
— Na verdade não.
— Por quê?
— Porque você não quer beijar a Misha, mate. Vocês são irmãs! — ele desviou o olhar uma segunda vez.
— Por favor, olhe para frente.
— Eu estou olhando — Henry voltou a atenção para o trânsito — Qual é a coisa em tentar fingir que você não gosta dela?
— Eu não quero fingir que não gosto dela, mas é um ponto importante lembrar que não tem nada acontecendo. Não agora. Somos realmente amigas. Eu já disse isso. Ficar falando sobre só acrescenta uma pressão que nem eu e nem ela queremos.
Gisèle, que na verdade tinha mantido o tom amistoso por toda aquela conversa, acabou soando mais séria do que estava esperando, e Henry entendeu que era o momento de dar um passo para trás.
— Foi mal — ele murmurou — Eu sei, você tem coisa demais acontecendo à parte disso.
— Sim, e não estamos juntas mesmo — ela reforçou — Eu não mentiria sobre isso. De qualquer maneira, se algo acontecer, não é como se vocês não fossem ficar sabendo.
— É, bem, como família, a gente talvez seja um pouco intrometidos demais, mas é a graça da coisa toda — ele deu de ombros.
— Graça para quem, Henry?! — Gisèle revirou os olhos depois de dizer isso, e Henry riu, antes de mudar o assunto de vez.
Ele estava ficando com o carro de Gisèle por uns dias, depois de a deixar em casa se despediu. Subindo as escadas, a primeira coisa que a inglesa fez foi ligar para Alexia através de uma chamada de vídeo. Ela estava tirando o cachecol e o casaco quando a jogadora atendeu. Logo, Gisèle estava apenas com um suéter branco e uma calça preta oversized, com meias nos pés, e os sapatos já estirados no tapete da sala.
— Como vocês estão? — foi a primeira coisa que Alexia perguntou quando viu a inglesa do outro lado da tela.
— Muito bem — Gisèle respondeu, se sentando no sofá, com o sol iluminando a sala. Ela encarou a tela do celular e viu que Alexia parecia estar ao ar livre, sentada em algum lugar, usando uma regata de treino com a logo do Barça. Ela parecia levemente cansada, um pouco suada, e tinha o cabelo suavemente bagunçado, apesar da faixa fina que estava usando para o prender.
Gisèle acabou sorrindo com a imagem e mal reparou que ficou em silêncio depois de responder a pergunta, enquanto Alexia esperou escutar mais do que apenas um "muito bem".
— Por quê o sorriso?
— Nada — ela balançou a cabeça — Eu só fiquei feliz de te ver.
— Bem, eu estou feliz em você ver também — Alexia sorriu radiante — Mesmo que não pessoalmente.
— Eu passei quase duas semanas inteiras com você.
— Meio que me acostumou muito mal — a mais velha brincou — Eu posso saber quando estaremos no mesmo lugar outra vez?
— Sem planos — Gisèle disse — Infelizmente.
— Certo... — o sorriso dela caiu um pouco — Bem, me conte como foi hoje. É uma garota, o que é incrível. Como foi?
— Eu sei — Gisèle se animou sem conseguir realmente não o fazer — Eu estava tão ansiosa para saber, e então tinha a possibilidade de apenas não ser o dia certo, por conta da posição e todas essas coisas, mas deu tudo certo.
— Seu irmão foi com você, não foi? — Alexia perguntou e Gisèle concordou.
— Aham. Luke estava lá também.
— E como vocês estão? — a jogadora não queria soar tão incerta, desconfiada e um pouco incomodada, mas foi exatamente assim que sua voz saiu.
Luke era o pai da filha de Gisèle, e Alexia sabia sobre a relação positiva que eles estavam tentando construir para que pudessem ser os melhores para a garotinha que iriam ganhar. Logo, assim que a jogadora reconheceu o próprio tom, ela quis revirar os olhos para si mesma.
— Muito bem — Gisèle disse, e Alexia não precisou de muito para ver como ela também tinha reparado em seu tom de voz — O que foi isso?
— Desculpa — Alexia balançou a cabeça negativamente — Foi apenas besteira.
— Eu e o Luke não temos nada, à parte de estarmos esperando uma filha, claro — a inglesa se sentiu compelida a esclarecer isso, mas naquele ponto, depois de tantas conversas com Alexia, a situação parecia muito clara, pelo menos para ela.
— Eu sei — Alexia suspirou suavemente — Ele é o pai da sua filha, é claro que ele ia estar lá. Eu só me expressei da maneira errada.
— Isso tem a ver com ciúmes? — Gisèle disse quase incerta, tentando não assumir nada.
— Não, é só... — Alexia deu de ombros, e desviou o olhar. Ela encarou algo adiante, e fechou um pouco os olhos por conta do sol, antes de voltar a arrastar o olhar na direção da tela — Eu queria estar aí. Eu falei como uma brincadeira, mas você realmente me acostumou um pouco mal porque agora estou sentindo sua falta. E então, todas essas coisas acontecendo... é uma grande coisa descobrir o sexo do seu bebê. Eu entendo como você ficou feliz, eu só... só queria estar aí com você.
— É um pouco como uma grande coisa — Gisèle assentiu, sorrindo suavemente — Bem, é bom que você esteja sendo honesta sobre isso.
— Não tem razão para mentir — Alexia falou.
Gisèle escutou alguém chamar Alexia, e a garota acenou. O rosto ganhou uma expressão falsamente cansada, e ela viu seus olhos se fechando, pendendo a cabeça um pouco para trás. Quando Mapi apareceu na tela do celular, sorrindo aberto e se sentando ao lado de Alexia, passando um dos braços por seus ombros, Gisèle entendeu a reação, e acabou rindo.
— Eu ouvi que é uma garota — a amiga de Alexia disse animada.
Alexia havia comentado que tinha dito para Mapi sobre a gravidez. Ela não contou os detalhes da conversa, porque na verdade isso envolvia a jogadora se abrindo para a amiga e tomando consciência de que estava apaixonada. E não que naquele ponto aquilo já não fosse claro. Alexia tinha dito que sabia que se casaria com Gisèle para a própria Gisèle. Mas aquela conversa em questão, com Mapi. Bem, aquela conversa era dela.
— É sim — a inglesa sorriu, e reparou como desde que tinha descoberto que teria uma filha, aquele mesmo sorriso mal tinha deixado seu rosto.
— Nós temos nomes?
— Nada ainda — Gisèle respondeu a pergunta de Mapi.
— María é tão bonito — ela falou, e ganhou Alexia a afastando sem muita delicadeza.
— Tenemos que volver al entrenamiento y tengo que despedirme. Ya puedes irte, María — a mão de Alexia tirou Mapi do quadro da câmera, e Gisèle escutou o "Tchau, Gigi", já um pouco mais longe, que ela despejou. Quando Alexia voltou a encarar a tela do celular, Gisèle estava ainda sorrindo na direção dela — Eu posso te ligar hoje à noite?
— Eu achei que era nosso combinado.
— Claro — Alexia não conseguiu não sorrir — Eu vou te ligar hoje à noite.
*
O Tollington era um pub altamente recomendado pelos fãs do Arsenal. Talvez porque era onde a parte extremamente online da base de fãs se reunia. Era o pub de muitos blogueiros e podcasters que falavam sobre o time também, e muitos deles eram realmente famosos. Os mais jovens adoravam ficar lá.
Qualquer um dos pubs ao longo da Holloway Road entre Highbury e Islington Station e o estádio ficava lotado de fãs antes e depois da partida, então o Tollington não era exceção. O Twelve Pins perto da estação Finsbury Park era outro pub que estava lotado, e do outro lado da rua ficava o Plimsoll, um pub que parecia mais um restaurante, de propriedade de fãs do Arsenal, que também estava lotado.
O Bank Of Friendship era outro pub muito respeitado, mas no início de janeiro houve uma pequena briga lá entre fãs do Arsenal e do Spurs. Irônico, considerando o nome do pub. Aqueles que estavam lá disseram que cinco ou seis torcedores do Tottenham apareceram e tentaram agir como caras super durões e prontamente foram espancados por cerca de quatro caras do Arsenal.
A maioria dos pubs ao redor do antigo estádio do Arsenal se tornaram pubs do Arsenal. O Arsenal Tavern, logo abaixo da estrada da estação Arsenal, era quase uma visita obrigatória. Embora tivesse mudado de nome, ainda era o Arsenal Tavern.
Com tantas opções — e tendo ido a quase todas elas em algum momento de sua vida adulta — Gisèle foi com Henry, Jonny, Misha e Claudia para o "The Famous Cock Tavern". O lugar, que fechou em 2014 e reabriu em fevereiro de 2018 após um investimento de £ 600.000 da Stonegate, era um grande pub de uma única sala com cabines e mesas maiores na entrada voltada para a rua, adjacente às estações Highbury e Islington. Esportes nas telas de TV dominavam tudo e o lugar podia ser barulhento quando às vezes dois jogos diferentes estavam sendo exibidos. Havia uma área externa para beber e fumar nos fundos, e a seleção de cervejas variava de cervejarias regionais até as mais conhecidas.
O encontro no The Famous Cock Tavern aconteceu porque o Arsenal estava no St. Mary's Stadium para jogar contra o Southampton. Mas Gisèle, junto com seu irmão e amigos, não foram os únicos que tiveram a ideia de ir ao pub para assistir ao jogo. Era a coisa mais londrina para se fazer em um fim de semana, e outros fãs se reuniram também em um canto do bar. No geral, nenhuma surpresa, ou nem tantas surpresas porque, na verdade, algumas das mulheres do time do Arsenal estavam no pub, e foi Katie McCabe, avistando os filhos do técnico de longe, que acenou para que todos se sentassem juntos.
Leah Williamson estava lá, assim como Jordan Nobbs, Lotte Wubben-Moy, Danielle van de Donk e Kim Little. As duas mesas no canto, perto da parede e com uma visão perfeita da televisão, eram onde elas tinham se acomodado, e havia espaço para mais umas quatro pessoas, com cadeiras vazias. Com cinco deles, Misha e Gisèle sentaram-se juntas no sofá encostado na parede, onde Leah estava sentada sozinha antes. Nenhuma das duas se importou com o contato, na verdade, juntas elas provavelmente ficariam coladas de qualquer maneira, então não foi nada fora do comum quando o braço direito de Misha acabou no colo de Gisèle, com sua mão entrelaçada com a dela.
Henry, que estava sentado ao lado de Katie, pediu uma taça de Guinness. Claudia, na cadeira à esquerda de Gisèle, que ficava no final do sofá, fez o mesmo. Jonny, que logo parecia um amigo de longa data de Kim, mesmo que eles só tivessem se conhecido alguns minutos antes, pediu um drinque com rum. Gisèle, que estava honestamente sentindo falta da ideia de beber socialmente a essa altura, se limitou a um suco de laranja Schweppes, que vinha em uma pequena garrafa. Misha foi gentil o suficiente para acompanhá-la, embora eles tivessem pegado um táxi para o pub e não houvesse necessidade de se preocupar com quem estaria ao volante no final da noite.
Gisèle estava usando uma blusa de gola alta vermelha sob uma camisa branca de botões. Um sobretudo creme e calças de alfaiataria mais largas em um tom de marrom muito mais claro. Todas as peças eram da The Row. Definitivamente não era uma roupa para um sábado de jogo no pub, mas estava frio, e Gisèle estava usando o clima como uma boa desculpa para se vestir daquele jeito e esconder sua barriga, não era tão visível naquelas roupas.
Enquanto o pessoal no pub ainda esperava o jogo começar, o barulho de vozes sobrepujou a televisão. Henry, Jonny, Lotte e o resto da mesa entraram na mesma conversa, com uma pessoa sempre acrescentando algo, sem espaço para silêncio. Misha tinha dito uma coisa ou outra, mas logo depois ela e Gisèle entraram em seus próprios assuntos, quando a mais nova comentou sobre os últimos dias. Não exatamente sobre a notícia que ela estava esperando uma filha, porque Celeste tinha feito questão de colocar isso no grupo de mensagens que a família tinha. Ela estava falando sobre o que parecia, recentemente, um dos assuntos mais recorrentes em sua vida.
— E vocês se falaram depois daquele dia? — Misha perguntou.
— Eu fui dormir com a chamada ainda conectada ontem — Gisèle respondeu — Acabei dormindo antes.
— A coisa com Luke- — a mais velha se interrompeu — Ela não ficou realmente chateada por conta da consulta, né?
— Não, não — quando Gisèle balançou a cabeça negativamente, ela logo continuou — Ela ficou mais frustrada por conta da distância, e então... ok, vai parecer estranho, mas ela foi realmente a primeira pessoa que soube sobre a gravidez. De um jeito aleatório, porque nada foi planejado, eu passei mais tempo falando sobre isso com ela do que com qualquer outra pessoa.
— Mas vocês estão indo com calma — Misha lembrou, e Gisèle quase quis dizer que ela não precisava ser lembrada daquilo porque sabia. Na verdade, elas nem com calma estavam indo, porque não havia nada acontecendo, ou pelo menos foi o que a cantora se segurou para não comentar.
— Pedindo Fish n' Chips, alguém mais quer? — Jonny disse cortando o assunto.
Misha o encarou e acenou murmurando que "não".
— Mas você pode pedir uma Eton Mess para mim? — Gisèle falou, e viu o amigo acenando antes de se afastar e seguir até o balcão do outro lado. Ela voltou a encarar Misha — Eu acho que ultimamente ando comendo mais doce do que deveria.
— É por causa dela? — Misha acenou para baixo com a cabeça, discreta o bastante para que não parecesse nada.
— Acho que sim. O fato de que cortei completamente a cafeína não me ajudou em nada. Mas eu vou voltar a equilibrar isso. Precisei ouvir um sermão de quinze minutos da obstetra sobre como muito açúcar não é ruim apenas para mim, mas para o bebê.
— Sabe que, hm, você ganhou pouco peso até agora. Estamos em qual semana?
— Décima sexta.
— Isso é normal?
— O bastante — Gisèle deu de ombros — Deve ficar mais complicado de esconder a partir de agora.
— Você já pensou como vai falar sobre isso?
— Holly ainda nem sabe sobre — a garota confessou.
— Elle... — Misha ralhou.
— Eu sei que deveria ter contado já, mas não queria ouvir todos os pontos do que provavelmente vamos fazer para que a notícia não chegue da maneira errada.
— É o trabalho dela cuidar da sua imagem.
— É, mas eu estou- — Gisèle parou o que ia dizer na metade, e abaixou o tom de voz — Eu estou grávida, não é nada de tão ruim.
Não que na primeira semana não tivesse parecido ser muito ruim, mas isso tinha passado. Então, já não era nada ruim. Gisèle estava, de uma maneira muito positiva, bem consigo mesma e com como as coisas estavam.
— Ela precisa saber.
— E ela vai — a garota garantiu — E então, muito provavelmente vou fazer uma publicação conjunta com Luke e falar sobre o assunto porque tem sempre uma declaração atrás da outra que eu preciso fazer, ou...
— Ou?
— Ou eu só tenho ela... — Gisèle apoiou uma das mãos na barriga sem realmente pensar sobre, foi apenas natural — Sem que as pessoas saibam e deixo para falar disso quando eu sentir que é o momento.
— Não vai funcionar — Misha disse — Você não tinha um prazo para começar a trabalhar no álbum novo? Mais dois anos de contrato e toda aquela coisa, antes de sentar e conversar sobre a extensão com a Columbia.
— Eu não tenho nem ideia do que quero fazer para o próximo álbum — Gisèle revirou os olhos — Eu não vou pensar nisso agora, não quando lancei o último há pouco mais do que um ano.
— E você vai o quê, apenas sumir?
— Seria tão ruim?
— Não para você — Misha falou — Mas talvez para sua equipe quando estamos falando exatamente do momento atual.
— Veja, tirando o dia em que me viram no Camp Nou, eu estou consideravelmente sumida de qualquer forma.
— Saíram matérias sobre você no jogo do Arsenal também.
— Mas nada além disso.
— Te fotografaram com o Robbie em Well Street.
— Fomos tomar um café.
— Você está entendendo o que eu quero dizer, não está?
— Misha...
— Elle, você lançou seu último single há dez meses e ainda tem ele no top dos charts americanos. Tem um milhão de publicações dizendo que você vai ganhar pelo menos umas cinco indicações no Grammy desse ano. E elas saem em duas semanas.
— Eu não estou pensando nisso.
— Mas deveria, não deveria?
Gisèle sabia que sim, que deveria pensar sobre isso porque falar dela e do nome que tinha construído, era também falar da equipe gigante por trás disso. Mas tudo parecia tão absurdamente cansativo por aqueles últimos dias, que a ideia de apenas sumir e ter a filha longe dos olhares e dos comentários das pessoas não parecia tão ruim. Quando ela dizia que não ligava, ou se incomodava, com a atenção alheia, não estava mentindo, mas sobre aquilo especificamente, sobre sua filha, ela tinha se incomodado. No fim, ela tinha escolhido aquela vida, mas sua filha nem tinha nascido, e ela não sabia de nada. Deveria ser o mínimo, apenas a ideia de se afastar daquela parte das coisas.
— Seu Eton Mess — Jonny chegou deixando a sobremesa na mesa, de frente para Gisèle, e ela agradeceu porque achou a saída perfeita para não responder a última pergunta de Misha. O pequena bowl estava tomado por uma "bagunça", não atoa o nome, que consistia em uma mistura de morangos e outras frutas vermelhas com merengue e chantilly.
O jogo do Arsenal começou não muito pouco depois disso, e logo todas as conversas eram justamente sobre os jogadores em campo. O Saints estava vestindo suas camisas vermelhas com faixa branca, enquanto o Arsenal estava com a terceira opção, azul. O Saints quem começou a festa agitada, e era uma noite suja em St. Mary's. Chuva forte por todo o lugar. Era também quase um começo sujo para o Saints, Bednarek apresentando Xhaka com a bola, que deslizou para Lacazette. Ele estava mão a mão com McCarthy e mirou no canto inferior direito, mas o goleiro esticou o joelho e desviou para escanteio.
O escanteio resultante não deu em nada. Com três minutos no relógio, o Saints respondeu com seu primeiro impulso da noite, Valery se curvando à direita, Ings tentando direcionar uma cabeçada em direção ao gol. A bola bateu no rosto de Holding e saiu para um escanteio. De onde Ward-Prowse deixou o escanteio e Armstrong encontrou a bola e jogou no canto superior direito. Leno tentou o seu melhor para conseguir algo, mas foi imparável.
O Arsenal deveria estar na frente; mas eles estavam atrás com seis minutos. Saka correu pela direita e viu seu chute rasteiro e cruzamento desviados a apenas alguns centímetros do canto inferior direito. Escanteio, de onde nada saiu. Algum espaço para Pepe à esquerda. O cruzamento dele não foi bom.
Um minuto depois, e ele fez melhor. Um passe ruim de Stephens foi interceptado pelo Arsenal. Xhaka fez seu segundo passe fino dos primeiros oito minutos, novamente pelo lado esquerdo. Pepe avançou para a área e passou por McCarthy para empatar as coisas. Ótima resposta do Arsenal, que foi para cima dos anfitriões. Bellerin fez um movimento profundo à direita. Valery não estava sob pressão, mas de qualquer forma desviou a bola para escanteio.
O jogo diminuiu daí, mas não aconteceu muito. Alguns copos foram cheios novamente no pub, e parte do falatório retornou. Aos 38 minutos, no jogo, David Luiz deu um empurrão em Walcott para salvar a bola. O Arsenal estava em apuros, com Ings e Adams gritando para serem liberados para o gol. Walcott fez um passe terrível para um tiro de meta. Adams ficou furioso. Foi um erro caro. O tiro de meta resultante foi cabeceado para Xhaka, que passou para Lacazette. Ele deslizou uma bola simples no meio para liberar Saka. McCarthy correu precipitadamente para fora da área e não chegou a tempo. Saka contornou McCarthy na direita e bateu para uma rede desprotegida. Simples assim.
O pub inteiro comemorou. Henry, e mais um bocado de gente, levantaram de suas cadeiras, e Gisèle estava gritando junto de todos os outros. Misha, no entanto revirou os olhos e suspirou cansada. O que não passou desesperado pela zagueira do Arsenal sentado ao seu lado.
— Não é realmente uma fã? — a voz de Leah acabou saindo irônica, e ela riu quando ganhou um olhar ao lado de Misha.
— Futebol apenas não me anima — a garota confessou.
— Mas não só isso — Gisèle acrescentou da outra ponta do sofá, antes de tomar parte de sua bebida.
— Não?
— Eu cresci numa casa de torcedores do Chelsea, então um pub cheio de Gooners não é exatamente minha ideia de felicidade.
— Então você caiu para o lado errado da coisa toda — Leah disse.
— O que é uma pena porque ela fica linda usando a camisa do Arsenal — Gisèle falou e Leah inclinou um pouco o rosto para frente, para conseguir a ver. A jogadora riu.
— Eu não duvido, mas isso implica que ela já usou a camisa — Leah falou, e Misha abaixou a cabeça, fechando os olhos por um momento, mal querendo lembrar daquilo.
— História longa — a cantora falou.
— Estou ansiosa pra ouvir.
— Ano Novo de 18 — Gisèle começou — Nós viajamos para as Filipinas para o final de ano porque um amigo nosso estava morando lá nessa época. Aí, estávamos bebendo com amigos em um bar em Iloilo, uma cidade na região de Visayas. No meio da noite, a Misha brigou com um dos nossos amigos e desapareceu depois de um tempo. Era o último dia do ano e a gente deveria voltar para casa desse nosso amigo, mas o bar continuou aberto e tinha tanta gente, que nós decidimos apenas ficar ali.
— Fizemos amizade com um grupo super divertido também. Eu lembro disso antes de sumir.
— É verdade, mas, independente, acho que o Misha ficou muito, mas muito, irritada porque ela simplesmente foi embora depois da briga e sumiu mesmo, sumiu de vez. Todo mundo estava alto, então eu, honestamente, pensei que ela tivesse voltado para casa, ou qualquer coisa assim. Mas, na tarde seguinte, eu acordei com ela me ligando e pedindo ajuda.
— Eu sinto que a gente está caminhando para um lugar muito especial — Leah pontuou, e riu quando viu Misha murmurando um "não estamos não".
— Ela tinha pegado o ônibus errado. Em vez de pegar um ônibus para casa, ela acabou pegando um ônibus indo para Manila, porque ela mal sabia o que estava fazendo e não conhecia nada. E Manila é tipo, muito longe. Quando ela acordou, estava em um barco no meio de Mindoro, a uns 300 quilômetros de onde estávamos, usando uma camisa do Thierry Henry porque o barco era de uma inglesa que não estava com realmente muito para emprestar para Misha além de uma camisa do Arsenal, depois que ela passou mal e acabou com a própria camisa.
— Não me lembro de metade disso.
— Isso parece como o melhor ano novo que vocês poderiam ter.
— E nem é minha melhor história — Misha disse irônica.
— Eu acredito, acredito... — Leah riu — Vocês são amigas há quanto tempo? — ela perguntou, porque era realmente a primeira vez que via Misha.
Obviamente, ela conhecia Gisèle. Não apenas pelo rosto dela em todos os lugares, ou o fato de que o pai dela era o novo técnico do seu time e era realmente orgulhoso em dizer que era pai dela - e também ter visto a garota dias atrás em um jogo do Arsenal, claro, havia isso -, mas Leah cuidava das playlists no vestiário, fosse na seleção ou no clube. Algumas boas músicas da cantora tinham acabado na lista, e então, Leah quase podia dizer que era uma fã. Mas ela não sabia nada à parte disso.
Nada de incomum.
Ela também tinha visto o rosto dos irmãos de Gisèle - outra vez, Duncan ficava muito animado quando o assunto era falar dos filhos. Mas Misha, aquilo era novo.
— Irmãs — Gisèle quem respondeu.
— Não de sangue — Misha esclareceu — A mãe dela se casou com o meu pai há dez anos e então nos conhecemos há pouco mais do que isso.
— Doze anos.
— Isso — Misha concordou.
— Oh — Leah sorriu — Isso é legal. Quero dizer, vocês parecem realmente próximas. Parece legal.
— É, eu sou a irmã que ela pediu como presente de Natal com seis anos — Misha brincou, e Gisèle riu porque aquela história era realmente verdade, mas para Leah soou apenas como qualquer coisa entre elas. De qualquer maneira, ela ainda estava sorrindo.
— Essa, na verdade, é Daria. Eu não te consideraria um presente, Bear.
— Eu estou escolhendo fingir que não te ouvi — Misha forçou um sorriso e empurrou a irmã de leve pelo ombro, mas Gisèle sabia que ela estava brincando.
Leah ia dizer algo, mas o jogo ficou tenso do lado de lá e o clima no pub acabou agitando a garota também. Ela quase parecia no limite de agir igual a um dos caras mais animados por ali, se levantando toda hora, e querendo apenas gritar com os jogadores, como se eles pudessem mesmo ouvir alguma coisa.
Perto do fim do primeiro tempo, o Arsenal pediu um pênalti quando a bola foi rebatida por Partey para Lacazette, que girou Vokins, e depois se jogou no chão. Mas foi contato mínimo, e nem o juíz, tampouco o VAR viu algo. No primeiro minuto dos dois minutos concedidos de acréscimo, Diallo driblou um chute para Leno de longe. O Arsenal contra-atacou. Cedric e Pepe se combinaram pela esquerda para ganhar um escanteio. Saka levou uma quantidade absurda de tempo para o escanteio. Pepe bateu em um relógio de mentira fingindo irritação, e então o apito soou pouco tempo depois.
O intervalo serviu para a música no pub aumentar - alguém tinha feito a escolha de Maneater do Daryl Hall e John Oates e depois mais um bocado de músicas dos anos 80 também soou pelo espaço.
Quando o jogo reiniciou, os Saints foram pegos dormindo já de início porque Cedric jogou uma bola diagonal em direção a Saka na direita. Saka rolou pela frente do gol. Lacazette chutou para o canto inferior esquerdo e logo todo mundo no TFCT estava comemorando um belo gol do ponto de vista do Arsenal; bem ruim do ponto de vista do Southampton.
O restante da partida não teve tanto drama. Com mais quatro minutos de acréscimo no relógio depois dos 90 minutos, Watts fez um chute forte da direita. Diallo ganhou um cabeceio, mas a bola foi para o topo da rede. No final, o Southampton até tentou, mesmo depois de ficar dois gols para trás, mas perdeu a respiração no meio do caminho.
As garotas do Arsenal, junto com Gisèle, Henry, Misha, Jonny e Claudia saíram do pub no fim da tarde. Jordan, Lotte, Danielle, Katie e Kim pegaram táxis, mas Leah resolveu andar com os filhos de seu novo técnico quando Henry comentou que eles estavam pegando o tubo até Clerkenwell. Ela morava por perto. E não era nada tão fora do normal usar o transporte público, porque andar por Londres era sempre preferível de qualquer forma. Então, eles saíram de Highbury e quinze minutos depois desceram em Finsbury.
Misha ofereceu companhia para Leah quando ela comentou que vivia na Tysoe Street. O apartamento da garota era literalmente virando à esquerda em Tysoe, seguindo pela Rosoman, então elas tinham uns seis minutos de caminhada para gastar assunto. Jonny se despediu chamando um táxi, porque ele ainda tinha o caminho até Whitechapel para fazer. Henry e Claudia subiram as escadas da casa de Gisèle com ela.
Uma xícara de café depois - para Henry e Claudia -, e logo os três estavan acomodados na sala assistindo a uma reprise de EastEnders, sem realmente prestar atenção porque Claudia estava animada em comentar sobre seu último trabalho e Gisèle estava animada em ouvir. Mas ela sempre ficava animada quando o assunto era ouvir qualquer coisa que Claudia dissesse. A garota era uma das pessoas mais engraçadas que Gisèle conhecia. Ela era atriz, trabalhava com Luke e foi assim que conheceu Gisèle, quase dois anos antes.
Quando Luke estava gravando em Bath, não era realmente a coisa mais difícil do mundo ver Gisèle com Claudia nos bastidores das filmagens, rindo de qualquer besteira que a garota conversasse. O Daily Mail teve um tempo ótimo naqueles meses, com todas as fotos de Gisèle andando com Luke e Claudia pelo set da série que eles estavam gravando.
Claro, Luke e Gisèle tinham terminado, mas eles tinham muitos amigos em comum e ninguém estava escolhendo um lado porque não precisavam realmente fazer isso. Eles tinham passado o Ano Novo juntos e, tirando a estranheza inicial em ver Luke e Gisèle voltando a agir como apenas amigos, tudo parecia normal.
No início da noite, Claudia estava se despedindo, e Henry não demorou muito para ir embora também. Gisèle ficou sozinha, pronta para se levantar e fazer algo leve para o jantar quando ela viu seu celular acendendo na mesa do centro. Tinha passado o dia evitando o aparelho, só porque ela gostava de se dar esses momentos - que ficavam cada vez mais impossíveis quando ela também queria estar colada no celular só para saber o que Alexia estava fazendo do outro lado do mar. Sobre Alexia, elas tinham se falado no dia anterior, quando conversaram durante a noite. Depois, Gisèle recebeu uma mensagem de "bom dia". A última mensagem na conversa delas era justamente de Gisèle respondendo ao "bom dia". Mas então, a última mensagem se tornou coisa antiga, quando uma nova apareceu.
ale: tive um dia realmente fodido
ale: ei, posso te ligar?
*
Gisèle não era exatamente uma pessoa irresponsável. Ela gostava de imaginar que fazia o melhor que podia para evitar problemas. Sua imagem era importante, e ela tentava não fazer do trabalho de Holly a coisa mais difícil do mundo, mesmo que às vezes parecesse impossível.
Mas no dia seguinte à mensagem de Alexia, e depois de uma longa conversa com a jogadora, ela se viu embarcando em seu avião particular e partindo para Barcelona. Sem segurança, sem aviso, sem muito planejamento. Na verdade, Daria sabia que Gisèle não estava em Londres, mas isso porque a garota teve que deixar seus gatos com alguém, e então parou na casa de sua irmã antes de seguir para o Aeroporto da Cidade de Londres. Ela não tinha uma data definida para retornar. Com uma bagagem de mão, pousou vestindo um sobretudo por cima de um moletom, com um boné preto e óculos escuros no rosto. Ela estava usando uma máscara, principalmente na intenção de passar despercebida, mas também por segurança. Depois a garota seguiu a mensagem de Alexia dizendo que ela estava a esperando na frente do El Prat.
A porta do carro de Alexia estava destrancada, e Gisèle entrou sem que Alexia a visse chegando, pois seus olhos estavam focados no celular. A jogadora quase se assustou, mas quando virou a cabeça e viu Gisèle tirando a máscara e depois os óculos, sorriu. A mala de Gisèle foi parar no banco de trás, ao lado da bolsa de treino de Alexia.
— Você sabe que não precisava vir, certo?
— É esse o seu jeito de me receber? — Gisèle levantou uma sobrancelha e Alexia foi rápida em balançar a cabeça.
— Não, não... — ela se inclinou em direção a Gisèle, e puxou a garota para um abraço. Alexia beijou sua bochecha antes de enterrar o rosto em seus cabelos e apenas respirar, como se estivesse sentindo o perfume certo.
Ela havia passado os últimos dias reclamando pelos cantos de tudo e todos, Mapi havia comentado que ela parecia infeliz em um nível diferente. Então Alexia também havia se entregado mais nos treinos. Não que ela já não fizesse isso, mas não estava exatamente facilitando nada para ninguém. E se ela estava sentindo o peso disso, então o resto do time também estava.
— Você está bem? — Gisèle murmurou contra o ombro de Alexia.
— Agora sim — a jogadora foi sincera.
Elas ficaram assim por alguns minutos, mas eventualmente Alexia se afastou e Gisèle aproveitou a oportunidade para tirar seu sobretudo e puxar seu moletom, ficando apenas com a regata branca que estava usando por baixo. O carro estava quente, e lá fora a temperatura tinha chegado a vinte graus. Gisèle tinha partido com sete graus em Londres. Alexia, bem, ela estava com frio e odiando o clima em Barcelona. Ela estava vestindo uma calça de treino do Barça, com o pequeno logotipo perto de um dos bolsos, e estava usando um moletom branco com o logotipo da Nike no centro do peito.
O olhar de Alexia caiu na barriga de Gisèle, e ela não queria parecer muito feliz, mas logo ficou difícil. Gisèle percebeu e riu suavemente.
— O que você acha? — ela perguntou, brincando. Realmente não havia muito o que "pensar". Elas não se viam há alguns dias, mas a barriga de Gisèle estava ficando cada vez mais aparente sem todas as camadas de roupa que ela estava usando.
E ela estava linda, pensou Alexia.
— Você está linda — a garota externou, suavemente.
— Você quer tocar? — a pergunta foi gentil e doce.
Em sua última consulta, alguns dias atrás, Gisèle ouviu sobre como seu bebê estava exatamente no momento mais agitado. E ela sentiu isso. Às vezes, Gisèle conseguia senti-la se mexendo, mas sempre terminava tão rápido quanto começava.
— Posso? — Alexia queria ter certeza, e a resposta que obteve foi Gisèle estendendo a mão e colocando-a em cima de sua barriga.
— Ela sempre fica quieta durante o dia — disse Gisèle — E então, acho que ela sempre quer dizer que está aqui quando a noite chega.
Alexia permaneceu em silêncio, principalmente porque não tinha ideia do que dizer naquele momento. Ela estava começando a perceber o quanto mais apegada havia se tornado àquela gravidez do que talvez tivesse pretendido. Por mais que ela e Gisèle tivessem planos de dar uma chance uma à outra no futuro — o verão logo chegaria, e os meses voariam. Mas por mais que estivessem fazendo isso, o fato de ainda não terem nada fazia Alexia se sentir estranha por se importar tanto. Ainda mais quando Luke não era um estranho a situação. Aquele bebê tinha um pai que estava disposto a estar presente em cada passo do caminho. Ela não queria dar a impressão de que estava tentando preencher um vazio, especialmente porque não tinha nada para preencher.
— O que foi? — A pergunta de Gisèle veio depois de um tempo, um ou dois minutos depois que o silêncio tomou conta.
Alexia suspirou, mas sua mão ainda estava na pele de Gisèle, e de repente, seus dedos estavam entrelaçados aos dela.
— Eu não quero cruzar nenhum limite — confessou Alexia — Acho que fiz um pouco disso quando fui tão honesta sobre como vejo você no meu futuro, ou quando fiquei chateada sem motivo só porque você descobriu o sexo do bebê e eu não estava lá. Não é como se eu tivesse algum direito sobre isso.
— É por isso que você esteve tão dentro da própria cabeça nos últimos dias? — Gisèle murmurou.
— Acho que sim — Alexia disse e encostou a cabeça no apoio de trás do banco, virando o rosto para encarar Gisèle.
— Bem, se você estava sendo séria sobre o que disse naquele dia... Você sabe que estar comigo significa estar com ela, não é? — Alexia não precisaria ver o olhar de Gisèle basicamente apontando para a própria barriga para entender sobre quem ela estava falando, mas ela reparou de qualquer forma.
— Eu sei.
— Então é bom saber que você se importa — ela continuou — Não temos nada ainda...
— "Ainda" é uma boa palavra — Alexia murmurou e Gisèle riu um pouco. A jogadora sorriu com isso.
— Mas você não precisa se forçar a fingir que não quer estar presente — Gisèle concluiu.
— Como Luke se sentiria sobre isso? — Alexia nunca falava tão diretamente sobre o ator, porque sempre acabava ficando um pouco incomodada quando o fazia, e Gisèle já tinha reparado, mesmo que não tivesse apontado.
— Ele não sabe realmente sobre isso — Gisèle confessou — Não parecia que eu tinha muito para contar até algumas semanas atrás, mas acho que preciso começar a ser honesta.
Pensando, a cantora imaginou o que poderia falar. Ela provavelmente precisaria dosar a coisa toda, porque ainda que não tinha nenhum relacionamento estabelecido, mas alguma coisa estava acontecendo. De qualquer maneira, Gisèle estava disposta a falar com Luke, porque ter Alexia tão presente também significava que em algum momento eles se conheceriam.
— Eu só- — Alexia suspirou — Eu só quero estar lá para você.
— Eu sei, e eu realmente aprecio isso.
— Eu queria estar lá na quarta-feira — a jogadora continuou — Mapi ficou me irritando sobre como eu não estava funcionando direito depois que nos falamos, mas eu só estava realmente pensando em como queria estar lá.
— Você pode estar lá na próxima vez — Gisèle veria Vinita em um mês. Alexia precisaria estar em Londres para isso, e a cantora não tinha ideia se a agenda dela funcionaria quanto a datas, mas se o dia não se encontrasse com realmente nenhum compromisso, elas muito provavelmente teriam um plano.
Se Mapi, Henry, Misha ou qualquer outra pessoa a par do que estava acontecendo entre Alexia e Gisèle escutasse aquela conversa ou as visse minutos antes, eles provavelmente não a deixariam ver o fim daquilo. Mapi tinha comentado com Alexia um dia antes - e em partes era por isso que ela tinha tido um dia péssimo, somado ao fato de que brigou com Lluís, seu técnico -, que simplesmente não conseguia entender o que ela e Gisèle estavam pensando. Elas tinham dito que não queriam um relacionamento no momento, mas então estavam fazendo todas aquelas coisas juntas - as viagens, os abraços, as conversas, todo o contato e os planos. Olhando de fora, era tão confuso porque as ações falavam diferentes das palavras. Qualquer pessoa teria dado uma chance para aquilo sem pensar em esperar. Mas as duas tinham certeza de que era o melhor.
O carro de Alexia eventualmente deixou o Aeroporto seguindo pelo caminho que logo começou a parecer muito familiar para Gisèle. Pouco mais que vinte minutos depois, e elas estavam estacionando diante da casa de Alexia, sem realmente muitos planos para aquele resto de tarde.
Bem, pelo menos Gisèle não tinha muitos planos para o resto da tarde. Sem realmente nada para fazer, e em uma cidade diferente, ela apenas se sentou ao lado de Alexia e existiu. O que, na verdade, era parte do que ela vinha fazendo muito já que não estava trabalhando. Em última análise, ela "existia" muito.
Alexia, no entanto, tinha um bocado de coisas para resolver. Algumas mensagens trocadas com Josep, uma ligação com Adrián e então depois ela estava sentada no chão, curvada sobre seu iPad na mesa de centro, repetindo os mesmos clipes de trinta segundos várias vezes até que ela tivesse identificado cada falha em seu último jogo e criado um plano para corrigi-las. Alexia amava futebol, e ela era obcecada pela própria carreira. Gisèle entendia, porque também era um pouco obcecada com a carreira que tinha construído. Mas para Gisèle, na verdade, o caminho tinha sido um pouco mais fácil. Os indicados ao Grammy sairiam em uma semana e Gisèle sabia que estaria na lista. Ela tinha a própria fama, e tinha dinheiro. Gisèle tinha muito mais dinheiro do que poderia gastar na vida. Mas Alexia ainda não tinha exatamente nenhum dos dois. Ela deveria ter, Gisèle pensou. Principalmente quando os homens do mesmo clube que ela atuava estavam sendo elevados em grandes plataformas e ganhando tanto, mesmo quando não faziam nada.
A cantora mal registrou que Alexia tinha terminado suas anotações, porque estava perdida em uma conversa por mensagem com Misha - que tinha passado quinze minutos falando sobre Leah Williamson e seus problemas com a namorada, que ela ouviu quando as duas foram tomar café naquela manhã. Foi daquela forma que Gisèle descobriu que Leah tinha uma namorada, descobriu que Misha e Leah tinham trocado números e marcado um café da manhã e também descobriu que Misha, na verdade, adorava falar sobre a vida dos outros. Mas o assunto com Misha ficou de canto quando Alexia se esgueirou para o lado de Gisèle, levou seus lábios contra o rosto da garota, e envolveu os braços ao seu redor, para a puxar para um abraço. A inglesa se dissolveu completamente na sensação difusa que Alexia a deu.
— O que você quer comer no jantar? — Alexia perguntou.
— Não sei, o que você quiser — Gisèle respondeu e sentiu Alexia deslizar a mão por baixo de seu moletom, começando a acariciar a extensão de suas costas. A mais nova fechou os olhos, achando seu espaço e afundando o rosto no pescoço de Alexia.
— Tot està bé?
— Eu não tenho ideia do que você disse — Gisèle murmurou, e só então Alexia reparou como tinha usado o catalão, por costume.
Não que fizesse isso sempre, mas se estivesse em casa, em Mollet, então ela o faria. Em Mollet, e não em Barcelona, porque Barna era provavelmente um dos lugares com menos uso do catalão que Alexia conhecia. Fosse por causa da entrada massiva de turistas, a quantidade de trabalhadores internacionais de muitos países diferentes ou a quantidade de pessoas que falavam apenas espanhol, porque se mudaram para lá recentemente ou porque, mesmo tendo nascido em Barcelona, nunca integraram o catalão em suas vidas à parte do fato de que a comunicação pública em Barcelona era em catalão. Placas de rua, placas de metrô e todas essas coisas. Mas quanto a isso, se uma pessoa tivesse o mínimo de espanhol, ela entenderia tudo facilmente. Não era tão difícil.
— Você tem me feito usar meu inglês mais do que usei nos últimos dez anos.
— Isso é você me agradecendo? — Gisèle fingiu uma surpresa e Alexia riu.
— Na verdade não, cariño. Hm, como tem estado seu espanhol?
— Muito bom — Gisèle respondeu, e não era nenhuma mentira. Além do inglês ela falava francês, porque tinha aprendido na escola, e então tinha feito seu caminho para o espanhol a partir do momento que foi passar um tempo com Luke em Barcelona e acabou vivendo na cidade forçadamente. No geral, a inglesa era boa quando o assunto era aprender outros idiomas. Ela também conversava com sua parcela de árabe por conta dos avós — Eu sou muito boa quando o assunto é aprender novas línguas. Me dê alguns meses e eu vou te surpreender com meu catalão também.
— Ah, por favor, não aumente minhas expectativas — a mais velha brincou — Ei, o que acha de sair para jantar?
— Vamos para onde?
— Vou deixar como uma surpresa.
— Certo — Gisèle assentiu — E o que eu deveria vestir?
— Apenas algo confortável.
O confortável acabou sendo uma escolha muito parecida com o que Alexia apareceu usando quando Gisèle voltou a encontrar elana sala. Moletom. A diferença eram os tons e o fato de que a parte de cima de Alexia tinha uma abertura em zíper. Gisèle estava com um conjunto de duas peças da Adidas, enquanto Alexia estava usando peças brancas, o símbolo da Nike na calça e no lado direito da parte de cima, essa que estava com o zíper fechado apenas até a metade, dando a vista da camisa branca que ela estava usando por baixo. O complemento era o sobretudo preto e os tênis brancos.
Nala notou a inglesa surgindo na sala e correu para o lado dela, o que a levou a colocar a mão em seu pelo, a pegando no colo. Aquilo foi realmente um "tchau", porque logo Nala estava sozinha em casa, enquanto Alexia dirigia em direção à Carrer Aribau, uma das ruas mais agitadas de Barcelona, repleta de bares e restaurantes. A rua se estendia por cerca de 2 km da Via Augusta até a Gran Via e era mais ou menos uma estrada reta que nunca dormia, mesmo ficando um pouco afastada do centro da cidade.
Durante o dia, o espaço abrigava muitos dos escritórios de luxo de Barcelona. Não era difícil ver homens de terno andando em seus carros elegantes, subindo e descendo a rua. À noite, era o centro das festas e oferecia alguns dos melhores bares. Mas também oferecia alguns dos melhores restaurantes, e um desses era o Monster Sushi.
O Monster Sushi era uma atração à parte, com tetos altos e diversas áreas que se alinhavam e se complementavam. Entre cenários tipo izakaya, era um moderno restaurante de sushi que poderia muito bem se encaixar em Tóquio ou Nova York. Tijolos vivos, pedras e paredes intencionalmente lascadas e uma parcela boa de arte nas paredes e iluminação Neon com a luz principal baixa.
O Monster Sushi trabalhava com reservas, mas nunca era tão complicado conseguir uma mesa. Alexia costumava aparecer por lá sempre acompanhada da irmã, às vezes com os amigos de Mollet, outras vezes com Mapi, ou então com alguma das outras garotas do time.
A mesa para a qual Alexia e Gisèle foram guiadas ficava distante da entrada, perto de um letreiro neon, onde as luzes estavam ainda mais baixas. Consideravelmente perto do bar. Assim que elas se sentaram, um homem veio buscar seus pedidos. Combinando ingredientes japoneses e de origem local, o sushi tradicional acabava sendo também um pouco ortodoxo, mas não foi a escolha da noite. Eles também ofereciam uma grande variedade de pratos quentes asiáticos, e Alexia terminou pedindo o mesmo que Gisèle: Macarrão Yakisoba com Leguminosas e Frango. Mas ela quebrou uma própria regra, sobre não beber nada alcóolico durante a temporada, e terminou se rendendo a alguns drinks com Vodka.
Foi, em partes, o que a fez falar um pouco mais do que o normal - ainda que com Gisèle ela já se sentisse disposta a fazer isso sem tanta ajuda. De fora, todo mundo poderia imaginar uma pessoa correta e séria quando o assunto era Alexia, até mesmo hermética, mas sua cercania era uma fantasia porque com a inglesa ela tinha um olhar completamente bobo o tempo todo, mesmo que fosse apenas a ouvindo falar sobre a vez que perdeu o passaporte em Montreal. Quando ela tinha dirigido de Nova York para Montreal durante o inverno de 2017 com alguns amigos e parou em um restaurante no meio da estrada, saiu, atendeu um grupo de garotas que a reconheceu e depois voltou para o carro para seguir viagem. O passaporte caiu do assento e foi parar em algum lugar no estacionamento com neve.
Mas não que Gisèle não compartilhasse aquela mesma expressão quando Alexia se animava sobre seus assuntos. Como quando ela contou que tinha se matriculado em Administração e Gestão de Empresas, mas que deu uma pausa nos estudos para se concentrar no futebol, até que eventualmente concluiu o curso. Ou sobre como ela tinha um ritual toda vez que entrava em campo, que envolvia fazer o sinal da cruz e pisar no gramado pulando com um pé, em seu primeiro passo. Ou então como nos primeiros dias da pandemia, ela fez um quebra-cabeça de mil peças com Nala - que serviu muito mais como companhia, por razões óbvias -, porque tinha já feito tudo que poderia fazer e aquela segunda semana parecia não ter fim.
Mas com todas essas conversas, e com a maneira tão familiar com o que elas se viram, pareceu um pouco difícil não imaginar como seria se, partindo dali, todos os dias fossem como aqueles.
Estava chovendo quando Alexia e Gisèle saíram do restaurante, quase três horas depois que chegaram. Elas não tinham guarda-chuvas, e o carro estava longe, então as duas correram juntas embaixo da chuva, rindo porque tinham ficado encharcadas. Alexia destrancou a porta com rapidez, e Gisèle entrou puxando seu moletom para cima, ficando apena com a regata preta por baixo. A jogadora ainda tinha esse rastejo de sorriso nos lábios, mas logo ele estava falhando em estar presente porque ela estava respirando fundo quando viu Gisèle naquela meia luz, onde elas estavam, dentro de um carro, sem que ninguém as visse porque estava escuro e a chuva tinha se tornado ainda mais pesada.
Era só isso, Gisèle parecia tão leve, e Vodka definitivamente deixava Alexia excitada. Ou talvez Gisèle fizesse isso.
Pelo que valia, Alexia estava tentando. Ela tentou apenas observar a garota molhada do outro lado, e as gotas de água escorrendo por sua pele enquanto ela fazia algum comentário bobo sobre a cena das duas fugindo da chuva sem tanto sucesso. Alexia realmente tentou. Mas desistiu de tentar depois de um tempo.
E então, ela sabia bem o que estava fazendo no momento em que se aproximou de Gisèle. Colocando uma mão possessiva na nuca dela no meio de algo que a garota dizia, alheia o bastante para mal ter reparado para onde elas estavam indo até aquele momento. Aquela era a ideia do que deveria só um encostar de lábios, um movimento doce que talvez derretesse Gisèle depois de a deixar um pouco sem muito o que dizer.
Mas foi tudo ladeira abaixo a partir daí. Não de um jeito ruim. Patético? Talvez um pouco. Nem uma palavra foi dita e Gisèle já estava se desfazendo, a caminho de virar uma bagunça completa naquele carro que começou a parecer pequeno demais.
— Ale — Gisèle respirou quando a boca da jogadora se arrastou para longe de seus lábios e ela chupou seu pescoço. A inglesa imaginou que aquilo deixaria uma marca, mas não conseguiu se importar.
Alexia tinha ultrapassado o limite de sua bebida durante aquele espaço de temporada porque o limite era zero e ela tinha tomado dois copos, mas apesar disso, ela sabia sustentar seu álcool e estava bem o bastante para saber o que fazia. Logo ela tinha um objetivo e ninguém poderia a culpar por estar atrás do que queria. Ela realmente queria. Mas o clima foi cortado quando a parte de trás da cabeça de Gisèle bateu no vidro da porta assim que ela inclinou a garota um pouco mais para aquela direção. E então elas se separaram rindo, e Alexia pensou com mais clareza que elas definitivamente não deveriam estar fazendo aquilo. Não quando tinham decidido manter o espaço de amizade exatamente como estava, sem nada além disso.
Apesar da interrupção, e da ideia do que poderia acontecer, nada parecia ruim.
A chuva batia contra as janelas do carro e Gisèle se afastou com um pequeno suspiro, levando a mão direita até onde ela tinha acertado o vidro.
— Ai — Gisèle murmurou.
Alexia não conseguiu evitar o sorriso que manteve no canto de seus lábios. Apesar disso, ela não se afastou. Tinha uma distância entre as duas, mas não distância o bastante.
— Você está bem? — a jogadora disse, sua voz baixa, tomada com um pingo de preocupação, mas suavizada pelo fato de que Gisèle também estava sorrindo.
— Sim, só minha cabeça. Isso doeu mais do que pareceu.
Os olhos de Alexia suavizaram e ela se inclinou um pouco mais perto, a distância entre elas diminuindo novamente.
— Aqui, olha aqui para o meu dedo — ela disse, levantando a mão e estendendo o dedo indicador muito perto do rosto de Gisèle — Eu quero que você olhe para cá e se concentre nisso. Concentre sua dor aqui no meu dedo. Tem que se concentrar.
As sobrancelhas de Gisèle franziram levemente em uma confusão óbvia, mas ela fez o que Alexia pediu, porque confiou nela. Em um ponto, com honestidade, havia muito entre elas, e o olhar de Gisèle focou na ponta do dedo de Alexia enquanto ele pairava no ar, com ela se forçando a não encarar os olhos castanhos da jogadora.
— Tá.
— Se prepara para essa dor desaparecer — Alexia gentilmente colocou a ponta do dedo na testa de Gisèle, como se tivesse tentado algo e realmente acreditasse naquilo; seu toque leve — Feche os olhos — ela sussurrou.
Os olhos de Gisèle se fecharam, sua respiração mais descompassada enquanto o espaço ao redor delas parecia encolher, com a chuva desaparecendo no fundo porque nada mais realmente importava. Ela podia sentir o calor da presença de Alexia, seu toque, e então Alexia soprou suavemente a ponta do dedo. A sensação mal estava lá, um sussurro de ar contra a pele de Gisèle. Isso enviou um arrepio suave por sua espinha, e o carro pareceu mais aquecido, de um jeito doce, como se fosse uma xícara quente de Rosie Lee envolvendo Gisèle numa manhã de sexta-feira de outubro em Londres.
Gisèle abriu os olhos lentamente, o momento suspenso entre elas, e seus olhares se recuperando, realmente ternos e cheios de algo delicado e real. O sorriso que passou entre elas foi suave e sem uma palavra, e então elas se inclinaram novamente. Não pensaram tanto adiante disso.
Dessa vez, o beijo foi diferente - mais lento, mais doce, sem pressa, sem urgência, apenas a pressão suave dos lábios, a sensação de conexão, de estar ali. A mão de Gisèle deslizou para descansar na bochecha de Alexia, e os dedos de Alexia encontraram o caminho para a nuca de Gisèle novamente, segurando-a gentilmente, como se ela fosse a coisa mais importante do mundo.
Dessa vez não foi uma batida no vidro que as fez se afastar, mas elas se afastaram, respirando com calma. A mão direita de Alexia traçou o lábio inferior de Gisèle, e ela sorriu.
— Sinto sua falta há mais tempo do que consigo me lembrar — Alexia sussurrou — Senti sua falta a vida toda, Elle.
— Ale-
— Estou falando sério — ela continuou, a voz ainda baixa — E não sei quando aconteceu, ou como, não tenho ideia do que estou fazendo, mas eu te amo. É fácil, é só... é isso. Como se não houvesse mais nenhuma linha entre nós. Eu te vi num dia confuso de outubro e agora você é uma parte de mim. Quando você está por perto, parece que eu sempre te conheci, que eu senti sua falta por todo esse tempo, e é como se eu não precisasse dizer nada para você me entender, de uma maneira que ninguém mais entende.
notes.
ai eu meio que adorei escrever esse final de capítulo, gente... e uma coisa, a cena no carro foi inspirada na cena de uma série (el embarcadero), com toda a coisa do dedo e de fazer a "dor" desaparecer. no fim, eu nem ia colocar nada depois disso, mas pareceu certo e eu me empolguei então é o que temos para hoje.
mas passando por isso, parando aqui só para dizer que vocês deveriam dar uma olhada no capítulo de "personagens" dessa história aqui porque tem algumas adições e elas são IMPORTANTES.
volto aqui o mais breve possível :)
(uma última coisa, esse capítulo tem quase 13k de palavras pq aparentemente eu não consigo não parar de acrescentar coisa aqui, então apenas me digam aí se os capítulos longos acabam sendo chatos ou não, pq se sim eu tento dar um jeito nisso)
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