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06 | MINHAS BOTAS DE COURO DA EUROPA

CAPÍTULO SEIS | UN VERANO SIN TI
❝MINHAS BOTAS DE COURO DA EUROPA

fecho meus olhos e você sabe, eu vou estar deitada ao seu lado em barcelona⸺ BARCELONA; george ezra

ALEXIA MORAVA EM BARCELONA HÁ QUASE NOVE ANOS. Ela nasceu em Mollet e passou a vida indo e vindo de Barcelona. Ela visitou muitos lugares fora da Espanha, mas achava que sua cidade era uma das melhores do mundo para se viver, ou mesmo para passar férias. Isso porque Barcelona tinha de tudo. Havia o mar, a cidade, as montanhas e muitas culturas diferentes em um único lugar, além de boa comida e uma vida noturna animada.

E então havia a arquitetura. Barcelona tinha tanto para ver que até o chão contava uma história. Pelo menos 13 tipos diferentes de azulejos estavam espalhados pela cidade, e o desenho de um deles tinha acabado na pele de Alexia meses atrás.

Na manhã seguinte ao jogo no Camp Nou, a jogadora acordou antes de Gisèle. O relógio marcava pouco mais de sete da manhã, e quarenta minutos depois, quando Gisèle acordou, Alexia estava na cozinha, terminando de fazer café.

Ela tomou um banho frio e vestiu um short preto da Nike que parava alguns centímetros acima dos joelhos. Seu tronco estava coberto apenas por um top preto de treino, que exibia todas as tatuagens que Gisèle mal havia notado que ela tinha até aquele momento.

Quando a mão quente de Gisèle entrou em contato com a pele descoberta de Alexia, a garota mais velha se assustou por um momento, tão imersa no que estava fazendo que mal ouviu os passos da mais nova. Logo, Gisèle estava apoiando o queixo no ombro esquerdo de Alexia e envolvendo os braços em volta da cintura dela, olhando para o que ela havia preparado.

Havia café na prensa francesa e suco de laranja em uma pequena jarra, tudo disposto no balcão da cozinha. Pão com tomate, ou "Pa amb tomàquet", como eles chamavam na região catalã, que era basicamente o café da manhã tradicional por excelência na Espanha. Um prato simples, mas delicioso, consistindo de pão torrado esfregado com alho fresco, azeite de oliva e sal, coberto com tomates cereja. Às vezes, os tomates eram servidos como molho em uma panela separada, misturados com alho, e outras vezes já vinham montados no pão. Alexia os havia deixado separados em um prato, o suficiente para duas pessoas, junto com huevos rotos, que eram basicamente ovos mexidos com azeite de oliva, sal e ervas frescas.

— Parece delicioso — Gisèle murmurou.

— Eu não tinha certeza do que você costuma comer no café da manhã, então fui pela opção segura — disse Alexia.

— Sinceramente, não sou tão exigente — confessou a garota mais nova. Ela realmente não era, mas com a gravidez, havia muitas coisas que começaram a deixá-la enjoada. Gisèle odiava e achava terrível ter que abrir mão de certos sabores porque de repente eles a faziam querer jogar tudo para fora. Quanto ao que Alexia fez, elas estavam realmente em um espaço seguro. Torrada com tomate, ovos mexidos e suco de laranja parecia a escolha certa, e Gisèle estava com muita fome. Na verdade, ela não tinha percebido o quanto estava com fome até aquele momento.

— Você dormiu bem?

— Eu desmaiei completamente logo depois de você — ela disse, e pôde sentir o sorriso de Alexia. Gisèle se afastou gentilmente, e sem realmente querer, sua mão acabou correndo ao redor da cintura da garota. Seu olhar caiu logo depois, e então ela notou os desenhos dispostos na pele de Alexia. A maioria deles eram em linhas finas e pequenas figuras. Havia uma lua, uma pena, um raio, o que parecia ser o olho de Hórus, mas metade do desenho estava coberto por parte do tecido do top. Um pouco mais abaixo, haviam traços do que parecia ser um homem segurando um bebê, e Gisèle imaginou que era Alexia com seu pai. E então, bem ao lado, uma pequena flor dentro de um quadrado, com "Made In" logo acima — O que isso significa?

Gisèle apontou para a flor, mas Alexia não tinha ideia de sobre qual tatuagem ela estava falando. Havia mais coisas ali do que ela conseguia se lembrar, e embora algumas tivessem significado, a maioria estava ali porque ela as achava bonitas. Ela tinha feito a primeira ao 18 anos, e era a que menos gostava, mas então haviam aquelas como "Labor omnia vincit improbus", que significava "o trabalho conquista tudo" e outras frases como "ad maiora" e "alea Iacta est." Tinha também a Hamsá gigante em seu pé, que era basicamente para proteção, e os três triângulos em seu braço, que era uma tatuagem que ela tinha feito com duas de suas melhores amigas de infância. E claro, haviam aquelas tatuagens ligadas ao futebol, como o número 11 em seu pulso e uma garotinha jogando futebol em seu tornozelo. Ela tinha desenhos da época em que namorava, e eles significavam algo também, mas sobre isso ela não estava realmente assumindo nada.

— Do que você está falando?

— Da florzinha dentro do quadrado — Gisèle especificou.

Alexia terminou de mexer a pasta de abacate que tinha feito em uma tigela pequena, e arrastou-a para o lado dos pratos, antes de se virar e pegar as mãos de Gisèle, entrelaçando seus dedos com os dela. O olhar da inglesa caiu sobre o corpo da jogadora, quase por acidente, mas se ela percebeu, acabou não dizendo nada. Isso porque, na verdade, ela também estava prestando atenção na vista diante dela.

O cabelo de Gisèle estava preso, mas de forma desleixada. Ela não estava mais usando a camisa branca da noite anterior, mas a camisa do Barcelona que usara para assistir ao jogo, e um short que definitivamente era de Alexia.

— Você é linda — disse a mais velha com uma voz um pouco baixa e um sorriso nos lábios.

— E você não respondeu minha pergunta — disse Gisèle, mas ela não conseguiu evitar e deixou um esboço de sorriso surgir em seu rosto.

— Ah, certo... — Alexia balançou a cabeça gentilmente — A flor no quadrado. Bem, é uma 'Flor de Barcelona', e tem toda uma histórias, mas o resumo é, ela foi projetada em 1926 pelo arquiteto Josep Puig I Cadalfach. Você encontra esse padrão pelos azulejos da cidade. Quando a fiz, eu queria fazer algo que me lembrasse de Barcelona, ​​mas não queria o nome em si ou então a bandeira. Eu queria algo que significasse alguma coisa, mas que talvez nem todo mundo entendesse. Foi quando eu tive a ideia de tatuar o padrão do azulejo, e, bem, é meio que meu azulejo preferido.

— Você é a primeira pessoa que conheço que tem um azulejo preferido — as mãos de Alexia deixaram as de Gisèle, apenas para encontrarem o caminho até sua cintura. Os braços da mais nova subiram até estar ao redor dos ombros de Alexia, e logo elas estavam se abraçando, com o rosto de Gisèle enfiado no pescoço de Alexia, e a mão direita da jogadora subindo pelas costas de Gisèle, por baixo da camisa, que era a única peça que ela usava na parte de cima.

— Bem, quando até o chão da cidade conta alguma história, é um pouco difícil não ter — ela disse, no que quase saiu como uma sugestão — Eu queria que você tivesse mais tempo, então eu poderia te levar até a rua onde estão todas as lojas de grife. No lado direito dessa rua, indo para o centro, entre a Gran Via e a Diputació, tem alguns dos últimos azulejos originais de Gaudí em Barcelona, ​​e não tão distante dali, tem os azulejos originais da Flor de Barcelona, ​​bem na entrada da Casa Amatller.

— Eu poderia ficar — Gisèle murmurou contra o pescoço de Alexia, e a mais velha não quis se animar tanto com a possibilidade, apenas no caso de não se concretizar.

— Mesmo?

— Alguns dias — ela se afastou, para olhar nos olhos de Alexia — Eu ainda preciso estar em casa para a minha próxima consulta, mas isso é em pouco menos de duas semanas. Tem também o fato de que eu não fiz nenhuma mala, já que a ideia era vir e voltar, então eu preciso de roupas.

— A gente pode resolver isso — Alexia foi rápida em dizer — Podemos fazer algumas compras hoje, ou você pode sempre usar minhas roupas. Eu acho que elas ficam melhor em você de qualquer forma.

Gisèle sorriu.

— Você não tem que ir para o CT? — ela perguntou.

— Sim, bem, não vou passar o dia inteiro lá, você sabe — Alexia deu de ombros, mas logo um pensamento passou por sua mente e Gisèle reparou apenas pela maneira como seu olhar mudou — Mas também, eu posso pedir para que minha irmã te faça companhia. 

— Eu realmente não quero incomodar. Acho que consigo me virar sozinha.

— Não, não... — balançando a cabeça negativamente, Alexia continuou — Ela vai adorar, eu tenho certeza. Então, quando eu voltar, podemos sair para jantar ou pedir qualquer coisa aqui mesmo e então ter uma noite mais calma. Você decide.

*

— Acho que não entendi — Mapi parou o movimento na bicicleta ergométrica e olhou para Alexia, ainda imersa no exercício — Vocês confessaram uma a outra que estão apaixonadas e então decidiram fazer um grande nada sobre isso? — não era uma pergunta, e Alexia percebeu quando Mapi continuou falando — E então, no dia seguinte, vocês duas acordaram agindo como se fossem um casal dos comerciais de Natal da Campofrío?

— Não é que decidimos não fazer nada sobre isso — Alexia levantou a mão direita, gesticulando — Tivemos uma conversa honesta, e muito bonita, na verdade. Ela reconheceu que não está pronta para um relacionamento e eu disse que as coisas têm sido tão intensas ultimamente que talvez eu não seja a melhor parceira para se ter agora. Você sabe, eu estava em um lugar estranho quando terminei meu... Meu último namoro.

— E então... — Mapi a encorajou a continuar.

— Nós vamos conversar novamente depois do verão — Alexia deu de ombros.

— Você vai esperar até o verão?

— Depois do verão.

— E vocês vão continuar sendo amigas durante esse tempo?

— Bem, espero que sim. Quero dizer, nada mudou de verdade, Mapi.

— Ok, ok... — Mapi assentiu — Ela sabe que você tem o training camp da seleção durante o verão?

— Por que ela saberia?

— O bebê — Mapi disse como se fosse óbvio, e ganhou uma expressão confusa da amiga em resposta — Se ela está entrando no segundo trimestre, ou entrou, bem, o bebê vai nascer no verão.

— Acho que você espera que isso faça sentido para mim, já que está me olhando como se eu fosse uma idiota.

— Depois do verão, quando você finalmente se comprometer com sua namorada... — Mapi fez questão de dizer isso só para irritar a amiga, mas não lhe deu espaço para dizer nada em resposta, levantando a mão — Não, não, não. Deixe-me terminar. Depois do verão... quando isso acontecer, você também será una mami, então é óbvio esperar que você tenha planos de ver o frijolito.

O apelido dado ao bebê não passou despercebido aos ouvidos de Alexia, mas ela fingiu não reparar.

— O passo que você deu agora foi assustador.

— Ela vai ser mãe, Alexia — Mapi voltou a apontar.

— Não vou pensar nisso.

— Se você quiser ficar com ela—

— Não vamos falar sobre isso até o fim do verão — reforçou Alexia — E eu vou estar ocupada durante esse tempo, então provavelmente passarei o verão longe dela.

— Provavelmente — Mapi murmurou — Mas quando você estiver largando tudo para ir ver o bebê nascer, eu realmente vou gostar de dizer que eu vi isso acontecer. Provavelmente vou dizer coisas como "eu avisei" ou "eu sabia" e depois ir com você, porque sou uma grande amiga e eu sei como você dirigi terrivelmente quando tá nervosa.

— Você é tão absurdamente irritante, María — Alexia revirou os olhos, mas Mapi não levou isso a sério. Pelo contrário, ela olhou para a amiga e riu, antes de retomar o ritmo da bicicleta.

— Você usou meu nome completo — disse a garota antes de levantar as mãos por um momento — Acho que parei aqui.

Mapi decidiu que pararia realmente, pelo menos por enquanto. O silêncio entre ela e Alexia cresceu, mas o ambiente ainda estava tomado por vozes, das outras garotas em recuperação, na sala aberta e espaçosa que parecia pequena demais com tanta falatório.

Como o dia seguinte a um jogo, e sendo o time feminino do Barcelona uma equipe de um esporte de alto rendimento em uma temporada em que estava definitivamente na disputa para todos os títulos possíveis, com tantas partidas naquele espaço de quase dez meses, elas precisavam estar prontas para a partida seguinte o mais rápido que pudessem estar. Normalmente, no mínimo, eram menos de quatro dias entre cada uma das partidas, e funções como a de preparador físico, médico, fisiologista, psicólogo e nutricionista trabalhavam sem descanso por esse tempo. Com isso, de certo modo, eles também tinham se tornado gestores de elencos. Ainda mais quando as partidas eram tão intensas. 

A cada fim de jogo se iniciava então um verdadeiro ritual, em que a massagem se misturava com processos de compressão muscular, liberação de toxinas, relaxamento, hidratação e alimentação. Nos minutos seguintes ao apito final, a recuperação já começava para aquelas que não tinham tido lesões. As atletas, assim que entravam no vestiário, normalmente utilizavam a crioterapia, juntamente com ingestão de líquidos, carboidratos e proteínas. Algumas precisavam fazer massagem assim que encerravam o jogo.

No dia seguinte, o processo de recuperação tinha continuidade. Essas 24 horas iniciais eram determinantes para a boa recuperação. Por isso, naquela tarde, Alexia tinha sido submetida à liberação miofascial e depois à bota de compressão e descompressão, e então ela deu a início a segunda parte da recuperação ativa, na bicicleta ergométrica ao lado de Mapi. Depois, partiu para massagem e banheira quente. 

Quando Alexia se trocou para ir embora, e alcançou sua mochila e uma pequena nécessaire, Mapi estava a esperando na saída do vestiário, de braços cruzados, com sua mochila nas costas e óculos escuros no rosto.

— Por que os óculos? — Alexia apontou, e continuou andando. Mapi apressou o passo para ficar ao lado dela.

— Eu simplesmente fico muito bem usando eles — ela sorriu de lado, e apertou as laterais da mochila — Ei, eu estava pensando-

— Que perigoso.

— Aha — Mapi fingiu uma risada — Você é tão engraçada, Ale.

— Eu tento — Alexia sorriu falsamente na direção da amiga.

— Voltando ao que eu estava dizendo, o que você acha de sairmos para jantar hoje à noite?

— Eu deveria fazer isso com Gisèle.

— Ela não saiu com Alba?

— E já devem ter voltado.

— Bom, ligue para ela — disse Mapi — E para sua irmã também, claro.

— Ok, mas para onde estamos indo? E quem mais você chamou?

— Até agora só você, mas eu vou mandar uma mensagem para Patri.

— E o resto das meninas?

— Quer ligar para todas? — perguntou Mapi, e Alexia soube na hora que ouviria algo engraçado quando um sorriso surgiu nos lábios da garota — Eu não sabia que você e sua namorada já estavam nessa fase, conhecendo todas as suas amigas e colegas de trabalho.

A garota mais nova perdeu o equilíbrio ao receber um empurrão consideravelmente forte de lado, mas o sorriso continuou nos lábios. Ela e Alexia chegaram aos seus carros, estacionados um ao lado do outro, e Mapi viu a amiga abrir a porta de trás e deixar suas coisas lá.

— Você não disse para onde estamos indo — disse Alexia, com a porta do motorista aberta, pronta para entrar.

Mapi já tinha se virado, e estava do outro lado do carro, olhando para Alexia por cima do carro. Ela pensou por um segundo, porque realmente não tinha uma ideia em mente.

— Te mando uma mensagem quando decidir — Mapi se preparou para entrar no carro, mas Alexia a impediu.

— Na verdade... — ela disse — O que você acha do La Bombeta?

— Você quer jantar lá?

— É, bem... É familiar e não é tão cheio — Alexia percebeu que a escolha era acertada porque a chance de Gisèle chamar atenção ali provavelmente era mínima, e conhecendo Mapi, ela provavelmente escolheria um daqueles restaurantes superlotados. Gisèle não parecia o tipo de pessoa que se importava com atenção, mas se Alexia pudesse manter seu tempo em Barcelona o mais normal possível, então ela o faria.

— Ok — a mais nova assentiu — Nos encontramos às oito.

Alexia assentiu e entrou no carro. Ela saiu antes de Mapi, e aproveitou o caminho até a saída do estacionamento para usar o celular e enviar uma mensagem para Gisèle, perguntando se ela já tinha chegado em casa.

A resposta foi não, mas ela não estava longe.

Gisèle tinha saído pouco antes do almoço, logo depois que Alexia saiu de casa na direção de Sant Joan Despí. A irmã da jogadora a pegou e, juntas, elas dividiram um táxi para Sarrià, uma área linda, verde e agradável nos arredores de Barcelona, ​​​​pouco antes de chegar às colinas do Parque Nacional Collserola. Não era tão longe da casa de Alexia.

Acima do distrito de Eixample, o distrito de Sarrià-Sant Gervasi era uma das áreas residenciais mais agradáveis ​​de Barcelona, ​​​​mas um pouco cara quando se tratava de lojas de roupas. De qualquer forma, era o lugar para fazer compras quando se tratava de alguém como Gisèle. Isso não passou despercebido por Alexia e não escapou à atenção de Alba, mas a garota realmente se importava com o que vestia, de mesmo modo ela não se importava com o quanto estava gastando quando se tratava de seu próprio visual. Na verdade, uma das coisas mais divertidas para ela era comprar roupas novas. Se ela pudesse sair todos os dias, todos os dias, apenas para montar visuais diferentes, estaria fazendo isso. Apesar de um Stylist, o street style de todos os dias era coisa totalmente dela.

Então Gisèle levou sua carteira para a Carrer Major em Sarrià e explorou algumas das ruas laterais que estavam cheias de pequenas boutiques vendendo roupas. Ela entrou em lojas locais e em lojas de luxo. Ela também parou em lojas que realmente gostava, como a CK — que era basicamente a única marca da qual ela comprava roupas íntimas, além da Savage X Fenty — e passou um bom tempo em uma Bottega Veneta antes de entrar em outro táxi e seguir para o Paseo de Gràcia. Ela não tinha ideia de quanto tempo exatamente ficaria em Barcelona, ​​​​mas imaginou que não ficaria lá por mais de uma semana, já que tinha que voltar para Londres em 13 dias. E então, tudo o que comprou parecia perfeito o suficiente para ser casual. No caminho para casa, Gisèle recebeu a mensagem de Alexia e percebeu que Alba também havia recebido uma mensagem de sua irmã. No caso dela, ela perguntou o que a mais nova achava de sair para jantar, mas Alba recusou porque já tinha um compromisso. Quando chegaram à casa de Alexia, a mais nova se despediu de Gisèle, mas comentou que elas definitivamente deveriam se encontrar para um café ou qualquer coisa assim.

Alba tinha passado a tarde toda pensando em perguntar o que estava acontecendo entre Gisèle e Alexia, mas guardou para si, porque ela estava realmente deixando o questionamento para sua irmã. Eli também havia mencionado isso, depois da noite anterior. Se Alexia estava tentando não ser óbvia, bem, ela estava fazendo um péssimo trabalho. E então, tinha também Gisèle deixando de voltar para Londres, para estender o tempo em Barcelona.

Assim que entrou na casa de Alexia, de uma maneira muito familiar, Gisèle encontrou ela sentada no sofá, com Nala do lado e o barulho baixo da televisão. Aquele parecia estranhamente como o fim de tarde que Gisèle não se importaria de ter por todos os outros dias. Ela estava com algumas boas sacolas nas mãos, e Alexia não precisou de mais que um segundo para se levantar e ajudar a garota com tudo aquilo. Algum tempo depois, elas estavam indo na direção do quarto, com Alexia dando um jeito de achar um espaço em seu armário para que Gisèle pudesse guardar parte daquelas peças.

Alexia comentou que elas estavam saindo com Mapi para jantar, mas deixou claro que poderiam apenas cancelar se Gisèle não quisesse ir. Mas a inglesa se animou para sair, e então, três horas depois, Gisèle estava usando um par de jeans claros e folgados que ficavam bem baixos nos quadris, com um suéter de cashmere branco que parecia um pouco mais leve do que o comum. Os mocassins de couro preto com meias cinza somaram para a estética mais casual que Gisèle estava buscando, mas os outros acessórios dela — os anéis de prata, os beaded bracelets, e o colar que nunca tirava por nada, com um pingente minúsculo que carregava o símbolo de gêmeos - eram um pouco mais "boho" para a noite.

Por outro lado, Alexia saiu do banheiro com um par de calças pretas e uma jaqueta combinando. Ela também estava usando uma camisa em cor marfim e tênis Nike Dunk Low, preto e branco. Seu cabelo estava como na maior parte do tempo realmente ficava. Solto. Gisèle tinha reparado que ela apenas o prendia quando entrava em campo, fosse para um jogo ou então para os treinos. Mas a inglesa a adorava daquele jeito, com o cabelo levemente bagunçando. Ainda mais quando o cor dos fios de Alexia era tão única. Ela tinha os cabelos castanhos, mas um tom mais claro que em contraste com seus olhos ficavam absurdamente bonitos, e isso Gisèle reconheceu.

A garota mais nova parou na frente do espelho pendurado no corredor que levava para o quarto de Alexia. Ela tinha optado pelo rosto sem maquiagem alguma, como tinha se acostumado pelos dias anteriores, e os cabelos estavam soltos, com mais volume que o normal. Gisèle se olhou no espelho sem realmente saber o que estava olhando. Ela parecia, honestamente, muito bem consigo mesma, mas então, sem nem mesmo registrar, sua mão acabou se arrastando até seu abdômen, entrando por baixo da blusa e sentindo a barriga que parecia consideravelmente mais aparente.

Alexia deixou o quarto a tempo de pegar o momento, e então ela parou na porta, interrompendo o passo seguinte, e o olhar de Gisèle caiu nela.

— Tudo bem? — a mais velha disse, só para ter certeza, porque parecia difícil entender o que realmente Gisèle poderia estar pensando, e ela não estava querendo assumir nada.

— Sim — ela assentiu — Apenas... É estranho ainda.

— A ideia de ter alguém se formando dentro de você?

— Algo assim — Gisèle deu de ombros — Meu corpo está mudando mais rápido do que pensei que mudaria — ela continuou, um pouco incerta sobre como se sentir diante disso.

Gisèle tinha ganhado algum peso, e ainda que muito pouco, era o bastante para que tivesse notado isso em si mesma. Seus seios também tinha aumentado um pouco de tamanho, e eles estavam mais sensíveis e doloridos. Apesar disso, ela não podia dizer que estava descontente consigo mesma.

— Você continua perfeita. Ainda mais, na verdade — Alexia falou, e ganhou um sorriso de Gisèle. Ainda apoiada na porta, ela acenou na direção da barriga da garota — Eu posso ver?

Gisèle levou um momento para registrar o que Alexia estava pedindo, mas quando ela entendeu, apenas assentiu e levantou o suéter, deixando à mostra sua barriga. Prestes a entrar na décima quarta semana, quase imperceptível com o suéter e todas as roupas mais cheias que Gisèle vinha usando por conta do tempo, mas claramente aparente quando não havia nada cobrindo sua pele.

— Agora que passei do primeiro trimestre... — Gisèle começou — Estou um pouco mais ansiosa para que os próximos meses passem ainda mais rápido.

— Eu imagino — Alexia murmurou, ainda que não, ela não conseguia imaginar realmente. A sensação era diferente para Gisèle, sem dúvidas — Você acha que é o quê, um menino ou uma menina?

— Não tenho ideia — a garota suspirou suavemente — Eu sei que as pessoas dizem que, normalmente, a mãe sempre sabe, mas eu não faço ideia, mesmo. Ainda assim, se estou sendo honesta... — ela deu de ombros — Espero que seja uma garota, mas não estou descobrindo isso antes da décima sexta semana. A obstetra disse que é quando podemos fazer isso e ter uma confirmação certa — explicou Gisèle.

— Uma garotinha com seus olhos... — o comentário de Alexia foi o mais honesto que poderia ser, e ela realmente imaginou a cena — Parece certo.

*

Mapi, Patri, Jana, Graham, Aitana e algumas outras garotas do Barcelona receberam Gisèle da forma mais normal que ela poderia ser recebida. Sem a ideia de que ela era quem ela era, e sem a estranheza que geralmente vinha com as pessoas não sabendo como tratá-la, como se ela estivesse em sua própria bolha, para ser observada.

Tirando as outras garotas que Gisèle conheceu no dia anterior, no jantar depois do jogo, a maioria do time ainda não a conhecia pessoalmente, além de sua imagem nas telas do estádio e todas as matérias que saíram desde o dia anterior, com portais de notícias de celebridades e portais de esportes, repetindo que Gisèle esteve no jogo do time feminino do Barcelona, ​​e depois anexando todas as fotos que tiraram dela no momento. Uma em particular, logo após o gol de Alexia, ela realmente parecia a fã mais dedicada do time catalão.

Aquela era primeira vez de Gisèle no La Bombeta, um bar em La Barceloneta, mas não era a primeira vez para o resto das meninas. Havia um garçom que as conhecia, e elas conseguiram uma mesa sem ter que esperar os 20 minutos que normalmente levava para um espaço abrir. Embora menos movimentado do que outros restaurantes, o lugar tinha sua cota de clientes, e o fato de ser pequeno não ajudava muito na espera, especialmente quando você adicionava que eles não aceitavam reservas.

O menu estava coberto com uma imagem de um balão de ar quente com um cara sorridente e simpático balançando o que parecia ser a conta, e escrito na parte inferior do papel estava "no aceptamos tarjetas de crédito" com um gráfico de cartão Visa riscado. Havia também uma placa nas paredes, que parecia amigável o suficiente, mas um pouco agressiva: "no hablamos inglés pero hacemos unas bomba cojonudas" ("nós não falamos inglês, mas temos bombas incríveis").

A mesa pediu bombetas, que eram como bolinhos de arroz arancini italianos, exceto que essas bolinhas — na verdade, croquetes — eram feitas com purê de batata e carne de porco e servidas cobertas com o mesmo molho levemente picante usado em patatas bravas e uma versão fina de maionese de alho. Gisèle lembrou que havia comido uma bombeta pela primeira vez um ano antes no Mercado Little Spain, em Nova York, onde o famoso chef Albert Adrià havia colocado o prato supostamente de origem barcelonesa no menu. A versão de La Bombeta era boa. Pelo menos se destacou por ser boa para o paladar da inglesa, já que era um prato bem feito. Mas o jantar não foi só disso, e elas também pediram um segundo prato, enquanto aquelas que estavam bebendo pediram vermute com gelo. Para sobremesa, todos acabaram escolhendo crema catalana, e Gisèle seguiu o exemplo porque queria experimentar como seria a versão de um restaurante de bairro do crème brûlée.

Durante o jantar, Gisèle sentiu a mão de Alexia em sua perna. Ela a deixou lá, e simplesmente ficou, como se fosse um hábito e a jogadora estivesse confortável o suficiente para mal notar. E Gisèle não se importou. Ela, que tinha Mapi do outro lado, reservou um tempo para conversar com a garota que se apresentou como a "melhor amiga" de Alexia no dia anterior e ganhou um revirar de olhos da própria Alexia quando o fez. Do outro lado, a meio-campista se viu conversando com Vicky e Patri e então Jenni se juntou a ela. Com tantas pessoas na mesa - pelo menos metade do elenco - houve conversas separadas e um pouco mais de barulho do que no resto das mesas.

Mais tarde, Mapi pediu a conta, e o garçom, que tinha saído para fumar um cigarro, levou pelo menos trinta minutos para retornar com ela. Gisèle queria ser legal - ou talvez ela realmente quisesse agradar e causar uma boa primeira impressão - e comentou que poderia pagar por todas, mas Alexia a impediu antes que ela pudesse fazer isso, insistindo que elas dividiriam tudo sem problemas.

Eram onze da noite, ou um pouco mais tarde, quando Alexia voltou para casa, mas não sem aturar as tentativas de Mapi de irritá-la. Desde o tempo em que Gisèle esteve com elas, já estava bem claro o quão próximas as duas realmente eram. Não que Alexia não tivesse um relacionamento próximo com todas as outras garotas do elenco, mas Mapi parecia mais sua irmã do que qualquer outra coisa. E, Gisèle também notou, a linguagem de amor delas era exatamente essa, uma irritando a outra o máximo que podiam. Da mesma forma, quando saíram do restaurante, estavam andando de mãos dadas como duas crianças, brincando na frente enquanto Gisèle caminhava logo atrás, conversando com Mariona.

A maioria das meninas seguiu seus caminhos separados, mas elas pararam para se despedir antes de entrarem em seus carros e táxis que tinham chamado no local. Alexia ofereceu uma carona para Patri, mas ela disse que voltaria com Mapi, já que elas iriam pelo mesmo caminho de qualquer maneira. Antes de se despedir, Mapi perguntou o que Gisèle achava de ir para o jogo da equipe masculina do Barcelona no dia seguinte, contra o Granada. Alexia nem sabia que ela tinha esses planos, mas quando Gisèle pareceu - estranhamente - animada para o novo compromisso, a mais velha entendeu que todas elas tinham planos.

No dia seguinte, elas estavam de volta ao Camp Nou.

— Vocês estão dormindo juntas? — Mapi perguntou quando ela e Alexia caminharam de volta para os lugares onde estavam sentadas, onde Gisèle, Marc - um amigo de infância de Alexia - Jana, Jenni e Alba estavam. As duas tinham um bocado de coisas nas mãos, em apoios de copos feitos de papelão, para comportar tudo. Cerveja sem álcool para Mapi e Marc, soda italiana de morango para Gisèle e refrigerante para as garotas. Alexia havia tomado um copo de café enquanto esperava na fila para pegar os sanduíches - um de queijo fresco para Marc e outro de frango e brie para Alba. Mapi estava segurando, além das cervejas, uma caixinha pequena com anéis de cebola e alguns palitinhos de queijo.

As duas não tinham chamado atenção, o que era como o esperado. Gisèle também conseguiu passar despercebida, por enquanto. Claro, elas estavam em um box mais acima, mas ainda em meio a parte da torcida, na verdade, muito perto. Naquele dia, diferente de duas noites atrás, não tinha imagem nos telões e nem gravações que talvez acabassem em um segmento da BBC Sport com dois apresentadores se questionando o que a estrela pop mais comentada do UK estava fazendo em um jogo do Barcelona. Isso aconteceu no jogo do time feminino.

— Em que sentido?

— Exatamente no sentido que você pensou — Alexia revirou os olhos escutando Mapi.

— Não estamos dormindo juntas.

— E no outro sentido? — a mais nova levantou as sobrancelhas por um momento, mas logo voltou a expressão atenta, focada em fazer o caminho de volta em meio a tanta gente.

— Eu só tenho uma cama, Mapi.

— Mas o sofá- — a garota se interrompeu quando virou o rosto e encarou Alexia, que já a encarava — Ok, ok, eu parei — ela murmurou — E como ela está?

— Com isso?

— É.

— Confortável — Alexia deu de ombros — Não estaríamos dividindo o mesmo espaço na cama se ela estivesse desconfortável. Além de que-— Alexia se interrompeu, e Mapi sentiu uma curiosidade tomando conta de si imediatamente. Ela imaginou que a próxima coisa que escutaria seria boa o bastante, e terminou sorrindo imaginando.

— Além do que o quê?

— Não vou falar nada — Alexia murmurou, baixo, mas alto o suficiente para que Mapi escutasse, apesar de todo o barulho, porque elas estavam de ombros praticamente colados, para não se separarem no caminho de volta.

— Ale... 

— Não, María.

— Eu prometo que não vou fazer nenhum comentário idiota.

— Metade do que saiu da sua boca foram comentários idiotas.

— Você me odeia mesmo — Mapi revirou os olhos.

— Eu nem ia dizer nada de importante — Alexia desconversou.

— Isso não funciona, você ia falar algo importante sim.

— Não, era só que... — a mais velha suspirou, e sem realmente se controlar, no instante seguinte estava abrindo a boca — Eu durmo melhor com ela.

— Você quer dizer que dorme com ela, né — Mapi disse — Porque você não dorme nunca, Ale.

— Bem, eu durmo — ela falou — Só não tão bem quanto deveria, mas com a Gisèle é realmente mais fácil.

— Acho que ela vai precisar ficar o resto da temporada por aqui.

— Mapi... — Alexia encarou a amiga, e a viu sorrir.

— Você tem que descansar, Ale — Mapi falou, não exatamente sério, mas ainda assim dizendo uma verdade — Tá, falando sério agora, é fofo que você gosta dela o bastante para dormir.

— Como se dormir não fosse uma necessidade.

— Para você ver o que estou tentando dizer aqui.

As duas ficaram em silêncio logo depois disso, porque Alexia avistou Gisèle onde elas tinham se acomodado, parecendo extremamente animada enquanto conversava com Jenni, e sem realmente registrar na própria mente, a jogadora apressou o passo até estar se enfiando entre elas, ocupando seu assento, e fazendo com que Jenni voltasse para a cadeira ao lado. Se Gisèle reparou o quão exasperada Alexia parecia, ela não disse nada, mas Mapi encarou a amiga e só não abriu a boca para perguntar nada sobre o que ela tinha visto porque havia mais gente ali.

Quando todo mundo se acomodou, Alexia deu uma olhada ao redor, apenas para reparar como tinha alguns olhares naquela direção. Mais especificamente em Gisèle, e logo não parecia uma surpresa. Ela não tinha feito questão de se esconder, apesar de estar segura, agindo como se a noite fosse normal e ela não fosse ela. Mas Gisèle parecia descolada sem esforço e era muito difícil não a ver quando ela era tão... ela. Em tudo. Até na maneira de se vestir. Naquela noite, Gisèle tinha saído com calças cargo oversized que pendiam baixas em seus quadris, regata canelada, e por cima, tinha se enfiado em um longo casaco de couro Zadig & Voltaire, antes de finalizar o conjunto com mocassins de sola de lug. Sem camisa do Barcelona para aquele jogo. Diferente de Alexia, que estava com um casaco de treino com o brasão do time, e usando uma touca preta nos cabelos soltos.

O jogo tinha começado devagar, mas deixando os primeiros dez minutos para trás, Griezamann abriu o placar. Messi, que estava em campo, não teve tanto volume de jogo como costumava ter, mas ele foi genial quando necessário, e foi decisivo. Isso o rendeu dois gols. Pouco depois do início do segundo tempo, ele foi para o banco descansar, e Griezmann marcou novamente para vencer o Granada. O estádio então ganhou essa atmosfera única.

Deixando o Camp Nou, Alba se despediu, enquanto Jenni ofereceu carona para Jana que, sem ainda um carro, parecia pronta para chamar um veículo através de um aplicativo. Mapi, por outro lado, comentou que estava indo para o Marsella, um bar em El Raval. Marc se despediu também, mas Alexia perguntou o que Gisèle achava de fazer companhia para Mapi, coisa que surpreendeu a garota de Saragoça. Alexia nunca parecia tão sociável, indo a tantos lugares durante a semana como estava fazendo naqueles últimos dias. Mas, de qualquer forma, no dia seguinte, ela teria as 24h livres, então queria apenas ter certeza de que não estava prendendo Gisèle ao espaço de sua casa sem realmente muito para fazer. Além disso, Marsella era um espaço divertido, e Barcelona era linda. Somado a tudo isso, El Raval era, definitivamente, um bairro para se ver.

O bar tinha sido inaugurado em 1820 em El Raval e era considerado o primeiro bar de Barcelona. Havia esses rumores de que todos, de Picasso a Hemingway, tinham sido frequentadores em algum momento da vida do lugar. Paradoxalmente, enquanto a sujeira nos lustres parecia mais espessa, e os ladrilhos do piso ficavam ainda mais esfarrapados, com as teias de aranha em cada canto se espalhando ainda mais, o Marsella parecia ficar mais bonito. Talvez porque fosse curioso e divertido, uma mistura de boêmios locais e turistas curiosos que gostavam de beber enquanto algum cantor desconhecido tocava, com as portas do lugar abertas e jovens perdidos se divertindo do lado de fora. Aquele era exatamente o coração do submundo vulgar da vida noturna de Barcelona, ​​​​e pouco tinha mudado desde o século passado.

Apesar disso, o lugar não era perigoso, e com o Marsella consideravelmente movimentado, havia gente também bebendo do lado de fora. E como se o espaço por si só já não fosse algo, o gerente de bar estranho que estava na porta fumando era muito carismático.

Todo mundo parecia amigável, e um grupo de desconhecidos recebeu Mapi, Alexia e Gisèle em um arranjo de três meses quando viu elas se ajeitarem sozinhas em um canto do outro lado do bar. Todos altos o bastante para que não reparassem quem Gisèle era, ou se tinham o feito - o que não parecia difícil - pelo menos não disseram nada sobre.

Mapi bebeu uma dose de Uísque, e parou por aí. Nada de Álcool para Alexia e Gisele. Mas, independente disso, a conversa entre o grupo fluiu bem, e havia música a todo momento. Quando o set acústico e desajeitado se despediu do Marsella, outro som tomou conta, e logo havia um bocado de músicas mais velhas tocando, uma atrás da outra.

Em algum momento da noite, talvez no início da madrugada, Alexia tinha se esgotado completamente enquanto Mapi e Gisèle pareciam ter espaço para mais pelo menos quatro horas de conversa com pessoas que elas mal conheciam. Então, Alexia apenas murmurou na direção da amiga que estava indo embora, e depois se virou para comentar o mesmo com Gisèle, pronta para implorar que elas realmente fossem embora, se isso acabasse sendo necessário. Coisa que não foi.

Chegar em casa talvez significasse se preparar para dormir e realmente o fazer. Mas isso não aconteceu.

Gisèle tinha acabado de deixar o banheiro, com o cabelo preso e usando uma camisa preta que era grande demais para que fosse realmente dela. Ela estava com um short mais leve por baixo, e encontrou Alexia com os cabelos molhados, usando uma calça de pijama e um top de treino, sentada no banco alto frente a bancada da cozinha, se servindo de uma xícara de café. Às duas da manhã.

Alexia observou Gisèle surgindo no corredor e riu suavemente quando a viu dar a volta e afundar o rosto em seu pescoço. A mais velha quis melhorar o contato e se afastou por um momento, apenas para girar o banco com o corpo e envolver Gisèle num abraço, a acomodando entre suas pernas.

O speaker inteligente que Alexia tinha ali na cozinha - assim como tinha outro na sala e mais um no quarto -, estava ligado. Ela tinha deixado uma playlist aleatória no Spotify logado, e Gisele ouviu a música que soava baixa. London, Luck & Love de Daryl Hall e John Oates. Quase parecia proposital, mas de maneira honesta, Alexia não tinha ideia de que aquela música existia até aquele momento, e mesmo com ela tocando, sua atenção estava realmente em outro ponto. Especificamente, na garota que tinha se acomodado muito bem em seus braços.

Gisèle cantou baixinho, mas contente, contra o pescoço de Alexia a letra que conhecia muito bem, antes de afastar o rosto para a olhar. Logo ela tinha as mãos mais para cima, uma em cada lado do rosto de Alexia. A mais velha pensou, por um momento, o que seria se inclinar e apenas a beijar. Elas estavam tão perto que mal tomariam um segundo para que fizessem aquilo. Mas Alexia apenas sorriu gentilmente, antes de puxar a mão direita de Gisèle para si e beijar seu dorso com carinho.

— Posso perguntar algo?

— Depende — Alexia disse — Eu vou ser capaz de responder?

— Muito provavelmente.

— Então, pergunte.

— Quando você me contou sobre sua ex-namorada, você comentou que ela trabalhava com você — Gisèle partiu — Você estava falando da Jenni, não estava?

— Gisèle...

— Eu não quero deixar isso estranho — ela garantiu, e a mão que ainda estava no rosto de Alexia caiu para o seu abdômen. Ela arrastou os dedos contra a pele de Alexia, da maneira mais carinhosa que poderia ter feito isso, e a garota se arrepiou — Apenas responda, Ale.

— Ok — a mais velha suspirou — É... Eu estava falando dela.

— Por isso você parecia tão tensa quando me viu falando com ela hoje — Gisèle assumiu, e Alexia se viu irritada consigo mesma, por não ter conseguido disfarçar tão bem o que tinha sentido naquela noite.

— Ela te disse algo?

— Não que tenha precisado — Gisèle deu de ombros — Mas eu acabei perguntando. Você sabe, eu sempre falo antes de registrar qualquer coisa, e minha curiosidade acabou saindo na frente.

— Eu não tinha ideia de que ela estaria lá hoje, assim como não achei que ela iria ontem para o jantar, apesar de Mapi ter convidado todas as garotas — Alexia se sentiu compelida a esclarecer — Ela sempre passa essas coisas.

— Tudo bem. Eu realmente não me importei com isso — Gisèle sorriu de maneira sincera — Ela parece legal.

— E nós não temos nada — Alexia foi rápida em adicionar.

— Eu sei, Ale.

— Quero apenas deixar claro.

— Ficou claro. Independente... Eu realmente gostei dela.

— Bem, ela é uma boa pessoa — Alexia falou — Nós já fomos mais amigas do que somos agora, mas com tudo o que aconteceu... Acho que, não sei, acho que conhecer ela como conheci não deixou muito espaço para mais nada depois que acabou.

— Por quê?

— Porque tudo parece estranho, e enquanto ela consegue levar isso bem, eu não sei fazer o mesmo. É tipo como, se eventualmente a gente parasse de falar, te conhecendo como conheço agora... Se eu te visse de novo, para você talvez fosse a coisa mais fácil de agir como se muito pouco tivesse mudado, mas para mim é muito complicado.

— Isso não é um pouco dramático? — Gisèle disse, mas muito mais para irritar Alexia do que como algo que realmente acreditava como um apontamento. A jogadora revirou os olhos, e apertou com cuidado a cintura da inglesa.

— É sério.

— Eu sei, eu sei — ela continuou — Quem terminou a coisa toda?

— Ela.

— E você ficou bem com isso?

— Eu não era uma boa pessoa para ela no fim do relacionamento, e levei um tempo para entender isso, mas ela me fez enxergar. Quero dizer, ela está mais feliz, e eu também.

— É por isso que você não quer pensar em começar algo agora?

— Você também não quer.

— É, mas não estamos falando de mim.

— Ok, certo. Hm, eu não fui uma boa pessoa para ela, e se tentasse algo, não seria uma boa pessoa para você. Já conversamos, Gisèle.

— Porque tem muito acontecendo — não foi uma pergunta, de qualquer maneira, Alexia concordou.

— Você entende — ela respirou fundo, como se tivesse ficado o último minuto se contendo — Com a Jenni, negligenciei a maneira como ela se sentia porque havia algo mais importante no momento. Trabalho para mim era isso, e ainda é um pouco. É só que... Eu precisei trabalhar mil vezes mais do que o cara menos talentoso da equipe masculina do Barcelona trabalhou só para conseguir o que tenho agora. E em comparação com essa mesma pessoa, isso nem é muito. O último ano, e esse ano, tem sido diferente. É estranho que as coisas estejam andando para mim, e tão rápido. Eu não quero imaginar fazer as mesmas besteiras que fiz no meu último relacionamento. Você sabe. Você merece o melhor que posso te dar, e por agora, sei que o meu "melhor" não é exatamente o melhor que você merece.

— Meu melhor de agora também não é o melhor que você merece — Gisèle disse, com um tom baixo, de uma maneira que pareceu bem mais do que algo por falar. Ela estava sendo especialmente honesta.

— Eu fico feliz que a gente consiga entender isso — Alexia murmurou, antes de se inclinar na direção de Gisèle e mergulhar o rosto em seu pescoço, deixando um beijo ali. Ela passou alguns segundos daquela maneira, mas então se afastou e fixou o olhar nos olhos castanhos da mais nova — Eu sei que somos amigas agora, mas falei sério quando disse que queria dar uma chance para isso quando estívessemos em um momento melhor.

— Eu também falei sério quando concordei — Gisèle falou — Eu tenho minha parcela de complicações, Ale.

— Não exatamente. Ela não é uma complicação — Alexia brincou suavemente, levando a mão esquerda até a barriga de Gisèle.

— Você acha que é "ela"?

— Bem, você espera que sim, então eu estou torcendo também — ela disse — Mas sério, quanto ao que eu disse, é como se você fosse a pessoa perfeita, mas o momento é apenas complicado.

— Para as duas — Gisèle adicionou, e Alexia assentiu.

— Na verdade não quero tornar isso uma bagunça.

A mão de Alexia, que antes estava na barriga de Gisèle, se arrastou até ficar junto a dela. Ela a abraçou, apoiando a mão direita em suas costas, a levando para baixo da camisa, apenas para sentir a pele quente da garota. Depois, Alexia voltou a mergulhar o rosto no pescoço de Gisèle, sentindo ela correr as mãos em suas costas, traçando linhas que apontavam não ter realmente forma alguma. No speaker apoiado na bancada da cozinha, 'Sparks' começou a tocar e dessa vez Alexia reconheceu a música. Então Chris cantou a primeira parte, até chegar em 'mas eu prometo isso, sempre cuidarei de você', e Alexia cantou suavemente junto com ele, muito baixo, e um pouco envergonhada de cantar, mas Gisèle achou angelical quando ela o fez, sentindo a respiração dela contra o pescoço. Talvez ela estivesse apenas cantando a música - mas talvez não tivesse apenas fazendo isso.

— Posso te confessar algo? — Alexia disse, sem levantar o rosto, muito porque se fizesse isso talvez perdesse toda a coragem que tinha achado naquele minuto.

— Claro — Gisèle sussurrou suavemente.

— Nós vamos conversar depois do verão — ela pontuou, e escutou o "aham" da mais nova — E então, depois que fizermos isso, depois que passarmos por cada etapa, depois que eu te levar para um encontro e pedir para que você namore comigo. Bem, depois de tudo isso, eu vou me casar com você — ela disse, tão definitivamente que por um momento, tudo o que Gisèle conseguiu fazer foi piscar, de uma maneira que deixou claro que ela precisou daquele segundo para entender realmente o que tinha escutado.

E ainda assim, mal parecia que tinha mesmo escutado.

— O quê? — ela sussurrou pela segunda vez. Ela nunca tinha realmente falado sobre casamento com ninguém na vida - claro, à parte de um ou outro comentário que tinha ouvido de Luke quando ele ainda achava que ela era o amor da vida dele. Mas então, ela estava ali, com aquela garota que conhecia a pouco mais do que dois meses, a mesma garota que estava dizendo aquelas coisas, e parecendo tão certa enquanto falava. Para quem estava desacelerando tudo, Alexia, especialmente, tinha dado um passo adiante.

Voy a casarme contigo un día. Eu não estou dizendo quando, e não sei como. Eu não tenho um anel perfeito ainda e não tenho um plano de como vou te convencer. Mas eu vou. Mas primeiro, você precisa ser melhor para si mesma, assim como eu preciso ser melhor para mim mesma, para que a gente consiga ser boa uma para outra. De qualquer modo... Estou dizendo isso só para você não fazer outros planos — ela sorriu no fim da frase, e então levantou o rosto e se inclinou para beijar a bochecha de Gisèle algumas vezes. A garota tinha estado um pouco sem palavras, mas logo em seguida, a garota parecia bem como ela mesma.

— Eu acho ótimo que tenha tido um aviso, porque agora sei que vou ter que recusar todos os pedidos de casamento que venho recebendo — ela brincou, e as palavras saíram com um risinho nervoso, o que fez Alexia rir levemente, puxando ela de volta para si , para mesma posição de antes. O rosto no pescoço da inglesa.

— Perfeito — ela murmurou — Realmente ansiosa para quando você for minha.

Gisèle também estava. Ela estava muito contente em ouvir e, honestamente, em bons termos com a ideia daquele futuro.

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