Capítulo 31
Thomas
Havia sido uma noite difícil lá em casa de domingo para segunda. Meu pai não gostou quando eu e Ty chegamos da casa de Lily, mesmo não sendo muito tarde. Mandei Ty correr para o quarto e eu encarei meu pai bêbado pós jogo de domingo. Por algum motivo ele não me espancou, apenas apertou meus pulsos de uma maneira muito forte e gritou comigo.
Apesar de já ter tido dias piores e esse comportamento ser comum, não consegui dormir a noite. Estava um caco na segunda e depois quando Lily foi levada para a direção e não voltou mais, eu fiquei ainda mais inquieto. Catarina também. Ela não entendia como Lily poderia ter se metido em problemas, ela era uma ótima aluna, alegou Catarina.
Eu considerei que talvez tivessem descoberto que fumávamos escondidos. Mas logo descartei a possibilidade. Lily era cuidadosa, não havia câmeras lá perto, e seria impossível pegar apenas Lily e não me pegarem junto.
Mandei mensagens depois da escola, mas ela não visualizava tinha tempos. Porém não consegui evitar olhar o celular de 5 em 5 minutos. Até Ty percebeu.
-Você parece estar esperando a mensagem de alguém importante. É a Lily? Eu gosto dela. Mas definitivamente você gosta mais. Daquele jeito, sabe?
Apenas ignorei o comentário, revirei os olhos e baguncei o cabelo dele. Aparentemente, meu irmãozinho acha que eu estou apaixonado.
Senti algo estranho no meu coração, como um leve aperto de antigas cicatrizes. Lembrei de Amanda e o quanto eu fui machucado da última vez que gostei de alguém. Suspirei.
De fato, eu tinha uma afeição enorme pela Lily, e ela era tão...ela. Ela parecia saber de coisas das quais ninguém sabia, havia sabedoria em seu olhar, mas também havia dor, apesar dela esconder bem às vezes. Eu amava olhar para aqueles olhos castanhos, e queria passar a maior parte do meu tempo com ela porque ela parecia me entender, sem eu ter que falar nada. Mas estar apaixonado...Complicado. A ideia de me entregar para uma pessoa de novo me apavorava. Porém eu estava percebendo que pouco a pouco, Lily conseguia desvendar meu coração e eu não sabia o que fazer para parar. Eu, no fundo, não queria parar.
Meu celular vibrou e peguei correndo na esperança de ser alguma mensagem de Lily, mas não era. Era Catarina.
Foi inevitável minha cara de decepção, mas pelo menos pareciam ser notícias de como a Lily estava. No entanto, Catarina disse que obteve poucas respostas dela, dizendo que ela foi misteriosa e parecia bem triste no telefone. Disse que só poderia nos contar o que havia ocorrido pessoalmente. E me passou o telefone fixo da casa dela, caso eu precisasse conversar, mas disse que era melhor evitar, pois os pais dela poderiam não gostar.
Fui deitar naquela noite disposto ser paciente, apesar da curiosidade. Esperar três dias, apenas.
Acordei na manhã seguinte para ir à escola, desanimado com a ideia de não encontrar a única pessoa que eu me sentia confortável para fumar cigarros e ficar em silêncio. Porém, assim que peguei meu celular para olhar as mensagens, vi uma de um número desconhecido, que particularmente parecia bem agressiva.
Antes que eu pudesse ler a mensagem, vi a foto de perfil. Os cabelos loiros, os olhos verdes, e uma boca fazendo biquinho. Era Amanda, linda e histérica, como sempre.
De alguma forma, ela descobriu meu número novo e me mandou essa mensagem. Ela estava furiosa.
Não sei como, talvez por contato em comum com pessoas que estiveram na resenha do Fruta, ela descobriu que fiquei com alguma garota. (Note: ela claramente não sabe quem foi). O que é extremamente perturbador, já que ninguém sabe que eu beijei Lily, e nem estávamos na casa do Fruta quando aconteceu! No máximo Catarina e Breno descobriram, mas eles não tinham contato com Amanda. Não que eu soubesse.
A única opção plausível seria que aquela garota que ficou dando em cima de mim, fosse alguma amiga dela, e tivesse comentado com ela alguma coisa e conseguido meu número para ela. O que me perturbou ainda mais.
Ela ainda não poupou xingamentos e exageros na mensagem. Me chamando de todos os nomes horríveis possíveis, e ao mesmo tempo dizendo que estava arrependida de ter me traído com o Carlos e por toda a briga que eles tinha armado para mim, e que queria voltar, mesmo eu sendo um canalha e drogado. (???)
A incoerência das suas palavras só ficava pior. Ela disse que sabia a escola que eu estava estudando e que iria me ver hoje mesmo. Estaria lá na porta, me esperando para conversarmos e reatarmos. Ela chegou até falar mal da minha família, que por mais que fosse problemática assim como eu, estava disposta a me ajudar e mudar tudo. Isso tudo, apenas sabendo a versão simples da minha história. Imagina o que ela diria se soubesse a verdade.
A raiva subiu pela minha cabeça. Eu me senti enjoado, quase vomitei. Quase. Fui ao banheiro e joguei água gelada no rosto.
Eu não poderia ir à escola. Não ia aguentar. A pequena parte de mim que ainda sentia alguma coisa por Amanda, pelos momentos bons que tivemos juntos foi apagado no instante que ela falou mal da minha família (meu pai era um babaca, mas ela não sabia de nada para sair falando e metendo minha mãe e meu irmão no meio). Aquela garota era muito problemática e precisava de ajuda. Eu fui cego por ter tido algum relacionamento com ela algum dia. Ela já dava pequenos sinais de histeria, e várias atitudes exageradas quando estávamos juntos, mas quando você gosta de alguém, infelizmente vai colocando os defeitos por baixo do tapete e tenta ver só a superfície bela e macia que a pessoa é.
Mesmo depois de tudo que ela armou para mim, todo aquele plano mirabolante com o Carlos para me fazer ser expulso, eu tentei manter as boas memórias, pois não sou rancoroso, mas já não dava mais. Amanda precisava parar urgentemente e procurar ajuda, antes que fizesse mais uma vítima.
E foi isso que eu fiz, mandei ela procurar ajuda psiquiátrica urgentemente porque ela precisa (o sujo falando do mal lavado) e pedi que me deixasse em paz, da maneira mais educada e pacífica possível. Ela era louca, e por isso mesmo, eu tinha que ter cuidado com as palavras. Mesmo eu a odiando no momento, se ela fizesse algo consigo mesma, eu me culparia.
Bloqueei o número dela e não fui na escola. Tive a ideia brilhante de ir parar na casa de Lily naquela manhã, nem considerando a possibilidade de ser invasivo ou dela estar dormindo. Fiz tudo no calor do momento. Eu precisava da presença dela.
Resolvi levar minha mochila para não levantar suspeitas caso meu pai chegasse subitamente em casa.
Foi fácil chegar lá, Lily morava perto. Não um "perto" a ponto de ir caminhando, apesar de possível. Mas um "perto" facilmente acessível com um ônibus. Só percebi o que estava fazendo quando bati a campainha. Agora não tinha mais volta.
Ela veio correndo em minha direção para atender o portão, diminuiu a velocidade quando me viu, com a expressão surpresa. Ela vestia um pijama com estampa de oncinhas cor de rosa. Estava tão fofa e ao mesmo tempo sexy, com as pernas a mostra. Meu coração e outra coisa se agitaram em mim.
Eu a abracei. Ela foi pega de surpresa e retribui o gesto meio sem jeito. Eu precisava daquilo. O toque.
Lily ainda parecia se acostumar com o meu toque físico. Para ela era algo novo, conseguia sentir isso. Eu me senti ainda mais atraído e interessado nela por sua inocência.
Enquanto Lily trocava de roupa, segui caminho até o terraço de sua casa para fumar com uma caneca de café na mão. Nada melhor que isso.
No entanto, tive que parar no meio do caminho, pois uma porta aberta me chamou atenção. Havia uma cama de casal no quarto, imaginei que fosse de seus pais. Mas eu me vi olhando para uma caixa de remédios jogada em cima dela. Eu encarei, apertando minha xícara de café com força.
Talvez ela estivesse apenas passando mal e procurando algum remédio para dor, e deixou as coisas espalhadas para arrumar depois. As pessoas fazem isso. Porém o potinho de remédios fora da caixa definitivamente não era para uma simples dor. Eu não entedia de comprimidos, mas esse tinha um nome complicado, e pelo pouco que eu li, era algo forte.
Uma ideia do que Lily estava prestes a fazer passou pela minha cabeça.
Os cigarros, a expressão dela sempre melancólica, aulas inteiras fazendo tudo menos estudar, ela sempre sozinha em casa, as noites mal dormidas, o isolamento, as músicas tristes, a forma como ela me entendia e conseguia transmitir empatia com apenas um olhar. De repente, parecia que um quebra-cabeça havia se encaixado na minha mente e agora eu conseguia ver a imagem claramente. O que me quebrou em mil pedaços. Meu coração doeu, e me senti uma péssima pessoa por não ter entendido antes.
Eu arfei, à procura de ar. Tive que respirar fundo mais de uma vez para tentar ficar calmo.
Eu tinha tantas coisas para resolver, e agora Lily...
Eu não podia me deixar levar, enlouquecer. Tinha que manter a calma e o controle. Também ela não poderia saber que eu sei. E se ela se afastasse? E se ai que ela cometesse o ato mesmo? Eu tinha que resolver as coisas.
Mas como eu vou ajudar, alguém que está tão despedaçado quanto eu?
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