Capítulo 16
O caminho foi feito em silêncio. Era agonizante.
Thomas andava de cabeça baixa e sequer olhou para mim. E eu caminhava olhando para frente, e olhava para ele de soslaio a cada minuto. Ele com certeza percebeu, mas não se deu ao trabalho de olhar também.
O pior disso tudo é que eu me continha pra não abrir o sorriso mais retardado do mundo de tão feliz que estava. "Você perdeu o bv! E com seu crush ainda por cima! Você beijou alguém, finalmente!". Essas palavras cantarolavam, incansavelmente e irritantemente na minha cabeça.
Chegando na casa do Fruta, vimos algumas pessoas já dormindo, no chão ou no sofá, outras desapareceram, como Fruta e sua ficante, provavelmente nos quartos, trepando ou desmaiados. Havia alguns bêbados sentados em cadeiras ou em pé, murmurando coisas, como sonâmbulos.
Procurei por Catarina, ela dormia sentada no sofá, encostada no ombro de Breno. E Breno estava acordado, mexendo no celular. Fui em direção a ele.
-Ei, finalmente vocês dois apareceram. Estávamos esperando vocês para ir embora. -Disse Breno.
-Breno, você está bem para dirigir? -Perguntei preocupada, caso ele tivesse bebido.
-Bebi uma cerveja no começo da festa, só isso, porque sei que ia voltar dirigindo, fica tranquila. Eu também cochilei um pouco por agora. Provavelmente estou melhor do que você. -Disse ele rindo.
-Engraçadinho. Bebi pouquinho assim ó. -Fiz um gesto de pequena quantidade, mas Thomas atrás de mim negava com a cabeça e abria os braços, como se dissesse que eu bebi muito. Então todos rimos, e Catarina acordou.
-Vocês...- Disse ela com sono. -Falem mais baixo. Estão gritando.
Rimos ainda mais.
-Vamos embora, amor. -Breno disse, ajudando ela a se levantar.
Entramos no carro. Breno ligou o rádio e deu partida.
A princípio Thomas estava olhando para uma janela e eu para outra, sem nos olharmos, com um abismo entre nós. Então começou a tocar Stressed Out na rádio, como uma piada do destino. Então eu olhei para ele, e ele olhou para mim e sorriu com a cabeça apoiada na sua mão, e meu coração disparou, e eu sorri também. Me segurando para não rir, voltei a olhar para janela, mas senti que Thomas ficou me olhando por mais um tempo depois disso.
Breno deixou Thomas primeiro em sua casa. Ele disse para mim que não ia precisar dormir mais na minha, pois já estava amanhecendo mesmo. Então ele se despediu de todos nós com um aceno, e entrou.
Senti uma pontada no peito, eu queria tanto ele perto de mim novamente, agora que eu havia provado como é estar perto de alguém, eu não queria mais ficar longe dele. Carência é uma merda, mas prometi a mim mesma que ia tentar não ser daquelas pessoas chicletes que irritam qualquer um.
Breno perguntou se podia ir para minha casa, falei que ia dormir na casa da Catarina mesmo. Em parte porque não queria ficar sozinha hoje, e meus pais achavam que eu estaria lá mesmo, e também porque precisava contar tudo que aconteceu para Catarina assim que eu acordasse, e tudo seria melhor pessoalmente.
Chegamos à casa dela, e descemos do carro assim que Catarina deu o seu melhor beijo molhado de despedida em Breno, e eu desviei o olhar porque era nojento e irritante ver as pessoas fazendo isso, mas quando é você é tão bom. Agora eu entendia isso.
Catarina entrou em casa sem se preocupar em fazer barulho e acordar seus pais num sábado de manhã, e eu quase gritei para ela fazer silêncio, o que seria contraditório.
Enfim, chegamos ao quarto dela, depois de um árduo caminho pelas escadas em que eu tentava ser a silenciosa, e Catarina pisava com toda força do mundo em seus saltos nos degraus.
Fechei com todo cuidado a porta do seu quarto.
-Qual é o seu problema? Tá louca? -Perguntei.
- Você que tá né. Já tenho 18, Lily. Chego em casa a hora que eu quiser, e meus pais estão de boa com isso.
Catarina tinha feito 18 anos um pouco antes de Thomas chegar. Com essa idade no segundo ano do ensino médio? Bem, ela havia nascido depois do meio do ano, em agosto, e havia tomado bomba, então sim. E o mais legal disso tudo é que seus pais sempre foram bastante liberais e confiavam bastante nela, mesmo depois de ter repetido o ano. Eu mal entendia como ela não perdia as rédeas da sua vida.
Quero dizer, meus pais também são bem liberais em certos aspectos, mas duvido muito que quando eu acabar de fazer 18 e ainda morar sob o teto deles poderei chegar ao amanhecer em casa de uma festa.
-É, mas os meus não! Se seus pais perceberem que eu cheguei com você de uma festa ao amanhecer e por ventura comentarem com os meus, eu tô ferrada!
-Me desculpa, sério. Nem cheguei a pensar nisso. Mas relaxa, eles têm sono de pedra.
Suspirei. Comecei a retirar o colchão de debaixo da sua cama para poder me aninhar nele e finalmente dormir. Eu não havia percebido o quão cansada estava, até o calor da festa deixar meu corpo e eu ter que puxar aquele colchão.
-Uma ajuda aqui, por favor? -Pedi para Catarina.
Ela me ajudou e me entregou um lençol, travesseiro e coberta. Então eu me deitei, e estava tão cansada que nem me preocupei em tirar minha roupa, apenas meus sapatos. Mas depois de 20 minutos deitada comecei a sentir um certo desconforto, então tirei tudo e dormi de calcinha e sutiã. Afinal, eu sabia que a Catarina não teria um pijama que servisse no meu corpo volumoso.
Enfim, livre. Fechei meus olhos e me preparei para o melhor sono da minha vida. Dormi com um sorriso no rosto, lembrando do meu primeiro beijo. Apesar de todos os pesares.
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