⊹⊱9⊰⊹
Sinto todos esses sentimentos que estou mascarando
Posso depositá-los em você? É isso que estou perguntando
The Kid LAROI - NIGHTS LIKE THIS
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Quando aceitei a blusa de Louis, eu não esperava que fosse me sentir quente de maneira tão rápida. A mulher ao meu lado parecia assustada. O que Louis havia feito? Por que eu sentia uma aura tão estranha e sombria vindo da sua roupa?
E mesmo assim, mesmo sendo sombria, por que eu me sentia tão acolhida e protegida de repente?
Aquela sensação era familiar, mas de onde eu conhecia aquilo? Novamente minha cabeça falhou, o raciocínio não completou.
Eu deveria buscar um médico. Aquilo não era normal.
Louis ficou em silêncio, mas podia ver pelo espelho retrovisor seus olhos verdes intensos olhando a cada segundo para onde estávamos. Ele parecia aflito com alguma coisa.
— Senhor — Yarin falou repentinamente, cortando o silêncio e me dando um pequeno susto — Leve essa garota primeiro, nós podemos esperar.
— O lugar na qual ela irá é muito mais longe do que o que vocês irão — o motorista respondeu. Sua voz era fria e grossa e cada vez que ele falava, um arrepio percorria a minha espinha.
— Pode levar ela primeiro — Louis falou sem olhar para o lado.
— Como quiser — o motorista se convenceu rápido demais. Aquilo estava estranho. Por que será que eu tinha a sensação de que Louis conhecia aquele motorista?
Fiquei intrigada e quando comecei a pensar sobre a semelhança dos dois, a voz fria do motorista e a aura estranha que eu sentia emanando da blusa de Louis, uma súbita dor de cabeça me deixou enjoada.
O frio se intensificou e novamente minha linha de raciocínio se rompeu me fazendo levar a mão automaticamente até a cabeça.
— Vida e morte são decretadas pelo destino — o espírito da mulher falou do meu lado, sua voz parecia apagada e triste — Você acredita no destino? Se acredita, não seja tão persistente com o que quer que esteja tentando fazer.
Do que ela estava falando? Minha respiração ficou mais pesada. Tinha algo muito errado com o lugar que estávamos. Apertei mais a cabeça na tentativa de fazer a dor parar.
— Destino... destino — sussurrei... "é o seu destino. Não pode mudar isso...". Zagreu havia me dito aquelas palavras, mas porque a imagem que me vinha na mente era a de Louis?
— Dé — a voz da minha prima saiu baixa perto de mim, mas fez com que eu encolhesse ainda mais o corpo, como se ela estivesse berrando no meu ouvido — O que você tem?
O aperto no meu peito se intensificou. As palavras da mulher e a lembrança de Zagreu se chocavam na minha mente, criando um turbilhão de confusão e medo.
Olhei para Louis. Seus olhos verdes ainda estavam fixos no espelho retrovisor, mas agora havia uma sombra de preocupação intensa em seu rosto, mas de repente, não era Louis olhando para mim ali, era Zagreu.
"É o seu destino. Não pode mudar isso...", a voz de Zagreu ecoava em meus pensamentos.
Mas eu não queria aceitar isso. Eu não queria me entregar ao destino sem lutar.
Quando Louis se virou para trás, para ver o que estava acontecendo comigo, seus olhos verdes também me lembraram os de Zagreu e para não gritar, eu tapei a boca, completamente apavorada.
— Quem é você? — eu perguntei começando a sentir novamente o ar faltar nos meus pulmões.
— Ei, Dé, para com isso, sim? — Yarin me virou para ela e me chacoalhou — Para com essa brincadeira, está me assustando, que droga. Como assim quem é ele? Passou a noite com ele e de repente se esqueceu?
Após olhar para a minha prima... a linha do meu raciocínio se perdeu de novo. Nada... nada me vinha a mente. O que eu estava pensando, que me deixou tão ansiosa?
— Dé... é sério, está me assustando, você está bem? — os olhos ansiosos de Yarin me deixaram um pouco triste.
— Eu sinto muito, acho que estou cansada — falei colocando a mão na cabeça de novo — o que... o que aconteceu?
— Como assim o que aconteceu? — Yarin me fez olhar para ela de novo — Você acabou de perguntar quem o Louis é... do nada.
Olhei para Louis, seus olhos estavam ansiosos em mim, mas mesmo que eu tentasse lembrar, nada me vinha a mente.
— Eu... perguntei? — falei estranhando — eu não sei... eu sinto muito.
Ele pareceu relaxar.
— Talvez seja melhor você trocar de lugar com a sua prima — ele falou de maneira calma — Assim pode encostar na janela e dormir.
Olhei de relance para o espírito do meu lado, será que ela havia feito alguma coisa? Ou de repente tinha acontecido alguma coisa por conta da energia que ela estava tirando de mim? Louis não queria parar o carro possivelmente por conta dela, então apenas forcei um sorriso.
— Não se preocupe. Eu estou bem — falei tentando convencê-lo. Olhei para a tela do celular. Eram 15:32 — É quase quatro da tarde. Nós ainda estamos um pouco longe do destino dela, então irei encostar um pouco e dormir.
A hora passou em um piscar de olhos. Não conseguia lembrar como foi que eu dormi, apenas lembro da voz do motorista falando alguma coisa com Louis e de Yarin me chamando.
Quando olhei pela janela, o espírito da mulher já havia saído na chuva.
— Vamos, Désirée — Louis me chamou abrindo a porta — Nós iremos sair também.
Eu não queria reclamar, mas perseguir um espírito naquela chuva não estava nos meus planos e de repente meu humor piorou, mas como eu poderia reclamar se eu estava sendo protegida pela blusa do Louis enquanto ele estava praticamente todo encharcado?
— Vamos até aquele supermercado — Louis apontou as portas do mercado — ela foi naquela direção.
Enquanto andávamos, Yarin grudou no braço de Louis de novo. Virei o rosto... eles formavam um casal deslumbrante. Os dois eram lindos, além disso, os dois pareciam bons caçadores de fantasmas, seriam sem dúvidas, uma bela dupla.
Entramos no mercado, o lugar estava praticamente deserto e mesmo assim, Yarin não desgrudou do Louis.
Forcei os dentes para controlar o ciúme que de repente eu senti, mas antes mesmo que eu pudesse controlar o sentimento, o frio novamente se intensificou. Louis foi para o meu lado e apontou de maneira discreta atrás de mim. Virei lentamente e senti minhas pernas tremerem. Ela parecia muito mais fantasmagórica agora. Que mudança havia sido aquela em tão pouco tempo?
O frio percorreu meu corpo como um soco no estômago. O espírito da mulher estava atrás de mim, seus olhos vazios fixos nos meus. Como foi que ela ficou tão assustadora? Será que era só por que não estava mais roubando minha energia? Sua pele antes bem visível estava começando a ficar translúcida e correntes começavam a sair do chão aos seus pés. Um tremor percorreu minha espinha. Dei um passo para trás de maneira instintiva. Louis me apoiou antes que eu desse outro passo.
— Se recomponha, garota medrosa — ele falou baixo perto do meu ouvido fazendo com que o medo de que eu estava da mulher se misturasse com um outro sentimento estranho que eu não conseguia definir naquele momento.
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Antes de sair do carro para seguir o espírito, Thanatos me parou, sua voz grave parecia ainda mais grave do que em outros momentos.
— Zagreu, irá se apaixonar — ele falou sem se virar para mim, mas não parecia estar zombando e nem mesmo me julgando.
— Não irei — falei mantendo a voz firme — Só irei cumprir o que preciso cumprir.
Quando ele finalmente me olhou, eu vi o início de um semblante preocupado. Uma expressão fraca, mas extremamente rara nele.
— Sim, você não só irá se apaixonar, como já está se apaixonando — ele soltou o ar — Tome cuidado. Não quero que você sofra. Não quero que passe o mesmo que eu...
— Então, você se apaixonou? — perguntei baixo, mas ele não respondeu, apenas voltou a olhar para frente e deu partida no carro.
Eu já sabia que ele não me responderia.
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Naquele momento, na entrada do mercado, quando apoiei Désirée, eu estava extremamente ciente da sua pele abaixo daquela roupa e do calor do seu corpo. Lembrei das palavras de Thanatos, mas aquela sensação que ela me trazia, era um convite para seguir ali, perto dela. Ela se virou rapidamente para mim, seus olhos assustados me fizeram graça e eu sorri de maneira involuntária. Sussurrei para ela deixar de ser medrosa e seu corpo arrepiou. Que reação adorável, não importava o que eu falasse no seu ouvido, sua reação era sempre essa.
Não tinha ninguém por perto, aquele mercado estava mais deserto do que as ruas que seguiam sendo castigadas pela chuva. Era o momento perfeito para mandar o espírito da mulher para o submundo e assim como havia acontecido antes, não foi nem um pouco difícil, nem precisei tirar meus olhos da boca bem desenhada de Désirée, que tremia, parecendo um convite para mim.
O espírito soltou um grito gutural enquanto o que restava dela no mundo mortal se desfazia. Ela não queria partir, mas deixá-la ali, seria somente condená-la a um sofrimento ainda maior. Eu poderia estar sendo frio com o espírito, por nem mesmo olhar para ela enquanto sumia de maneira lenta, mas eu já havia visto aquilo milhares de vezes e meu pai era justo na hora de julgar as almas, eu não estava preocupado com ela.
A mulher se dissolveu no ar, deixando um rastro de névoa negra.
Désirée estava apavorada, ela sempre ficava apavorada com essas coisas aparentemente e em um ato, sem dúvidas, inconsciente, ela enlaçou seus braços em volta da minha cintura e me apertou contra ela.
A aninhei e ela se aconchegou em meus braços. Eu podia sentir seu coração batendo forte contra mim. Seus olhos estavam fechados e sua respiração estava irregular. Ela estava exausta, tanto física quanto emocionalmente.
Seu perfume pareceu me rodear. Mesmo com toda a chuva que ela tomou, o cheiro floral do seu perfume parecia ainda impregnado em seu corpo. O frio no meu estômago se intensificou e eu podia jurar que sentia até mesmo meu coração batendo de novo.
Ficamos assim, até ela começar a se acalmar, coisa que para a minha surpresa, não demorou muito e quando ela levantou os olhos, eu perdi o ar.
Como podia ser tão linda?
Os olhos de Désirée, cor de mel profundo, me fitavam, eu podia ver seu desejo por mim ali também... eu podia ver ou só queria ver aquilo? Seus lábios entreabertos, úmidos da chuva, pareciam me convidar para um beijo. A tentação era quase insuportável.
Aproximei minha boca da dela, mas não o suficiente para beijá-la.
— Obrigada — ela sussurrou, aquele sussurro me fez começar a tremer de maneira intensa. Eu precisava me controlar — Você me salvou.
— Não foi nada — respondi, lutando para controlar meu desejo. "É meu dever proteger você." Pensei tentando me convencer de que era só aquilo.
Mas era mais do que isso. Havia algo em Désirée que me atraía como um ímã. Sua beleza, sua força e até mesmo sua vulnerabilidade... tudo nela me encantava, até mesmo sua teimosia e birras infantis. Eu não queria me sentir atraído por alguém que me odiava, mas não me sentia forte o suficiente para me afastar dela.
— Você está tremendo — ela disse, tocando meu rosto com a mão — Está com frio?
— Não — respondi sem desviar o olhar, deixei minha boca rente a dela, esperando que ela me desse algum sinal para que eu pudesse seguir ou me afastar. Não teria problemas se fosse só um beijo, não? Ela mesma quebrou a distância em um beijo casto e hesitante.
O beijo começou lento, mas rapidamente se tornou mais apaixonado. As mãos de Désirée se enrolaram em meus ombros e as minhas puxaram-na para mais perto. Seus lábios eram macios e doces, e eu me senti perdido na sensação do seu corpo contra o meu.
Eu podia sentir o calor do seu corpo através da roupa que ela usava. Seus seios pressionados contra o meu peito me deixaram ainda mais excitado. Eu queria mais, queria senti-la de verdade, mas me segurei. Não queria assustá-la.
Naquele momento, eu soube que Thanatos tinha razão, eu estava me apaixonando por ela.
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Quando Yarin pigarreou ao nosso lado, Désirée pareceu tomar ciência do que estava passando e se afastou de maneira sem graça de perto de mim.
— Eu sinto muito atrapalhar os dois — pela expressão no rosto dela, ela não estava arrependida.
Ela se aproximou de Désirée, puxou para perto de si, sem tirar os olhos de mim, como se eu fosse uma ameaça para a prima.
Seu olhar foi sustentado por mim. Novamente seu espírito mediúnico estava me sentindo de verdade, mas uma presença repentina se fez mais forte, fazendo Désirée se encolher e Yarin deixar sua atenção se desviar.
Sem dúvidas, esse era o servo da deusa Tefnut. Mesmo que Yarin desconfiasse de mim, tanto ela como Désirée se aproximaram.
— Ele está aqui — murmurei ao sentir as mãos de Désirée entrelaçando a minha. Eu não poderia nem mesmo falar para ela não ter medo dessa vez.
Onde ele estava? Passei novamente pela porta do mercado até a rua. Ele estava perto, até mesmo eu que estava ocultando minha aura o sentia de maneira intensa.
Olhei ao redor, uma moça passou com uma criança debaixo de um guarda-chuva e vindo na direção contrária, um homem andava tranquilamente por ali.
Tranquilamente... embaixo daquela chuva toda, mal se dando conta que o guarda-chuva estava torto a um ponto de deixar descoberto mais da metade do seu corpo.
— Vamos segui-lo — Yarin começou a andar — Não sei o que ele é, mas sem dúvidas não é humano.
Não contestei, apenas fui atrás de Yarin.
O seguimos, Yarin e Désirée tentaram a todo custo serem discretas, eu por outro lado, já sabia que o homem fez aquilo exatamente na intenção de chamar a nossa atenção.
Quando ele finalmente parou, o lugar estava sem dúvidas mais deserto do que qualquer outro e repentinamente, a chuva pareceu aumentar.
— Não sabia que a portadora da aura da vida estava tão ansiosa pela morte — a voz dele saiu de maneira assustadora, como se estivesse possuído — Que aura deliciosa você tem.
Désirée travou quando o homem virou. Os olhos vermelhos dele e dois pequenos caninos mostravam o quanto ele estava sedento por um pouco da sua aura. Um deus inferior, um deus que ainda precisava de cultos e sacrifícios. Um deus que sem dúvidas, se deliciaria da aura de Désirée até vê-la morta.
Eu me descuidei, pensei que seria alguém mais fácil de lidar no meu estado atual, mas não poderia lidar com ele ocultando meus poderes.
Onde será que estaria Thanatos?
O deus inferior deu um sorriso cruel, revelando ainda mais seus caninos afiados.
— Irão me enfrentar, ou apenas me entregarão a mortal que carrega a aura da vida?
— Se a quer, terá de passar por mim — Yarin se aproximou de mim e de Désirée de maneira decidida.
— Quer me enfrentar? Vocês são apenas mortais frágeis diante do meu poder.
Mortais frágeis, grande erro o dele. Yarin não era uma mortal frágil. Désirée, apesar de não saber usar sua força, também não era frágil, mas agradeci que ele não me reconheceu naquele meio, eu não precisaria revelar minha identidade na frente das duas... ou era isso que eu pensava.
— Hora de usar seus truques, deus — Yarin sussurrou perto de mim — Eu subestimei quem estava nos seguindo.
Então ela de fato sabia a verdade, isso sem dúvidas foi surpreendente para mim, mas por que então ela estava falando para que apenas eu a ouvisse? Por que estava se esforçando para que Désirée não soubesse a verdade?
— Tire a minha prima daqui, tentarei ganhar tempo. Leve-a, invente alguma desculpa para se distanciar dela depois e volte — olhei para ela desconfiado, talvez ela tenha notado isso também — não fui eu que descobri, se é isso que está se perguntando, mas nunca subestime a minha tia Mei, ela soube assim que colocou os olhos em você, Zagreu. Apesar de tudo, ainda sou humana. Vou tentar fugir, mas não demore, ta bom?
Apenas assenti, não fazia sentido nenhum tentar mentir àquela altura e assim como Yarin, eu também subestimei o servo da deusa Tefnut.
— Dispersar — Yarin fez alguns movimentos com a mão e deixou sua aura seguir seu curso até o deus, que foi pego desprevenido e em segundos, mostrou sua verdadeira forma.
A forma monstruosa do deus inferior me fez apertar os olhos. Seu sorriso macabro, os olhos vermelhos sedentos de violência, a roupa manchada de sangue, supostamente das diversas vítimas que foram oferecidas em sacrifício por ele, era tudo, menos uma visão agradável. Désirée se agarrou a mim, seus olhos arregalados de terror. Yarin, com o rosto pálido, mas determinado, se colocou na nossa frente nos oferecendo o tempo que eu precisava.
— Vai logo — ela disse para mim com sua voz firme — Leve Désirée para longe daqui. Eu cuido disso.
Quando olhei para o lado, Désirée parecia já não ter medo de nada, seus olhos estavam apagados e ela me soltou de maneira lenta.
Revirei os olhos... caramba, como ela podia ser pega em uma ilusão naquela situação? Ela não conseguia nem mesmo manter a guarda alta diante do perigo?
Dei um peteleco nela, fazendo-a acordar e massagear a testa dolorida.
— Ei, qual o seu problema? — ela berrou comigo, sem nem prestar mais atenção no deus inferior à nossa frente — por que me bateu?
Massageei suavemente sua testa e com a outra mão fiz sinal para que ela ficasse quieta. Aparentemente Yarin estava lidando bem com o deus e eu não queria chamar a atenção dele para nós.
— Eu não te bati, apenas te dei um peteleco. Ninguém mandou ser pega por uma ilusão na situação em que estamos.
Falei baixo, apenas para que ela ouvisse.
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