⊹⊱10⊰⊹
Eu nunca irei partir, espere e você verá, isso não dará errado
Você não sabe que pertence a este lugar?!
Sweet Love - Anita Baker
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— Já irão embora? — o ser estranho falou com uma risada distorcida enquanto jogava Yarin longe — Sua aura cheira tão bem.
— Ei, você não é o especialista? — praticamente berrei para Louis — Você tem que fazê-lo desaparecer!
— Isso é um pouco difícil — ele falou massageando o ouvido e depois deu de ombros — ele é um deus inferior, mas segue sendo um deus e pelo tanto de sangue escorrendo dele, ele teve muitos sacrifícios para ficar forte. Deuses como ele eram mais comuns há centenas de anos atrás, nunca mais tinha visto um desses. Ele não vai desistir até conseguir pegar você.
Senti um arrepio percorrer a minha espinha. Como Louis estava tão calmo? Ele realmente se importava tão pouco comigo?
— Vocês ainda estão aqui? — Yarin se levantou brava — Chega de enrolação.
Senti as mãos de Yarin segurando meu pulso de maneira firme e me puxando, sem me deixar tempo de tentar acompanhar seus passos direito.
Corremos descontroladamente, mas algo estava estranho, que aura estranha na Yarin era aquela? Por que estávamos indo direto para o deus que queria nos atacar?
Antes que qualquer teoria pudesse ser formulada na minha cabeça, Louis apareceu... sua aura era esmagadora. Yarin paralisou e caiu para trás.
— Fique fora disso Tyche! — ele gritou — e se não salvar a Yarin, eu te mato.
A fúria de Louis era palpável, a terra tremeu sob seus pés e o ar vibrou com sua aura poderosa, aquilo não parecia ser um humano... O que raios Louis era de verdade? Yarin, ou Tyche, não sei bem, perplexa com a ameaça repentina dele, recuou alguns passos, hesitante.
— Como você ousa aparecer na minha frente depois de tudo? — Louis rosnou, seus olhos ardendo em um fogo verde — Você não tem ideia do poder que está desafiando, Tyche. Fique de fora disso, ou irei esquecer qualquer respeito que eu tenho por você.
Uma deusa estava recuando com a ameaça de Louis... minha cabeça voltou a doer, a confusão de duas pessoas sendo uma preencheu minha cabeça de maneira enlouquecedora. Encolhi o corpo na tentativa de fazer aquilo parar e então... nada.
Tudo ficou em branco, minha visão foi preenchida por um clarão de branco sem fim.
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Tudo aconteceu muito rápido. Como eu parei dentro do carro? Havia um vão na minha memória, eu lembrava do ataque do deus inferior e de Louis falando para Tyche ficar de fora, mas não lembrava de mais nada. Tyche estava de novo controlando a Yarin? Ela realmente queria tanto assim afetar o Louis?
Que carro era aquele que eu estava?
Quando olhei para o motorista, minha cabeça embaralhou. Era o mesmo motorista de antes? Como ele parou ali?
— Acelera! — Louis falou alto enquanto o motorista movimentava o volante rapidamente para sair de onde estávamos.
Eu estava atordoada, não conseguia entender tudo o que estava acontecendo. Yarin estava caída para o lado de fora, inconsciente e com um deus inferior com sede de sangue próximo dela.
— Não! — gritei esmurrando o vidro do carro e tentando a todo custo abrir a porta — Yarin! Volte esse carro agora!
— Você vai morrer se voltar — Louis falou de maneira firme.
— Mas se não voltarmos, Yarin vai morrer — chutei o banco da frente na tentativa de acertar Louis, o motorista nem sequer parecia cogitar a minha opinião — Dê meia volta agora!
— Vamos todos morrer se voltarmos — o olhar de Louis pelo retrovisor parecia em chamas — Se você desejar morrer, não pense que eu compartilho da mesma vontade.
— Seus olhos... — eu paralisei vendo aquilo — Quem é você? Você me lembra muito alguém...
Ele forçou o maxilar. A dor estava voltando e um embrulho repentino se instalou no meu estômago.
Fechei os olhos com força e quando o abri de novo, Louis estava como sempre.
O carro acelerou e por mais que eu tentasse sair, eu simplesmente não fui capaz. A porta estava com trava, Louis não se importava com as minhas tentativas de machucá-lo e se eu fizesse isso com o motorista, tudo o que eu conseguiria, seria um acidente e três possíveis mortes.
Quando o carro enfim freou, estávamos na frente de um hotel no meio de uma estrada.
— Desça — a voz fria de Louis me fez sentir um arrepio e sem entender muito bem, eu apenas desci do carro.
Olhei para trás, para Louis saindo do taxi. Ele falou alguma coisa com o motorista. Não sei o que ele falou, mas o taxi que estávamos saiu cantando pneu com tanta velocidade, que o cheiro de queimado da borracha ficou forte mesmo embaixo da chuva.
Louis não estava perto. Aproveitei a deixa e dei sinal para o primeiro táxi que parou no ponto à frente do hotel.
Eu não era forte, era um fato, mas eu precisava ajudar a minha prima. Ela foi abandonada pelos pais ainda criança e minha mãe a acolheu. Eu não podia deixá-la lá.
Antes que eu pudesse seguir caminho, Louis me agarrou pelo braço, a chuva voltou a ficar forte e o frio foi cortante.
— Eu sabia que não tinha juízo, mas não sabia que era louca — ele estava bravo, realmente estava bravo — Vem comigo.
— Eu não vou com você — me debati e soltei meu braço com força das mãos firmes dele — Você pode ir embora, mas eu vou voltar para ajudar a minha prima.
— Quer saber, eu cansei — ele me soltou — Se eu soubesse que você queria morrer, nem teria tentado te ajudar. Fiz apenas o que a sua prima pediu. Eu iria te deixar em um lugar seguro e voltaria para ajudá-la, mas se quer tanto ir, então vá.
— Eu tenho que voltar — falei baixo, sentindo uma melancolia repentina, no fim, Louis só estava tentando me ajudar, mas eu não queria ser ajudada às custas da minha prima. A tristeza ficou mais forte dentro de mim e aquela chuva não ajudava em nada — ela estava apenas agindo como uma heroína.
— Apenas faça o que quiser — ele se virou e começou a andar. A decepção na voz dele era bem audível em cada palavra.
— Se fosse você lá — gritei, queria que ele parasse de ser tão cabeça dura e parasse de agir como se aquilo não importasse — Eu voltaria para te resgatar. Eu voltaria e convenceria a Yarin a ir comigo. Eu não te deixaria sozinho! Eu nunca te deixaria sozinho.
Gritei ainda mais forte essa última frase fazendo-o parar a alguns passos de distância de mim. Quando ele se virou, seu olhar era gélido.
— Você nunca iria me deixar sozinho? — ele riu de maneira isenta de qualquer humor — Você não sabe o que está dizendo.
— Claro que eu sei — falei olhando para ele — e sei que eu nunca te deixaria em perigo.
— Eu não acredito em você — foi a única frase que ele soltou antes de se virar novamente para ir embora.
Aquela frase me cortou o coração. Eu tinha cometido um erro ao confiar nele. Ele não poderia entender todos os meus verdadeiros sentimentos.
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Eu a vi se afastar. Não tinha tempo para tentar convencê-la de que fiz aquilo para ajudá-la, mas escutá-la falando que ela voltaria por mim me deixou terrivelmente melancólico, talvez ela realmente voltasse por Louis, mas não por mim.
Tentei voltar a minha cabeça para o problema atual, Thanatos havia voltado para ajudar Yarin, Tyche apareceu apenas para me atrapalhar, sem dúvidas e eu teria que voltar para o submundo para conversar com o meu pai sobre isso, mas no momento, eu tinha que ajudar Désirée, mas dessa vez, como Zagreu e não como Louis.
Ela entrou no primeiro taxi que apareceu e sumiu da minha vista, seus olhos estavam vermelhos e molhados pelas lágrimas e pela chuva. Aquilo não daria certo, qualquer coisa que pudesse me unir a ela não daria certo.
Me movi pelas passagens do submundo, assim como Thanatos sem dúvidas havia feito e cheguei pouca coisa antes de vê-la sair do taxi e correr para o lugar onde estávamos antes.
Quando se aproximou, pude ver o quanto ela tremia e tinha o olhar assustado. Ela andava de maneira cautelosa, como se fosse uma criança tentando passar desapercebido pelos pais. Quando seu celular tocou, ela praticamente pulou para o lado.
Seu coração ecoou no meu ouvido, ele batia de maneira frenética. Seu coração... era dele que eu precisava, mas precisava que ela me oferecesse, eu não a queria morta.
Quando ela atendeu, todo o medo pareceu sumir, deixando um semblante aliviado para ela.
Enquanto ela atendia, eu tentava localizar o deus inferior, que seguia por ali. Eu podia senti-lo, mas não podia vê-lo.
— Yarin! — escutei a voz animada de Désirée — Ah, que bom que você está bem.
— Onde você está? — até eu pude ouvir o berro que a sua prima deu do outro lado da linha.
— Eu voltei para te salvar... — Désirée abaixou o tom de voz.
— Idiota! Eu fugi — ela gritou de novo — Corre agora. Aquele motorista bonitão me salvou, mas o deus inferior ficou por aí... Como você pode ter sido tão imprudente de voltar? Cadê o Louis que não te deixou em um lugar seguro?
— Eu... — ela gaguejou — Eu o deixei pra trás... ele tentou me parar, mas eu...
Sua voz engasgou e ela parou de falar.
Antes que ela pudesse seguir respondendo, fui pego desprevenido pela aura do deus inferior. Ele praticamente apareceu na frente dela levantando-a pelo pescoço.
— Não tenha medo — o deus a levou para perto de si — eu vou ser cuidadoso e puxarei somente a sua aura, para que você não sofra muito antes de morrer.
Ela se debateu, mas logo pareceu se render.
— Eu deveria ter escutado o Louis — a escutei murmurar chorando antes de parar de lutar.
Não fazia mais diferença... o que ela deveria ter feito e o que ela fez foram duas coisas diferentes e eu não tinha tempo de pensar naquilo.
Tirá-la das garras dele foi extremamente fácil, mas talvez um pouco dolorido para ele. Eu não podia só puxá-la, isso iria machucá-la, então, optei por cortar o braço do deus.
Quando a senti junto a mim, olhei para os seus olhos assustados e para as marcas das mãos dele em seu pescoço. A raiva de repente me dominou. Eu estava furioso. Forcei o maxilar e virei meus olhos para ele, ainda protegendo-a com corpo.
Levei parte da minha aura para as mãos, mostrando um show de fogo verde para o deus que gritava de dor.
— Como você se atreve a tocar na minha esposa? — perguntei ainda mais bravo — Se cansou de ser um deus inferior? Espero que sim, porque a sua história como deus acaba agora.
O medo nos olhos do deus ficou visível ao me ver ali. Enquanto ainda segurava o braço amputado e ensanguentado, ele levou o rosto até o chão, se reverenciando.
Apertei os olhos, aquilo estava me deixando ainda mais bravo.
— Eu não sabia que era a sua esposa, príncipe Zagreu — ele se reverenciou uma, duas, três vezes — Se eu soubesse, jamais teria encostado nela, senhor.
Senti o corpo de Désirée arrepiar e ela começou a tremer ainda mais. Ela estava completamente paralisada e se ela seguia ali comigo, era apenas porque seu corpo não permitia que ela saísse correndo.
— Veio por ordens da deusa Tefnut ou do Anúbis? — perguntei enquanto ele seguia com a cara no chão.
Ele vacilou, não queria responder. Levei minha aura até ele fazendo seu braço parar de sangrar, mas deixando a dor ali um pouco mais forte.
— Me responda — falei mais firme.
— Dos dois — ele falou baixo com a voz tremida.
Forcei o maxilar, eu não poderia matá-lo simplesmente. Ele poderia ter informações importantes e matá-lo seria jogar as provas contra os egípcios no lixo.
— Irá para o submundo. Irá ser julgado — fiz ele desaparecer da minha frente.
Eu teria que voltar, o deus inferior iria parar em uma das celas do meu pai, com a minha aura aprisionando-o. Era um lugar seguro e impossível de fugir, mas meu pai não o julgaria se eu não estivesse presente.
— O que... o que irão fazer com ele? — Désirée perguntou baixo.
— Irá ser julgado — respondi olhando para ela.
Havia tristeza, medo e uma certa frustração em seus olhos impossível de ignorar.
— E qual a possível pena dele?
— Possivelmente irá morrer.
— Por minha culpa... ele vai morrer por minha culpa? — seus olhos encheram de lágrimas.
— Você é bondosa, mas ele merece ser julgado. Te atacou, quase te matou e somente porque queria a sua aura.
— O que a minha aura tem de tão especial? — ela seguiu resmungando.
— Todos querem a vida, a vida nos faz forte, nos deixa forte e isso para um deus é muita coisa.
— Mas... por que você está aqui tão de repente? — sua voz mudou, saiu amarga e eu não conseguia definir exatamente o que ela estava pensando naquele momento.
— O quê? — perguntei um pouco zonzo com essa pergunta, aquele amargor se devia a estar de fato perto de mim? — Você preferia ser morta por um deus inferior a ser salva por mim?
— Não é isso — ela abaixou a cabeça — mas, você tem me seguido? Eu só fiquei curiosa... Como você sabia que eu estava em perigo? Como chegou aqui tão rápido?
Olhei para ela um tempo, depois suspirei.
— Como eu poderia ter uma esposa tão estúpida?
— Eu não sou estúpida e não sou sua esposa! — ela me empurrou com raiva — Não pense que eu desisti de me livrar de você.
— Você é realmente idiota — virei a cabeça levemente para o lado e por mais que eu tenha tentado controlar o desdém na minha voz, foi impossível — Nós nos casamos você querendo ou não. Já te falei que eu também não queria, mas nossos destinos estão ligados... devo estar pagando por algum erro muito grande ao ter sido ligado a você, mas é isso, Hera nos uniu e por isso sempre irie saber quando você estiver em perigo — aproximei meu rosto pouca coisa do dela, lembrando do sabor do seu beijo ainda tão recente. Ela me odiava — Não me faça mais essas perguntas estúpidas.
— Você que é o estúpido aqui. Deus arrogante, insuportável! Estou farta disso, farta de ter medo de um idiota como você. Você se acha muito superior, mas está aqui, lambendo o meu pé por precisar de mim!
Ela tapou a boca de maneira rápida e se encolheu ao perceber o que havia dito, mas ao invés disso me irritar, eu acabei rindo, fazendo-a se encolher ainda mais.
— Vejo que está perdendo o medo. Não sei ainda se você é terrivelmente imprudente ou terrivelmente corajosa, talvez seja as duas coisas.
Voltei a rir. Meu riso ecoou, era impossível parar, um som inesperado e desconcertante que quebrou a tensão do momento. Désirée, ainda encolhida, me olhou com surpresa e raiva.
— Isso não é engraçado — ela resmungou com o rosto extremamente vermelho.
Me aproximei dela de novo e acariciei seu rosto, seus olhos claros brilhando intensamente para mim. Eu queria muito beijá-la de novo, mas me segurei.
— Talvez não para você — respondi torcendo um sorriso — mas para mim foi divertido. É a primeira vez que vejo você se rebelar contra mim sem nenhum medo. É refrescante, admito.
Désirée se afastou com o olhar desconfiado. Era a primeira conversa real que parecíamos estar tendo. Eu sendo Zagreu, e ela Désirée.
— Não me engane com suas palavras doces, Zagreu. Você não me engana.
— Talvez eu não esteja tentando te enganar. Talvez eu esteja apenas começando a entender que você não é a criatura boba que eu imaginei que fosse. Tenho que admitir que estou surpreso e isso me intriga.
— É claro que eu tenho medo de você, idiota! E não me faça querer te dar um voto de confiança, porque eu seria muito burra se fizesse isso.
— Isso é justo — dei de ombros — Eu não te dei motivos para confiar em mim, mas também nunca te dei motivos para desconfiar.
Dei as costas para ela, toda a raiva que eu poderia ter sentido até aquele momento, se dissipou com a primeira birra que ela fez.
Acenei, fazendo com que um pequeno zumbido e um pequeno portal em chamas aparecesse.
O portal se contorcia como uma boca aberta e de dentro dele, quatro servos saíram trazendo uma carruagem vermelha. Na parte de trás, vinha Evander, que desceu da carruagem e abriu para que eu entrasse.
— Que carruagem linda — Désirée foi incapaz de conter a admiração, olhei-a de lado e não pude evitar um pequeno sorriso.
— Venha — estendi a mão para ela, mas não dei tempo de ela pensar se queria ou não entrar.
Assim que aparecemos dentro da carruagem, com ela já sentada ao meu lado, ela olhou confusa em volta.
— Como nós entramos? — ela perguntou para si mesma, o que me evitou ter de responder aquilo.
— Ninguém irá nos ver — falei olhando para frente — Irei te levar para casa.
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