⁰⁷|Uma vez eu toquei
Este cap contém cenas de suicídio, traumas e etc, pode conter gatilhos. Se você não se sentir confortável, não leia. Me mande uma mensagem no privado e eu posso te dar um resumo do que aconteceu nele.
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Você sempre amou que eu tocasse para você, qual quer que seja a música, sempre se balançando ao ritmo da melodia. Tão doce. Sempre tivemos essa "coisa" de saber o que precisamos, quando precisamos, sem ao menos verbalizar tais coisas. E eu sei que você me pedia para cantar para você em situações específicas. Como quando você estava uma pilha de estresse, ou quando eu estava triste, quando você queria nos animar, ou quando achava que vinha a calhar.
Eu sempre tive você comigo nos piores momentos, bem como eu sempre estive com você em seus piores momentos. Ainda que eu saiba que, até o hoje, o pior dos piores momentos que tivemos de passar, foi aquele dia, aquele maldito e horrível dia.
Eu ainda posso sentir o arrepio em minha pele, o eriçar dos fios em minha nuca e, até mesmo, o falhar de uma batida do meu coração, de quando eu adentrei por aquela porta. Mas antes disso, ainda tenho a sensação de felicidade que tivemos pela manhã, a bolha de carinho e amor que tivemos ao nosso momento sozinhas à tarde, para então o desespero e a tristeza durante o início da noite.
Ainda tenho pesadelos com aquele momento. Sinto que a cena se repete constantemente em minha mente, de maneira inconsciente, quando estou sozinha com meus pensamentos.
Posso ver com clareza, primeiro os pés de minha irmã mais velha, em seguida os tornozelos, as coxas com os filetes de sangue, subindo até os braços caídos, os fios de cabelo desordenados, e os olhos sem vida. As ações que vem a seguir, são simplesmente eu entrando em crise, caindo de joelhos no chão em frente a poça de sangue, o grito preso na garganta, tal qual eu não pude segurar por mais tempo assim que senti você cair de joelhos ao meu lado. Sei que você poderia estar mais apavorada com a intensidade do meus gritos desesperados em meio ao choro do que com o jeito que o quarto todo se encontrava.
Mesmo em meio a tudo aquilo, você conseguiu ser forte por mim e por você, me tirando à forças de lá e me levando até a praça ali perto, nem ao menos vi quando, no caminho antes de sair de casa, você apanhou o meu violão e o trouxe junto. Você me pediu para tocar pra você, e eu entendi o porque.
Lembro-me de uma música que minha mãe cantava pra mim quando pequena. Nunca mais esqueci-me dela, com uma doce melodia e uma bela letra para crianças. Dediquei-a a você, toquei-a como se fosse a última. Eu estava expondo toda a minha dor em uma música infantil. Irônico, não? Demonstrar dor em uma música criada para alegrar.
Depois desta eu toquei mais umas três ou quatro, e somente parei quando já não conseguia pronunciar mais as palavras sem sentir minha garganta arranhar. Você não se opôs, não me mandou parar, somente ouviu e, sorrindo, soltava lágrimas grossas.
É lembrando dessas coisas tristes que me lembro daquele momento feliz após todo esse sofrimento, aquele o qual uma vez eu toquei seu rosto, toquei meu violão, toquei sua alma com a minha. O momento onde eu pude ver constelações em seus olhos, milhares e milhares de estrelas, brilhando para mim, me dando forças e esperança para continuar.
Diga-me meu amor, ainda poderei ver a constelação que quase me fazem me perder em seus olhos?
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