04 🌼 Jenie
Após passar um dia inteiro em busca de comida, finalmente cheguei a minha atual casa, a casa da árvore do Daniel. Costumava ficar por lá desde que sai de casa. Era extremamente perigoso e arriscado passar a noite na rua, dessa forma, ali era um lugar perfeito para mim.
Naquela noite eu chorei muito, lembrei-me de minha mãe durante toda a noite. Sentia-me melhor quando ajudava a família de Daniel, parecia que quando fazia bem a alguém, algo me fazia bem também.
Nas últimas semanas tenho me sentido extremamente triste, pois desde que minha mãe se foi não consigo mais dormir. A verdade é que não faço ideia de como contarei toda a minha história ao Daniel, não queria envolvê-lo no "Auê" que estava minha vida.
Nos últimos dias fugi do lugar onde eu morava depois de toda a tragédia que aconteceu. Aquele dia nunca saiu da minha memória e sei que permanecerá para sempre.
Nunca tive uma família feliz, muito menos perfeita, isso era fato. Eu sabia que a típica família perfeita não existia, como vemos por aí nos comerciais de margarina, mas até então, entre ter uma família com problemas e uma família destruída existe uma grande diferença.
O mais triste acontecimento da minha vida foi a morte da minha mãe. A forma como ela morreu me atormentava todas as noites tirando completamente meu sono, que já não vinha há dias.
Minha mãe era uma mulher incrível. Doce, gentil e trabalhadora, era sempre carinhosa comigo e cuidadosa com nossa casa.
Meu pai era o inverso.
Arrogante, ignorante e bruto, batia na minha mãe e bebia muito. Nós sofríamos muito e vivíamos sobre ameaças. Era um desespero todas as vezes que ele chegava em casa, na maioria das vezes, bêbado. Ele era meu pai, eu sei, porém, não o considerava como tal. Tudo que queria era que fosse embora dalí, que sumisse de nossas vidas e parasse de fazer minha mãe sofrer tanto. Odiava cada dia mais aquele homem.
Da última vez que tentei impedir suas agressões, acabei apanhando muito. Porém, não me importava. Tudo o que eu queria era impedir que minha mãe sofresse tanto com tudo aquilo.
Armei um plano de fuga para ir embora de vez daquele lugar com ela. Ela não aceitou. Eu sabia que meu pai a ameaçava se ela ousasse sair de casa, mas também sabia que de alguma forma, ela ainda tinha esperança naquele casamento. Sim, ela ainda amava ele e isso me causava ódio. Era inútil tentar convencê-la de que o melhor era que saíssemos sem que ele percebesse de casa e eu sabia que toda aquela insistência da minha mãe de salvar um casamento que já estava perdido, não daria certo.
O pior dia da minha vida foi o dia em que minha mãe morreu, aquela noite foi aterrorizante pra mim. Por muitas vezes, achava que nada daquilo estava acontecendo de verdade, que talvez, fosse apenas um sonho, mas não era.
Aquela noite foi a pior da minha vida. Meu pai - se é que devo chamá-lo assim - chegou bêbado em casa como de costume, ele estava ainda mais transtornado e já entrou na cozinha derrubando as coisas que estavam em seu caminho. Eu e mamãe estávamos preparando o jantar, nos assustamos quando vimos ele chegar naquele estado. Tive medo. Naquele momento pensei que ele espancaria minha mãe e fiquei aterrorizada, já não aguentava mais isso. Ele veio em direção a nós e jogou o prato que estava na mesa na minha mãe. Eu chorava muito, temia que acontecesse o pior. Tentei fazer alguma coisa, mas eu sabia que não adiantaria medir forças com aquele monstro.
Mamãe tentou chegar perto dele e eu segurei em seu braço para tentar evitar que ela fosse até aquele homem e se machucasse.
- Filha - ela olhou para mim, seus olhos refletiam angustia - eu sei o que estou fazendo, vai ficar tudo bem. - Ela disse e se soltou do meu braço. Eu não conseguia parar de chorar naquele momento.
- Não mãe, por favor! Ele vai te machucar! - Insisti, desesperada.
- Calma querido... Você precisa tomar um banho, não está bem... - Disse ela, aproximando-se daquele imbecil, não conseguia acreditar que ela ainda pudesse acreditar nele.
Ele olhou-a com um olhar de fúria e a empurrou com força. Ela bateu a cabeça na ilha que dividia a cozinha da sala e caiu no chão, desacordada. Tudo aconteceu em uma fração de segundos. Havia muito sangue. Comecei a chorar sem parar e corri até minha mãe. Naquele momento, o desespero tomou conta de mim. Gritava desesperada com minha mãe nos meus braços pedindo por ajuda. Vendo toda aquela situação, aquele monstro fugiu. Senti vontade de ir atrás dele e fazer com que ele pagasse mas eu sabia que minha mãe precisava de ajuda e eu não era pária para ele.
Uma vizinha viu meu desespero e me ajudou. Quando o socorro chegou constataram o pior: minha mãe estava morta. Aquele maldito homem havia tirado a única pessoa a quem eu amava.
Tentei superar toda aquela situação, mas não consegui. Fiquei na casa da vizinha naquele dia, não comi e nem falei com ninguém, no fundo eu esperava que a qualquer momento eu fosse acordar daquele pesadelo. Ela prometeu cuidar do velório e do enterro da minha mãe e ouvir tudo aquilo me fazia chorar ainda mais. Nossa vizinha era uma mulher muito boa. Caridosa e amável, ajudava instituições de caridade, fazia comida para dar aos pobres e não media esforços para ajudar quem quer que aparecesse em sua porta. Apesar de ter medo do meu pai que estava sendo procurado pela polícia, ela me acolheu como filha, lá eu fiquei até que uma desagradável surpresa me tirou daquele lugar.
Dona Marta tentava me convencer a comer um pouco já que não comia nada desde o ocorrido. Escutei umas fortes batidas na porta, sem saber do que se tratava, ela abriu. O monstro do meu pai entrou transtornado como um louco pela porta e me pegou pelos cabelos, Dona Marta chorava e gritava ao ver toda aquela cena. Ele pegou a chave dela e a trancou por fora de sua casa, causando-me um profundo frio na barriga, um pavor que pouco a pouco, consumia meu corpo.
- FICA QUIETINHA AI SUA PIRRALHA! - Ele dizia enquanto puxava meus cabelos e me levava até um carro desconhecido. Tentei fugir, mas ele me agarrou novamente e me jogou sem delicadeza no porta malas do carro.
Entrou e fechou a porta, começando a dirigir para algum lugar e em meus pensamentos a única coisa que esperava era que ele não chegasse ao seu destino. Mas para a minha terrível conclusão, ele chegou. Era um lugar descampado e afastado, o qual não conhecia. Uma onda de pavor percorreu toda a extensão do meu corpo. O que aconteceria comigo?
- GAROTA INSOLENTE! - Gritava, entredentes. - VOCÊ ME DENUNCIOU A POLÍCIA! SEMPRE SOUBE QUE VOCÊ NÃO ERA MINHA FILHA, É UMA VAGABUNDA COMO A SUA MÃE ERA, VADIA! VOCÊ VAI VER SÓ O QUE VOU FAZER COM VOCÊ, SUA PIRRALHA!
Depois de me bater, ele me amarrou e subiu em cima de mim segurando com força as minhas pernas, o toque de suas mãos fortes sobre meu corpo magro e frágil me causava repugnância. Tentei me livrar, mas eu não tinha forças o suficiente. Consegui soltar minhas mãos e cravei minhas unhas em sua pele que ficaram cheias de pele e sangue, devido a luta corporal que tentava travar para me livrar daquele homem. E foi aí que eu vi o momento perfeito, finquei minhas unhas em seus olhos, fazendo com que ele se levantasse com ambas as mãos sobre o rosto, apavorado.
- Que morra seu monstro! - Disse, olhando aquele ser deplorável ali caído.
E foi esse o momento que aproveitei para fugir, entrando no carro e dando partida, em seguida. Lembrei-me das vezes em que mamãe me ensinou a dirigir quando eu ainda estava prestes a completar doze anos e em meio ao desespero, as instruções que eu lembrava me foram válidas. Deixei aquele lugar rapidamente, para minha sorte, a estrada estava vazia. Parei o carro assim que vi algum sinal de vida na estrada, em um ponto de ônibus e peguei o primeiro que passou.
Algo tocou meu coração para que eu pedisse parada neste lugar. Desde então me refúgio nas ruas escondida da sociedade, como migalhas deixadas pelos outros, peço comida as pessoas que passam pela praça central e vou me virando sozinha, mesmo com muitas dificuldades.
Me disfarço de menino para me manter mais segura, com moletons e roupas que consegui de doações, tento esconder meus traços femininos. As mulheres estão sujeitas a coisas piores do que os homens nas ruas, muitas vezes. Cortei meu cabelo que era longo e mudei completamente para que ninguém me conheça e acabe me levando de volta para casa daquele monstro.
Dias se passaram e a cada dia, mesmo com medo, sentia um desejo enorme de achar aquele homem e conseguir colocá-lo na prisão por tudo que fez com minha mãe e comigo. Tudo que eu quero é justiça, que ele apodreça na cadeia. Não queria mais ver a cara daquele homem, mas era necessário isso acontecer para que eu falasse diante dele e da justiça tudo o que ele fez.
Como eu iria contar toda essa historia ao Daniel? Como ele reagiria quando soubesse de tudo que me aconteceu? Era difícil para mim, mas estava encontrando uma forma de dizer tudo para ele. Tenho muito a agradecer pelo carinho que ele e sua família sentem por mim e antes de conhecê-lo, eu estava apenas vagando por aí. Quando ele apareceu, tudo pareceu ganhar um novo sentido.
Precisava encontrar uma solução para ajudar a mãe do Daniel, tenho várias ideias e estou empenhada nisso, aprendi muitas receitas com a minha mãe e acho que agora está mais que na hora de testá-las.
Daniel e sua família tornaram-se, em tão pouco tempo, pessoas muito importantes para mim e agora; todos eles também fazem parte da minha história.
De um lado bom dela.
Eu sei que o capítulo ficou enorme, mas é necessário.
Capítulo forte esse, né? Bom, espero que tenham entendido direitinho a história da Jenie e entendido um pouco mais sobre ela. ♡
Obrigado a você que chegou até aqui!
E não esqueçam de me ajudar com a estrelinha e contar o que está achando até aqui!
Beijão!❤
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