(2) Respostas.
Era o dia do casamento da tia Marlee. Se antes já estava uma loucura, agora era um completo caos. Me arrumei cedo,ol assim como mamãe pediu. Ela me entregou um vestido branco, parecido com o de tia Merlee (porém, menor e menos brilhante) e penteou meus cabelos com toda a doçura do mundo. Mamãe até tentou me fazer calçar os saltinhos que ela havia comprado para a ocasião, mas eu não quis, preferi usar meus tênis — com minhas meias de abelha —, o que a deixou um pouco decepcionada, mas o papai sorriu, o que era como uma aprovação da parte dele.
— O carro já está pronto. Vamos? — meu pai anunciou, balançando as chaves do carro.
— Vamos. — minha mamãe confirmou.
Descemos às escadas até a garagem e entramos no carro do meu pai. A cerimônia ocorreria na casa da vovó mesmo, não em uma igreja. A tia Marlee fez questão já que ela e o noivo se conheceram lá, enquanto ele cuidava das flores da minha vó. Então eles conheceram o amor — que eu ainda desejo saber o que é —, e resolveram se casar. Bem diferente da história da minha mãe com o papai, já que eles se conheceram na faculdade e brigavam feito cão e gato, pelo menos é isso que eles me disseram.
Eu estava feliz, gostava de festas e comemorações. Mas, de jeito nenhum eu iria sorrir. Meu dente tinha caído no jantar de ontem a noite, então qualquer sorriso que eu dou, mostra uma "janelinha" horrível. Então, melhor ficar de boca fechada mesmo.
Quando olhei pela janela papai já estava estacionando o carro, vi Caio na calçada. Ele estava com um terno e o cabelo penteado para trás. O rosto não estava mais sujo de terra e os olhos castanhos brilhavam na luz do sol, ele estava... arrumadinho. Assim que desci do automóvel, Caio veio em minha direção, com um sorriso no rosto, eu, obviamente, não iria sorrir de volta. Não queria passar vergonha na frente dele.
— Oi Beca. — ele falou, sua animação era evidente. — Tenho pistas sobre o amor.
Era exatamente isso que eu queria ouvir, enfim algo estava dando certo. Coloquei a mão na boca, impedindo que ele visse o meu dente faltando, e comentei animada:
— O quê? Me diz!
— Deixem pra conversar lá dentro, vamos entrar. — papai falou me conduzindo para o jardim dos fundos da casa de vovó.
Assim que entramos na casa, percebi às diferenças: a sala estava completamente limpa e vazia, exceto pela presença de uma mesa, repleta de guloseimas. Os sofás de couro, a televisão, o tapete de veludo, tudo havia sumido. Da escada eu pude ouvir gritinhos de mulheres, e foi para lá que minha mãe foi. Presumi que os barulhos vieram do quarto onde tia Marlee estava, aliás, todas as minhas tias, primas e a vovó, deviam estar lá em cima, já que aqui embaixo estava cheio de homens e crianças, apenas algumas mulheres que eu não conhecia.
O jardim, que ontem eu estava com Caio, estava ainda mais cheio que a sala. Havia cadeiras chiques e brancas, muitas flores artificiais e rosas vermelhas. Um tapete longo e vermelho, e no final dele tinha um pequeno altar, onde o padre e — segundo meu pai — a juíza realizariam a cerimônia. Estava tudo muito lindo, até que eu percebi uma coisa: o balanço não estava mais lá. E isso mexeu muito comigo.
— Papai... Onde está o meu balanço? — perguntei apertando um pouco sua mão. Aquele balanço era o melhor lugar para mim.
— Meu amor, tiveram que retirar o balanço, para o casamento. — papai falou calmamente, não foi o brinquedo favorito dele que acabou de ser destruído.
— Mas pai... O vovô fez aquele balanço pra mim — eu estava quase chorando.
— Vamos construir outro depois, O.k.? — ele prometeu alisando os meus cabelos. — Já volto meu bem.
E então eu fiquei ali, plantada no meio do altar, sem balanço, sem saber o que era amor e sem ninguém para me consolar. Até que a vovó apareceu, com seu colar de pérolas e seus saltinhos, me convidando para sentar-me ao seu lado, em uma das fileiras de cadeiras brancas.
— O que houve? — ela perguntou, com sua voz doce, a mesma de minha mãe.
— O balanço... — falei e me senti meio boba por estar quase chorando.
— Às vezes perdemos coisas que amamos. — ela falou pensativa. Será que vovó já perdeu algo importante?
— Vovó... O que é amor? — perguntei. Ela era tão esperta e já tinha passado por muitas coisas, com certeza ela iria saber me responder.
— Amor... É fazer algo que você não gosta, por outra pessoa. Seu avô me faz café todos os dias, e ele odeia café.
Eu gostaria de ficar e ouvir mais, porém uma música começou a tocar e todas as pessoas presentes foram para os seus lugares, e eu fui a procura de minha mãe. Assim que avistei a dona Tati, vela me deu uma cesta repleta de pétalas de rosas vermelhas, e disse que eu deveria andar até o pequeno altar e jogá-las no chão — enquanto mantinha um sorriso no rosto. Essa foi a parte mais difícil já que, bem, eu estava sem um dente.
— Quando a música começar novamente, você entra. — mamãe me explicou e eu fiz que sim com à cabeça.
Então a música recomeçou, ao contrário dos casamentos dos filmes, era uma música brasileira e com uma melodia muito bonita. Entrei no jardim, e todos os convidados estavam alinhados nas fileiras de cadeiras brancas. Caio me olhou e sorriu, eu não sorri de volta. Apenas joguei às pétalas e continuei andando, quando passei ao lado de meu pai, na segunda fileira, ele sussurrou um "belas meias, amor" e eu sorri sem mostrar os dentes.
Cheguei até o altar e entreguei a cesta para minha mamãe, que já estava lá em cima, junto com Tiago, o noivo de tia Marlee. Ele soava descontroladamente e seus olhos estavam brilhando, me perguntei se ele estava com medo ou só feliz, talvez os dois. Mas, quando tia Marlee entrou, com os cabelos loiros presos em coque lindo, e com seu vestido branco, pareceu uma verdadeira princesa, que nem às que vi nos filmes e desenhos. Ela estava perfeita. Chegando ao altar, a música parou de tocar ela cumprimentou seu quase marido com um beijo no rosto, que nem o que Caio me deu. Tiago pareceu relaxar mais e logo a cerimônia começou, em alguns minutos eles seriam marido e mulher. Como diria minha mãe: uma só pessoa.
💐💐💐
— O que houve com você? — Caio perguntou, logo após o termino da cerimônia.
O casamento foi lindo, e admito que derramei uma ou duas lágrimas. Agora todos estavam na sala, bebendo champanhe e comentando sobre a cerimônia. Somente eu e Caio estávamos no jardim, sentados na última fileira de cadeiras e observando o lugar que antes era um balanço.
— Vou sentir falta daquele balanço. — Falei sem olhá-lo nos olhos.
— Depois, nós podemos construir um novo. Aquele já estava velho, então iremos brincar, eu irei balançar você e tudo será como antes. — ele falou, sem tirar o sorriso do rosto, nem se quer por um segundo.
Às vezes eu me perguntava por que Caio era tão legal comigo. Admito, eu era uma chata mal humorada. Mas ele não achava isso, ele gostava de tentar me fazer sorrir, ele gostava de brincar e conversar comigo e até mesmo das bobagens que eu falava. Ele queria ser meu amigo, mesmo com todos os meus defeitos — e não eram poucos. Ele era... Amoroso.
E foi então que eu percebi o que era amor. Amor é acordar cedo todos os dias, para fazer café para sua mulher, mesmo não gostando de café, assim como o vovô fazia com a minha avó. Amor é quando você aceita ser amigo de outra pessoa, mesmo ela tendo muitos defeitos, assim como era comigo e com Caio. Amor é ter medo de que a pessoa que você ama desapareça, assim como era com tia Marlee e o Tiago. E principalmente, amor é quando você perde um dente, mas não tem medo de sorrir, porque você sabe que o seu amigo ainda vai te amar, mesmo que esteja faltando uma parte sua.
E eu amava Caio, assim como ele me amava e nós éramos melhores amigos, para sempre. E foi por isso que eu devolvi o beijo na bochecha que ele me deu, naquele mesmo jardim, no dia anterior.
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