40 | Epílogo | Développé
Oi, oi, oi, faccionáries!!!! Como vocês estão?
Eu tô no meio a meio, eu estou desanimada porque a semana foi cansativa (nada drástico, mas to me sentindo borocoxô mesmo assim) e porque essa vai ser a última postagem de USFDB, mas ao mesmo tempo animada porque amei FACE e vou enfim passar o fim de semana com a cremosa
Parece que foi ontem que eu plotei USFDB para ser uma shortfic para me consolar enquanto eu escrevia Empresário; e estamos terminando com 40 capítulos e quase 200k de palavras... Nem vou dizer nada, porque essa história cresceu sozinha no meu coração :')
Boa leitura! E, claro, se quiserem comentem porque eu fico muito feliz!
#EstrelandoOCoadjuvante
»»🩰««
A luz do holofote amarelo atingia os cabelos de Jungkook como uma torrente de ouro, líquida; como se aquele pedaço do palco fosse dono de uma atmosfera própria e única. Reluziam: o cabelo, a pele, o figurino creme.
Entretanto, a bela luz foi capaz de capturar Jungkook por apenas breves segundos de acúmulo de expectativa e tensão. Ele saltou para fora do holofote, e todo o palco se iluminou para que a plateia lotada pudesse acompanhar seu solo.
Naquela plateia, estava Jimin. Admirado, feliz e triste. A dança de Jungkook hipnotizava. Cada movimento era tão fluido que os passos em sequência pareciam apenas um. O contorno dos músculos por baixo da roupa era como o ondular da água de um lago. Fazia todos aqueles saltos e piruetas complexos parecerem simples; o maior atestado de um bailarino. Jimin, mesmo tendo assistido parte dos treinos, tinha a impressão de que Jungkook era uma pluma e flutuava pelo palco.
Ao apagar das luzes e ao esvaziar do palco, aplausos massivos tomaram conta do teatro. Jimin, sempre orgulhoso e impressionado, acompanhou-os. Não havia uma poltrona vazia sequer, e, pelo visto, todas foram vendidas por causa de Jungkook.
— Nem acredito que Jeon Jungkook vai se aposentar pouco tempo depois de se tornar um dos bailarinos principais do Regal Ballet! — suspirou uma senhora ao lado de Jimin, que engoliu em seco.
— Mas ele parece tão jovem para se aposentar! — respondeu outra mulher. Ao observar a senhora, estendeu-lhe um lencinho que logo enxugava lágrimas furtivas nos olhos cheios de lápis de olho borrado da mais velha.
— Na verdade, bailarinos clássicos costumam se aposentar relativamente cedo, se tiverem alguma lesão ou algo assim. Nesses parâmetros, até que ele não destoa, mas Jungkook começou tarde no balé e faz só três anos que virou um dos principais da companhia. E ele está muito bem ainda, sem lesão nenhuma. Esperava que ele se aposentasse só daqui uns cinco anos.
— Nossa, mãe, você sabe da vida inteira dele! Vou contar pro papai!
— Boa sorte — a senhora riu. — Só sei da carreira mesmo. Jungkook virou um dos meus bailarinos favoritos antes mesmo de ter ganhado o título de principal. Mas eu sabia que ele ia ganhar!
— Mas o que tem de especial nele?
— Difícil dizer, é muito subjetivo, sabe? Nenhum dos bailarinos do Regal Ballet tem uma técnica pior. Acho que o que diferencia um do outro é a interpretação. Jungkook casa bem com qualquer papel e traz uma faceta diferente para ele. Mesmo um balé de repertório que eu já conheço vira uma caixinha de surpresas se ele faz um papel principal.
— Ah... Acho que entendi.
— Deveria me acompanhar mais ao teatro.
— Só vim dessa vez porque a senhora me encheu muito o saco!
— Óbvio, como perder a despedida de Jeon Jungkook? Te fiz um favor.
Despedida. A fim de fugir das especulações de por que Jungkook estava abandonando o Regal Ballet no auge de sua carreira, Jimin aproveitou o sinal indicando o intervalo entre atos para ir ao banheiro.
O Teatro Municipal não era tão grande — o que explicava a dificuldade de comprar os ingressos —, mas era muito tradicional. Colunas brancas de mármore margeavam seu caminho pelo carpete vermelho, dando espaço apenas às paredes com arabescos. Tudo reluzia em tons dourados e creme.
O peito encheu de orgulho mais uma vez.
Jungkook dançava em locais clássicos como aquele, ao redor do mundo inteiro. Ou melhor, tinha dançado. Aquele, em seu país natal, tinha sido escolhido como seu último teatro com o Regal.
Apesar de ter tentado usar a ida ao banheiro para se distrair, Jimin logo se encontrou acomodado em sua poltrona. Não conseguia caminhar pela bela construção sem rumo, agoniado demais em estar no salão principal e ver tudo. Apesar de fazer o seu melhor para não prestar tanta atenção nas conversas sobre a inesperada aposentadoria, cada segundo de intervalo lhe pareceu uma tortura.
Os três sinais avisando a volta do espetáculo acariciaram seus ouvidos. A iluminação acendendo e as pesadas cortinas vermelhas abrindo foram saboreadas como o mais doce néctar. Não mais doce do que ver Jungkook ali, no palco.
Mesmo que a coreografia não fosse a dele, Jungkook raramente saía de cena, por ser um dos personagens principais. E ele nunca saía do papel. Tal fato fazia cócegas no âmago de Jimin — Jungkook, sempre tão próximo, parecendo tão diferente. Era assustador e encantador. Admirava-o.
Era tão fácil mergulhar em Jungkook, em suas expressões, em sua dança, que o espetáculo passou em um piscar de olhos. Quando a cortina se fechou e Jimin consultou o libreto, atestando que aquele fora o final do terceiro ato, lágrimas lhe borraram a visão.
Tinha acabado rápido demais. Jimin queria rebobinar o começo do espetáculo e tentar assistir tudo com ainda mais atenção, para que nunca fosse capaz de esquecer um detalhe sequer.
As cortinas abriram novamente, mas não era mais uma cena ou coreografia. Eram os agradecimentos. Os grupos de personagens entraram um de cada vez, oferecendo uma bela mesura.
Jungkook entrou por último no palco. E foi ovacionado de pé pela plateia.
Ele ofereceu um sorriso lindo de doer a todos e, ao encontrar Jimin no meio da plateia, soprou-lhe um beijo com um sorrisinho maroto. Enquanto ainda era aplaudido com entusiasmo, uma moça usando um belo vestido vermelho subiu no palco com um microfone e um farto buquê de flores. Jimin a conhecia, era uma das coordenadoras da companhia de dança.
A plateia se calou quando o buquê foi oferecido para Jungkook e seu sorriso morreu. Apesar de não parecer triste, lágrimas surgiram nos olhos grandes e expressivos.
— Boa noite — a mulher disse ao microfone, e sua voz reverberou alta pela acústica impecável do salão. — O Regal Ballet agradece a presença de todos nessa noite tão especial. Todos sabem que cada apresentação é única para nós, e nasce de muito ensaio, esforço e paixão. Todos sabem que sempre buscamos nos superar para fazer jus às histórias que recontamos através da dança.
"Mas, hoje, a noite é ainda mais especial e preciosa para nós. Cheia de orgulho, mas um pouco melancólica também. Hoje, nosso querido bailarino Jeon Jungkook encerra a história dele conosco. E venho, em nome de todo o Regal Ballet, te agradecer, Jeon Jungkook.
"Obrigada por toda sua entrega e paixão. Você fica marcado na nossa história como companhia e como pessoas; não só pela figura doce que é, mas pelo artista feroz que se mostrou ser e nos inspira. Sabemos quanto esforço foi necessário para você chegar a esse ponto, e sabemos o quanto fomos afetados ao observar esse trajeto.
"Afeto. Essa é uma palavra perfeita para te descrever, e tenho certeza que nosso público concorda. Seu jeito de ser nos desperta muitas emoções, mas você o faz ainda mais no palco. Você deu um novo rosto e uma nova aura à interpretação do Regal Ballet. Obrigada por aprender conosco e nos ensinar. Sua humildade e dedicação são um grande exemplo. Você é um grande exemplo. Sentiremos sua falta, Jeon Jungkook."
Apesar da dicção perfeita, a voz da mulher falhou na última frase. Ela enxugou os olhos antes de abraçar Jungkook de forma desengonçada — o enorme buquê atrapalhava — e passar o microfone para ele, que olhou o objeto como uma criatura exótica e o tomou com receio.
Jungkook pigarreou e se assustou com a altura do próprio pigarro. A plateia riu, mas sem escárnio. Jungkook riu junto e enfim tomou ar para dizer com a voz trêmula:
— Bem, acho que dá para notar pela minha voz que, apesar de estar acostumado com o palco, não estou muito acostumado com microfones. Mas acho que a velocidade do coração é a mesma para qualquer um dos casos. E essa é uma das minhas coisas favoritas na dança: me sentir tão vivo.
"Eu, sinceramente, não sei colocar em palavras o quanto sou grato ao Regal Ballet e a todos meus parceiros de profissão. Juro, só hoje vi o primeiro defeito: prepararam um discurso bonito para mim e não me avisaram para que eu pudesse preparar algo tão bom de volta."
A plateia e as pessoas no palco riram, mesmo enxugando as lágrimas. Jungkook fez o mesmo. Então, voltou a falar:
— Eu choro agora não porque estou triste, mas porque estou muito feliz. Estar em turnê com uma companhia de dança desse calibre e me apresentar para o mundo inteiro é um sonho que eu tinha há muito, muito tempo. Mas o que eu não sonhava na época e mudou completamente a vivência desse sonho foi conhecer vocês. — Jungkook deu as costas para a plateia e olhou para os outros bailarinos. Enxugou o rosto com o dorso da mão que segurava o microfone e o farfalhar do celofane embrulhando o buquê se fez ouvir nas caixas de som. — Vocês me mostraram que nenhum de nós é perfeito e, depois disso, me ensinaram o tanto que eu tinha para aprender com cada um. Apesar de ter entrado na companhia depois da graduação em dança, vocês foram a minha escola, assim como cada espetáculo.
"Então, obrigado por todo o apoio, de verdade. Eu seria um bailarino diferente sem vocês. Também agradeço muito à administração do Regal Ballet, que achou uma boa ideia abrir as portas para um bailarino sem nome, de carreira curta e que só tinha empolgação de sobra. Não acho exagero dizer que vocês foram minha família nesses últimos anos de viagens, ensaios intensos e desespero para achar a tiara do figurino que sumiu. Obrigado também ao Gremlin que vive escondendo nossas coisas pelos camarins, aposto que ele faz isso pra aumentar nosso espírito de time!
"E, por último, só queria deixar claro que isso não é um adeus à dança. Não vou enterrar comigo tudo que aprendi com a minha família e com a minha plateia. Na verdade, acho que não sou humanamente capaz de parar de dançar, de sonhar com dança, de querer experimentar mais desse mundo. Eu estou dizendo adeus às turnês com o Regal Ballet para abrir espaço a uma nova faceta minha como apaixonado por dança: ser um professor dessa arte tão transformadora.
"Assim como meus parceiros do Regal me ensinaram muito, eu só pude estar aqui hoje porque lá no final do meu ensino médio, professoras incríveis me apoiaram, sem torcer o nariz por causa da minha idade ou falta de técnica. Na verdade, uma correção, tive o apoio das minhas professoras incríveis e do meu noivo, claro, mas eu não tenho nenhuma pretensão sequer de ser uma pessoa tão grandiosa, altruísta e generosa quanto ele. Quero poder fazer para outros jovens o papel que minhas professoras desempenharam para mim; mas torço para que as pessoas possam ter um parceiro de vida incrível como eu tive também.
"Eu me perdi no discurso, né? Mas acho que posso já que vocês não me deixaram preparar nada e me pegaram desprevenido! Ei, sem rir! Enfim, a inserção do meu noivo, Park Jimin, nesse discurso não foi tão bem feita quanto ele merecia, mas foi de coração. Eu te amo, meu docinho. Obrigado por ser minha plateia em tantas etapas da minha vida, você me faz sentir como eterno protagonista de romance, e você sabe como essa metáfora boba é importante para mim. Sem você, eu não conseguiria transformar os papéis como protagonistas de balés tão meus.
"Apesar de não terem comparecido por motivos de força maior, também queria agradecer aos meus sogros, por terem sido meu lar por muito tempo, e à minha mãe, que se esforçou muito para que eu pudesse estar aqui mesmo que não fosse o futuro que ela sonhava para mim. Por ter aceitado que eu tinha sonhos próprios e apoiado eles.
"E, por último, mas não menos importante, quero agradecer à plateia. Vocês são o motivo do meu coração acelerar quando entro no palco e todos meus movimentos parecerem mais vivos. Vocês dão sentido e camadas aos ensaios e, toda vez que me apresentava, queria ensaiar mais e mostrar um Jungkook ainda melhor a vocês. Obrigado por terem sido meu combustível."
Jungkook devolveu o microfone à moça de vermelho e, ainda com o buquê nos braços, fez uma bela mesura de agradecimento.
Dramático, como o bailarino que era; humorado, como o Jungkook que era.
Recebeu mais uma salva de palmas e foi ao fundo do palco, unindo-se aos seus companheiros de dança. A moça da coordenação voltou ao microfone e começou a falar sobre os patrocinadores, informações sobre outros espetáculos e avisos diversos.
Então, esvaziaram o palco.
As cortinas vermelhas e pesadas fecharam.
Jimin acabara de assistir à última apresentação do noivo como bailarino principal do Regal Ballet. Acabara de vê-lo se despedir de uma parte importante de si.
Como Jungkook passaria um tempo a mais no teatro se despedindo dos seus amigos — apesar de terem organizado uma festa de despedida no dia seguinte e até alugado um salão para isso —, Jimin se encaminhou para a saída do teatro sob os olhares do resto da plateia. Alguns, como a senhora que tinha sentado ao seu lado, olhavam-no com curiosidade e um sorriso nos lábios. Outros, com certa inimizade. Por bem ou por mal, Jimin já tinha passado uma vida inteira aprendendo a como ligar menos para pessoas externas.
Havia uma praça na frente do teatro. Apesar da maioria das pessoas chamar carros de aplicativo para ir embora, algumas passeavam por lá. Parecia seguro, então Jimin resolveu se acomodar em um banco de pedra iluminado pela Lua e pelos postes estilizados combinando com o teatro.
O vento da noite estava frio, fazendo-o vestir o sobretudo rosa-bebê e se encolher dentro dele, especialmente as pernas expostas pelo vestido de cetim azul celeste. Apesar de frio, era delicioso. Jimin gostava de como lambia suas bochechas.
Infelizmente, o silêncio deu abertura para que pensasse sobre o motivo de tanta inimizade de parte da plateia. Talvez por acharem que Jimin era o motivo da aposentadoria. De fato, o noivado ainda não virara casamento devido à agenda atribulada das turnês de Jungkook. Pensando friamente, Jimin de fato era um motivo para a aposentadoria.
Mas não de forma negativa; como se tivesse forçado Jungkook, ou dado um ultimato a ele. Por mais que a aposentadoria os emocionasse, porque sabiam o quão incrível a experiência havia sido para o bailarino, não os surpreendia. Jungkook fizera aqueles planos antes mesmo de entrar no Regal Ballet; quando ouvira sobre as frequentes turnês, notara que havia uma troca a ser feita. E, a princípio, quase recusara o convite.
Para Jungkook, estar com os amigos, família e namorado era importante. Ter algo que chamava de lar, depois de tanto tempo se sentindo intruso na própria casa. Na verdade, queria muito construir um lar para si e para Jimin, queria uma família. E, querendo ou não, as turnês eram um empecilho.
Porém, Jimin abrira as portas de novo, porque adorava fazê-lo para seu amor. Por que escolher uma ou outra opção se poderia escolher uma e outra? Fazer turnês no começo da carreira e, depois, buscar algo compatível com o estilo de vida que queria? Foi pensando naquilo que Jungkook notara o quanto gostaria de ter o próprio instituto de dança. Então, o plano fora feito. E aquele final que viviam, era o esperado.
Ou melhor, planejado. Durante aqueles anos, Jimin se encontrara pensando se Jungkook mudaria de ideia ao receber fotos dele feliz como nunca com sua companhia de dança durante as turnês. Ao vê-lo em capas de jornais e revistas internacionais. Ao vê-lo virar bailarino principal do Regal, um grande destaque e descoberta do mundo da dança.
Mas toda vez que Jungkook voltava à Coreia, Jimin notava que ele continuava o mesmo; que ele só aproveitava ao máximo a experiência porque sabia que ela acabaria em algum momento para dar espaço à outra que gostaria de viver, porque vivia seu sonho no Royal Ballet sem ter que sacrificar mais nenhum. Jimin notava pela forma do bailarino de beijá-lo afoito no aeroporto; de murmurar sobre se sentir em casa contra seu peito, mesmo estando ambos mergulhados em lençóis de hotéis nos quais nunca se hospedaram antes; de ouvi-lo divagar sobre os próximos passos de sua carreira como professor; de se despedir com um sorriso banhado em lágrimas, ansioso para voltar logo.
Tão mergulhado em pensamentos, Jimin só despertou deles ao ser engolido por um calor contrastante à noite gelada. Ao ser convidado para navegar na risada límpida do noivo.
— Como você tá gelado! — Jungkook exclamou e puxou as mãos de Jimin por dentro do casaco acolchoado até seu corpo, ainda quente da apresentação e da despedida dos amigos. Acomodou-se no banco até ficar bem grudadinho e, vendo que Jimin manteria as mãos em sua cintura, deixou as suas se acomodarem nas bochechas fartas e vermelhas. — Não acredito que deixei meu docinho virar um picolé, sou o pior noivo do mundo!
— Eu poderia ter ido a outro lugar. — Jimin riu e ofereceu mais o pescoço quando sentiu Jungkook subir beijos castos e cálidos por ele. — É que a Lua está muito bonita hoje.
Do pescoço, os lábios de Jungkook passearam até a bochecha para, enfim, buscarem a boca de Jimin. Beijaram-se. Tinha sabor de lar. O amargo do adeus se misturava com o doce de boas-vindas. Era paradoxal e delicioso.
Jungkook desceu as mãos das bochechas do noivo para as costas dele, puxando-o até estar coladinho em um abraço. Apoiou o rosto no ombro estreito, mas forte, e sussurrou contra seu pescoço:
— A melhor parte dessa noite é saber que não vou ter que me despedir mais de você.
— Sim...
Jimin o pressionou com força de volta. Aquele calor enfim estaria ali não por dias, mas por meses, anos, uma vida inteira. Enfim, quando voltasse de um dia cansativo de trabalho, teria a quem abraçar até cair no sono como se nada de ruim houvesse acontecido.
— Te amo, docinho.
— Te amo, gracinha. Tanto.
Desvencilharam-se do abraço para deixar as línguas entrelaçarem de novo. Daquela vez, sem pressa; era o começo da vida dos dois juntos. Não havia viagem de avião marcada, nem a pressão de bater o ponto na escola indicando o fim de uma breve janela de calor e de presença.
— Mas e a despedida do balé? — murmurou Jimin contra os lábios de Jungkook antes de distribuir-lhe beijos nas bochechas macias e um pouco salgadas de suor.
— Ah, dá aquele sentimento de nostalgia, mas tudo tem um fim. E esse fim fui eu que quis também. Tô deixando pra chorar de verdade na festa de amanhã, sabe? Eu vou voltar pro palco, professor dança também, então não é um adeus. É um adeus pro pessoal do Regal, sabe? Então... vou chorar amanhã. Hoje tenho um docinho pra experimentar.
— Se você diz... — Jimin riu e levantou o queixo do noivo com a unha longa, apenas para estalar um beijo bem na ponta de seu nariz. — Quais os planos para hoje?
— Não são os de sempre? Achar um restaurante pra comer, ir pro hotel, tomar banho, transar desesperadamente e dormir?
— Você é péssimo, Jeon Jungkook! — Em geral, a frase vinha acompanhada de uma risada, mas Jimin estava entretido demais observando o noivo que continuaria ao seu lado, acariciando os fios endurecidos de suor e laquê com as unhas. Transbordava tanto carinho e amor; Jungkook sentia-se prestes a desmanchar perante aquele olhar. — Você não vai embora, então não precisamos fazer tudo de uma vez só... Não está cansado? Você teve muitos solos hoje...
— Eu deixo você fazer todo o esforço hoje, sem problemas.
— Péssimo, Jeon Jungkook!
Jimin tentou vestir uma expressão revoltada; Jungkook, uma dissimulada. Porém, ambos acabaram se derretendo em risadas e em carinho. Jungkook puxou Jimin contra seu peito, e entrelaçaram as mãos geladas. Findadas as risadas, mergulharam em um silêncio contemplativo e grato. Gostavam de estar ali.
— A Lua tá bonita mesmo hoje... — Jungkook comentou enfim.
— Mais que eu?
— Impossível, docinho. A Lua tá bonita desse jeito é pra iluminar seu rostinho lindo.
— Seria tão romântico se você não usasse essa voz de falar com cachorro...
— Agora que vamos morar juntos, vamos adotar um? Pode ser um gato também.
— Podemos, sim. Você continua muito bom em escapar de saias justas.
— Fui treinado pelo melhor! — Jungkook riu enquanto o abraçava mais e deixava um beijo nos fios cor-de-rosa. Amava o fato de que, mesmo bem mais próximo dos trinta do que dos vinte, o noivo ainda não desistira de manter os cabelos coloridos. Jimin ainda era sua flor em meio ao asfalto.
Passaram mais um tempinho abraçados em silêncio, até ele ser quebrado pelo ronco da barriga de Jungkook. Jimin caiu na risada e buscou sua bolsa; dela, tirou um sanduíche natural e o entregou ao noivo.
— Só para você ter alguma sustância até decidirmos o que fazer com todo esse tempo.
Jungkook encarou o sanduíche por bons segundos antes de aceitá-lo. Seus olhos marejaram e o nariz já vermelho devido ao frio piorou.
— Gracinha, está tudo bem?!
— Só... só senti tantas saudades suas... Tô tão feliz de tá aqui.
Jimin sorriu e beijou-lhe o ombro. Afundou os dedos nos fios negros e ficou inebriado com a doçura que o noivo ainda carregava.
— E eu fico muito feliz em te ter...
— Emocionado...!
— Você também é!
— Sou! — O nariz de Jungkook enrugou com o sorriso e as lágrimas presas escorreram. Sentiu Jimin enxugá-las ao voltar o olhar para o sanduíche em mãos e o desembalar. — É só... Dá aquele sentimento de que nada mudou, sabe? E eu gosto disso.
— Eu também...
— Eu tinha muito medo das minhas turnês mudarem algo entre a gente.
— Eu também...
— É? Me desculpa, docinho.
— Não precisa pedir, gracinha. Medo faz parte, mas também sempre senti muito orgulho de você...
— E eu de você...
— Eu? Sou um mero professor.
— Simplesmente o dono do maior canal de educação na Coreia! — retrucou, ofendido. — Não vou mentir... Quando eu tinha um dia difícil, uma apresentação ruim ou saudades demais e o fuso-horário não deixava eu te ligar pra fazer uma call até cair no sono, eu colocava uma playlist de vídeos seus pra tocar e dormia.
— Sério?!
— Funciona super! Você podia tá falando de desastres nucleares que mesmo assim eu dormia que nem um bebê.
— Muito mórbido da sua parte...
— Apenas rendido ao meu noivo, por favor! Mas isso é raro, gosto mais de dormir com química orgânica.
— Escolha inesperada.
— Você é sempre uma escolha certa, docinho.
— Pare de ser tão romântico, gracinha! Eu vou me apaixonar mais!
— Fica à vontade pra isso! — Engoliu o pedaço de pão para poder encher o rosto de Jimin de beijos. — É apenas retaliação por você me fazer tão apaixonado!
— Ainda bem... — Jimin suspirou enquanto Jungkook fazia um caminho de beijos até sua boca.
— Hm?
— Que a gente ainda é apaixonado um pelo outro.
— Verdade. — Um selinho. — E só começou.
Um outro ronco da barriga de Jungkook interrompeu a conversa e caíram no riso.
— Termina de comer o sanduíche, gracinha! — Jimin afastou os lábios com um riso. Manteve o corpo perto e uma das mãos mergulhadas nos fios negros do noivo enquanto pegava seu celular para pesquisar por restaurantes. — Vou procurar algum lugar para jantarmos. Está com vontade de algo específico?
— Park Jimin!
— Você vai ter todo o Park Jimin que quiser durante o resto da vida, mas ele não vai encher seu estômago. Responda direito.
— Quero ver o Taehyung, o Hoseok e o Yoongi também! Desde que comecei com as turnês não vi eles presencialmente mais.
— Era complicado, você tinha pouco tempo. O Taehyung e o Yoongi vai ser mais fácil... Taehyung continua em Busan com a lojinha dele e o Yoongi no instituto de música. O Hobi que acabou de ir num cruzeiro como bailarino, então vai demorar um pouco para ele voltar. Mas comida, Jungkook, você não vai comer nossos amigos, vai? Nosso relacionamento não é aberto.
— Te fiz fazer uma piadinha sexual! — Jungkook riu, muito alegre. — Posso ficar em paz agora!
— Jungkook, o que você quer comer? De comida, sem nenhuma conotação sexual. Pelo amor, que difícil!
— Qualquer coisa.
— Não tem restaurante de "qualquer coisa" aqui, infelizmente.
— Você não quer comer nada em específico?
— Não fui eu quem exauri meu corpo hoje, então suas vontades são prioridade.
— Ai! Pega o mais próximo com melhor avaliação, vai...
— É uma lanchonete.
— Vai ela mesmo então!
Mais uma quase-briga que culminou em uma gargalhada. Quando Jungkook terminou o sanduíche, encheu o noivo de beijos e o puxou para caminharem coladinhos e com as mãos mergulhadas nos casacos aquecidos um do outro até a tal lanchonete.
Cada passo pelas ruas desconhecidas aumentava aquela sensação de que nada mudara entre eles. Eram envoltos pela mesma aura das vezes que caminharam entre as ruas estreitas de Busan até a loja de conveniências, só que sem as consequências de serem vistos juntos. Nenhum dos dois comentou em voz alta, mas, juntos, ambos sentiam como se ainda fossem alunos do ensino médio. As preocupações do mundo adulto se desfaziam a cada selinho.
A lanchonete era pequena e aconchegante; parecia mais uma cafeteria, apesar do cardápio variado. Puderam se aconchegar em uma espécie de sofá no cantinho e Jungkook passou longos minutos enfatizando o poder do seu "qualquer coisa" de achar um lugar legal. Jimin, no seu papel de "noivo durão", conseguiu fingir cara de impaciente por bastante tempo, mas não ele todo, claro. Poucas coisas o alegravam tanto quanto estar com o parceiro. Finalmente. De verdade.
Ao som de uma música pop baixinha, murmúrios e som de louças colidindo, colocaram em dia a conversa sobre a última turnê de Jungkook — com direito à história peculiar de uma criança que fugiu da mãe para subir no palco e acabou passando o resto do espetáculo sentada no colo de Jungkook, na Itália —, sobre o andamento da metodologia de ensino que Jimin construía com os amigos de faculdade e sócios do canal, e sobre o amanhã: ambos foram seduzidos pela ideia de alugar uma casa bem espaçosa em Busan e dividir os custos entre a escola de Jimin e o instituto de dança do Jungkook.
Em vez de contestarem a ideia, começaram a planejar como evitar alguns problemas óbvios — isolamento acústico, horários de entrada e de saída, etc. Quando Jungkook notou a forma que tratavam o novo assunto como se fosse uma certeza e comentou sobre, ambos caíram no riso de novo. Por baixo da mesa, as mãos se entrelaçaram.
— Viu? — Jungkook sussurrou contra o ouvido de Jimin do lado de fora da lanchonete, enquanto chamavam um carro de aplicativo até o hotel. — Como vou ficar triste com o fim das turnês com tanta coisa boa pro nosso futuro?
— Ainda bem... — Jimin se pressionou mais contra o corpo de Jungkook e sentiu braços o contornarem.
— Conta mais sobre esse "ainda bem".
— Que você é feliz aqui também.
— Sou tanto...
O caminho para o hotel até que foi rápido, mas o banho que tomaram juntos, longo. Aproveitaram a suíte com banheira para enchê-la e passarem um bom tempo lá, um contra o outro. Daquela vez, ficaram em silêncio. Encantados com pele contra pele, com coração batendo contra coração e, mais uma vez e mais do que tudo: encantados com a falta de pressa.
Jungkook dormiu contra o peito de Jimin, que permaneceu atento para não dormir ou acordariam congelados. Quando a água passou a ser morna, Jimin acordou o noivo com cuidado e o puxou para fora da banheira, enrolando-o em uma toalha felpuda e o sentando na tampa do vaso sanitário. Secou os fios negros com o secador de cabelo lânguido do hotel e riu enquanto Jungkook tombava a cabeça todo manhoso e murmurava:
— Fazia muito tempo...
— Hm?
— Que você não podia cuidar de mim que nem nos velhos tempos. Por causa da correria.
— Ah, sim... Verdade. Quer uma massagem antes de dormir, gracinha?
— Quero muito, docinho.
Com os fios secos, Jungkook fez questão de secar os fios cor-de-rosa do noivo de volta. Jimin resmungou no começo, mas aceitou todo derretido no final, arrancando um riso gostoso de ambos. A preguiça de desfazer as malas àquela hora da noite os fez apenas se enfiaram nos lençóis da cama da forma que saíram do banheiro. Jimin passou a massagear os ombros tensos do noivo, mas foi interrompido ao ser puxado contra o peito dele.
— Soninho... — Jungkook justificou enquanto beijava os fios rosa. Daquela vez, cheiravam como o xampu do hotel. Queria voltar para Busan, para casa, e sentir o cheirinho doce e único do xampu favorito de Jimin desde que se conheceram.
— Também estou, confesso... — Jimin concordou e se ajeitou melhor, passando seus braços por cima dos que enlaçavam sua cintura.
— Tô tão feliz...
— Também...
— Amanhã a gente vai poder dormir assim de novo...
— É verdade...
— E depois de amanhã também...
— Uhum...
— E depois também.
— É verdade... Talvez, só talvez a primeira mobília que eu tenha comprado quando me mudei para o lado dos meus pais tenha sido uma cama de casal.
— Sério?! Tudo friamente calculado...
— Foi! — Jimin confessou com uma risada e cobriu o rosto, com as bochechas coradas.
— Obrigado por ter me incluído no seus planos por tanto tempo, docinho...
— Era nossa promessa, certo? Obrigado por nunca ter deixado de fazer parte dos meus planos.
— Não precisa agradecer por isso, sério... — Jungkook apertou mais Jimin contra seus braços, como um reflexo do aperto do seu coração. Era um pouco dolorido, mas muito gostoso também. Porque tinham ultrapassado a incerteza. — Tô tão ansioso pra voltar pra casa depois do trabalho e te encontrar lá.
— Eu também...
— Poder cozinhar com você, falar sobre o dia, ir dormir ao seu lado...
— Também.
— É tão banal, né? Mas quero tanto.
— É, sim, mas quero muito também; sonhei por todos esses anos com isso. Eu já sabia do meu amor por você, sabe? Mas considero essa mais uma prova de amor: querer tanto viver as coisas pequenas que o coração acelera só em pensar nelas.
— Eu tava com tantas saudades de ouvir suas reflexões de pertinho... — Jungkook fungou. — Nem sei por que tô quase chorando se a gente tá finalmente junto.
— Apesar de também não saber explicar, também estou assim, gracinha. Está tudo bem. A gente finalmente pode dormir sem ficar com medo de encurtar nosso tempo juntos...
— É verdade. Meu deus, como era horrível cair no sono e acordar já tendo que ir embora. Como eu fiz isso mesmo?
— Também não sei como eu aguentei te ver ir tantas e tantas vezes. Não que eu não ficasse feliz por você! Mas dói.
— É, dói demais. Mas passou. Que relaxante ficar com sono sem peso na consciência!
— Não é? — Jimin deu uma risada fraca para acompanhar, mesmo entre lágrimas.
Com o coração flutuando, ajeitaram-se um contra o outro. Apesar de toda a emoção, daquela vez podiam deixar o cansaço do corpo ser ouvido e mergulhá-los no sono. Sem saudades antecipadas, sem medo do próximo período afastados um do outro, sem medo da velocidade com a qual os minutos passavam quando estavam juntos. Porque, enfim, protagonizariam, juntos, o próximo capítulo de suas vidas.
»»🩰««
MEU DEUS, ACABOU, EU QUERO FICAR EM POSIÇÃO FETAL PRA SEMPRE 😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭 Mas gostaram do desfecho???
Ah, não se esquece de deixar seu votinho! 💜
Qual foi seu detalhe favorito do capítulo? Eu gosto como mesmo depois do timeskip, os jikook parecem os mesmos em relação um ao outro, mesmo mudados! Também amo amo demais ouvir eles fazendo planos para o futuro. Eu vivo fazendo isso com minha namorada e acho que é uma das coisas que mais gosto, sabe? Conseguir ver uma vida com aquela pessoa.
Espero muito que tenha gostado não só da fic, mas como do epílogo e, como sempre, tenha sido um pedacinho de conforto para você também! Muito obrigada mesmo por ter chegado até aqui. Escrever é tudo para mim e ter pessoas tão diferentes de mim acompanhando essa jornada que inicialmente parece tão pessoal é incrível 💜 amo vocês!
Ah, e agora que USFDB foi finalizada, a minha próxima fanfic com atualizações quinzenais é Só Uma Coçadinha (o capítulo 2 sai dia 08/04 e vocês já podem conferir o capítulo 1 no meu perfil!). Ela não lembra muito USFDB, confesso, mas é uma pseudo comédia romântica com um Jimin vampiro e um Jungkook lobisomem vivendo uma crise da amizade por causa de hormônios. Adoraria ver você por lá! (ou qualquer uma das minhas outras histórias concluídas, claro.
Com amor,
Mel Ikus
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