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Capítulo 01

Olívia

No auge dos meus 22 anos, vou passar o fim de ano longe da minha família pela primeira vez. Um misto de sentimentos me fazem querer ir logo e também querer ficar com meus pais. O que posso fazer se sou uma mulher que ama um bom café e um livro, a sair todo final de semana e chegar em casa pra lá de bêbada? Não julgo quem gosta, cada um sabe de si, mas depois da minha festa de 18 anos que cheguei em casa depois das 3 horas da madrugada e levantei quase meio dia com a cabeça explodindo e ainda me sentindo tonta, nunca mais quis beber na minha vida! Aquele dia foi a primeira e única vez.

Engraçado que meu jeito de ser é totalmente meu. Meus pais não me obrigam a ficar em casa, não me mantém na "rédea" como dizia minha avó. Minha mãe sempre confiou em mim e meu pai confia na educação que minha mãe me passou. Talvez por isso eu tenha ciência de que meus atos são escolhas minhas e as consequências deles, também serão!


Por isso escolhi ser alguém na vida que ajuda as pessoas. Não sou uma super heroína, mas é o que quero alcançar com a profissão que quero seguir. E ser uma médica socorrista em uma cidade que não valoriza a saúde é um tanto complicado. Os gastos com a faculdade tem aumentado e por mais que eu me esforce sei que preciso ajudar como posso financeiramente aqui em casa.

- Filha, já preparou sua mala? Você embarca amanhã. Seu pai vai te levar até o cais Santa Luzia. Não leve muita coisa pesada, você ficará lá por uma semana e meia, apenas. - minha mãe falou assim que parou na porta do meu quarto que estava entreaberta.

- Calminha, dona Nicole! Já está tudo sob controle. Coloquei roupas e sandálias leves e meus documentos estão na carteira dentro da mochila. Já está tudo organizado.

- Estou nervosa com você indo passar o fim de ano longe da gente. Meu coração fica pequenininho. - Se aproximou de mim com seus olhos preocupados e orgulhosos.

- Não se preocupe, mãe. Já sei me cuidar. Você e o papai fizeram um ótimo trabalho! - Falei convencida e tentando amenizar o nervosismo que me corre as veias, só de pensar que estou indo pra longe deles.

- Nem acredito que você já tem 22 anos. Parece que foi ontem que eu gritava seu nome por esse quintal! Você era uma macaquinha, se pendurando nas árvores e mostrando a língua pra quem passasse por você.

- Lembra do nosso vizinho, Jailson?

- Tem como esquecer? Seu pai teve que conversar com ele várias vezes porque você não o deixava sossegado. O homem não tinha paz.

- Ninguém mandava me chamar de Olívia palito, pimentinha. - Caímos na risada com as lembranças da minha infância.

- Ollie, me promete que vai se cuidar. Você vai trabalhar numa ilha cheia de gente que só sabe se aproveitar dos outros. Gente rica não vale nada!

- Mãe, não generalize. E fica tranquila que eu sei me cuidar. Vou fazer meu trabalho, conseguir a grana pra mais um período da faculdade e voltar sã e salva.

- Que Deus te ouça minha filha. Agora vá descansar, amanhã você sai cedo e seu pai não gosta de atrasos.

- Tudo bem, mãe. Não vou me atrasar. A senhora também, vai descansar. Te amo!

-Te amo, minha Olívia! Durma com Deus. - Vejo minha mãe sair pela porta do meu quarto e sorrio agradecida pela minha família.

De todas as coisas da vida que mais amo, sem dúvidas é minha família. Tenho certeza que não existe nada mais especial do que isso e sou grata por essa sorte. Não temos tudo que queremos, quando mais nova lembro de passar algumas dificuldades, mas no fim do dia sempre estávamos juntos e sorrindo. Sempre tínhamos o que precisávamos.

E por mais boa aluna que eu tenha sido, não consegui passar para uma faculdade federal e pagar o Fies não é tão fácil quanto parece. E por esse motivo estou sempre procurando trabalho que pague muito bem nas férias. Durante o ano letivo me divido em duas, trabalhando no comércio dos amigos da família por meio período e depois vou para a faculdade.

Esse ano apareceu uma vaga de garçonete e arrumadeira, para trabalhar em uma ilha privada aqui na minha cidade. Parece que será uma semana inteira de festas de fim de ano. É a primeira vez que passarei o réveillon longe de casa, mas estou confiante que vai dar tudo certo e que na próxima semana, já estarei de volta.

A noite se foi em um piscar de olhos e me levantei animada para pegar o barco. Como minha mãe havia dito, meu pai apareceu cinco minutos antes da hora que tínhamos combinado e me chamou para tomar café. Para a surpresa de todos, desci pronta, me sentei à mesa, comi o bolo de fubá que minha mãe faz e que eu adoro. Dez minutos depois, meu pai já tinha colocado minha mala no carro, enquanto eu me despedia da minha mãe com um forte abraço. Entrei no carro e seguimos em direção ao centro da cidade, onde fica o cais Santa Luzia.

Para minha surpresa, não era um barco estilo pescador ou escuna que levaria eu e outros empregados até a ilha, mas sim uma lancha, dessas que a gente só vê famosos e pessoas muito ricas andando. Me impressionei com o exagero daquilo, afinal éramos doze pessoas, entre homens e mulheres, um barco pequeno, até mesmo um taxi boat poderia nos levar tranquilamente, e gastariam bem menos!

- Olívia, você está levando seu telefone, minha filha?

- Estou sim, pai! Tá tudo na mochila.

- Se acontecer alguma coisa, liga que vou te buscar nadando, se for preciso. - Meu pai não é muito de demonstrar o que sente, mas nunca deixa de ser protetor e carinhoso, do jeito dele.

- Calma pai, não se preocupe. Não vai acontecer nada. Falei com a mamãe ontem sobre isso. Sei o meu lugar, sei do meu trabalho. Faço o que tenho que fazer e volto na próxima semana, com tudo em paz! - Tentei tranquilizá-lo.

- Tudo bem, tudo bem! Eu confio em você, minha filha. Agora vai, pois o marinheiro já está chamando. E lembre-se: Você vale mais do que qualquer coisa que essa gente tenha!

- Te amo, papai! Cuida da mãe. Amo vocês!

Pensei que não ia me emocionar, as lágrimas chegaram perto de cair, mas consegui segurar firme e fiquei com o nó na garganta, enquanto subia no barco segurando a mão do ajudante do marinheiro. Me virei e meu pai estava acenando e sorrindo pra mim. Acenei de volta, coloquei os óculos escuros e fui para frente do barco, sentar e esperar a hora que ele partiria.


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