XXVI
Eu estava evitando Alex desde que ele acordou. O medo de ele falar alguma coisa e as palavras dele, vierem como pedradas. Só de pensar meu coração se apertava. Eu sempre o via pelo vidro, o jeito como balançava os olhinhos meio perdido, e a sua tentativa falha de dizer alguma coisa.
Eu aparecia somente quando ele dormia. E então eu ficava contemplando seu sono e me lembrando dos nossos momentos juntos. Evitava tocá-lo com receio de que acordasse.
Era o dia da audiência e eu estava em prantos. Nervosa andando de um lado para o outro. Johny estava comigo, assim como Doutor Philips, Arthur e o engenheiro. Minhas mãos tremiam e meu peito batia depressa.
Estávamos sentados de frente ao representante da fornecedora assim como de seus advogados. Todos eles tinham cara de poucos amigos.
O juiz deu início a audiência
– Excelentíssimo, a empresa Becker's planejados está em atividade há mais de quarenta anos. Com o objetivo de criar formas sustentáveis para suas decorações, contrataram os serviços da fornecedora aqui presente, num contrato de fidelidade, onde, após a rescisão fora do prazo estipulado, este gera multa. No entanto, ocorre que, há diferença entre o produto pedido e o produto entregue, onde há um vício redibitório, vindo a perceber o erro mais tarde. Estou aqui em nome da empresa, para que dentro desse contexto, seja feita a anulação do contrato, sem que haja a multa, mais a indenização por todos os danos que a empresa teve durante esse tempo. – doutor Philips iniciara.
– Isso é um absurdo, mandamos todos os materiais justamente de acordo com o que foi pedido. Excelentíssimo, não há que se falar em vício, muito menos em culpa quando o cliente não sabe se utilizar dos produtos. Cada material deve ser utilizado para uma finalidade específica, e acredito eu que a Becker's não tenha se dado ao devido cuidado.
– Com licença, mas eu acredito que o senhor não tenha o direito de dizer algo assim por falta de provas. Os senhores não foram capazes sequer de fazer perícia maior em relação se estavam ou não mandando materiais de forma errônea. Não tem como ter a certeza de que a culpa é nossa alegando tais fatos. – contestei.
– Certo, quer dizer que a fornecedora alega ser parte ilegítima no processo? – perguntou o Juíz.
– Exatamente.
– E por que?
– Simples, pode ser que o problema seja dos clientes da Becker's, sendo assim, não há culpa em nenhum das partes aqui presente.
– Ora, ora, quem está mudando o discurso agora? Não acabou de dizer que a culpa era nossa? – cruzo os braços em irônia.
– Senhorita Liza...
– Elizabeth, por favor.
– Senhorita Elizabeth, julga-se tão experta, como pode ter tanta certeza de que enviamos materiais diferentes do que foram pedidos? – ele pergunta com um sorriso no rosto.
– Ao contrário de vocês, eu chamei um engenheiro para que fizesse o teste dos materiais. Permita-me excelência? – ele faz sinal com as mãos e eu me aproximo para lhe entregar os papéis.
Ficamos alguns minutos em silêncio até que o juiz se pronunciasse.
– Vejo aqui que muito dos nomes não coincidem.
– Não é possível Excelência, posso dar uma olhada?
O juiz entrega o papel a Osvaldo, o advogado de Cláudio, dono da fornecedora. Os dois cochicham entre eles e isso só aumenta minha raiva.
– Quem nos garante que os resultados estão corretos? – perguntou.
– Acredito que Doutor Henrico seja um profissional.
– Todo profissional pode falhar, concorda? – ele sorri ironicamente.
– Deveria ouvir a si mesmo, não acha? – devolvi e ele coçou a cabeça um pouco emcabulado.
– Nomearei um engenheiro de minha confiança para que confirme os resultados. Retornaremos em duas semanas. Por hoje é só. – o juiz bate o martelo.
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– Eu queria era bater o martelo na cabeça daqueles dois – disse assim que saí do fórum.
– Liza, acalma-se. A chance deles é quase nula. – doutor Philips tentou me acalmar.
– Não sei. Em duas semanas muita coisa pode acontecer. Que raiva.
– Liza, mantenha o profissionalismo. Evite as ironias. Sei o quanto está envolvida emocionalmente e isso não passa confiança. Preciso que haja racionalmente ou acredito que seja melhor você não participar do caso.
– Me desculpa. Prometo me controlar. – respiro fundo.
Jhony e eu partimos em direção ao hospital. O caminho todo eu olhava a estrada sem ao menos enxergar nada. Tudo em mim focava em Alex e em como salvar a empresa. Eu estava exausta. Implorando para que tudo ocorresse bem. Suspirei sem perceber que eu estava chorando.
– Liza, está tudo bem?
– Só estou preocupada.
– Nós vamos sair desse, ok?
– Não é só isso que me preocupa.
– Alex já acordou. O pior já passou.
– Eu sei, mas...dói pensar no que ele dirá quando me ver.
– É só contarmos a ele o que você fez. Ele vai ficar tão feliz.
– Jhony, não iremos contar nada.
– E por que?
– Não quero que Alex me perdoe por isso. Quero que ele me perdoe porque se sente a vontade em fazer isso. Não como uma forma de me agradecer pelo o que eu fiz ou deixei fazer. Não quero Jhony. Eu sou orgulhosa demais para isso.
– E o que vai fazer quando tudo isso acabar?
– Eu ainda não sei. Ir embora talvez.
– De novo Liza! E seus amigos? E sua família? Agora que você se reconciliou com sua mãe, não pode simplesmente largar tudo. Não é possível que não tenha aprendido nada.
– Eu aprendi Jhony. Aprendi muita coisa, mas a verdade é que não conseguirei ficar num ambiente onde tudo me remete ao Alex. Não dá. Ficar com vocês será como ver Alex todos os dias. Dessa vez se eu for não terá volta.
– E Franz?
– Franz e eu somos apenas amigos. Não voltarei com ele com o meu coração em Alex. Eu só preciso fazer minha vida, sabe.
– Eu ainda torço para que vocês fiquem juntos.
– Sério? – desconfio.
– Sério. Depois do que você fez tenho que admitir que você o ama de verdade e Alex também te ama.
– Eu gostaria de acreditar nisso.
Entrei no hospital sendo recebida por Sarah que tinha um largo sorriso no rosto. Ela disse que Alex estava progredindo e estavam tentando alimentá-lo. Sorri pela notícia e suspirei aliviada. Mal via a hora de vê-lo sair e começar a seguir com a sua vida.
Flávia tem andado sumida nestes últimos dias. Durante duas semanas desde que Alex acordou, eu só a vi três vezes. Talvez ela tenha vindo no momento em que eu não estava para que evitássemos momentos constrangedora e ela se pouparia de me ver.
Jhony resolveu ver o amigo. Eu estava com a mente divagando. Perdida nos últimos acontecimentos e no que eu faria depois que tudo isso acabasse. Eu precisava me libertar sem ter medo de amar e nem de dar o primeiro passo. Coloquei as mãos no rosto querendo controlar toda a confusão de sentimentos pelos quais eu estava passando, e agora mais do que nunca eu torcia para que Alex se recuperasse logo e que as duas semanas para a próxima audiência passasse rápido.
Jhony sai do quarto de Alex e pedi para que eu entre. Disse que ele estava dormindo, e que seria uma boa hora para que eu o visitasse. Ele tinha me ajudado a não ter que enfrentar o desprezo do encaracolado, mesmo ele achando um absurdo. Mas o que eu posso pensar depois daquelas palavras que ele praticamente jogou em cima de mim. Jamais teríamos uma chance. Alex é tão orgulhoso quanto eu e talvez seja por isso que não damos certo. Talvez seja esse o principal motivo pelo qual não ficamos juntos. Sem falar da teimosia.
Parecia uma espécie de rotina entrar em seu quarto e sentar-me na cadeira ao seu lado. Eu não precisava dizer nada, apenas escutar o som de sua respiração e do monitor informando sua frequência cardíaca. Aquilo era o suficiente para confortar no tédio.
– Alex, não sei se consegue me ouvir, mas eu vou ser breve pra não te incomodar – falo num sussurro e até solto uma careta por achar aquilo bizarro. Mas era o que vinha fazendo durante alguns meses. – Escuta, Jhony está cuidando da empresa, certo? Não se preocupe. Seu filho também está bem, é o que Sarah me disse.
Seguro em suas mãos um tanto receosa. Era como se eu segurasse na mão do garoto mais bonito do colégio e aquele o qual eu nutria uma espécie de paixão. A sensação era gostosa ao mesmo tempo que temerosa.
Alex afastou as mãos delicadamente e abriu os olhos. Eles estavam firmes e um pouco perdidos.
– Vá embora... – diz com certa dificuldade.
– Alex, você está falando. – a emoção era tão grande que por um momento eu esqueço o que ele havia dito.
– Vá em...bora... – ele repete, engolindo seco como se fosse o seu último pedido.
– Alex, por favor deixa eu me explicar... – paro de falar no mesmo instante em que eu vejo o quão acelerado seu coração estava. Aquilo foi o suficiente para o meu mundo desmoronar. Saber o quão ruim minha presença pode ser a Alex.
– Vá embora – ele pediu mais uma vez.
– Eu vou, eu juro que eu vou, mas tente se acalmar, por favor.
Saio com o coração na mão e com a mente em Alex. Naquele momento eu tive a certeza que depois que a empresa saísse da crise, nada mais me ligaria ao Alex a não ser as lembranças. Saí a procura de Nick para informar a ele do estado de Alex, e o mesmo foi até ele, rapidamente. Fui até a cantina sem comer ou pedir qualquer coisa. Eu só queria um tempo para acomodar todos os acontecimentos em minha cabeça e poder ir embora. Eu somente veria o encaracolado de longe. Mais uma vez estávamos distantes, apesar de tão próximos.
Eu estava com a cabeça apoiada em minhas mãos quando sinto a presença de alguém a minha frente, o que me faz levar um belo de um susto. Olho a pessoa a minha frente e surpreendo-me por encontrá-la ali. Era uma das últimas pessoas que eu imaginava estar dividindo a mesa de uma cantina ou seja lá de qual outro estabelecimento.
– Posso conversar com você um instante?
– Olha, se for pra brigar, pra vir com discussões, eu não estou no clima.
– Não. Eu vim em paz.
– E então?
– Liza, eu não sou uma pessoa má. Pelo contrário. Se você pensa assim, está equivocada. – Flávia respira fundo – Eu não quis dar o divórcio ao Alex com medo. Medo de você estar o iludindo. Medo de mais uma vez você o enganar e ao invés de terminar seu relacionamento com Franz você fosse dar um passo a frente e de fato foi o que aconteceu. Entretanto, não foi do jeito como eu pensei. De certa forma eu sou a culpada por você e Alex não estarem juntos. Eu amo Alex. Amo muito. Mas eu sei que ele nunca me amará com a mesma intensidade com a qual ele a ama. E depois de tudo o que eu presenciei, eu não sei se dá para competir o meu amor com o seu. O jeito como você cuidou dele, como ficou desesperada quando soube de seu estado. Você abriu mão de seus sonhos para cuidar dele. É nítido o quanto você o ama.
Suas palavras me emocionaram. Meus olhos estavam molhados e eu não conseguia conter. Apenas sequei minhas lágrimas e permiti que ela continuasse.
– Liza, Alex acordou. E agora mais do que nunca eu preciso tomar uma atitude. Eu estou confiando o Alex a você. Eu vou assinar o divórcio, só falta eu assinar e tudo estará resolvido, então não desperdice mais o tempo, por favor.
– O que? – pergunto incrédula.
– É isso mesmo. A única questão nisso tudo é que ele não verá mais Miguel.
– Não, Flávia. Escuta, Alex me odeia. Ele acabou de me pedir para ir embora. Ele foi bem claro quando disse que não queria mais saber de mim.
– Liza, é só ele ver tudo o que você fez a ele que toda essa marra irá se desmanchar.
– Não, ele não pode saber que eu participei disso. Ele não pode saber que eu estive aqui todos os dias. Pra todos os efeitos eu nem sequer fui visitá-lo.
– E por que isso?
– Porque eu não quero que ele fique comigo por isso. Aliás, acredito eu que ele dirá que tudo foi apenas devido ao remorso. Eu não quero ouvir isso.
– Escuta, Liza, não desista. O amor de vocês é lindo. Vale a pena lutar. Correr atrás um pouquinho. Ele já fez isso tantas vezes. Mas independente de sua decisão Alex e eu não dá mais. Eu preciso seguir minha vida a ter que me submeter a um relacionamento de fachada. Então mesmo que vocês não fiquem juntos, eu não quero mais.
– Flávia, escuta, deixe Miguel aqui, por pelo menos três anos. São os anos mais importantes para uma mãe com o filho. Alex cuidará dele e Sarah, Naná, e fora os tio e os amigos. Enquanto isso você refaz a sua vida sempre mantendo contato e depois quando terminar você volta. Venha fazer algumas visitas, creio que tem condições para fazer várias viagens ao ano.
– Liza, eu não posso. Esperar ainda três anos.
– Eu fiz quatro anos de faculdade aqui e me formei lá na Alemanha. Eu garanto que não será tempo perdido.
Ela olhou de lado como se estivesse pensando nessa possibilidade.
– Você cuidará bem dele? Promete que será uma madrasta boa. Por favor Liza, não deixe que ele pense que eu o abandonei, e não deixe ele gostar de você mais do que de mim, ok?
– Do que é que você está falando?
– Eu tenho certeza que você e Alex irão se acertar. É só ele esfriar a cabeça e tudo dará certo. Eu juro. Você venceu. – ela ri. – Promete? Se você não prometer eu vou embora e levo Miguel comigo.
– Oh meu Deus, eu prometo, lógico. Mesmo sabendo que não precisarei fazer isso.
– Eu vou indo. Se precisar de alguma coisa. – ela pisca e sai.
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Quase que o capítulo de hoje não sai, mas eu consegui. Ao que tudo indica teremos mais três capítulos para o fim e mais o epílogo. Dentre estes capítulos teremos um bônus do Alex. Tentarei postar tudo essa semana, então provavelmente teremos capítulos em dias aleatórios. É só isso amores, beijinhos....
Não vou dizer até quinta porque pode ser que tenha capítulos antes.
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