XX
O tempo estava voando. As coisas passavam sem que pra mim fizesse algum sentido. A empolgação a minha volta estava a mil, mas meu coração estava quase parando. Era difícil explicar toda aquela emoção. Uma emoção dolorida e agonizante. Querer seguir em frente e deixar pra trás coisas boas, doía do mesmo jeito quando trazíamos as coisas ruins conosco no presente.
Durante dois meses eu tentei permanecer animada com a ideia do meu casamento, e em certos momentos pareceu funcionar. Franz sorria a todo instante e meu coração pesava por não conseguir corresponder. No fundo eu sabia que amar alguém como eu amo Alex seria em vão, mas se fosse pra ser Franz eu não deixaria que ele escapasse. Ele era um bom rapaz, carinhoso, atencioso e cheio de amor. Em algum momento eu me apaixonaria por ele. Em algum momento eu o amaria. Um amor mais calmo, diferente do que eu sinto por Alex, tão intenso e tão feroz.
Encarei todos aqueles convites dispostos na mesa com as letras em dourado escrito meu nome e o de Franz, assim como os dos meus pais os deles. Doía mais ainda saber que mamãe não estaria me ajudando com o vestido, nem seguraria o meu buquê quando chegasse ao altar. Esse era o sonho de toda menina. Era o sonho da Elizabeth que um dia eu fui, mas não de jeito como as coisas estavam indo.
Franz chegou me abraçando por trás e depositando um beijo em minha nuca. Mordi o maxilar tentando esconder as lágrimas que insistiam em cair. Eu não sabia mais o que estava acontecendo com Alex. Não tinha nenhuma notícia dele desde então. Seria melhor assim. Aos pouco eu o esqueceria. Ou não. E eu sabia muito bem que não.
– Está emocionada engel?
– Sim, claro. – omiti. – Estou realizando mais um de meus sonhos.
Franz sorri e me vira dando-me um selinho demorado e apaixonante. Em seguida ele faz um carinho em meu rosto e me diz as palavras as quais eu mais tenho medo.
– Eu te amo. Você está maravilhosa.
Estava pronta para ir ao noivado. Meu coração gelou no mesmo instante. Peguei os convites em mãos e fui até Franz encarar todas aquelas pessoas animadas bebendo e sorrindo, comemorando o que era para ser a minha felicidade.
A casa de papai estava inteiramente decorada. Franz junto com Eveline cuidaram de cada detalhe deixando a decoração com características da Alemanha, e com alguns detalhes da do Brasil. Estava linda, sem dúvida.
Todos já haviam chegados e assim que nos viram, ergueram suas taças.
– Viva os noivos! – gritaram todos.
Tentei correspondê-los com sorrisos ou com olhares acalentadores. Se eu estava assim no meu noivado, no dia do meu casamento eu me sufocaria com toda certeza. Cumprimentei as meninas uma a uma e as apresentei para Eveline. Sam aparentava estar abatida, mas não quis entrar em detalhes, pelo menos não agora. Eve, como não era nenhum pouco tímida, foi logo se enturmando com as meninas, enquanto eu ia cumprimentando os demais convidados. Convidados como meus tios, minha avó, e meu pai, assim como minha futura sogra e sogro. A surpresa no olhar de todos por ver a filha de Walter casar era nítida, e talvez o meu tédio também. Minha mãe como já era de se esperar não estava.
Todas aquelas pessoas comiam, bebiam e riam, parecendo estar se divertindo. Aproveitei um momento de distração e subi até o meu antigo quarto. Precisava respirar um pouco para encarar todos eles novamente.
Sentei-me na cama e olhei para o travesseiro, o qual parecia acalentador naquele momento. Repousei minha cabeça sobre ele e permiti que algumas lágrimas rolassem. Encolhi-me em posição fetal e apertei os olhos ao mesmo instante em que tentava respirar. Era possível ouvir vozes e risadas de onde eu estava, e eu tapava os ouvidos tentando abafar tudo aquilo.
Três batidas na porta preencheram o quarto. Dei uma bufada e rezei para que não fosse Franz.
– Entre! – a porta se abriu e aquela senhoria de cabelos brancos deu o ar da graça. Levantei-me num impulso, feliz por ela estar ali. A mesma se sentou em minha cama e eu a abracei. Abracei-a pra tentar sentir todo o seu amor e ouvir seu coração. O seu cheirinho adocicado, o seu colo tão quentinho e um amor tão imenso.
– Não preciso nem perguntar o que está acontecendo, não é mesmo Liza? – sem olhar para ela, ainda agarrada a seu colo, eu apenas balancei a cabeça consentindo. – Liza, por que aceitou se casar?
– Por que Alex me enganou, vovó. Ele disse que iria se separar e iríamos ficar junto. Mas isso não aconteceu. Eu não quero mais ficar sozinha, isso não me é mais confortável quando você dá uma chance ao amor.
– Liza, meu bem. Tente se acalmar. Eu sei que está difícil, mas as coisas vão se ajeitando com o tempo. Lembre-se, você não pode fugir de suas responsabilidades, tem resolvê-las antes. Cadê a Liza de pensamento forte? – levanto-me e a encaro com o cenho franzido.
– Achei que não gostasse da Liza de pensamento forte.
– Não é bem assim. Eu não gosto da Liza insensível, que só foca na carreira e se esquece das pessoas a sua volta. Mas eu não gosto da Liza que se acomoda com os problemas. Que se lamenta pela vida ter te guiado para outro mundo. Eu quero te ver aguentado as coisas com a cabeça erguida. Eu sei, é difícil. Nós sofremos muito quando o amor não é correspondido, ou quando é, mas o destino insiste em nos mudar de caminho. Não vou negar que eu preferia você com Alex, mas o Franz é uma boa pessoa e poderá te fazer muito feliz.
– Eu sei vó. Mas me dói o coração não poder correspondê-lo.
– Isso Liza, é o primeiro sinal de quem deu uma chance para o amor. É sentir compaixão pelo outro. É ser feliz vendo a felicidade dele, e ficar triste quando ele está triste.
– A senhora quer dizer que eu amo Franz?
– Sim. Mas Liza, existe várias formas de amor. O que você sente por Franz é um amor fraterno. O que você sente por Alex, é um amor carnal. Um amor entre as almas. Muitos casais no decorrer do tempo perdem o amor carnal e passam a ter um amor fraterno. Nós devemos tentar fazer o máximo para que possamos conciliar os dois. Precisamos de alguém que nos complete ao mesmo tempo em que nos incendeia. Quem sabe, o seu amor fraterno por Franz não se torne carnal também? Você só precisa tentar dar um espaço para ele. É como eu te disse. Mais cedo ou mais tarde, as coisas irão se ajeitar. E tudo aquilo que foi seu, e deve ser seu, algum dia, em algum momento voltará, independente da forma como ela virá. A vida não é fácil Liza. Os humanos são complicados e acabam dificultando as coisas também. E do mesmo jeito eu dificultam, podem facilitar, tudo depende de cada um. Mas a cima de tudo, tenha paciência e coragem para enfrentar o presente e seguir em frente com o futuro.
Vovó como sempre me deixava sem palavras. Ela seria para sempre meu remédio e meu consolo. Sem conseguir me manifestar eu a abracei. Vovó tinha razão. Nós vivemos muito regrados. Vivemos de acordo com as regras que nós mesmos criamos e nem sempre nos faz bem. Na vida, em alguns momentos devemos quebrar as regras, porque disso depende a nossa felicidade. Colocamos empecilhos em tudo na nossa vida com medo de errar, como medo do que os outros vão achar, com medo de nos machucar. Nós vivemos a vida inteira com medo. Nos escondendo do mundo e se esquecendo de viver.
Se arriscar, te permite voar.
Respirei fundo e desci conseguindo soltar alguns sorrisos mais aliviados. O meu presente era me casar com Franz, mas o meu futuro poderia ser me casar com Alex, assim como Franz se casar com outra pessoa. Ou então o futuro seríamos nós, juntos para sempre. Mas é só vivendo a vida que iremos saber o final da história. Não adianta tentar prever, não adiante insistir, é um passo de cada vez.
Franz me olhou animado assim que me viu. Deu-me um selinho e eu retribui, o abraçando, e em seguida, sendo ovacionada pelas demais pessoas. Eu ainda sentia meu coração pesado, mas já não estava mais sufocada.
Meu pai veio nos cumprimentar. Ele me abraçou e depositou um beijo em minha testa, segurando minhas mãos.
– Não importa quanto tempo passe, não importa quantas etapas você conquistará, ou perderá, atingirá ou deixará escapar. Eu quero que seja feliz em todas as suas escolhas, e sempre que eu ver um sorriso em seu rosto, será inevitável não me emocionar. – papai dizia com lágrimas nos olhos o que me fez chorar em seguida.
– Pai, onde está Marta? – pergunto notando sua ausência. Papai abaixa o rosto e se reprime um pouco em dizer.
– Acabou não dando certo, minha filha. Mas não quero entrar em detalhes. Tem notícias de sua mãe?
– Não. Eu mandei o convite do noivado pelo correio. Tentei evitar ao máximo vê-la para não gerar discussões ele acabar me machucando. Mas eu gostaria que ela tivesse aqui. – confesso com um nó na garganta.
– Quem sabe ela não te faça uma surpresa no dia do seu casamento, hein?
– Eu não teria tanta certeza, mas...
– Liza, querida, venha cá! – Norma, a mãe de Franz me chama.
– Com licença, papai. – ele consente e eu acompanho minha sogra.
Sentamos-nos no sofá da sala e a mesma estava com um livro gigante em mãos.
– Liza, querida. Você será a noiva de Franz, dentro de quatro meses. Eu gostaria que usasse meu vestido de noiva. Claro, ele está um pouco desatualizado, mas com alguns ajustes, poderemos modernizá-los. Foi um vestido passado de longas gerações e eu ficaria extremamente feliz se, se casasse com ele. O que em diz?
– Por mim, tudo bem. – digo pensando no trabalho poupado por ter que escolher um vestido de noiva.
– Que ótimo. Não sabe como me enche de alegria. Já escolhemos a igreja onde será a cerimônia, e já fomos atrás da decoração, você não terá que se preocupar com nada. Os parentes de Franz estão todos convidados e ficaram super animados. Acho que estou mais ansiosa que você para esse casamento.
"Eu não tenho dúvidas".
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Como prometido, mais um capítulo para hoje. Quem aqui estava com saudades da vovó?
Os capítulos estão ficando um pouco mais curtos, só pra poder chegar no ponto específico que eu quero, a fim de não enrolar muito. Me digam o que estão achando, ainda teremos algumas turbulências, mas tempos bons virão.
Agora é segunda feira mesmo. Beijos....
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