XVI
Alguns meses atrás
- Precisamos conversar.
- Sobre o que quer conversar Alex? - Flávia me olha com os braços cruzados e com a testa enrugada.
- Flávia, eu... Eu quero o divórcio. - solto as palavras e uma leve dor se instala no peito. Não sabia qual palavra substituir por pena, mas era exatamente isso que eu estava sentindo por Flávia.
Ela não disse uma única palavra e nem se moveu, apenas seus olhos se desviaram de mim, talvez procurando algo reconfortante para se distrair. Percebi que seu rosto estava se avermelhando, no mesmo instante em que seus olhos molharam, mas ela respirou fundo contendo sua vontade de chorar.
- Por que isso agora? - ela pergunta.
- Tinha que ser alguma hora, Flávia. - foi a única coisa que eu consegui dizer.
- Mas... Você chegou assim do nada. Saiu o dia todo e chega de repente dizendo isso, eu... Desculpa, mas eu queria uma explicação. Sei lá, o que te fez tomar essa decisão agora.
- Flávia, desculpa o que eu vou dizer e talvez você me ache o cara mais canalha do mundo, mas essa decisão já estava tomada desde o momento em que assinamos nosso nome naquele livro. - ela engole seco e volta a olhar o nada. - Eu só não tive coragem.
- E o que te deu coragem?
- Minha mãe! - respondo e ela me olha incrédula.
- Achei que Sarah gostasse de mim. - diz surpresa, mas não irritada.
- Ela gosta, mas vocês quase não se veem. E outra, eu passei na casa dela, contei sobre a gente e e ela de certa forma me aconselhou a tomar essa decisão. Será melhor tanto para nós quanto para Miguel.
- O que aconteceu?
- A empresa está em crise. Eu precisava contar a minha mãe. Estava desesperado.
- Você ainda ama aquela garota?
- Amo. Mas ela fez a sua vida. Eu tenho que seguir a minha e você também tem que fazer a sua. Encontrar alguém que te ame. - digo com toda a sinceridade.
Ela suspira, e solta os braços, tentando relaxar.
- Certo! Eu te dou o divórcio.
- Temos um acordo? - pergunto impressionado.
- Sim, Alex. O único problema sera quanto a guarda de Miguel. Eu pretendo ir para Nova York. Pensar na minha carreira de moda. Miguel é pequeno precisa de mim ainda. - ela fala e eu sinto meu coração apertar.
- Flávia pelo amor! Miguel é minha vida.
- Eu sei Alex, mas eu preciso fazer a minha vida. Eu não vou proibir vocês de manterem contato.
- Flávia, não pode...
- Alex, é uma ideia. Vamos conversando com o tempo. Vamos ver o que o juiz vai dizer. Você tem advogado? - consinto com a cabeça. - Ótimo! Eu preciso ir, tenho que cuidar da loja.
Eu não a impeço. Ela estava nervosa e provavelmente ela iria desabafar sem ser na minha frente.
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Tempo atual.
O final de semana com Liza estava sendo encantador. Eu me sentia à vontade perto dela, eu sabia que podia confiar nela os meus problemas e talvez essa seria sua grande prova de amor por mim. O jeito como ela se aconchegou em meus braços e o jeito como lidou com Miguel, só fez com que eu me apaixonasse ainda mais.
Liza estava mais sorridente e mais confiante, embora algumas coisas ainda a preocupavam, era só uma questão de tempo e tudo se resolveria. A felicidade era tanta e tão empolgante que parecia não caber em uma única pessoa.
Depois de um lindo final de semana eu passei ao escritório para saber quais eram as próximas providências a serem tomadas em relação a empresa. Vejo Liza e meu coração logo dispara. Impossível não sorrir quando a encontro. Porém seu sorriso era fraco. Alguma coisa estava acontecendo e ela teria que me contar. Decidi prestar atenção no que o doutor dizia e depois descobrir o que se passava.
Entretanto, o que o doutor Philips estava me contando me desesperou. Jhony conversou com ele também e o que eu descobri foi que a situação estava indo de mal a pior. Desesperei-me e sai um pouco arrasado. Liza veio atrás e me deu um abraço tentando passar conforto. Ela era a única capaz de me desligar de pensamentos pessimistas diante de todos os meus problemas.
- Nós vamos sair dessa, eu prometo. - ela diz, mas dá pra ver que duvida das próprias palavras. Volto a abraça-la e a mesma me dá um beijo no rosto.
- Estou descrente disso. - olho em seus olhos e esfrego a mão no peito. - Tem um certo aperto aqui, é tão ruim sentir isso.
- Ei! - ela segura meu rosto - Vai ficar tudo bem. Vamos resolver com calma. Não adianta querer resolver tudo de uma vez que não é assim que funciona, infelizmente. Mas não podemos desistir.
- Não irei. Eu só queria acordar e encontrar tudo resolvido. - bufei.
- É uma pena você ter que ir embora agora. - ela faz cara de decepcionada. - Podíamos almoçar juntos, o que você acha? Nos encontramos no restaurante.
- Eu aceito, estou precisando dar uma espairecida. Eu ainda tenho que ver o lance de Miguel. - passo as mãos no cabelo impaciente.
Depois que Liza e eu nos acertamos e a empresa ficou abalada, eu decidi voltar a frequentá-la mais vezes. Poucas pessoas faziam contratos conosco. A maioria que nos procurava era para cancelar o contrato ou devolver algum material, bem como para restituir o valor gasto.
Decidi ligar para um especialista para ver o que poderíamos fazer quanto aos materiais que ainda estávamos recebendo e como mais uma forma de provar que eles estavam vindo de forma errônea. Marcamos o mais rápido possível e eu respirei tentando controlar o nervosismo. Liza tinha razão, eu não podia me preocupar tão intensivamente assim.
As horas estavam passando devagar. O tédio na empresa estava me consumindo, aliás, não havia movimento. Aos poucos as pessoas pediriam demissão e ficaria somente eu, Jhony e minha mãe. Não queria meter Liza nisso por mais que ela quisesse, embora sua presença fosse de grande ajuda para que eu não caísse e tivesse maior determinação. Jhony estava atrás de empréstimos com o banco, mas o limite do que eles podiam nos oferecer estava bem longe do que precisaríamos, para sanar tudo.
"Respira, vai dar tudo certo"
Repeti isso a mim mesmo várias vezes para conseguir me controlar. Pensei em minha mãe, Miguel, Jhony, Liza, eles eram o meu impulso. Eu já tinha Liza, faltava eu convencer Flávia e o juiz para que me dessem a guarda de Miguel. Segundo o doutor Eduardo, eu tinha grandes chances. Normalmente em casos como esse a prevalência se dá pelo local onde a criança reside, e o fato de Miguel ainda ser um bebê, uma viagem muito longe não seria muito boa. Entretanto, complicava pela mesma situação. Miguel precisa da mãe nos primeiros anos de vida, ele ainda amamenta e é de extrema importância o contato com mãe durante essa fase.
Fui até a sala de minha mãe contar as novidades a ela sobre a empresa e para conversar um pouco com ela sobre a minha relação com Liza.
- Mãe posso entrar? - Sarah digitava impacientemente, olhou para mim como se fosse para se certificar que era eu mesmo. - Claro, meu filho. Entre!
Sentei-me na cadeira a sua frente. Diante dos últimos acontecimentos, fazia algum tempo ue não conversávamos.
- Mãe, creio que talvez sabe dos acontecimentos da empresa, certo?
- Bem, sei. Mas eu quero saber de soluções, você tem alguma?
- Segundo o doutor Eduardo, o juiz já marcara a audiência. Devemos encontrar algum especialista, talvez um engenheiro de materiais para que nos ajude a provar que os materiais que estamos pedindo não está vindo corretamente. O problema é conseguirmos pagá-los. O que ferra com tudo é essa de acharmos uma solução sempre acompanhada de um empecilho.
- Devemos nos arriscar com tudo, meu filho. Tentar tirar soluções de coisas absurdas, mas temos que tentar. Qualquer coisa, qualquer simpatia eu irei fazer, mas nós vamos tirar essa empresa da crise. - minha mãe dizia com a voz trêmula. Por mais que ela demonstrasse firmeza eu sabia que ela estava com medo.
Segurei em suas mãos e apertei tentando consolá-la.
- Nós vamos sim. E agora mais do que nunca eu tenho cada dia mais vontade de fazer essa empresa crescer.
- Por que agora mais do que nunca?
- Liza e eu nos acertamos. Quero dizer, ainda não definitivamente, mas eu já dei entrada no processo de divórcio e ela disse que terminará com Franz assim que ele voltar. Provavelmente dentro de uma semana. Apesar de cada dia parecer anos.
- Estou muito feliz que vocês estejam se entendendo. - ela sorri.
- Eu também. As vezes mal dá para acreditar. E agora estamos indo almoçar juntos. Em breve poderei apresentá-la a todos como minha namorada.
- Vai sim, meu filho. Será um prazer tê-la como nora. A propósito, convide ela para jantar em casa semana que vem. Artur vira com a família para cá. Era pra ter vindo antes, mas ele ficou preso resolvendo os assuntos da outra empresa. Duas empresas de família em crise me deixaria frustrada demais. - minha mãe revira os olhos e sorri.
Durante o caminho, eu planejava as coisas que ainda gostaria de fazer com Liza. Eu planejava que fossemos viajar juntos, talvez eu me sentiria mais seguro se ela estivesse ao meu lado na hora de enfrentar um avião. Nós poderíamos passar um temporada a praia deserta e essa ideia me fez lembrar de suas ideias de ter a lua como testemunha para um linda noite de amor. Eu me empolgava só de imaginar. Esperei que o sinal fechasse e abri o porta luvas. O cordão que ela havia me dado estava lá. O peguei e coloquei em meu pescoço o escondendo por dentro da blusa. Ele me traria sorte.
Cheguei ao nosso restaurante preferido e Liza já estava lá. Antes de entrar eu a observei. Estava me comportando como um adolescente apaixonado, pois tudo nela me encantava. Ela tinha os cotovelos apoiados sobre a mesa e mexia os braços compulsivamente olhando por trás das janelas e olhando a cada segundo para o celular. Saber que ela estava ansiosa em me ver fez meu coração acelerar. Fiquei parado a porta esperando que seus olhos se encontrassem com os meus, e no momento em que ela me olhou esboçou um largo sorriso. Naquele momento eu tive certeza, Liza me amava e eu não podia estar enganado quanto isso.
Aproximei-me e ela se levantou. Abracei-a mesmo que já tivéssemos nos cumprimentado antes, mas eu não poderia perder a oportunidade de tocar em seu corpo. Era meu único momento. Esperei que ela se sentasse para que eu me sentasse em seguida. Liza me olhava tímida devido ao fato de eu não conseguir desgrudar meus olhos nos delas. Minhas mãos buscaram pela sua e as entrelaçamos.
- Estou me sentindo um adolescente. - ela diz repetindo meus pensamentos.
- Isso é bom. Ser adulto as vezes é tão chato. - reviro os olhos.
- Alex.- seu semblante muda. - Precisamos conversar.
Sinto meu corpo se enrijecer. Estava com medo do que estava por vir, mas tentei me manter firme.
- O que houve? - não consigo conter o desespero.
- Franz me ligou hoje de manhã. Eu não queria te contar agora, mas antes que eu me esqueça, ele disse que irá demorar um pouco para voltar. Acho que umas duas semanas. - respiro fundo um pouco com raiva por aquele alemão insistir em me atrapalhar. - Desculpa. - ela pede mordendo o lábio e percebendo a minha decepção.
- Tudo bem. Você não tem culpa. É só que eu não aguento mais. Eu quero te tocar, te abraçar, te beija e... o resto eu prefiro dizer em particular - ela ri com as bochechas rosadas que se desfazem logo em seguida.Fico preocupado pela sua mudança de expressão e me viro vendo Flávia com os olhos trêmulos e o rosto confuso. Ela estava acompanhada de uma amiga que eu desconhecia.
- Você? - ela pergunta se dirigindo a Liza e por um momento eu que fico confuso. - É muita coincidência - Flávia bufa. Eu estava perdido, pois não sabia se eu tentava me explicar ou deixava quieto já que nós não tínhamos nada.
- Certo! Agora eu confirmei. - Liza diz e eu continuo sem entender.
- Como eu não liguei uma estória a outra. Por isso que você me pediu o divórcio Alex?
- Foi - confessei.
- Eu não acredito! - ela ri debochada. - Alex! Eu... Não consigo nem dizer, no momento eu estou com muita raiva de você.
- Flávia, você sabe que...
- Não quero ouvir, eu quero ir embora. Nós conversamos em casa. - ela diz saindo.
- Alex você não contou a ela sobre nós? - agora era a vez de eu tentar me explicar para Liza.
- Não é nada disso. - tento segurar suas mãos, mas ela se afasta e eu sinto como se uma parte do meu coração estivesse sendo arrancada. - Liza, por favor, eu contei a Flávia que não a amava. Eu não tive tempo de contar a ela sobre você, quando nós conversamos sobre o divórcio, eu ainda não tinha certeza se você me amava ou não, você estava vivendo sua vida com Franz, você o defendia tanto que achei que realmente gostasse dele. Eu não podia contar a ela enquanto eu não tivesse certeza que eu conseguiria te ter. Depois as coisas aconteceram tão rápidas que e não consegui contar a ela. Passamos o final de semana juntos. - eu estava desesperado, metralhando toadas as palavras para que Liza me entendesse.
Ele me olhava séria como se tentasse assimilar o que eu estava dizendo. Ela se aproximou da mesa e respirou fundo.
- Acho que vocês precisam conversar. - ela diz e eu já pressentia o que Liza estava prestes a fazer.
- Por favor Liza. Me entenda. Não quero que crie pensamentos...
- Alex. - ela me interrompe. - Eu entendi tudo. Mas eu não quero que esse clima pesado fique entre a gente hoje. E depois de hoje eu... - ela diz com a voz embargada.
- Liza, isso não vai mudar nada. Flávia só está chateada. Escuta, meu amor, vai ficar tudo bem, eu juro. Aliás, eu tenho um convite a você. Minha mãe está nos chamando para jantar esse final de semana na casa dele, meu irmão vai estar aí.
- O que Flávia vai pensar disso?
- Eu não quero saber do que a Flávia irá pensar, mas o que você ira pensar. - digo a ela que parecia estar preocupada e enciumada ao mesmo tempo.
Depois de um almoço cujo clima não estava nada agradável, Liza foi embora e eu fui para minha casa sem muito ânimo de conversar com Flávia. Estava receoso com o que poderia acontecer e minhas mãos suavam freneticamente só em pensar em qual seria a atitude dela e principalmente entender o motivo de tanta surpresa de Flávia em relação a Liza.
Flávia me esperava na sala sentada ao sofá e prestando atenção na parede. Sua expressão estava indecifrável. Joguei as chaves na mesa e fui me aproximando dela. Flávia me olhou de soslaio e soltou um suspiro, levantando-se.
- Por que não me contou que ela havia voltado e que estava com ela? - Flávia tem um tom firme, mas não alterado.
- Não achei que fosse necessário. As coisas aconteceram rápido demais, foi tudo de uma hora para a outra.
- Alex, eu não acredito que você vai voltar com ela, depois de tudo o que ela te fez.
- Eu a amo Flávia. Ela disse que a felicidade dela dependia de mim. Eu sei que ela também me ama, disse que terminaria com o namorado dela, logo que ele chegasse de viagem. - respondo-a e ela da um riso contido.
- E você acreditou? - ela pergunta irônica.
- O que quer dizer? - não entendo sua pergunta.
- Ela te disse que te ama?
- Não. Ela ainda não está pronta para dizer isso. Mas tudo bem, ela vai me dizer aos poucos.
- Alex, por Deus. Se ela não está pronta para te dizer que o ama, significa que ela não o ama. Ela vai te enganar como da outra vez. Você não é prioridade na vida dela. - Flávia cuspe as palavras e sinto meus olhos arderem. Ouvir aquilo e pensar nessa possibilidade doía demais.
- Você não sabe o que está dizendo. Eu vi nos olhos dela o quanto ela estava disposta a ficar comigo.
- Você está cego de amores por ela e não está vendo que ela vai te fazer sofrer. Eu duvido muito que ela consiga terminar com aquele rapaz. Eu vi a dúvida nos olhos dela quando eu, por coincidência, a encontrei no mercado. Ela me disse que estava na dúvida, que não queria terminar com seu namorado porque você estava fazendo a sua vida. - agora eu havia entendido de onde elas se conheciam.
- Tudo bem, mas eu não estou fazendo mais a minha vida, Flávia. Nós vamos nos separar.
- E ela será tão corajosa quanto você para chegar a esse ponto?
Por um instante Flávia havia roubado todas as minhas respostas. Eu percebi a aflição de Liza todas as vezes que tocava na ideia de terminar com Franz. Hora ou outra ela ficava em silêncio quando se lembrava disso. Se eu acreditasse no que Flávia me disse, eu estaria acreditando que Liza se apaixonou por Franz e está confusa em relação aos seus sentimentos.
Viro-me andando de um lado para o outro. Não pode ser verdade. Não pode estar acontecendo de novo.
- Liza vai terminar com Franz logo que ele voltar. Ela vai. Eu tenho certeza! Não pode ser que eu tenha me enganado tanto diante dos sentimentos dela, das atitudes dela e do que ela me disse ontem.
- Você achou que ela te amava e ela foi para Alemanha. E agora ela vai te deixar por um alemão.
- Não! Não vai - grito enfurecido pelas suas palavras. Percebo que meus olhos estavam molhados e me controlo para não desabar.
- Alex... Ela dá uma pausa. Me corta o coração te ver assim, tão entregue. Queria eu ter a sorte de Liza para ter todo o seu amor. Apesar de tudo, eu te amo. Eu aceitei te dar o divórcio porque eu sabia que você tinha razão quanto ao sofrimento de nós dois e porque eu precisava refazer a minha vida. Mas agora...
- Não se atreva - interrompo-a prevendo suas palavras.
- Alex vai ser para o seu próprio bem.
- Não. - balanço a cabeça em negativa freneticamente. - Por favor Flávia. Eu lhe imploro. - suplico.
- Eu sei, vai doer agora, mas depois você vai ver que foi necessário.
- Não me faça a ir contra os meu princípios.
- Tudo bem! Eu me manterei forte até você ver que eu estava certa.
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E aí galerinha! O que me dizem? O que será que vem por aí?
Espero vocês na quinta e no próximo livro que já está disponível...
Beijoooos.....
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