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Antes de ir para a casa de papai, eu resolvi passar e levar um bom vinho para acompanhar o jantar, mas o que eu queria mesmo era um boa dose de tequila. Olhei os vinhos a minha frente inúmeras vezes, mas eu estava distraída, então caía em mim e voltava a analisá-los novamente. Fiz isso praticamente umas quatro vezes e na quinta, eu peguei o primeiro que vi pela frente.
- Oh não! Esse vinho é horrível - uma mulher se aproxima com um olhar reprovador.
- Estou com a cabeça tão cheia que peguei o primeiro que vi pela frente.
- Deixa eu te ajudar - ela começa a olhar para aquela estante enorme e pega uma garrafa. - Aqui. Este é maravilhoso, eu posso lhe garantir.
- Eu nunca tomei esse.
- É o melhor. Pode confiar. Meus pais trabalham em Nova York e são especialistas. Eles vieram para o Brasil uma vez e o classificaram.
- Depois dessa, não tem como não gostar.
- Meus pais trabalham com vinhos há muito tempo, estão querendo montar algumas filiais e eu provavelmente vou morar lá.
- Boa sorte - desejei.
- Não é uma questão de sorte, mas de necessidade. Preciso tomar um rumo em minha vida, estudar, fazer algo do qual eu goste, além de limpar fraudas.
- Você trabalha com crianças? - coloco o vinho no carrinho e me preparo para continuar andando.
- Oh, não. Eu tenho um filho. Eu sei, engravidei muito nova, casei muito nova e o resultado disso? Um divórcio em um ano de casada.
- Eu sinto muito.
- Tudo bem, ele nunca me amou mesmo. Eu é que fui boba em tentar insistir. Ele era diferente dos caras que eu conheci.
- E como você vai fazer? Vai deixar a criança com ele? Vai levá-lo? - pergunto atônita.
- Claro que vou levar comigo - diz naturalmente.
- Mas e o amor que o pai sente por ele?
- Eu sei, mas o que eu posso fazer? Ele só tem 8 meses e precisa dos cuidados da mãe.
- Isso complica um pouco.
- Não complica não. Pelo contrário toda essa situação é bem fácil, pode confiar. Mas eu não posso te dizer ou você ia me achar uma pessoa muito má.
- Eu jamais pensaria assim - reviro os olhos.
- Certo, se eu te ver algum outro dia eu te conto, mas e aí, por que estava distraída? - ela pergunta - se puder me contar, claro. - Respiro fundo.
- Digamos que eu morei na Alemanha, conheci uma pessoa por lá, votei para o Brasil e agora encontro uma antiga paixão. Num dia ele me distrata, no outro ele é todo gentil, e eu fico confusa.
- Entendi, já ouvi algo parecido, mas... Se você gosta desse rapaz daqui, por que não termina com o de lá? - estranha.
- Simples, ele tem uma família, está vivendo a vida dele e eu não quero interferir nisso. E assim como ele, eu tenho que fazer a minha vida também.
- Boa sorte - deseja séria, mas ri depois. - Agora eu tenho que ir. Gostei de conversar com você, a gente se vê.
Ela se despede indo ao caixa enquanto eu termino de comprar mais algumas coisas, e por um instante cogitei a possibilidade de que eu já a havia visto.
Na casa de papai, o cheiro da comida dava para sentir de longe. Não se era possível decifrar o que estava sendo feito, mas ao que tudo indica, era algo muito gostoso. Estava um pouco nervosa em conhecer a namorada do meu pai, por mais que ele tivesse me dito várias vezes que ela era uma boa pessoa, eu ainda acharia completamente estranho vê-lo com outra mulher.
Papai veio me recebendo com os braços aberto.Franz estava atrás de mim um pouco nervoso e todo aquele clima estava pesado.
- Liza, venha cá. Quero te apresentar a Marta - ele chega até a cozinha e ela estava o ajudando a arrumar a mesa. Marta era mulher que aparentava ser bem mais nova que papai, mas nada muito absurdo. Era bonita, tinha os cabelos bem escuros que iam até os ombros e um corpo em forma, assim que me viu, deu um largo sorriso.
- Como vai querida, seu pai me falou muito bem de você - Marta vem me abraçando calorosamente - Oh Walter, só se esqueceu de dizer o quanto a sua filha é bonita e se parece muito com você.
- Imagina. Alguns traços apenas, nada demais -, papai diz. Agradeço a ela e fico um pouco assustada com toda a sua espontaneidade.
- E esse rapaz, quem é?
- Meu namorado, Franz - digo e os dois se cumprimentam.
- Que sotaque diferente - Marta observa.
- Ele é da Alemanha.
- Seu pai me contou sobre sua ida na Alemanha, soube aproveitar direitinho hein? - ela me deu uma piscadela e junto com papai, foram arrumar a mesa.
- Eu trouxe vinho - comuniquei.
- Deixe eu por na geladeira querida. - papai se aproxima e pega o vinho de minhas mãos.
- O que estão fazendo? O cheiro está muito bom.
- Oh, é uma receita de família, ela é muito especial e achei que a ocasião seria apropriada. Me ajude aqui querida? - pediu ela se referindo a fôrma que estava em suas mãos - Pode pôr na mesa, por favor. é um escondidinho, mas com um ingrediente especial.
Começamos a jantar silenciosamente e a comida estava realmente uma delícia.Mas toda aquela falta de comunicação estava me deixando incomodada então procurei por querer saber mais a respeito de Marta.
- Então Marta, você por acaso, tem filhos?
- Infelizmente não. Eu tive uma menininha, mas ela acabou falecendo muito nova. Meu trauma foi tão grande que eu optei por não engravidar novamente.
- Oh, me desculpe, eu sinto muito. - falei envergonhada.
- Tudo bem, você não sabia, é natural querer saber - Marta me deu um sorriso acalentador.
- E como vocês se conheceram? - Franz pergunta querendo se enturmar.
Papai dá um gole em seu vinho e olha para Marta como se um pedisse ao outro para contar.
- Começa você Walter - a namorada de papai pede.
- Bem Franz, eu não sou do tipo caseiro, Liza sabe disso. E mesmo depois de velho eu não perdi esse hábito. Em umas de minhas idas a um barzinho qualquer, com alguns amigos, Marta estava lá, em frente a mesa do bar, conversando alegremente com uma de suas amigas. Ela estava rindo e tinha um sorriso encantador, tinha leveza no falar, e claro, incrivelmente linda - papai dizia tudo isso olhando pra ela.Senti meu peito se angustiar. Era como se papai estivesse traindo minha mãe e o sentimento era horrível. Pude sentir na pele o que Alex deveria ter sentido, mesmo que o contexto fosse diferente. Mamãe ainda o amava e ver a pessoa que você ama com outra, elogiando outra, se derretendo todo por outra, com certeza era algo muito dolorido.
- Walter está me deixando sem graça - ela dá um sorriso tímido e um leve tapinha no ombro de papai.
- Deixa de bobagem Marta - ele se aproxima para dar um beijo nela e eu viro o rosto incomodada - Depois de ter bebido umas doses ou outras decidi me aproximar. Paguei uma bebida a ela, nós conversamos, pedi seu telefone, marcamos um encontro e por aí vai.
- Fico feliz por vocês. Vocês formam um belo casal - Franz conclui - Não é mesmo, Engel? - Franz havia melhorado muito seu português, e naquele momento não estava sendo agradável ele dizer mais do que deveria.
- Claro - dou um sorriso sem conseguir conter a reprovação na voz.
-Está tudo bem, minha filha? - papai pergunta preocupado. Eu olho pra ele e para Marta que me olham como se esperasse que fosse dizer uma grande notícia.
- Sim. Está... Tudo ótimo, eu só estou com um pouco de dor de cabeça. Não consegui dormir essa noite, desculpa. - menti, menos a parte de não conseguir dormir.
- Tem alguns analgésicos no armário - papai ofereceu.
- Não será necessário. - esbocei um sorriso forçado.
- Quem diria. - Franz se manifestou dando continuidade a conversa.
-Sei o que está pensando meu jovem, que essas coisas são atitudes de adolescentes, mas eu posso lhe garantir que é mais comum do que se imagina, e outra, apesar de velho, ainda estou na flor da idade.
- Oh não, jamais o julgaria, acho interessantíssimo essa coisa toda, aliás, dizem que o que rejuvenesce é o coração.
- Exato, ainda mais quando se encontra um novo amor - papai dá um leve abraço em Marta.
- Te entendo muito bem - Franz me abraça também e eu dou um sorriso extremamente forçado.
- E quais sãos os planos de vocês para o futuro? - Marta questiona - Vocês pretendem casar?
- Sim! - Franz responde antes que eu pudesse terminar minha bebida, e isso me provoca uma leve crise de tosse.
- Está tudo bem, filha? - papai pergunta novamente e eu consinto com cabeça.
- Acho que ela está emocionada, você sabe, Liza não é muito romântica - Franz revira os olhos.
-Fico realmente feliz que minha filha tenha te encontrado. Não sei como, mas você finalmente conseguiu roubar esse coração um tanto gélido de Liza. Ela mudou muito, está até mais sorridente, parece mais viva. Fez um bom trabalho, meu rapaz - papai pisca a Franz
- Obrigado. Eu amo sua filha e pretendo arrancar delas vários sorrisos.
- Só de saber que terei netos, já fico bem mais feliz. - certo, mais um engasgo.
- Tem certeza de que está bem, querida? - Foi a vez de Marta perguntar.
- Estou, sim, claro, com certeza, boazíssima, melhor impossível - dou o sorriso mais cínico que ainda me restava.
- Certo, e quando pretendem começar a planejar isso? - Marta quis saber.
- Bom, tendo em vista que nós estamos juntos a quase um ano, estamos trabalhando e dividindo um apartamento, acredito que será em breve, afinal estamos tendo praticamente uma vida de casados já.
- Ver minha filha casando seria um sonho - papai esbraveja - o que você acha disso, minha filha? - todos me olham como se implorassem por uma resposta, era como se Franz já estivesse feito o pedido e todos desejavam esperançosamente pelo sim.
- Eu... eu... le... inte...é... hil - limpei a garganta tentando impulsionar as palavras. - Que preciso de um analgésico - levanto-me rapidamente e todos ainda tem seus olhares fixo em mim - A dor de cabeça aumentou e não está me deixando pensar, eu já volto, é rapidinho.
Fui em direção a cozinha e passei reto ao armário indo direto ao jardim. Precisava o quanto antes de ar, e poder colocar sentido nos últimos acontecimentos. Casar. Eu não sei se eu estava pronta para casar, foi um sonho a minha vida inteira, quero dizer, até meus 18 anos, e depois de tantas circunstâncias, tantas perguntas sem respostas, isso se tornou o meu último plano. Senti um frio percorrer a minha pele e eu não sabia se estava realmente frio, ou se era eu, perdida em meio a tanta bagunça. Tola eu fui em acreditar que as coisas iam ser mais fáceis. Não, estavam a beira de um abismo. Respirei fundo várias vezes e tentei ficar calma para voltar a mesa, mas meu coração se apertava todas as vezes que eu tentava voltar.
- Liza? - virei-me rapidamente e encontrei o rosto de papai preocupado.
- Eu já estou indo, papai, minha dor de cabeça já vai passar - digo aflita.
- Você sabe que nunca foi boa com mentiras, não sabe? - ele tem a voz calma e o semblante sereno.
- Está tão evidente? - pergunto totalmente preocupada em ter causado uma má impressão.
- Levando em consideração que ninguém ali te conhece tão bem quanto eu, acredito que não - respiro aliviada com suas palavras - O que houve, filha? Não gostou de Marta? - sua pergunta soou decepção e eu me contive para não desabafar.
- Pai, me desculpa. O problema não é Marta, ela parece ser uma pessoa incrível.
- Então o que é? Você sempre se abriu comigo. Não é porque está uma moça adulta que não pode procurar pelo abraço de um pai algumas vezes.
- São tantas coisas. - falo desanimada.
- Você sabe que eu ficaria aqui horas ouvindo você, mas como estamos com visitas, tente resumir - ele ri.
- Acho que estou com ciúmes de você e Marta. - faço uma careta confessando e papai segura uma risada sem muito sucesso. - Eu sei, pode ser besteira da minha cabeça, mas... Ela ainda é uma estranha pra mim, num bom sentido, é só que...
- Sua mãe? - ele pergunta e eu olho o nada virando-me de costas a ele.
- Liza, já conversamos sobre isso. Eu tentei falar com sua mãe, mas você sabe que é impossível - coloca uma de suas mãos em meu ombro.
- Eu sei, só... não me acostumei com a ideia ainda. Desculpa.
- Não tem o que se preocupar, mas e quanto ao Franz? - eu o olho completamente perdida, pensando se eu deveria me abrir com ele.
- Franz... - Olho para baixo e volto a ver o nada. - Franz é um cara bacana, ele gosta muito de mim, é dedicado, um bom companheiro, me faz rir, e está sempre do meu lado.
- Mas... - papai completa a frase e eu olho para os lados para confirmar que estamos a sós.
- Eu não o amo - sussurro com um pesar em meu peito e papai me olha um pouco espantado.
- E por que está com ele?
- Você sabe, Alex se casou e eu precisava seguir minha vida. Alex me odeia, ou pelo menos era o que eu pensava até hoje de manhã
- Vocês estiveram juntos? - papai questiona assustado.
- Não dessa maneira. Ele está com problemas na empresa e é cliente de uma dos advogados onde eu trabalho.
- Ele ainda mexe com você? - consinto com a cabeça.
- Liza, meu amor, você é mais parecida comigo do que eu pensei.
- O que ? - viro-me para ele com os olhos arregalados.
- Não me diga que você está com a Marta para...
- Esquecer sua mãe? Sim. Mas eu sei que sua mãe e eu jamais daremos certo, novamente e eu preciso seguir minha vida. E eu sei que mais cedo ou mais tarde, o meu coração vai procurar conforto em Marta Estou feliz com ela. E se Alex fez a vida dele, você deve fazer a sua também. Uma hora ou outra você vai encontrar em Franz o que sempre esteve procurando - não pude deixar de chorar.
- Eu estive a minha vida inteira procurando por amor pai, e eu só o encontrei com Alex. Não é possível que a sua presença em minha vida fosse apenas para isso e depois ir embora. No caso, eu é que fui embora, mas... é como se eu jamais fosse capaz de amar outra pessoa que não o Alex - falo desesperada e começo a chorar incontrolavelmente. Papai me abraça com todo o seu amor e me afago em seu colo com tamanha saudade.
- Vai ficar tudo bem, Liza. - ele passa suas mãos sobre meu cabelo - Você também achou que jamais amaria alguém como o Bill e olha só. - Desvencilho-me de papai e olho em seus olhos.
- Posso lhe garantir que o que eu senti por Bill não é um terço do que eu sinto por Alex. E eu olho para Franz tão animado e me corta o coração vê-lo assim, mas eu penso que se eu não der uma chance a ele eu vou ficar sozinha para sempre e eu não quero isso, não mais pai, eu não quero - digo desesperada e volto a chorar em seu colo.
- Acalme-se Liza, por favor - papai pediu em súplica, pois ele já não tinha mais argumentos para me consolar e assim como eu , ele não sabia mais o que fazer.
Dei meus últimos soluços e suspirei, voltando a minha realidade.
- Desculpa. Devo estar parecendo uma criança- afasto-me olhando papai completamente envergonhada.
- Nenhuma criança é boba, minha filha, mas os adultos sim. Eles complicam as coisas e fingem que tem todo o controle da situação, mas a verdade é que a vida deles por dentro está um verdadeiro caos - ele seca as minhas lágrimas e me dá um grande sorriso - eu só quero que sejas feliz com quem quer que você esteja. - Damos um último abraço .
- Eu também - sorrimos um para o outro e entramos finalmente.
- Engel, você está bem? - perguntam-me pela quinta vez no dia.
- Estou sim. - sorri para Franz que vem me abraçando e me dá um beijo na testa.
- Está com os olhos vermelhos, estava chorando? - ele observa com o cenho franzido.
- Tudo bem, depois conversamos- ele consente com a cabeça e eu percebo Marta conversando com papai, provavelmente perguntando o que houve e papai dizendo um "está tudo bem".
Eu estava prestando atenção na janela do carro e em todas as árvores que passavam por nós. Quando criança, eu achava que eram as árvores que se moviam, e depois que você vai crescendo percebe que o que move é você. Claro que na física tudo depende do ponto de vista, mas a verdade é que em algumas vezes em nossa vida, nós somo as arvores, os postes, enquanto o tempo está passando nos deixando pra trás, e então você percebe que em todo esse tempo você não fez nada do que realmente queria.
- Está quieta, Engel. O que houve? Ainda com dor de cabeça? - apenas balancei a cabeça confirmando. Eu não queria ter que conversar agora.
- Gostou da nova namorada de seu pai? - respirei fundo.
- Acho que não me acostumei com a ideia ainda. O pior é que ele ainda gosta da mamãe. Eu quero que ele seja feliz, mas...
- Eu entendo. Seu pai parece feliz.
- Eu sei. É bobagem. Já vai passar.
Minha vontade não era de ir pra casa, pelo contrário, eu queria sair sem pensar em responsabilidades ou coisa do tipo. Precisava espairecer, distrair - me para não ficar pensando demais em coisas que estavam me deixando perturbada.
Franz chegou e foi se deitar, ele não seria uma boa companhia para beber e as meninas provavelmente estariam dormindo.
Esperei que ele dormisse e saí fazendo o mínimo de barulho possível. A noite estava calma e um pouco fria, era noite de lua cheia, e eu suspirei ao olhá-la, mas logo desviei minha atenção. Decidi ir ao barzinho que ficava a duas quadras do prédio, e durante o caminho me lembrei de Lucky. Ele era um cachorro e tanto é merecia ficar mais tempo conosco. Abracei-me sentindo falta, ele seria uma ótima companhia para uma noite como essa.
Minha intenção não era ficar chapada, mas somente me distrair. Entrei um pouco desconfortável. Não era uma bar de quinta, mas não era de primeira. Sentei ao balcão e pedi apenas uma dose de tequila e o resto foi na cerveja, aliás eu estava sozinha e trabalharia amanhã.
- Liza? - escutei alguém me chamando e fui em direção da onde aquela voz vinha. - Liza Walker num bar? Nunca imaginei encontrá - la aqui. - Dou um gole na minha cerveja e franzo o cenho.
- Você, quem é? - pergunto totalmente confusa.
- Nicolas. - continuo sem saber. - Nick, irmão da Júlia.
- Oh meu Deus, claro. O cara que ficou comigo porque estava bêbado - rio por não perder a oportunidade de lhe dar uma alfinetada.
- Hum - ele espreme os lábios - me desculpe, eu fui um idiota. - sorri de um jeito torto.
- Claro, nessa hora todos são idiotas. - reviro os olhos e ele ri.
- Caramba, o tempo fez bem pra você. Eu quase não te reconheci. - confessou.
- O que alguns quilos a menos não fazem, mas você continua o mesmo. - dou mais um gole em minha cerveja.
- Poxa, eu estou mais bombado. Veja só - ele ergue os braços a fim de querer mostrar os músculos. De fato ele estava mais malhado e continuava bonito.
- Talvez um pouquinho - franzo o cenho e faço sinal com os dedos.
- E o que anda fazendo? Você sumiu, faz o que? Dez anos que não nos vemos?
- Nove - corrigi - morei uns tempos com a minha vó, me formei em direito na Alemanha.
- Ual, que incrível, então você é uma advogada.
- Exatamente.
- Bem, eu me formei em medicina. Sou neurologista para ser mais exato.
- Interessante. Não o vejo como médico, mas...
- E eu não a vejo nesse ramo. Você sempre foi tão delicada, doce. E agora eu o encontro num bar tomando cerveja. - ele ri e eu o acompanho.
- Não sei porquê todos me dizem isso. Mas a verdade é que muita coisa mudou.
- A falar pela aparência, você está maravilhosa. Tem namorado? - rio pela situação e ele tem um leve sorriso.
- Tenho.
- Cara de sorte.
- Ei! Por acaso está bêbado? - pergunto desconfiada.
- Eu? Acabei de chegar - ele estranha.
- Está flertando comigo.
- Tá, você me pegou - Nick confessa. - Sabe, eu sempre te achei legal e achava errado o que as pessoas faziam com você, mas eu também não fiz nada a respeito para mudar isso. - eu o olho séria pelo seu comentário. - Queria que as pessoas a vissem agora.
- Não. Eu queria que as pessoas fossem melhores naquela época. Não quero que gostem de mim pela minha aparência, amanhã eu posso ser a Liza gordinha novamente e aí? Você vai vir sentar aqui comigo, bater um papo e dizer que estou bonita? A menos que esteja bêbado, eu acho que não. - olho em direção ao bar e encaro minha cerveja.
- Ual! Eu merecia uma dessa. - rimos.
Não podia me deixar abalar por coisas do passado, eu teria que mostrar que elas não me influenciavam mais.
- Certo, eu preciso ir embora. - pego o dinheiro em minha bolsa e coloca no balcão - Foi bom conversar com você Nick. A gente se vê - digo me levantando, mas ele me puxa.
- Espera! Eu te dou uma carona. Está tarde.
- Agradeço a preocupação, mas eu moro aqui perto.
- Eu insisto. Não vou me perdoar de deixar você sozinha.
Penso por um instante. Ele não estava alterado, e por um lado tinha razão.
- Tá. Vamos logo - saio a sua frente e ele vem atrás e muito cavalheiro, abre a porta para mim. Ele dá partida no carro e seguimos até minha casa.
- Mas e aí o que faz num bar como aquele?
- Precisava tomar um ar.
- Problemas no relacionamento? - ele questiona.
- Talvez.
- Posso te ajudar se quiser - ele dá um sorriso de lado e me olha de soslaio.
- Não, por favor - imploro num riso. - Você me deixaria mais confusa ainda.
- Então está sendo disputada, Liza?
- Disputada não seria a palavra. Dividida se encaixaria melhor.
-Entendi.
- E você, o que fazia lá?
- Estou procurando alguém. Estou ficando velho, preciso de uma namorada.
- O que? Nick, um dos garotos mais populares da escola na seca? - rio incrédula.
- Pois é, olha em que nível chegamos.
- Certo, mas lá, eu te garanto que você não vá encontrar uma namorada descente.
- Eu encontrei você - ele estaciona o carro em frente o prédio.
- Pára - peço com a voz mansa.
- Desculpe.
- Tchau Nick - abro a porta para sair.
- A gente ainda vai se ver? - ele grita, quando eu já estava na calçada.
- Quem sabe - dou de ombros.
...
Esse capítulo é só uma prévia do que está por vir.
O que vocês acham? Alguma ideia?
Beijooos....
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