Bônus
~Alex~
Eu estava andando pela estrada um pouco desnorteado com os últimos acontecimentos. Liza estava prestes a se casar, Flávia e eu brigávamos constantemente, porque o simples fato de eu olhar para ela e pensar que ela representava uma boa parte do meu sofrimento em relação a não ter Liza por perto, irritava-me a cada dia.
A empresa estava indo de mal a pior. Não conseguíamos fazer as entregas dentro do prazo, não conseguíamos meios para recuperá-la, os funcionários pedindo demissão pela falta de pagamento, enfim, eu estava com um fardo o qual eu não esperava receber. Aquilo era angustiante e a cada dia, eu me sentia mais inútil.
Chegar em casa e ao final do dia sem ter a mulher que você ama ao seu lado, não era de longe uma coisa agradável. Liza me confortava, relaxava-me ao extremo, as coisas ficavam leves perto dela, e era como se o mundo fosse perfeito. Queria poder contar com ela, poder dizer o que se passava, mas ela estava distante. A cada dia eu a estava perdendo mais e mais.
Talvez eu fosse fraco demais para ter corrido atrás dela, mas a verdade é que a gente cansa de dar sem receber. A gente cansa de correr atrás, por quem não faz nada pela gente. E eu estava cansado. Cansado de tentar me justificar sem que ela ao menos tivesse tempo de me ouvir. Foi errado não ter dito a ela o que se passava, mas conhecendo bem o jeito dela, provavelmente ela tomaria alguma atitude precipitada.
No entanto, eu descubro que ela iria se casar. Se casar com a pessoa a qual ela conheceu na Alemanha. Isso porque ela havia dito que não acreditava no amor e volta ao Brasil com um namorado. Juntando os fatos, aquilo era demais para mim, e a única conclusão era a de que Liza nunca havia me amado. Ela não tentou chegar em Flávia e dizer a ela que de fato ela terminaria com Franz, porque ela não faria isso.
Por mais ódio que eu sentia dela, eu deveria seguir a minha vida. Fosse com Flávia ou com qualquer outra mulher, até mesmo sozinho, se fosse o caso. Miguel precisava de um pai o qual ele pudesse sentir orgulho. Porém, quando se tratava de Liza, toda a minha pose se desmoronava.
Vê-la vestida de noiva trouxe para mim sentimentos inexplicáveis. Era como ver o seu futuro diante dos seus olhos. A mulher da sua vida, num vestido branco prestes a entrar na igreja com você e dizer o quanto a ama e que continuará amando para sempre. Pensar no mesmo instante que ela estaria fazendo tais votos a outro rapaz, foi algo que me apunhalou. Apunhalou de forma intensa e dolorosa. Não pude evitar que meus olhos ficassem marejados, o fato de seus olhos encontrarem ao meu foi decisivo para o meu abismo. Era como estarmos um segurando o outro com as mãos para que um não fosse embora, e então as mãos se soltam selando uma distância eterna.
Senti raiva por se dependente dela. Senti ódio porque ela havia me usado. Todos os sentimentos mais terríveis eu desejei a ela. Mas no fundo, eu pedia para que nada de ruim acontecesse a mulher da minha vida.
Fui ao bar mais próximo que eu havia encontrado e dirigi sem rumo, bebendo e seguindo. Quanto mais eu me sentia um idiota, quanto um dependente, mais eu bebia. Era como se eu me arrependesse por estar naquele estado, bebesse para colocar tudo ao fundo do poço mais um pouco. O engraçado é que a gente procura algo que nos leva mais fundo ainda, e temos preguiça de procurar aquilo nos impulsiona.
Chegou um momento em que eu não prestava atenção em mais nada. Era como se o volante andasse por si próprio, enquanto eu só sabia beber e chorar. Um fraco. Era o que eu gritava a mim mesmo socando o volante. Foi então que senti um forte impacto e tudo escureceu.
Senti-me como se tivesse em um sono profundo. Eu escutava algumas coisas sem sentido, a cada barulho minha cabeça latejava. As vozes soavam em desespero, alguém estava apressado em fazer algo e eu queria saber o que era, mas não conseguia. Depois de um tempo naquele sufoco, as coisas ficaram silenciosas, mas eu continuava dormindo. Lembro-me que sonhei. Todo esse tempo que estive dormindo, eu sonhei. Ela estava ao meu lado, segurando em minhas mãos. Dizia palavras doces e parecia estar chorando. Pedia para eu acordar, para ficar bem por ela e pelas pessoas que me amavam. Lembro que ela me dava beijinhos em meu rosto e dizia que iria cuidar de mim. Eu não queria acordar daquele sonho e poderia ficar ali, para sempre tendo ele.
Na verdade eu queria acordar e saber que ela estava ao meu lado, queria poder tocá-la, sentir sua pele. Liza começou a chorar, aliás em todos os meu sonhos ela chorava, talvez Franz estivesse a maltratando e eu jurava que assim que conseguisse acordar, eu acabaria com ele. Depois de um tempo, tudo ficava em silêncio novamente. Não havia mais sonho, sequer realidade.
Ouvia ela dizendo coisas como eu amo você meu amor, a empresa está salva. Mais um sonho. E o último sonho que eu tive dela, quando eu finalmente consegui acordar, era dos seus lábios doces tocando os meus. Abri os olhos e a vi em minha frente e pensei estar vendo uma miragem. Ela saiu, então um rapaz de jaleco branco veio em minha direção.
Demorei a entender que eu estava em um hospital. Eu queria falar, queria dizer alguma coisa, mas não consegui. Depois disso, eu não vi mais a Liza. Ela havia sumido, como sempre fazia. De fato, ela nunca esteve ali, tudo não passava de mais um sonho. Talvez ter visto ela ali na minha frente, fosse alucinação. Normal com pessoas que acabam de sair de um coma.
Ela não foi capaz de sacrificar nada da sua vida para que pudéssemos ficar juntos. Nós dois estávamos sempre em segundo plano, enquanto eu a idolatrava. Como eu queria que tudo aquilo você verdade, poder tocar em seu corpo e chamá-la de minha. Eu a amava e infelizmente ainda amo, e acredito que nunca deixarei de amá-la. Se nem inconsciente eu consigo esquecê-la, quem dirá com todos os sentidos funcionando perfeitamente.
Liza havia sumido, até porque eu a havia expulsado, embora no fundo eu implorasse para que ela não me desse ouvidos. Eu estava desesperado quando acordei e descobri que fiquei três meses dormindo. A empresa estava em crise e eu precisava salvá-la.
Jhony me contou que ele junto com meu irmão e minha mãe, além do doutor Philips, conseguiu salvar a empresa. Depois Flávia me diz que assinara o divórcio, pois disse que alguém me amava mais do que ela. Disse que alguém poderia cuidar de mim melhor do que ela. Com certeza não era Liza e poderia ser qualquer pessoa, mas eu não tinha forças para falar direito.
Depois de tanto tempo com fisioterapias e fonoaudiólogos, o ano seguinte chegará sem que eu pudesse presenciar. As coisas aconteciam rápido demais e eu me sentia preso. Preso não só por estar dependente dos médicos, mas pelo meu coração. Precisava esquecer Elizabeth e seguir minha vida.
Pedi a Jhony que me levasse até a casa de Flávia para ver Miguel. Eu estava com saudades daquele pequeno e como ainda não podia dirigir, Jhony me servia de motorista em alguns momentos. Ele entrara comigo e estava estranho. Pensativo e calado demais.
– Oi Naná! – abracei-a com saudades.
– Oi, meu filho. Que bom que está bem. Você assustou a todos nós.
– Graças a Deus Naná. Mas eu quero ver meu filhote, como ele está?
– Está no berço. Dona Flávia deu uma saída.
– Certo, eu vou vê-lo.
Jhony acenou para Naná e me acompanhou para ver o afilhado. Olhei para aquela figura pequenina de olhos arregalados balançando os bracinhos e as perninhas freneticamente.
– Oi garotão – pego ele em meus braços, sentindo falta de seu cheirinho. Jhony apenas me encarava da porta. – Papai estava com saudades. – dei-lhe um beijo na testa. – Agora eu vou ficar um bom tempo com você só para compensar esse tempo, ok. Você vai enjoar de ver a cara desse pai feio. – faço voz de criança e Jhony ri da minha atitude. – Finalmente deu um sorriso. O que houve? Brigou com Sam?
– Não. Nós estamos bem.
– E então o que houve?
– Nada.
– Nada? Jhony, fala, você é meu melhor amigo. Aliás, é meu brother.
– É sobre Liza. – fecho a cara no mesmo instante por ele me fazer se lembrar dela.
– O que tem ela?
– Ela vai embora. – ele diz e eu finjo que aquilo não me incomoda – Provavelmente vai atrás do noivo dela.
– Não. Franz foi embora. Sabe por quê?
– Não e nem quero saber.
– Porque ele viu o quanto você e Liza se amam. Ele deixou o caminho livre a ela, assim como Flávia.
– Jhony, por Deus. Liza nunca me amou. Nunca fez nada por nós dois. E se ela quiser ir embora, que vá. Não me importo mais. – digo duvidando de minhas próprias palavras no momento em que meu coração se aperta.
–Nunca te amou? Nunca fez nada por vocês dois? Alex se aquilo não for amor, eu não sei mais nada sobre amor.
– O que quer dizer?
Ele olha para o nada como se procurasse pelas palavras.
– Liza vai me odiar por estar fazendo isso, mas está mais do que na hora de vocês dois se acertarem.
– Fala! – peço aflito.
– Cara, Sam me contou que no dia em que ela a outras meninas foram ajudar Liza a provar o vestido, ela surtou. Começou a gritar e desmaiou. No princípio acharam que era somente uma crise de nervoso, mas então depois de um tempo, vem a notícia de que você havia sofrido um acidente. Eu achava que essas coisas de sexto sentido não existissem, mas depois que Sam me contou, eu acabei reconsiderando tal possibilidade. Isso só acontece com pessoas que possuem uma ligação muito forte. O seu acidente foi três dias antes do casamento de Liza, e sabe o que ela fez? Cancelou o casamento. Disse que não poderia se casar enquanto você não estava bem. Sua mãe acreditou que se Liza o visse, você melhoraria e Alex, Liza, só saiu de perto de você para trabalhar e resolver os assuntos da empresa. Eu fui contra sua mãe ter deixado ela entrar, mas depois das atitudes dela, eu achei que seria melhor. Não fomos sua mãe e eu que salvamos a empresa. O mérito é todo dela, cara. Da mulher da sua vida. Foi ela quem deu um tapa na minha cara quando eu achei que a coisa mais sensata a se fazer era fechar a empresa. Ela enfrentou os caras da fornecedora e o foi até o fim para incriminá-las e fazê-las pagarem por tamanho prejuízo e ela conseguiu. Eu vi Alex, o desespero dela todas as vezes que a possibilidade de te perder lhe vinha a mente. Ela chorou no meu colo feito uma criança pedindo socorro. E mesmo depois que você a expulsou ela continuou de te vendo. Ela ficava te obervando do vidro com os olhos brilhando e com eles completos de lágrimas. Alex, Liza te ama.
As palavras de Jhony mexeram comigo mais do que eu gostaria. Meus olhos estavam ardendo. Olhei para Miguel que sorria. Eu estava sem reação para tudo aquilo. Eu queria desacreditar em tudo aquilo e achar um desculpa.
– Isso é remorso.
– Ela sabia que você diria isso, por isso pediu para que não contássemos nada. Ela queria que você voltasse com ela quando seu coração dissesse que estava disposto a perdoá-la.
– Enfim, ela está indo embora, certo. Não tem o que se fazer. Eu não vou voltar atrás. – engulo seco e coloco Miguel de volta ao berço. – Vamos embora.
– Liza só vai a noite, ainda tem tempo, Alex. Pensa bem.
Entro no carro de Jhony, prestes a ir embora. Ele ficou falando o tempo todo no quanto eu estava sendo injusto, desperdiçando tudo aquilo que eu sempre quis. Não era um sonho. Aquilo tudo aconteceu, então por que eu não consigo perdoá-la? Por que meu orgulho ainda falava mais alto?
– Onde está indo Jhony? – pergunto quando noto que ele está mudando a rota.
– Te dando a chance de ser feliz.
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Não aguentei, tive que postar. Agora só amanhã mesmo
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