Capitulo 8
Eliel passou a noite pensando nas palavras de Charlotte, pelo visto, ela havia ficado muito chateada. O coração de Eliel estava o incomodando desde que chegou em casa, não parava de sentir aquele aperto, a culpa pelo que falou, já tinha feito tudo, pedido perdão á Deus, socado o peito, mas não adiantava, o aperto continuava ali, no mesmo lugar.
Não conseguia dormir, pois as palavras de Charlotte ficavam voando pelos seus pensamentos, não só pela mágoa dela, e sim porque o que ela disse realmente o confrontou consigo mesmo, o fato de que ele realmente se achava inteligente demais perto das pessoas.
Charlotte o havia feito ver o quanto aquilo era estúpido, ele se achava tão sábio, mas se fosse de verdade, não teria uma das coisas mais importantes? Ele não seria suficientemente inteligente para ter amigos? Ao contrário disso, ele era tão burro que afastava as pessoas, todas elas.
Inclusive, agora Charlotte.
Esse pensamento de perdê-la, fez com que chorasse. Mas talvez não fosse só por ela.
Não sabia porque uma pessoa que mal conhecia estava o fazendo se preocupar
tanto, mas aquilo parecia tão... ruim. Perder a única pessoa que se interessou em ser amiga dele.
Tudo o que Eliel queria era dormir, para esquecer, não precisar pensar, mas a droga do seu peito continuava apertado, com uma dor incômoda que não passava. Isso fez com que chorasse mais.
Não queria perder a amizade de Charlotte. Não queria mesmo.
Enfim, conseguiu dormir.
Quando acordou, não estava com vontade alguma de fazer nada.
Ficou deitado por quase mais uma hora, até que se colocou de pé, não pôs roupas, continuou de pijama.
Tomou café, escovou os dentes e voltou a se deitar no sofá, ficou vendo um filme chulo sobre alienígenas, Juliana achou estranho mas resolveu não comentar nada, o que menos gostava era de filhos que choravam e para sua má sorte, seu filho era um desses.
Quando deu umas onze horas da manhã, ouviu a campainha tocar e quando ia se levantar para atender, sua mãe disse que o faria. Ela abriu a porta e viu um menina loira dos olhos castanhos, tinha certeza que nunca tinha visto aquela menina.
— Olá?
Juliana disse com os olhos e a testa estreita e um tom de dúvida na voz que mostrava que estava perguntando quem era.
— Eu sou a Charlotte. Prazer. Desculpa o incômodo, sou amiga do Eliel. Queria falar com ele.
Juliana se iluminou.
Enquanto a jovem sorria, Juliana pode perceber o quanto era bonita. Seus olhos castanhos eram profundos e seus cabelos loiros totalmente radiantes, a pele estava em perfeito contraste com o resto.
— Prazer querida, meu nome é Juliana. Vou chamá-lo, espere um pouco.
Charlotte se encostou na porta enquanto esperava, neste curto período observou o pequeno quintal com algumas cadeiras de balanço, a casa era verde com detalhes da porta e janela em azul.
A mãe entrou em casa já chamando o filho e dizendo quem era, ele desviou a atenção da TV e se sentou rapidamente.
—Charlotte? Tem certeza?
Juliana fez uma careta com a pergunta do filho.
—Se tenho certeza? Claro que não, ela disse que esse é o nome dela , e eu acreditei. Que pergunta hein?
Eliel levantou e foi até a porta com os cabelos bagunçados, calça moletom e blusa branca.
— Charlotte?
Ela riu descontraída.
— Sim, sou eu né? Estava em casa sem nada para fazer, e vim conversar. Espero não atrapalhar.
—Fico feliz que tenha vindo.
Ele disse animadamente.
—Entre, aqui.
Charlotte aceitou o convite.
Foi até ele, que a abraçou calorosamente.
—Tudo bem?
Ele introduziu a conversa.
—Sim, estou ótima. E você? O que estava fazendo?
—Estava apenas deitado, pensando. Quer entrar para conhecer minha casa?
Charlotte assentiu, e pode observar os cômodos da casa. Primeiramente a sala que era bem ampla e clara com duas janelas, os móveis postos com muito bom gosto. Do lado esquerdo da sala havia uma porta, no direito, outra porta, e no meio a entrada da cozinha. Era uma cozinha americana, com um balcão. Então a sala e a cozinha se interligavam. A porta da direita levava ao quarto de casal, que ela apenas viu de relance já que Juliana estava lá dentro. E a outra era provavelmente o quarto dele, mas ele resolveu deixar por último.
Enquanto ele lhe mostrava a casa, conversavam como se já conhecessem há muito tempo.
Ela foi até a cozinha, onde ele lhe ofereceu uma bebida. Aceitou um suco, e finalmente foram até o quarto dele.
— É meu lugar favorito.
Eliel disse.
—Gosta de ficar bastante em casa?
—Sim, aqui ninguém pode me ver.
Ele passou os olhos no quarto até voltar para Charlotte.
—Nem me julgar.
Ela o observou por alguns segundos.
—Não tem muitos amigos por aqui né?
—Converso com alguns jovens daqui, mas não somos muito próximos.
Ela assentiu.
—Você deveria ter muitos amigos.
Ela disse andando pelo quarto observando algumas coisas, parou e sentou na cama sorrindo.
—O que mais gosta de fazer?
—Não sei, talvez ler.
Ela concordou, mas não chegou a responder. Sua atenção se tornou a um papel em cima da cama.
—O que é isso?
Ela como sempre perguntou com um sorriso radiante no rosto. Seus olhos pararam no papel, ficou concentrada por alguns segundos no conteúdo. Eliel apenas a olhou, sem saber o que tanta prendia a atenção, afinal, só haviam duas palavras escritas.
—Quem é?
Finalmente perguntou, em seguida, olhou sorrateiramente em cumplicidade.
—Sua namorada?
Ele negou com a cabeça.
—Não mesmo.
—Então, quem é?
—Não é ninguém importante.
Eliel tentou mentir.
—Puxa, você é um péssimo mentiroso. Diga-me quem é Katherine, Eliel, você
não parece ser o tipo de cara que fica escrevendo os nomes que gostaria de por em seus filhos num papel...
—Eu não posso contar.
Eliel começou a vacilar.
—É um segredo.
—Eu sei guardar segredos.
Ela disse com sinceridade, e ele vacilou ao olhar. Não conseguiria mentir.
—Ela é uma velha amiga do meu avô. Ela sumiu anos atrás.
Ele olhou Charlotte que parecia indecifrável. Apenas ouvia atenciosamente. Isso o deixava muito feliz. Ela parecia tão interessada em tudo que dizia.
—Meu avô sonha em revê-la, e eu estou a procurando desde que descobri isso.
Charlotte finalmente sorriu com olhar travesso.
—Então vamos ter um grande trabalho para descobrir onde essa menina... hum,
senhora, se meteu.
—Do que você está falando?
—Que eu vou te ajudar.
Eliel ficou pensativo, era óbvio que o interesse dela o havia lisonjeado. Poucas pessoas seriam tão amáveis ou dariam algum valor ao que ele estava fazendo. Ajudar o avô que sonhava com a amizade? Para outros as palavras seriam "ajudar um velho gagá" e, é óbvio que ninguém o faria. Mas ela parecia perfeitamente interessada.
—Mas por quê? —ele perguntou. —Por que se interessa por... isso?
—Ora essa Eliel, me interesso porque é bonito querer reencontrar uma amizade assim. Afinal, quantas pessoas acreditam nisso?
Eliel não se cansava de sorrir quando ela começava a falar, chegava até fazer as maçãs do rosto doerem.
—Então, realmente, está disposta a me ajudar?
—Claro que sim. Vai ser nossa pequena aventura.
Ele gostou daquilo. "Nossa pequena aventura".
—Então, o que podemos fazer agora?
A intenção do garoto era óbvia, de tentar buscar alguma dica sobre o paradeiro de Katherine.
Mas tudo o que Charlotte fez, foi dar de ombros, mostrando que ainda era muito cedo.
—Podemos almoçar porque eu estou com fome.
Sim, é claro que podemos, Eliel pensou.
***************
Charlotte convenceu Eliel a ir almoçar na casa dela, até porque ela tinha dito que avisou para sua mãe que ia levar um amigo para almoçar.
Eles andaram em silêncio por aquela rua inteira, que não era muito grande, mas que para Eliel que estava agitado, pareceu uma eternidade.
Ele não conseguia mais, precisava falar, precisava mesmo.
—Achei que nunca mais falaria comigo, passei a noite toda muito preocupado. Mas você age como se não tivesse acontecido nada.
Ela se virou para ele, estreitou o olhar, como se aquele assunto fosse desconhecido, como se nunca visse motivos para ele pensar uma coisa daquelas.
Ele pôs as mãos no bolso da calça, olhou para baixo confuso sem saber o que falar.
—Pelo que aconteceu ontem... é... eu... queria pedir desculpas.
—Eu não sei do que você está falando, Eliel.
Charlotte disse com um sorriso arteiro.
—Como não?
Eliel perguntou intrigado, confuso e um pouco de tudo.
—Eu falei besteira ontem... Te deixei chateada, eu não queria...
Ela parou no meio da rua, olhou para ele, Charlotte sorria de uma forma boba, mostrando que o que acontecia era pura besteira.
—Eu sei exatamente o que você fez, Eliel! Mas deixe de ser bobo... Quem se importa? Eu achei você, gostei muito de ser sua amiga, e não é por um "errinho" que vou brigar e nunca mais falar com você... Pode me entender? Eu fico brava só na hora, depois eu perdoo, afinal não foi nada demais, foi? Todos falam besteiras, o segredo é perdoar sempre.
Um suspiro no ar.
—Fiquei com muito medo, tudo o que você disse era verdade, sou muito burro e não tenho amigos! Tive medo de perder sua amizade também...
Charlotte abriu os braços em convite.
—Você não é burro... e não vai perder minha amizade por isso .
Eliel a abraçou, e pela primeira vez quando ficava perto de uma mulher não teve medo das pessoas acharem errado, o julgarem. Era um abraço inocente, de dois amigos, e se pudesse ficaria naquele abraço para sempre.
Naqueles segundos pode sentir seu medo se esvaindo, se sentia seguro, podia ver e perceber que o mundo era um pouco melhor...
Talvez nem tudo estivesse perdido, nem tudo era tão maldoso quanto parecia.
*******
Olá, é meio doido já estar postando o capítulo 8. Eu tenho me divertido revendo esses personagens, sabe, é como sentar em uma cadeira e tomar chá com velhos amigos. Eu quase consigo ouvir eles conversando comigo.
Então se você tiver lendo, deixe algum comentário aqui, só pra eu saber que não estamos sozinhos nesse chá.
Com amor
Candal ❤️
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