Capitulo 6
Era mais difícil do que Charlotte imaginava recomeçar do zero.
Sem amigos, sem conhecidos, absolutamente nada além da sua família. Era a segunda vez que ela tinha que passar por isso, mas dessa vez era extremamente diferente.
Era um recomeço significativo, aquele lugar lhe trazia memórias horríveis. E memórias muito boas. Era tudo muito confuso.
Charlotte tinha tirado o dia para reconhecer o local, pesquisou lugares interessantes dentro do bairro mesmo porque não queria ir para longe. Achou uma Biblioteca, e estava caminhando para lá. Janeiro, alto verão, mais de 30°c, ela estava esperando que a Biblioteca tivesse ar-condicionado.
Para sua sorte tinha, mas a Biblioteca não tinha livros físicos.
Eram vários tablets e smartphones, onde você apresentava seus documentos e sentava em uma mesa, e poderia ler qualquer livro pois teria qualquer um dentro do aplicativo. "Viva a modernidade de 2083!", pensou com tristeza.
Ela amava folhear os livros, gostava daquela sensação. Uma das sensações favoritas dela.
Charlotte se sentou em uma das mesas, havia poucas pessoas na Biblioteca, umas duas ou três, e ela tinha reparado que aquele garoto que havia visto mais cedo na praça estava ali, concentrado em alguma leitura. Charlotte sempre tinha sido bem sociável, mas não se dirigiu a ele ali dentro por dois motivos: a Biblioteca estava imersa em um silêncio e segundo, ele não parecia gostar de companhia.
Durante horas, Charlotte permaneceu sentada lendo alguns livros. Alguns romances, outros clássicos, só folheava mas nada lhe prendia a atençao o suficiente. Quando deu por voltas das 17 horas da tarde, a moça anunciou que aquele era o horário que fecharia. Charlotte deu de ombros, e devolveu o tablet. Percebeu que não tinha sido a única a perder o horário, o garoto também estava se levantando para ir embora.
Ela sorriu para ele, que parecia nem ter notado que ela estava ali ainda.
— Você deve estar me seguindo!
Ela exclamou em um tom brincalhona, enquanto ele parecia muito surpreso e atrapalhado para responder. Depois de pensar bastante, ele respondeu quase sério demais:
— Mas eu chego nos lugares antes de você.
Charlotte riu, descontraída, enquanto Eliel se soltava um pouco mais e ria junto. — Não venha dar uma de espertinho! — Retrucou, enquanto eles se retiravam da Biblioteca antes que fossem expulsos. — Está muito quente aqui fora!
Apesar de já estar tarde, o sol ainda estava queimando a tarde. Eliel concordou com a cabeça, sem dizer nada.
— Como você sabe, sou nova aqui. Não sabe onde posso conseguir um sorvete?
— Na rua do lado da igreja tem um Mercado Estatal, lá dentro tem uma parte de lanches e vende sorvete.
Charlotte colocou a mão sobre a cabeça para conseguir enxergar melhor no sol.
— Ah, eu me lembro onde é. Foi a primeira coisa que vi quando cheguei, vou passar lá então.
Eliel assentiu, tímido.
— Se quiser, posso acompanha-la.
Chalotte sorriu, dando de ombros.
— Finalmente! Achei que não ia se oferecer!
********
De certa forma, Eliel gostava do jeito como Charlotte era.
Como ela conseguia ser espontânea daquele jeito? Falar com ele como se já o conhecesse á anos, se na verdade eles nem se conheciam?
Eles estavam caminhando até o Mercado enquanto ela sorria, e apontava algumas coisas nas casas, era alegre. Não parecia nenhum pouco ficar constrangida perto dele.
— Você veio de onde?
Eliel perguntou, fazendo Charlotte o olhar rapidamente.
— Caramba! Achei que você só respondesse... estou aliviada! — Mostrava realmete surpresa, mas ria. — Eu vim do Rio de Janeiro, quer dizer, minha família veio do Rio de Janeiro, eu estava num colégio em São Paulo. Tipo, um internato, sabe? Eu morava lá...
— E se mudou para cá...?
— Sim, me formei no final do ano passado...
Minha família quis vir para cá e resolvi vir junto. Tenho uma irmã e um imão mais velho, sentia muita falta deles. Dos meus pais também, era melhor.
— Como conseguiram espaço para morar?
— Eu já tive família aqui, eles morreram infelizmente... eram bem velhos. Parentes da minha mãe, a casa estava aberto para qualquer família que precisasse pelo governo. Nós pedimos essa, e agora a nossa casa no Rio está aberta a quem precisar. Ninguém deve ficar nunca na rua né?
— Sim, claro. Que nunca falte nada a nenhum trabalhador.
Eliel falou, empolgado.
— Viva! — Charlotte respondeu, animada. — Gosta de História?
— Sou historiador.
Eliel respondeu, sorrindo. Não conseguia se mostrar menos orgulhoso.
— Que fantástico! Adoro estudar História, acho que não sirvo para trabalhar no ramo... mas sou apaixonada. Como se interessou?
— Meu avô sempre falava sobre como as coisas tinham mudado depois da Revolução, ele falava que eram mudanças muito grandes como todos terem casas, mas ninguém ter mais que uma casa, antigamente tinham pessoas que possuíam dezenas de propriedades enquanto outras moravam nas ruas. Ele sempe citava mas nunca sabia explicar muito bem, eu resolvi procurar saber por mim mesmo e acabei me apaixonando por essa área.
Charlotte se mostrava encantada pela forma que Eliel falava, era encantador a paixão que esbanjava, ela resolveu continuar no assunto.
— Eu soube também que as pessoas tinham que pagar pela comida básica antigamente.
— Sim, pagavam e era caro. É incrível porque hoje em dia seria inimaginável terBque pagar por comida, comida é sobrevivência. Todos precisam, por que deveríamos pagar por isso?
— Também não entendo.
Charlotte e Eliel chegaram em frente ao Mercado, entraram na primeira sessão e apresentaram os documentos. O Mercado era dividido em sessões: A Sessão Pública e a Sessão Diversão, na primeira, você tinha alimentos básicos como arroz, feijão, elementos para café da manhã, frutas, legumes, verduras, raízes, temperos e carnes em geral.
Todas famílias tinham um cartão, limitado mas suficiente, e naquela sessão cada família poderia pegar tudo o que precisasse. A Sessão Diversão você teria que pagar com seu salário, e lá continha lanchonete, sorveteria, entre outros. Também poderia pagar por mais carne, caso quisesse fazer uma festa.
Eles seguiram para a sorveteria, e se sentaram em uma mesa. Logo, veio uma garçonete anotar os pedidos, Charlotte quis um sorvete simples de chocolate e Eliel quis um milkshake de morango.
— Mas e você? — Eliel perguntou enquanto a garçonete se retirava. — Vai fazer faculdade? Tem alguma área planejada?
— Por enquanto não, achei que quando terminasse o Ensino Médio, iria saber mas não...— Ela deu de ombros, mostrando decepção. — E não quero começar nada que eu não goste. Vou trabalhar, pesquisar por enquanto e ano que vem eu começo.
Eliel sorriu e assentiu, não sabia muito bem o que dizer. Ele sempre tinha sido certo sobre o que queria fazer. O que ele faria se não soubesse? Percebeu que realmente não poderia imaginar sua vida sem História. Charlotte, percebeu que ele não iria falar mais nada se ela não dissesse, resolveu tentar puxar o assunto para o lado pessoal:
— Se dá bem com a sua família? Como ela é?
— Sim, eles são ótimos então me dou muito bem e você?
Ela assentiu com um sorriso, imaginou que a resposta dele seria curta. Eliel era o tipo de garoto reservado, e ela já tinha conseguido fazer ele falar, já devia estar forçando a barra.
— Me dou muito bem com eles, mas não os conheço muito bem.
Charlotte disse com os olhos vidrados, parecia pensar sobre o assunto. Uma tristeza surgiu na feição do seu rosto, mas ela tratou de apagá-lo, não antes de Eliel conseguir captar alguma coisa.
— Como pode não os conhecer? É a sua família.
— Bom, passei três anos num internato.
Charlotte suspirou enquanto Eliel se arrependia de ter feito a pergunta, quando
ele finalmente ia falar alguma coisa, o garçom trouxe os sorvetes e a conversa mudou de rumo.
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