Capítulo 6
“Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa.”
-Hebreus 10:36
***
Me pergunto o que eu posso fazer para que as coisas sejam diferentes, muitas vezes não percebemos que estamos acomodados, fazemos isso de maneira bem simples e ás vezes sem perceber.
Começamos a caminhar em direção ao alvo, cheios de entusiasmo e com uma fé aparentemente inabalável, até que após alguns passos, começamos a nos esquecer do porque estávamos caminhando, nos cansamos, pegamos um banquinho nos sentamos ali mesmo.
Por vários momentos vamos tentar nos lembrar, tentar entender... Porém nem sempre teremos uma resposta imediata, isso se torna desesperador e extremamente confuso.
Então, o Espírito Santo se aproxima, coloca a mão em nossos ombros e sussurra em nossos ouvidos o que deveríamos fazer... Ele nos abraça e sorri, mesmo mediante a culpa que sentimos por termos ficados parados ali.
As coisas nem sempre acontecem do jeito que queremos que aconteça, mas por algum motivo o resultado é melhor do que esperávamos, porque por mais que fiquemos parados ali perdidos, Deus sabe o caminho e está disposto a nos levantar novamente... Quantas vezes forem necessárias.
***
Tenho que admitir que Deus tem falado muito conosco ultimamente, e ontem... Bom, ele falou o que precisávamos ouvir.
-Domingo/ 20:45 P.M
-A paz do Senhor á todos... – O líder de jovens fala no microfone- Hoje de manhã eu disse que tinha algo a tratar com os jovens e esperei até agora para que todos estivessem aqui para ouvir.
Todos ficamos atentos, Lucas e Clara estão sentados ao meu lado.
-A partir de hoje, no período de 30 dias, faremos algumas atividades aqui... – ele diz- Mas não são simples atividades, vocês irão jejuar e teremos estudos bíblicos todos os dias á tarde, e... – ele faz uma pausa- Vão ficar longe das redes sociais...
Por incrível que pareça, mesmo estando dentro da igreja, os jovens mostraram indignação com a última parte. O Líder pareceu entender o que deveria fazer e começou a andar pela igreja segurando o microfone:
- Sei que não gostaram disso, sei que se sentem desanimados e com certeza devem querer fazer milhares de coisas, menos isso... – ele para- Porém... Vamos entender a necessidade disso agora mesmo.
Ele para em frente ao Carlos, um dos jovens da nossa igreja, que por curiosidade tem mania de me provocar um pouco.
- Carlos- o líder sorri- Por que você está aqui hoje?
Carlos fica completamente confuso e surpreso com a pergunta, gagueja, porém não responde.
- Qual o motivo da sua esperança?- o líder pergunta de novo.
Carlos fica em silêncio novamente, então o líder vai em direção á outra pessoa, Juliana.
- Olá Juliana- ele diz e ela sorri- Pode me dizer quem é Deus para você?
O sorriso dela se desmancha, todos ao redor começam a cochichar.
-Mas essa pergunta não é difícil. - ela diz.
-Então é só responder... – o líder fica com uma expressão curiosa.
-Ah Deus é... – ela faz uma pausa- Deus é... – ela para de tentar- Eu não sei o que dizer...
Ele faz perguntas para vários jovens e a resposta é sempre: Não sei, não consigo colocar em palavras... Ou ás vezes nem respondem.
O nosso líder volta para o a frente da igreja e diz as seguintes palavras:
-Não fiz isso para expor ou envergonhar vocês- ele diz- e quero que entendam que só fiz essa pergunta para jovens porque como líder de vocês é meu dever cuidar... Me assusta saber que ,querendo ou não, muitos se sentem obrigados a estarem aqui e que na primeira oportunidade sairiam por aquela porta sem levar nada... – ele suspira- Se estão aqui por obrigação, então não estão aqui de verdade, mas se querem dar uma chance ao que eu tenho a dizer e querem conhecer ao Deus que vocês servem, precisam fazer uma escolha...
Eu olho para o Lucas que está com a mesma expressão que eu.
- Vocês são muito mais do que pessoas ocupando espaço... - ele diz- Vocês são pessoas pela qual vale a pena lutar, Deus está lutando por vocês e hoje ele faz a seguinte pergunta: Querem uma razão para viver? Essa é a sua chance... Levante a mão quem está disposto a tentar...
Por mais que sejamos jovens, confusos emocionalmente e cheios de conflitos, nunca pensei que veria isso... Pessoas dispostas a encontrarem respostas para as suas dúvidas.
Levanto minha mão, e quando olho para trás, todos os outros jovens estão fazendo o mesmo.
[...]
Abro os olhos lentamente, e sem pensar duas vezes, me arrasto da cama e me sento no chão. Abro um sorriso enorme e digo:
- Bom dia Papai- continuo sorrindo- Hoje é o meu aniversário, eu sei que sabe disso, mas o que eu quero realmente dizer é... – abraço os meus joelhos- O Senhor é o meu maior presente.
Fico ali parada e em silêncio, agradecendo em meu coração e por mais que eu não esteja vendo Ele ou ouvindo a sua voz eu sei que Ele está ali, esse dia não faria sentido se eu não começasse ao seu lado.
[...]
Me arrumo e desço as escadas devagar, sentindo o cheirinho de café e escutando o meu pai cantarolando com a minha mãe:
- “A melhor coisa que eu já fiz em toda minha vida, salvou-me por um triz...”- ele canta e minha mãe o acompanha- “Em aceitar Jesus, sinceramente foi...”.
Entro cantando com eles:
- “A melhor coisa que eu já fiz...”- cantamos juntos.
Eles vem me abraçar bem forte.
-Feliz aniversário querida- meu pai diz e minha mãe beija a minha testa.
Conversamos bastante, até que minha mãe vem com uma caixa em um papel de presente e meu pai segura um cupcake com uma vela pequena em cima.
-Parabéns pra você... – eles cantam e eu fico vermelha igual a um tomate.
-Mãe... – digo rindo e assoprando a vela.
-Abre logo o presente menina- ela ri.
Abro a caixa e vejo um caderno de capa preta com o desenho de um mapa na frente.
-An?... – digo confusa.
Então abro o caderno e fico ainda mais confusa.
-Não tem linhas- digo e meus pais começam a rir.
-Essa é a intenção querida... – minha mãe responde- Você sempre gostou de desenhar e gostaríamos muito que colocasse em prática de verdade, sem que as linhas sejam uma limitação para você.
Dou um abraço bem apertado neles, conversamos, rimos e então chega a hora de ir para a faculdade.
- Ter aula no dia do próprio aniversário deveria ser um crime! Eu queria ficar em casa- digo, fingindo estar indignada.
-E eu queria um cachorrinho, mas o seu pai não deixa- Minha mãe ri.
Entro no carro e saio com o meu pai.
[...]
Quando chego na faculdade fico feliz em ver a Clara e o Lucas segurando um balão azul, na verdade eu não diria que fiquei “feliz”, diria que estranhei e achei engraçado.
-Balão azul?- pergunto rindo.
-Eu disse que ela ia preferir rosa!- Clara diz para o Lucas.
-Se eu conheço ela bem, sei que azul é a cor favorita dela- Lucas sorri e me abraça- Parabéns...
-Ok, mas por que trouxeram um balão?- digo rindo.
-Admito que não tivemos tempo de pensar em nada- Clara diz- Era isso ou uma maçã.
[...]
Conversamos sobre as aulas que teremos hoje e antes de entrarmos Lucas me dá uma caixinha.
-O que é isso?- pergunto curiosa.
-Abre... – ele diz sorrindo.
Quando abro, vejo um bloquinho de Post-it amarelo.
-Eu sei que eu amo post-its – rio- mas essa eu não entendi.
-Não sei porque, mas eu senti de te dar isso de presente- ele diz como se até ele estivesse confuso- Acredito que vai saber o que fazer com isso...
Guardo com carinho e vamos para a aula.
[...]
Pela primeira vez, Lucas e Clara sentam perto de mim na faculdade, não estou acostumada com essa aproximação deles, mas admito que me deixa bem feliz.
- Vamos na secretaria ver o que conseguimos fazer a respeito dos cultos aqui na escola?- Clara sussurra e eu digo que sim.
Desde aquele sonho eu tenho pensado muito sobre isso, e depois do que o nosso líder falou ontem, acredito que precisamos tomar uma posição...
Quando me viro, acabo vendo a menina com que eu esbarrei, a que tinha as cicatrizes de cortes nos braços... Ela percebe que eu estou olhando e desvia o olhar.
Pego o caderninho que ganhei de presente e começo a rabiscar algo enquanto o professor não está explicando a matéria.
-Que borboleta linda... – Clara diz olhando para o meu desenho, eu apenas dou um sorriso.
Observo aquele desenho e me lembro do sonho de novo, olho para o post-it que o Lucas me deu e olho para a menina das cicatrizes...
Acho que eu tenho uma ideia.
[...]
Quando bate o intervalo, espero os alunos saírem, inclusive a menina.
-O que você está aprontando?... – Lucas diz com os olhos semicerrados.
-Nem eu sei... – digo.
Escrevo uma mensagem:
“Eu estou com você, nunca vou te abandonar... Você é única para mim e eu sempre estarei ao seu lado, independente do que aconteça.
-Deus.”
Dobro o papelzinho em formato de borboleta, Lucas vê e diz:
-Até origami você faz?- diz com uma cara de surpresa e eu apenas começo a rir.
-Estou começando a entender o seu raciocínio- Clara fala mexendo no queixo- E se fizesse isso com mais gente? Já pensou?
Começo a pensar... Talvez esse bloquinho realmente tenha tido uma finalidade afinal.
[...]
Eu e Clara decidimos ir ao banheiro, e quando entramos ouvimos alguém chorando bem baixinho, posso até deduzir quem é.
-Acha que devemos falar com ela?- Clara pergunta sussurrando.
-Acho que ela quer ficar sozinha agora... Vamos dar um tempo para ela, depois a gente conversa.- digo no mesmo tom.
Saímos de lá e continuo em dúvida se deveríamos ou não ter falado com ela... Mas senti que não era a hora ainda.
Nos sentamos e vemos ela sentar na cadeira dela, olhamos sutilmente ela lendo o post- it, quando ela nos encara desviamos o olhar.
[...]
No final da aula nós temos que entregar um trabalho, então fazemos fila na mesa do professor. Sem querer eu piso no pé de alguém.
-Desculpa... – digo ainda sem ver quem é.
-Não se preocupe, não seria a primeira vez... – ouço-o dizer e me viro rapidamente.
É o menino com quem esbarrei quando eu estava indo atrás da menina das cicatrizes, por que eu tenho que esbarrar com todo mundo?
-Me desculpe por aquilo também... – digo.
Ele apenas continua mexendo no celular, sem se importar com o que eu acabei de dizer.
-Vejo que já conheceu o Matheus... – Lucas diz, batendo nas costas do menino, que não parece muito contente com a presença dele.
-Você sabe que eu prefiro que me chamem de Téo- O garoto diz.
Lucas abre um sorriso sarcástico e responde:
- Está vendo Jasmim? Não é só você que tem apelidos ruins... – ele diz e eu tento segurar a risada. O Matheus me encara com um olhar meio ameaçador e eu acabo ficando quieta.
Quando eu volto para a minha mesa, abro um sorriso ao ver um papelzinho grudado na mesa, escrito:
“Obrigada...”
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