Capítulo 28
“Isso passa... Peça ajuda á Deus para saber o que fazer daqui pra frente, cada decisão, sendo da mais simples até a mais importante.”
-Leví Melo.
***
Já tentei dizer tantas vezes que te amo, tentei de várias formas mostrar meu amor... Já tentei fazer você olhar para mim em momentos conturbados, mas você estava triste demais para me ver, temendo que eu não pudesse amá-lo diante daquilo. Eu já tentei fazer você me escutar, mas seus pensamentos estavam cheios de palavras negativas sobre si mesmo e sobre seu futuro. Já tentei segurar suas mãos, mas elas estavam ocupadas segurando todos esses problemas que se acumularam e te impulsionam para o chão.
Eu me preocupo tanto com você que te observo dormir, me importo tanto que te analiso ao acordar. Me entristeço por você não me ouvir te dando bom dia, você acha que está sozinho e pensa no dia atarefado que vai ter. Meu amor por você não tem fim, eu só queria que você soubesse como eu enxergo você. Você não é uma máquina ou um projeto que precisa ser manipulado até alcançar um padrão aceitável de perfeição... Você é alguém que precisa entender o quanto é amado, só você não percebe isso.
Eu estou aqui, estou dizendo que te amo, estou dizendo que o seu futuro está nas minhas mãos e que eu não te enxergo como os outros te enxergam, nem mesmo como você se enxerga... Eu te moldei com minhas próprias mãos e você está completamente preenchido por sentimentos que tive ao te criar... Eu te amo, eu te amo, eu te amo.
-Papai.
***
Pensei que isso nunca aconteceria, mas aconteceu. Eu me lembrei de tudo, cada detalhe, cada riso que dei com os meus amigos, cada piada sem graça do Lucas, cada momento de adoração vivido naquela sala da faculdade.
Isso não invalida tudo que eu aprendi nesses últimos dias, eu aprendi a amar a Deus de novo. Pude observar de perto os resultados do nosso esforço... e... Pude aprender quem Deus era lado a lado com alguém que não está mais aqui.
Quando eu soube que ela se foi, eu não sabia exatamente o que sentir. Eu sei que Deus deu uma chance á ela de conhecê-lo de verdade e ele não quis perder tempo para tê-la com ele. Mas eu sinto muito que as coisas tenham acontecido assim, ela se tornou uma amiga e em momento algum eu senti raiva dela.
Mesmo assim, obrigada Senhor, por me trazer de volta... Por me dar a chance de te conhecer mais de uma vez. Sem dúvida, a melhor amizade que alguém poderia querer.
[...]
-Isso é incrível Jasmim!- Benjamin diz.
Eu contei para os cinco tudo que houve, cada detalhe de como recuperei a memória. Ficamos ali sentados naquele campo, pedi que avisassem para os outros que tinham me encontrado, porém, eu queria fazer uma surpresa para alguém e não queria que ninguém soubesse da minha melhora... Ainda.
-Bom, cumprimos a nossa promessa de que ajudar a conhecê-lo- Celly diz me abraçando- Agora você está em boas mãos e infelizmente não podemos ficar para sempre.
-Mas, vocês já vão partir?- digo espantada.
-Não imediatamente- Éllida ri- Partiremos junto com os missionários selecionados pela ação social daqui uns dias. A data vai colidir com as férias de vocês, porém não sabemos ainda quem foi selecionado para ir.
Fico triste por saber que eles não podem ficar para sempre, eles são tão incríveis! Eu só espero que eu consiga aproveitar cada momento com eles.
-Então...- Daniel faz cara de Éllida- Por que está mantendo segredo da sua recuperação? Sei que vai contar logo, mas acredito que seja porque quer contar para alguém primeiro... Alguém especial...
Éllida dá um soco no braço dele e diz:
-Só eu posso fazer papel de cupido com ela- ela diz e logo faz carinho no mesmo braço que ela acabou de machucar, mostrando cuidado com ele. Esses dois são uma graça. Logo ela retoma a palavra:
-Enfim... – ela diz- Vai contar para o Enam primeiro?
Fico vermelha, mas é isso mesmo. Meu silêncio diz tudo e eles começam a rir.
-Alguém manda mensagem para ele por favor- peço- Digam para ele ir para o jardim da casa dele, não contem o porquê.
[...]
Quando estou me aproximando da casa do Enam, eu fico realmente muito nervosa, mas ao mesmo tempo animada com a reação que ele vai ter.
Quando chego no portão do jardim, vejo ele sentado na mesa que fica no centro do jardim. Dou um sorriso e me aproximo devagar. Assim que ele me vê, abre um sorriso enorme.
-Graças á Deus que você está bem... –ele diz com brilho nos olhos, mas não sai do lugar- Eu sinto muito pelo que aconteceu com ela. Fiquei muito preocupado quando não te achei no hospital e olha, você não tropeçou no meu jardim, que milagre.
-Eu estou bem... – digo me sentando do lado dele – você nunca perde tempo com as gracinhas- digo rindo.
Ficamos em silêncio por um longo tempo, observando o ambiente e deixando o vento passar por nós.
-Sabe, eu me lembro do dia em que você leu o salmo 139 para mim aqui nesse mesmo lugar- ele sorri olhando para mim- Eu comecei a ver o amor de Deus por mim de uma maneira diferente. Você teve que ler para mim, já que eu ainda estava na cadeira de rodas...
O vento começa a bagunçar o cabelo dele e eu encontro a oportunidade perfeita de contar.
-Era uma pena você não conseguir se mover, afinal, o vento estava bagunçando seu cabelo exatamente como agora e você só tentava ignorar... – digo rindo.
-Sim! Aquilo estava me deixando agoniado, mas eu já estava acostumado e...- ele arregala os olhos e se vira para mim- Como você lembra disso?!
Começo a rir e ele levanta de uma vez.
-Jasmim! Para de rir- ele diz me chacoalhando- me fala...
Eu começo a rir mais ainda, ver ele impaciente é algo impagável.
-Ai Senhor- ele diz nervoso- Eu vou morrer aqui, me fala Jasmim!- ele ri.
Faço ele se sentar de frente para mim, peço para que ele respire e seguro sua mão.
-Eu me lembro de tudo... - digo sorrindo, segurando as lágrimas, mas sei que meus olhos estão marejados.
-O que?- ele pergunta incrédulo e sorrindo ao mesmo tempo.
-Eu... Me... Lembro... De... Tudo... – digo pausadamente, rindo.
Ele começa a chorar de alegria e me abraça enquanto me gira no ar. Ele não diz nada, apenas ficamos abraçados por uns 2 minutos, até que consigo ver seu rosto cheio de alegria. Ficamos no encarando, tentando não chorar. Até que quando percebemos que estamos nos olhando demais, nos afastamos rapidamente, vermelhos, com certeza.
-Eu não acredito... – ele diz- Como isso aconteceu? Quando? Onde?
Conto pra ele tudo, desde a mensagem na bíblia até a visão de ver aquela borboleta. Contei sobre tudo, relembrei minhas memórias favoritas e comecei a chorar ao falar sobre o acidente.
-Vai ficar tudo bem... – ele enxuga aas minhas lágrimas- Já passou, Deus sabia o que estava fazendo...
Ele segura minha mão e passa os dedos pelo anel que me deu.
-Eu estava falando sério- ele diz sorrindo e olhando no fundo dos meus olhos- Vou esperar você.
Meu coração dá uma leve pausa, mas tudo bem. Eu apenas sorrio e apoio minha cabeça o ombro dele.
-We have a secret...- sussurro, apertando a mão dele levemente.
-Pensei que eu fosse o único americano aqui- ele sussurra de volta, me fazendo rir.
Ficamos ali por um tempo, até dar o horário do compromisso que temos com os jovens.
[...]
Como eu disse antes, iremos ter um momento com os jovens, provavelmente todos dormiremos aqui com a supervisão dos líderes, mas queremos ter um momento de adoração e ensino, estando todos juntos. Vou aproveitar para dar a notícia de que recobrei a memória...
Quando chegamos, todos já estão acomodados e eu vejo o Lucas com a Clara, Leví, Lavínia, Charlie, Carlos e para a minha surpresa a Juliana está lá também e parece estar rindo de algo... Vários milagres hoje. Não vi a Éllida e os outros, onde será que eles estão?
Antes de tudo começar, chego perto deles, chamo meus pais e os pais dos meus amigos. Minha coragem voltou, na verdade, ela nunca saiu, eu é que me esqueci do quanto era bom se permitir correr riscos e rir com os amigos.
Me levanto em frente a todos os jovens e aos outros, dizendo:
-Eu tenho algo para contar... – digo, me segurando para não chorar- Hoje perdi alguém muito especial, alguém que esteve ao meu lado por todo o processo de conhecer Jesus novamente... Eu me senti tão perdida quando eu soube que ela partiu. Porém, em meio a tudo isso Jesus se fez presente, porque se tem algo que eu aprendi duas vezes... – digo e todos riem- ... é que Deus nunca perde o controle da situação, pelo contrário, Ele já cuidou de tudo e tudo que precisamos fazer é confiar nele...
Enxugo as lágrimas que deixei escapar.
-Em todo esse tempo, eu pensei que nunca fosse fazer algo diferente. Eu era tão quieta, insegura... Porém Deus me deu amigos- olho para eles e eles sorriem para mim- Me mostrou um verdadeiro avivamento- olho para os jovens da minha faculdade que vieram para cá hoje e eles também abrem sorrisos- E me mostrou que Ele merece tudo que há em mim... Ele me fez lembrar de tudo... –começo a chorar- E eu sou eternamente grata, por poder conhecê-lo mais de uma vez. Quero amá-lo todos os dias como se fosse a primeira vez...
Olho para os meus pais e para os meus amigos, eles estão chorando e quando eu volto a olhar para todos que estavam ali, começam a aplaudir. Aplaudo também, porque sei que as palmas não são para mim, são para Ele...
Então todos começam a cantar:
-Não compreendo os teus caminhos, mas te darei a minha canção... Doces palavras te darei. Me sustentas em minha dor e isso me leva mais perto de ti, mais perto dos teus caminhos. E ao redor de cada esquina, em cima de cada montanha, eu não procuro por coroas ou pelas águas das fontes. Desesperado eu te busco, frenético acredito, que a visão da tua face é tudo o que eu preciso... E eu te direi...
Sinto a presença de Deus invadindo o lugar, de maneira suave e gentil... Como um abraço de um Pai amoroso.
-Vai valer a pena, vai valer a pena, vai valer a pena mesmo...
Quando abro os olhos, vejo todos os meus amigos vindo até mim e me abraçando, assim como os meus pais.
Obrigada Senhor, por nunca me deixar sozinha e por me usar, mesmo que eu não mereça... Eu te amo.
[...]
Depois de alguns minutos de louvor, Éllida chega com os outros, parecem muito animados.
-Aonde vocês estavam?- pergunto- Senti falta de vocês aqui.
-Estávamos cuidando de algo muito importante... – Joshua diz sorrindo.
-Eu queria contar, mas a Éllida vai me bater se ela não fizer as honras- Daniel diz rindo.
-Conta logo Éllida- Celly diz rindo também.
-Jasmim, Lucas, Enam e Clara... – Ela diz sorrindo igual crente na cantina do final do culto- Espero que comecem logo a arrumar as malas de vocês...
-O que?- Lucas pergunta- Por que?
Todos estamos curiosos, Enam parece confuso e a Clara está agoniada.
-Vocês foram uns dos selecionados para a viagem missionária que o instituto de ação social vai fazer... Então se preparem, vão ter que nos aguentar por mais tempo.
-Vamos logo ganhar esse mundo para Jesus meus amigos- Benjamin diz.
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