Capítulo 18
"Se há algo que aprendi, é que ninguém nunca vai me amar como o Senhor me ama e por mais que ás vezes eu me esqueça disso, Ele sempre vai estar disposto a me ensinar novamente."
-Joyce Anne.
***
"Muitos dizem: Quem nos mostrará o bem?
Senhor, exalta sobre nós a luz do teu rosto."
Salmos 4:6
O Senhor me fez atentar para esse verso em Salmos, eu nunca tinha enxergado ele da maneira como eu enxergo agora. A verdade é que existem muitas pessoas a nossa volta, perdidas e confusas por infinitos motivos e todas elas estão em busca de uma verdade, qualquer uma que seja boa, concreta e acolhedora. Elas perguntam: "Quem nos mostrará o bem?", porém, Davi não dá uma resposta explícita... Ele faz um pedido: "Senhor, exalta sobre nós a luz do teu rosto".
As pessoas estão caminhando no escuro e só enxergam coisas ruins acontecendo. Parece que o medo e a falta de esperança tomam de conta cada vez mais e as pessoas clamam por uma resposta, por uma verdade, por luz. O meu pedido é: Senhor, exalta sobre nós a luz do teu rosto... Porque eu quero refletir a tua luz para essas pessoas, quero refletir a verdade que foi plantada dentro de mim por tuas mãos.
É muito fácil olhar em volta e dizer que as pessoas estão se perdendo em trevas, sendo que nós deveríamos ser luz na vida dessas pessoas. Mateus capítulo 5:14 diz que nós somos a luz do mundo, e no versículo 16 diz: "Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao pai de vocês, que está nos céus".
As minhas perguntas para você hoje são: O que você quer? O que você mais anseia? Será que você está tão perto de Deus a ponto de a luz d'Ele refletir em você?
Não quero te deixar desanimado ou se sentindo um fracasso, só quero que você entenda que assim como você precisa do Senhor, as outras pessoas ao seu redor clamam por socorro, por uma fagulha de esperança. Ao seu lado existem vidas que anseiam por algo verdadeiro e estão cansadas de coisas vazias... Ó Senhor, exalta sobre nós a luz do teu rosto.
***
Quando chegamos na frente da igreja, não acreditamos na cena, parece um filme ou talvez um sonho daqueles em que você torce para acordar.
-Não acredito... - Digo em lágrimas ao ver a igreja em cinzas. Os bombeiros conseguiram apagar o fogo, mas como o fogo se espalhou muito rápido, tudo o que se enxergava ali eram restos de um lugar que já foi muito bonito e bem cuidado.
-Como isso aconteceu?- Clara chora junto comigo.
Lucas está com os olhos cheio de lágrimas e Enam se segura para não fazer o mesmo que nós.
-Eu nem tive a chance de passar mais tempo aqui- Charlie diz com os olhos vermelhos. Carlos tenta consolá-la e percebo que ele também está muito triste.
Assim que vimos minha mãe eu saio correndo e dou um abraço. Ela vem acompanhada do meu pai e eles estão desolados.
-Mãe, como isso aconteceu?- Pergunto, ainda abalada.- Alguém se feriu?
Minha mãe está muito triste e meu pai mais ainda, ele e os outros membros demoraram anos para deixar a igreja tão bonita e arrumada... Era uma segunda casa para nós.
-Não sabemos como aconteceu, mas os bombeiros descartam a possibilidade de ter sido acidental- Ela diz- Ninguém se machucou, todos conseguiram sair, graças a Deus.
-Pai- olho para ele e o abraço- E a igreja?
Ele deixa as lágrimas escaparem. Meu pai sempre tenta ser forte para se manter firme por mim e pela minha mãe, mas hoje não é um desses dias.
-Vamos ter que começar do zero... - Ele diz- Mas eu creio que Deus sabe o que faz e sei que não vai ser um incêndio que vai nos parar.
De repente, um dos bombeiros aparece para nós com uma garrafa de vidro que possui uma rolha na ponta.
-Tudo bem?- Meu pai pergunta. Eu e os meus amigos observamos.
-Encontramos isso aqui na porta dos fundos, onde aparentemente se iniciou o incêndio. Estava perto da porta e tem um bilhete dentro, parece que quem causou esse estrago quis deixar um recado.
Todos nós não conseguimos esconder o medo ao ouvir isso e esperamos meu pai abrir a garrafa. Ele retira o papel e lê em voz alta:
- "Isso é para saberem que não podem invadir algo que não é de vocês, tudo está em cinzas, assim como a fé em um Deus que não pode me parar.".
-Que horror!- Minha mãe leva a mão até a boca, em sinal de medo e indignação.
-Não acredito, que tipo de pessoa terrível faria isso?- Enam pergunta com muita raiva, assim como Lucas.
-Eu não sei quem foi- Meu pai diz- Mas de uma coisa eu sei, estamos bem, estamos vivos e não temos medo de ameaças, o único na qual possuímos temor é no nosso Deus, e Ele é justo. Espero que a pessoa que fez isso se arrependa e mude...
[...]
Ficamos sentados na calçada da igreja, pensando e em silêncio por horas. A polícia vai investigar o caso, mas por enquanto é apenas isso. Apareceram até repórteres para documentar o incêndio, pois muitas pessoas frequentavam aqui.
-É estranho como as coisas mudam de uma hora para a outra- Carlos quebra o silêncio- Tudo estava indo tão bem...
-Eu entendo o que você disse- Lucas fala cabisbaixo- Parece que do nada, as coisas tomam proporções terríveis e a gente não tem reação.
-Jasmim, o que você acha que Deus está fazendo?- Enam pergunta.
-Acho que por mais que seja algo triste, deveríamos saber que estamos tendo resultados. Se há perseguição agora, significa que estamos incomodando o inimigo... Deus não irá nos deixar desamparados, pois Ele sabe o que faz e o que foi perdido não se compara com o que há de vir.
-Meus pais sempre me diziam uma coisa quando eu era pequena- Clara diz- Eles diziam: Sempre que tudo estiver um caos, corra para o lugar secreto, pois você vai perceber que na sua perspectiva pode estar tudo destruído, mas na perspectiva de Deus oss tijolos de uma casa que caiu se transformam em uma ponte para um lugar novo e maravilhoso.
Sorrio, pois ela tem razão.
-Quem vocês acham que fez isso?- Enam pergunta.
-A carta é bem direta, para eles nós invadimos algum lugar que pertence a eles... Só consigo pensar e uma pessoa...- Lucas responde.
-Lucas!- Brigo com ele.
-O que foi?- Ele diz- Me diz se não pensou nisso desde a hora em que o seu pai leu...
-Você acha que a coordenadora seria capaz disso?- Clara pergunta- Ela é brava e não gosta da gente, mas ela colocaria fogo na nossa igreja?
-Eu não quero acreditar que ela tenha feito isso, mas ontem eu a vi conversando com o seu irmão Charlie...- digo- Eles pareciam estar escondendo algo.
-Olha- Charlie diz- Meu irmão pode fazer muita coisa errada, mas não acho que ele faria uma coisa dessas...
-Eu sei- digo- Mas eu vi ela entregando algo para ele e ele me disse que está difícil pagar o aluguel sem o seu salário...
-Jas- Charlie fala triste- Eu não confio nele, mas eu o amo e eu prefiro acreditar que ele nunca faria isso, tudo bem?
-A Charlie tem razão- Carlos diz- Não podemos tomar conclusões precipitadas.
-Me desculpe Charlie... - Digo. Lucas fala o mesmo.
-Isso não importa agora- Enam diz- Precisamos continuar lutando e adorando a Deus, nem que seja na rua.
Dou um sorriso para ele.
-Nunca pensei que você teria tanta fé, Enam- Digo e levanto minha mão para por sobre a mão dele. Eu sei que ele não pode sentir, mas faço mesmo assim.
Assim que eu toco, ele se assusta.
-O que foi?- Pergunto curiosa, e todos olham para ele.
-Faz isso de novo... - os olhos dele se enchem de lágrimas.
E eu obedeço, sem saber o porquê. Ele abre um sorriso e começa a chorar e a rir ao mesmo tempo.
-Eu estou sentindo a sua mão Jasmim- Ele me olha e pela primeira vez eu vejo algo que nunca vi em seus olhos... Não sei dizer o que é, mas faz meu coração dar uma leve pausa.
-Eu não acredito!- Lucas salta e abraça Enam.
Charlie, Clara e Carlos fazem o mesmo.
Fico olhando Enam de longe, sorrindo e pensando.
-Tudo bem Jas?- Clara pergunta.
-Sim...- digo sorrindo- Eu só estava pensando.
Enam permanece sorrindo e olhando para mim, a felicidade está estampada em seu rosto. Tem algo diferente acontecendo e parece que eu faço parte disso... Nós dois fazemos parte.
[...]
Depois de Lucas ficar apertando a mão de Enam milhares de vezes, como sempre, pensamos na hipótese de amarrá-lo em uma árvore, mas não tinha corda.
-Esse dia virou uma montanha russa- Carlos ri- Deus não para de me surpreender.
-Eu pensei que nunca mais fosse sentir nada- Enam diz- Mas Deus está me curando aos poucos... Eu acredito.
Ficamos ali rindo e ouvindo piadas péssimas do Lucas. Então vejo os outros jovens da nossa igreja com os membros que frequentam os cultos na faculdade chegando. Todos estão segurando lanternas. Está de noite e escuro, mas não acho que esteja escuro o suficiente a ponto de precisarem de lanternas... O que eles pretendem fazer?
Clara, Lucas, Carlos e Charlie querem ir até eles, eu também quero, porém Enam diz:
-Jasmim, posso falar com você um pouco?- Ele diz.
Os quatro ficam nos olhando engraçado, esperando o que Enam vai dizer.
-A sós... - Enam revira os olhos, porém eles continuam parados sem entender.
-Eu e a Jasmim...- Enam diz e os outros saem chateados porque queriam ouvir a conversa.
Eles vão e eu me sento ao lado da cadeira de rodas dele.
-Algum problema?- Pergunto preocupada.
-Não- ele sorri- É só que faz tempo que a gente não conversa, quer dizer, não sem você tropeçar na minha cadeira.
Ele ri e eu finjo indignação, porém acabo rindo.
-Jasmim, você é a pessoa mais encantadora que eu já conheci- ele diz e eu paro automaticamente, devo ter ficado mais vermelha que um pimentão.
Ele apenas fica sorrindo e olhando para mim, isso me desconcentra e me deixa perdida. Ele percebe que estou ficando nervosa e desvia o olhar. Nunca havia percebido o quanto Enam era bonito, eu sabia que ele era, mas naquela hora ele parecia diferente, um diferente bom...
-Eu não quero que você me interprete mal... -Ele sorri (detalhe, nunca vi ele sorrindo tanto)- Mas você foi uma luz na minha vida, eu vejo Jesus em cada movimento que você faz... Foi impossível duvidar de um Deus que se fazia tão presente na vida de alguém assim. Eu sei que o seu sonho é iluminar a vida de outras pessoas através da presença de Deus, então saiba que eu sou uma pequena fagulha que passou pelo seu caminho, mas que agora estou queimando de amor por Deus.
-Você também me ensina muito Enam- digo sorrindo- Você deve ser a pessoa mais forte que eu conheço e o seu coração é lindo...
-Jasmim, posso te pedir uma coisa?- Ele pergunta.
-Claro- digo curiosa.
-Promete que você nunca vai desistir de me enxergar como você me enxerga agora?- Ele diz, parece brincadeira, mas seus olhos brilham de tanta seriedade.
-Enam- digo- Eu prometo...
Ele sorri mais uma vez.
-Lucas me falou que você era bem solitária antes de eu chegar aqui- Ele diz- Por que você era assim? Você parece tão diferente agora.
Suspiro e enquanto nós dois olhamos para os jovens se abraçando, respondo:
-Ás vezes Deus nos separa do meio das pessoas, não porque quer nos deixar excluídos, mas porque Ele quer que passemos um tempo com Ele... Garanto que os verdadeiros amigos chegam e são escolhidos á dedo, mas antes, precisamos conhecer o nosso melhor Amigo.
-Você está feliz agora?- Ele pergunta.
-Enam... Vocês são uma das melhores coisas que já me aconteceram- Sorrio- Vocês são parte de mim.
Ele suspira e diz:
-Posso te pedir mais uma coisa?
-Claro- digo curiosa novamente.
-Você pode virar a minha mão? Colocar as palma para cima, como se eu fosse receber um presente...
-Claro Enam- digo e faço- E agora?
-Agora, será que você pode por sua mão sobre ela?- ele pergunta.
Fico com vergonha, espero que ele não perceba que estou tremendo um pouco. Faço o que ele pede e encosto a minha mão devagar sobre a mão dele.
Ele parece muito concentrado naquilo, até que eu sinto seus dedos fazerem um leve movimento para tentar segurar minha mão. Meus olhos se enchem de lágrimas ao sentir o toque, Enam está muito mais emocionado do que eu, mas continua concentrado.
-Enam... - digo- Isso é incrível... Quer que eu chame os outros?
Ele me interrompe rapidamente e fala
-Não, por favor... - diz- Eu quero que esse seja um segredo nosso. Deus me deu forças para segurar a mão de uma pessoa incrível pela primeira vez e eu quero me lembrar disso.
Não consigo segurar as lágrimas e dessa vez sou eu quem seguro sua mão um pouco mais forte e digo:
-É um prazer dividir esse segredo com você Enam.
[...]
Empurro a cadeira de Enam até onde os outros jovens estão. Todos nós estamos tristes pelo incêndio na igreja, mas eu estou feliz pelos alunos da faculdade que frequentam os cultos terem vindo nos apoiar.
-Para que trouxeram essas lanternas?- Charlie pergunta.
-Bom- Um dos meninos, chamado Ezequiel, responde- Quando tudo estiver escuro e sombrio, Deus será a luz... Deus está em nós e nós trouxemos a luz para cá.
Quando juntam todas as lanternas, forma um raio único, o que começa a chamar atenção das pessoas que estão na rua, fazendo-as se aproximarem.
Nos abraçamos e Clara grita:
-Que comece o culto!
Eu fico olhando para o que estava acontecendo ali e penso três coisas:
Eu sei que vamos ter que começar do zero e que estão todos muito tristes.
Sei que tem alguém que realmente está disposto a fazer qualquer coisa para nos parar.
As alternativas anteriores não tem valor diante do nome daquele que está conosco...
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