Capítulo 16
O que aconteceu com Charlie me deixou muito triste, fiquei muito preocupada com ela, pois depois que ela nos contou sobre sua história, percebi o quanto ela amava o irmão.
Eu esbarrei com Téo um dia na faculdade e pisei no pé dele sem querer quando estávamos na fila para mostrar as atividades, isso faz tempo. Ele é bem mal humorado e trata o Enam com muita discriminação, um dia desses Lucas quase se descontrolou, mas nunca pensei que o Matheus fosse irmão de Charlie.
Pelo menos agora eu entendo o motivo de ela ser uma menina solitária e por sempre parecer triste e cansada, quer dizer, ela era assim... Agora, mesmo diante dessa situação, ela parece um raio de sol ambulante. Sei que ela ainda está triste, mas é como se a esperança não permitisse que o sorriso abandonasse seus lábios.
Charlie não negou o nome de Cristo, mesmo que isso significasse perder sua casa e seu irmão. Ela está conosco aqui agora e eu quero que ela se sinta feliz, sabendo que pode confiar em nós e sabendo que Jesus está cuidando da vida dela.
***
Hoje não estamos na escola, afinal, ainda estamos suspensos. Vou na faculdade mais tarde para pegar a matéria com uma menina da minha turma. Charlie que tem feito isso, mas hoje não, porque hoje é um dia especial.
Todos os jovens da minha igreja e alunos que participam dos cultos na nossa faculdade estão reunidos junto ao rio da nossa cidade, hoje é um dia especial para Charlie e sei que em breve também será para muitos alunos que estão conosco.
-Antes de iniciarmos o batismo da senhorita Charlotte Simons- meu pai diz sorrindo- Ela disse que gostaria de dizer algumas palavras.
Charlie está incrivelmente radiante, como se fosse o dia mais feliz de sua vida... E eu não duvido que seja.
-No dia seguinte ao dia em que eu saí de casa, eu aceitei a Cristo publicamente na igreja da Jasmim, mas eu gostaria de repetir algo neste momento... - ela diz- Eu quero que Ele seja o meu Senhor e Salvador. Nesses últimos dias eu pude saber um pouquinho do que era acreditar em Jesus mesmo que isso custasse a minha família...
Ela começa a chorar e a rir ao mesmo tempo.
-Eu passei os últimos anos da minha vida me culpando e me entristecendo em todo tempo- ela diz- Eu pensava que estava sozinha e muitas vezes questionava o motivo de estar aqui neste mundo. Eu escolhi não acreditar em Deus na época, mas fingir que Deus não existe não tira o peso das nossas costas, só nos tira a esperança.
Ela continua:
-Mas aqui, agora... Eu digo que nunca estive tão feliz, mesmo tendo perdido a minha única família, a minha casa e a garantia de ter comida na mesa. Eu pensava que tudo isso era importante, até conhecer Jesus e perceber que eu não tinha nada, até agora.
Todos os que estavam ali presentes começam a glorificar o nome do Senhor e a cantar uma música chamada “Oh how we love you”.
Charlie caminha até o rio, meu pai segura em suas costas e diz algumas palavras, então ele a mergulha e logo após a traz de volta para a superfície.
Todos nós gritamos e aplaudimos, pois é incrível quando alguém se entrega de verdade para o Senhor. Posso ver no rosto de Charlie que é como se aquela menina triste que ela foi um dia tivesse ficado na água, a pessoa que estava ali sorrindo havia acabado de nascer, só que agora com uma família e um Deus que a ama.
[...]
Quando Charlie sai da água e se junta a nós, começamos a cantar mais ainda. Ela vem e me abraça, então vejo o Carlos vindo até nós. Para quem não se lembra, Carlos é aquele que sempre está com a Juliana e os dois são jovens da minha igreja, porém sempre pegam no meu pé por ser a filha do pastor. Aliás, nenhum deles estava no dia em que fizeram um culto surpresa no meu quintal.
-Olá Jasmim- ele sorri.
-Oi Carlos- respondo retribuindo o sorriso, pois não se deve guardar rancores- Onde está a Juliana? Nunca vejo vocês nos nossos cultos da faculdade.
-Ela não quis vir hoje- ele responde- Ela nem pode saber que eu vim, se não ficaria brava...
Ele percebe que não deveria ter dito isso, mas não consegue disfarçar.
-Tudo bem- digo- Eu entendo... Mas Carlos, não se deixe influenciar por isso. Não estamos querendo aparecer e nem ser melhores que os outros, só queremos que as pessoas conheçam a Jesus. Sinta-se á vontade de participar conosco sempre que quiser.
Ele fica com uma expressão confusa:
-Como você consegue ser tão boazinha?- Questiona, mas sem ser sarcástico- A gente pega no seu pé e você é sempre tão educada... Por quê?
-Porque é isso o que Jesus faria – sorrio- Não devemos pagar o mal com o mal.
Ele apenas sorri, como se aquilo fosse novo para ele. Então ele olha para Charlie e sorri ainda mais, o que foi super estranho, mas engraçadamente fofo.
-Eu ouvi tudo o que você disse- ele diz- Você foi muito corajosa, eu não sei se eu teria coragem de fazer o mesmo.
-Tudo depende do motivo pela qual você está realmente lutando- Charlie diz e sorri.
[...]
Lucas, Enam e Clara decidem ir comigo até a faculdade para pegar a matéria que perdemos hoje com outra menina, já que a Charlie também não foi.
-Vocês consegue acreditar na quantidade de coisas maravilhosas que tem acontecido conosco ultimamente? – Lucas pergunta.
-Deus tem feito tantas coisas incríveis que parece um filme- Clara ri.
-Eu queria ser batizado nas águas também- Enam diz baixinho.
Todos nós paramos.
-Por que você não pode?- Lucas pergunta.
Enam suspira.
-Eu queria poder andar, ter um batismo normal e não um monte de gente me segurando para que eu não me afogasse.
-Pare de pensar assim... – Clara diz- O importante é passar por essa experiência incrível...
Enam pareceu ficar pensativo e apenas mudou de assunto.
Quando chegamos na faculdade, batemos de frente com a diretora, que parece um pouco triste.
-Tudo bem com a senhora?- Enam pergunta- Parece abatida.
Ela dá um sorriso amigável, tentando não parecer preocupada.
-Que bom que vocês estão aqui- ela diz- Eu precisava mesmo falar com vocês... Venham, vamos para a cafeteria.
[...]
-Estou começando a ficar preocupada- digo- O que está acontecendo?
Ela se senta e se prepara para conversar logo após a garçonete se retirar.
-Ficarei afastada da faculdade por um tempo- ela suspira- estou em observação até o conselho decidir se irei continuar na instituição.
Nós quatro arregalamos os olhos e não conseguimos esconder a surpresa e desapontamento.
-Mas, por que?- Lucas pergunta.
-Infelizmente a coordenadora conversou com o conselho e disse que eu estava tomando atitudes que poderiam comprometer a faculdade- ela diz- eles não vão proibir os cultos por enquanto e nem expulsar o Enam, mas é como eu disse, por enquanto... A coordenadora vai ficar responsável por isso, então já sabem. Porém, se eu bem a conheço, ela não irá fazer mudanças por enquanto para não demonstrar ao conselho algum tipo de comportamento discriminatório.
-Sentimos muito senhorita Evans- digo- Não queríamos trazer problemas, colocamos seu trabalho em risco...
-Eu não deveria ter aceitado- Enam diz- Isso também é culpa minha...
-Fiquem calmos – ela sorri- Eu sabia o que eu estava fazendo, eu confiei no que o Espírito de Deus me disse para fazer e não tenho medo das consequências, pois sei que Ele é justo.
Ficamos conversando mais um pouco sobre a situação e a diretora nos aconselhou a não nos deixar intimidar. Resolvemos orar ali mesmo, pedindo para que Deus tomasse controle de tudo e nos ajudasse a vencer aquilo.
[...]
Enquanto ficamos na porta da faculdade esperando a menina sair, avisto Matheus entrando. Tenho que segurar o braço do Lucas para ele não ir brigar com ele, porém, eu mesma decido ir falar.
-Matheus... – digo, um pouco nervosa, mas com mais coragem do que o normal.
Ele se vira, surpreso de eu ter chamado seu nome.
-O que foi? – ele responde, sempre de mau humor.
-Queria dizer que não achei certo o que fez com a Charlie- digo calma- Ela te ama e sempre quis o seu melhor, por que tratou ela assim?
Ele suspira.
-Não acho que a Charlie deveria sair contando da nossa vida para estranhos- ele resmunga.
-Eu sei, mas é que ela está morando comigo e com a minha família e...
-Ela está com você?- Ele diz apreensivo, por um momento pareceu até que...
-Você está com saudades dela não está?- digo curiosa.
-Até parece- ele tenta parecer indignado- Eu não sinto falta daquela fanática, afinal ela já tem 18 anos, o salário dela é que está fazendo muita falta no aluguel.
Finjo acreditar na desculpa dele, mas eu sei que querendo ou não ele está sentido falta da irmã.
-Bom, eu já vou indo... – digo – Mas pensa bem Matheus, vocês são irmãos, deveriam cuidar um do outro.
Ele vira as costas e sai.
A menina, que se chama Lara, nos trás a matéria perdida e explica alguns procedimentos de enfermagem que não podemos perder de jeito nenhum.
Decido entrar rapidinho para tomar uma água e então vejo o Matheus conversando com a coordenadora, enquanto ela entrega um envelope pequeno. Eles parecem não querer que ninguém os escute. Saio dali rapidamente, não quero que pensem que eu estava querendo escutar a conversa... Mas admito que isso foi muito suspeito.
[...]
Enquanto estamos caminhando para casa, começamos a cantar, quer dizer, Enam é quem começa. Ele tem uma voz muito bonita e Lucas parece ficar admirado enquanto empurra a cadeira de rodas de Enam. Ele está cantando “How he loves”, então começamos a cantar também.
-Eu disse que quando se trata de cristãos tudo acaba se tornando um musical- ele ri e continuamos a cantar.
Então, de repente um vaso de plantas cai a 10 centímetros de nós e se quebra completamente. O susto nos deixa paralisados, então eu olho para cima e vejo que uma moça, que mora em uma casa com andar, aparecer na janela:
-Me perdoem- ela diz- Vocês estão bem?
-Estamos bem- respondo- Não se preocupe.
Então ela sai da janela.
-Ai... – Ouço Enam falar baixinho e nos desesperamos ao perceber que um pedaço do vaso acabou fazendo um corte significativo no braço de Enam.
-Ai meu Deus Enam- digo preocupada- Eu não tinha visto...
-Nós também não- Enam e Clara dizem em uníssono.
-Espera... – digo devagar- Você disse “Ai”?
Todos nós arregalamos os olhos, não acredito nisso.
-Cara... – Lucas fica pasmo- Você sentiu o corte no seu braço?
Enam então percebe o que acabou de acontecer, ele fica muito mais surpreso do que qualquer um de nós.
-NÃO ACREDITO- Enam começa a rir- MEU BRAÇO ESTÁ DOENDO, ELE ESTÁ DOENDO!
Ficamos parados, rindo e sem conseguir acreditar.
-OBRIGADA DEUS! MEU BRAÇO ESTÁ DOENDO!- Ele grita mais uma vez.
-Essa é a primeira vez que vejo alguém agradecendo por isso – Clara ri.
-É só uma dor- ele diz- mas eu pensei que isso nunca mais aconteceria.
Abro minha bolsa e faço um curativo que aprendi na aula. Toco devagar em seu braço direito
-Está sentindo isso?- digo e ele sorri, afirmando que sim- Mas você consegue mexer seus dedos?
Ele parece se esforçar, porém não consegue resultado. E ele parecia estar sentindo o toque em apenas um dos braços.
-Fique calmo Enam- Clara diz- Tudo vai acontecer no tempo de Deus...
Enam deixa algumas lágrimas escaparem de seus olhos, porém continua sorrindo.
-Estou começando a acreditar que sim.
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