C A P Í T U L O XXV
Tudo ocorreu bem durante o casamento. Durante a festa nem tanto.
Houve problemas, mas nada que afetasse a felicidade do casal a principio. Lady Beverly deixou que a cesta com pétalas caísse no chão no meio do caminho para o altar, Odelia discutiu com o Barão de Baltz e Florence decidiu que recitar um de seus sonetos, antes do jantar, era uma ótima ideia.
Katherine manteve-se serena, empenhada em permanecer calma e não se estressar com nada. Eles ficariam em Londres para a festa até o final da noite e depois ela ainda teria uma viagem até os arredores para a casa do conde. Ela precisava estar descansada, pois chegariam por volta da meia-noite e Katherine ainda teria que retirar todos seus adereços de casamento, tomar um banho e subir até o leito nupcial para... Para fazer o que deveria ser feito. Ela não queria parecer nervosa, mas durante a festa seu pensamento estava quase focado completamente no pavor de sua lua-de-mel.
— Kate. — Florence sorriu.
Elas estavam no salão da propriedade dos Crentown em Londres. Katherine procurava Lady Heather que desde o fatídico dia em Haverstone não havia dirigido uma palavra para ela além de Deus abençoe vossa união. Katherine queria falar com a amiga. Ela precisava falar com ela. Kate não poderia partir com o irmão de Heather para a casa onde eles cresceram sem ao menos dizer Ei, nós sonhos cunhadas agora. Isso não é incrível? — mesmo sabendo que para Heather aquilo certamente não era certamente tão incrível assim.
— Lady Florence — Katherine arqueou uma sobrancelha com um sorriso lateral — Irá me parabenizar pelo casamento agora?
Florence abanou no ar. Ela estava graciosa. Tranças saíam da fronte de sua cabeça e juntavam-se no topo, onde algumas mechas castanho-claras caiam em cachos na direção de seus ombros. Ela usava um vestido lilás com alças finas e um colar brilhante iluminava seu colo. Se Katherine não fosse a noiva ela poderia dizer que Florence era a mais bonita das Abbey.
— Parabéns Kate — ela sorriu — Você está muito bonita.
Ela estava mesmo. Katherine usava um vestido branco e belas rendas sobre o corpete. A saia era esvoaçante e a deixava parecida como uma rainha. Ainda mais porque usava uma tiara com diamantes no topo da cabeça. As pedras brilhavam, mas não mais do que seu olhar. Ela estava feliz. Era uma condessa agora. Estava casada com Ele.
— Bem... — Florence estendeu para a irmã um objeto coberto por um lenço. Não era muito grande, mas precisava ser segurado com suas duas mãos. — Meu presente para você. Espero que goste.
— Oh, Flory — Katherine sorriu — Obrigada. Vou sentir tanta falta de vocês.
— É minha pintura. Pensei em escrever uma Ode ao Casamento de Minha Irmã Mais Velha, mas eu olhei para o quadro da aula de pintura e pensei que talvez você fosse gostar de tê-lo como uma lembrança da época em que morávamos juntas. Certamente não sou nenhum Leonardo da Vinci, mas fiz com meu coração.
Lady Crentown — como isso soava estranho a seus ouvidos! — desembrulhou-o, deixando o manto que o cobria em cima de uma das mesas que havia ali. Ela fez uma careta, temendo ver a arte da irmã. Ela amava Florence, é verdade, mas tinha terríveis experiências com suas criações. Ninguém ainda havia superado o soneto recitado há duas horas. Porém por mais incrível que pudesse parecer... Estava ótimo.
— Isso é... — Kate estreitou os olhos — Por Deus, Florence! Você tem um verdadeiro talento. E eu não estou dizendo para ser gentil como quando falo de seus sonetos. Isso realmente está ótimo. Você saber usar os pincéis.
Lady Florence sorriu e inclinou-se um pouquinho para analisar mais uma vez sua própria obra. Ela sabia que estava bom, mas não necessariamente ótimo. É difícil para os artistas aceitarem sua genialidade no inicio, inclusive para uma pessoa que sempre se considerava genial, mas não na pintura. Seus traços eram delicados, firmes e poéticos. Katherine estava retratada de uma forma magnifica.
— Você mostrou para mais alguém?
Ela negou.
— Não poderia. Era um presente para você. Perderia totalmente a graça se outro alguém visse antes.
Katherine suspirou.
— Tenho uma artista como irmã.
Florence arqueou uma sobrancelha.
— E eu uma condessa. Uma maravilha, não?
Ela sorriu. Definitivamente sentiria falta disso.
— Não quero morar sozinha. — Katherine choramingou.
Florence deu ombros, pegando o presente novamente. Ela colocaria na mesa de presentes junto com os outros — mesmo nessa altura acreditando que o seu fosse incomparável.
— Pensasse nisso antes de se casar — Florence suspirou. A irmã revirou os olhos. — Brincadeira. Você terá filhos. Sua solidão não vai durar muito... Ou talvez vá. Bebês não falam.
— Tenho dó de seu futuro marido.
— Acredite em mim, Katherine. Ele não vai existir. — Respondeu segura de suas palavras. Em seguida, avistou algo em uma das extremidades do salão. — Tem uma pessoa nos olhando e aposto que ela deseja muito falar com você.
Katherine se preparou psicologicamente para Regina Backford. Virou-se cuidadosamente para onde o olhar da irmã apontava, mas quem estava lá era Lady Heather Crentown. Heather tinha em uma das mãos um pedaço de sanduíche de atum e na outra uma taça com limonada. Estava sozinha. O irmão conversava com David Hawkins perto da orquestra e sua mãe estava muito ocupada contando todos os detalhes do casamento para a Duquesa de Browdish. Ela não era popular. Katherine não entendia como não a consideravam bonita, nem inteligente nem bem dotada. Heather era incrível.
Lady Crentown aproximou-se com cuidado. Heather só percebeu a aproximação quando Katherine já estava há apenas cinco passos de distancia. Ela revirou os olhos, mordiscou seu sanduíche e levou à limonada a boca, ignorando totalmente a presença da anfitriã-amiga-cunhada-desconhecida.
— Não fique parada aqui. Você não quer dançar? — Katherine perguntou tentando soar simpática.
Heather a fuzilou com o olhar.
— Ah, claro. Vou dançar com Liam Henderson. Há uma fila de rapazes interessados em mim!
— Heather...
— Lady Crentown...
— Não seja infantil.
Heather suspirou. De repente sua fome havia desaparecido. Era esse efeito que Katherine tinha sobre as pessoas. Ela deixou seu sanduíche em cima de uma bandeja ao lado, mas continuou com a limonada em mãos. Nunca se sabe quando ela pode ser útil, inclusive para atirar no rosto de alguém.
— Não estou sendo infantil. Só quero que me dê licença. Você está me tampando e a orquestra está tocando. Você não disse para eu ir dançar? Se você ficar aqui ninguém vai me convidar.
— Ninguém quer dançar com você. Não tem problema que eu fique um pouco mais e as...
Ops...
O rosto e o cabelo de Heather estavam da mesma cor.
— Eu não quis dizer isso, Heather, eu...
— Você esconde que estava se envolvendo com meu irmão, faz todas as coisas pelas minhas costas, de repente vocês ficam noivos sem nem ao menos me avisar primeiro e agora faz questão de atacar na minha cara que ninguém quer dançar comigo? — braveja — Eu sei que não sou bonita como você, nem inteligente e muito menos engraçada. Sei que sou um desastre, não recebi nem um pedido de casamento, que tomei chá de cadeira nos últimos três anos e que provavelmente irei tomar até minha mãe aceitar que serei uma solteirona e ficarei sozinha pelo resto de minha vida, sim, eu sei. E sei também que perdi minha única amiga quando percebi que ela não se importava comigo da mesma forma que eu me importava com ela.
— Heather, eu... — Katherine tentou tocar-lhe as mãos. Lady Heather recuou. —Thomas e eu não mantivemos nada em segredo. Eu prometo. Nós havíamos nos beijado, é verdade, mas...
— Faça-me o favor. Só beijado.
— Sim.
— Quer dizer, isso deve ser banal para você, não? Fez isso com dois rapazes antes mesmo de se casar. — Heather arqueou uma sobrancelha sugestivamente e a fitou com desdém. — Até onde eu sei já que você gosta de me esconder coisas. Deve ter beijado vários.
Agora Katherine estava ofendida.
— O que você quer dizer com isso?!
— Estou colocando sua moral em jogo, não é óbvio?
— Eu...
— É uma dissimulada.
— Você não beijou ninguém porque nunca teve oportunidade. Se tivesse certamente faria. Olhe para você! Está beirando o desespero.
— Por Deus!
— Não me julgue! Não sabe o que é estar apaixonada. — bradou — E se continuar amargurada pela felicidade alheia certamente nunca saberá!
Lady Crentown respirou fundo. Heather nem se mexeu. Ela olhava aflita para a amiga que estava há um passo de desabar em lágrimas. Algumas corriam por suas bochechas. Pronto. Ela não tinha mais ninguém. Havia perdido as duas melhores amigas por sua culpa, quando na verdade, a culpa não era dela. A Srta. Foster beijou o partido dela, mas Katherine sentia-se culpada por ter ficado brava com ela. Heather era invejosa por ela ter se casado com o irmão dela, mas Katherine se sentia culpada por ter se casado. Até quando iria se culpar por coisas que não eram sua culpa? Até quando iria se culpar pelos erros dos outros?
E Regina... Por Deus, ela e Millicent se aproximavam de Kate e Heather. Elas estavam juntas. Pensar nessas palavras não era fácil, mas era verdade. Millicent havia conseguido uma amiga. Katherine deveria estar feliz por ela! Elas se completavam. Eram totalmente diferentes uma da outra, mas quando estavam juntas, nada importava. Ela deveria estar feliz pela cunhada, mas não estava. Não conseguia sentir qualquer resquício de felicidade naquele momento.
Lady Backford a abraçou, tirando-a dali. Elas se afastaram, mas Lady Crentown ainda conseguiu escutar Millicent bravejando com Heather.
— Você não tem mais o que fazer do que estragar a noite da noiva? — Millicent perguntou. Heather começou a choramingar. Lady Abbey não recuou. — Pare de ser tão invejosa! Vá procurar algo melhor para fazer do que ser desagradável.
Katherine desvencilhou-se do colo acalentador de Regina, voltando-se para a cunhada que ia em direção delas. Heather corria dali. Corria.
— Você foi rude com ela.
— Ela foi rude com você! — Millicent rebateu. — Acha que não escutamos tudo? Faça-me o favor. Você não disse nenhuma mentira. Ela realmente é uma amargurada que não consegue ver outras pessoas felizes.
Regina lançou um olhar repreensivo para Millicent. Millicent — claramente — o devolveu. Ninguém diz o que a marquesa de Mansfield pode ou não falar. Principalmente quando tudo é verdade.
— Alguém mais ouviu nossa discussão? — Katherine perguntou.
Lady Abbey ajeitou a postura. Ela lançou um olhar discreto para Danisha.
— A Srta. Collins, provavelmente.
— Ela estava bem ao nosso lado escolhendo alguns docinhos — a viscondessa completou — e ainda está. É tão difícil escolher entre baunilha e morango? É claro que a resposta é morango.
— Morango. — Millicent confirmou.
— Morango. Definitivamente. — Katherine conseguiu escolher em sua melancolia. Em seguida, fitou a cunhada. — Vá falar com Danisha, sim? Garanta que ela não faça qualquer fofoca.
Millicent assentiu. Ela caminhou até Danisha — que aparentemente havia escolhido baunilha — com um pouco de receio. Apesar de ter se acertado com Arthur e ele ter garantido que não havia nada entre os dois, a imponente imagem da loira ainda assustava. Não importava que Lord Abbey todas as noites fosse até sua cama, mergulhasse em seu corpo e dissesse tantas coisas bonitas para ela. Podia não aparentar para os outros, mas Millicent era insegura, principalmente com mulheres como aquela.
— Olá Lady Abbey! — Danisha cumprimentou antes mesmo que Millicent pudesse dizer qualquer coisa. — Esse bolo de baunilha é ótimo. Tem outro para me recomendar?
— O de mirtilo é ótimo.
Millicent odiava mirtilo.
— Vou provar. Eu poderia comer todos, mas minha mãe me mataria. É uma tentação tão grande. — Ela sorriu. Havia um pouco de glacê no canto de sua boca.
— Você escutou algo da conversa entre Lady Heather e Lady Crentown?
Danisha deu ombros. Seu sorriso desapareceu e seu olhar transformou-se em pura petulância.
— Nada de muito importante.
Lady Abbey não gostava de joguinhos.
— Diga — ralhou.
— Aparentemente Heather ficou ressentida por Katherine ter se casado com seu irmão ou antes dela. Talvez os dois. — Explicou dando ombros. — Depois Katherine ficou ressentida por ela ter insinuado que era imoral por ter beijado antes de se casar.
— Entendo. — Millicent encarou os mirtilos.
— Não vejo problemas. — Danisha sorriu. Seu cabelo estava tão brilhante que ameaçava cegar Lady Abbey. — Eu mesma estou solteira e já beijei.
Millicent a olhou. Danisha arqueou uma sobrancelha. Millicent arqueou as duas.
— Por que está me dizendo isso?
— Apenas acho que você deveria saber. — Respondeu. Elas ficaram um tempo em silêncio, Danisha apenas esperava o momento certo para completar sua sentença. Millie estreitou o olhar, desconfiada. — Trata-se de seu marido.
— O que ele fez ou deixou de fazer antes de nosso casamento não me diz a respeito — Encarou-a com desdém. Logo pegou na saia de seu vestido e a girou, pronta para sair dali. — Com licença.
— Então isso diz a respeito a você. — A Srta. Collins disse — Já que ocorreu após seu casamento. Ele me beijou quando vocês já estavam casados.
Lady Abbey calou-se. Danisha também. Ela ignorou o olhar inquisitivo da outra e voltou à mesa de doces. Sua principal questão voltou a ser os mirtilos, baunilha ou morango.
— Continue. — Millicent rangeu os dentes.
— Você tem certeza de que mirtilo é bom?
— Continue! — Bradou.
— No baile dos Backford. Você estava irritada com ele e saímos para conversar por um tempo. Ele disse que eu era a mulher mais bonita que já havia conhecido em toda sua vida, que doía imensamente ficar longe de mim e quando vi... Ah, ele estava me beijando. E certamente eu também estava beijando ele.
Danisha sorriu mais ainda. Millicent ficou nauseada. Sua visão turva. A raiva subindo até sua cabeça. Como poderia ter sido tão tola? Como acreditou em suas juras de amor? Como havia se entregado de corpo e alma para um homem como aquele? Ela deveria saber. Deveria viver no mundo real. Fidelidade não existia. Há anos não estava na moda amar a própria esposa. Talvez nunca tivesse estado. Ele não poderia ser burguês ao ponto de amar a mulher com quem havia se casado. E não era a culpa dele. Eles não tiveram escolha. O coração dele não escolheu Millicent. Por Deus, era culpa dele sim.
Ele mentiu que a amava!
Se ele não tivesse dito nada, a tratado apenas com o respeito necessário e não tentasse qualquer outra aproximação mais profunda estaria tudo bem. Millicent não poderia obriga-lo a ama-la, mesmo que quisesse. Mas ele havia dito. Ele havia dito que amava e havia mentido para ela. Isso sim era inaceitável.
A Srta. Collins aproximou-se. Seu olhar cínico havia desaparecido e ela tinha uma taça de vinho em mãos. Seus passos eram vacilantes. Por mais que tentasse esconder — e seus dotes para atuação sempre foram bem elevados — era perceptível que ela estava com medo.
— Lady Abbey... Está tudo bem? — Ela tocou seus ombros. — Você parece... — Qual é uma boa palavra para verde?
— Estou ótima. — Ela tirou o braço de Danisha de seu ombro bruscamente.
— Sente-se, por favor. Você não está bem. Mal consegue ficar em pé.
Ela olhou desesperada para os lados. Ninguém parecia interessada nas duas. Danisha estendeu a taça para Millicent. Não era água, mas ainda era líquido — então seria útil, certo? Ela estava apavorada. Seus únicos pensamentos eram em como estava matando Millicent sem querer.
— Tome, por favor. Você está nauseada. — Estendeu o vinho.
— Não.
— Pegue.
— Não.
— Por favor, pegue.
— Se insiste.
Millicent pegou a taça.
Dois segundos depois todo o liquido estava no vestido de Danisha. E no cabelo.
— Perdão... — murmurou — São as náuseas.
E saiu. Ela iria desabar em outro lugar, mas não ali na frente de todos. Afastou-se rapidamente da mesa de sobremesas deixando uma Danisha encharcada, completamente sozinha com seu vestido manchado.
Katherine, por outro lado, a essa altura já estava melhor. Regina não era muito boa com conselhos, mas sua personalidade era engraçada. Seu otimismo e a maneira de ver a vida fazia com que Katherine se sentisse bem. Foi só começar a falar de como havia sido seu passeio até Greenwich que ela se esqueceu de seus problemas e suas lágrimas secaram. Tudo parecia tão divertido para Regina.
Lady Crentown riu.
— Mas como Mario a encontrou? Ou vocês tiveram que pedir ajuda... Ei! Millicent. Venha aqui.
— Não. Sua festa está horrível. Vou para casa.
O sorriso de Katherine murchou. Regina suspirou.
— Pelo menos ela é sincera — a viscondessa disse forçando um sorriso.
Katherine apoiou a cabeça no ombro da amiga. Regina pensou em como vermelho não ficava bem em Lady Flemming. Melhor, ela pensou em como nenhuma cor ficava bem em Lady Flemming.
— Por que essas coisas só acontecem comigo? — Kate chorou — Por que não posso ter um casamento normal, com uma família normal, amigos normais e em meios normais.
— Porque seria chato.
Katherine tampou o rosto. Regina deu-se ao trabalho de explicar.
— Qual seria a graça se você tivesse uma vida normal? Coisas extraordinárias acontecem para pessoas extraordinárias e coisas medíocres acontecem para pessoas medíocres.
— Tenho medo. Ás vezes olho para minha imagem no espelho e me pergunto se estou preparada para dizer adeus a minha família e para ser uma condessa. Mal consigo lidar com uma festa dando errado, agora imagine uma propriedade, uma vida familiar, um casamento...
— Eles estarão há duas ruas de distância de sua casa e a resposta é provavelmente sim. Se não o destino não a teria colocado nessa posição. Faz parte da vida. Algum dia suas irmãs também sairão de casa e começarão a trilhar o próprio caminho. Sei que apesar de sermos ensinadas desde cedo que nascemos para servir é difícil começar uma nova vida por conta, mas é necessário. Katherine, você não é mais uma garota. É uma mulher. Eu tive certeza disso quando você foi sincera com Heather, mesmo tendo medo.
Katherine sorriu. Era difícil acreditar que tudo aquilo estava saindo da boca de Regina Backford. Não que Katherine a considerasse uma cabeça de vento. Não, não era isso. A questão era que ela nunca havia mostrado algo que a fizesse pensar o oposto. Geralmente os assuntos de Regina passavam longe de qualquer reflexão mais sensata sobre a vida.
— Eu já disse hoje que te amo?
— Na verdade você nunca disse. — Regina sorriu.
— Eu te amo. Fico feliz por tê-la como amiga. E eu adoraria ver sua tapeçaria algum dia.
Lady Backford a abraçou, esmagando-a no meio do salão. Katherine teve que afasta-la antes que alguém achasse que estavam tentando assassinar a noiva.
Lady Cecile apareceu. Katherine suspirou. Não precisava ser muito esperta para saber que não iria demorar a que a mãe começasse a reclamar ou obriga-la a fazer coisas que não queria. Ela não era a anfitriã da festa, mas se comportava como uma. Talvez fosse assim para sempre. Até mesmo no baile de aniversário de cinquenta anos de Katherine sua mãe estaria lá lhe dando ordens.
— A dança do noivo e da noiva! — A mãe tentou arrasta-la para o centro do salão.
— Não vai acontecer. Mamãe, pela milésima vez apenas esse ano: Eu. Não. Danço.
— Ah, seu marido me disse essa bobeira, mas eu não acreditei que você estivesse falando sério. Uma valsa, Katherine! Em seu casamento!
A noiva cruzou os braços.
— Não.
— E sua cunhada foi embora. Você acredita? Não consigo entender Millicent. Não, não consigo. Ela me deixou sozinha com suas irmãs. Odelia está ameaçando o barão de Baltz!
— Oh, Deus! Mais uma vez?
Cecile suspirou. Estava sendo difícil para ela.
— Mamãe, relaxe. Está tudo bem. Tudo está sobre controle. Logo Thomas e eu iremos embora.
Regina a cutucou com um sorriso largo e malicioso estampado no rosto. Até mesmo Lady Cecile corou com a situação. Ela olhou para o lado e viu que Victorie Farnsworth se aproximava com um entusiasmo invejável. Victorie tinha dois filhos que daqui uns cinco anos estariam em idade para se casar, e veja que coincidência, as filhas de Cecile também. Se tudo desse certo elas poderiam começar a planejar o enxoval agora mesmo.
Florence com Edward? Ou com Charles? Ela parecia combinar mais com Charles. Odelia ficaria bem com Edward. Mas pobrezinha da Beverly que...
Lady Crentown suspirou. Regina ainda estava ao seu lado prestando completo apoio moral, mas Katherine não queria mais tomar seu tempo. O visconde já estava impaciente. No dia anterior ele havia corrido quase um quilômetro tentando fugir da chuva para que não ficasse doente, porém acabou deixando suas pernas doloridas no dia seguinte. Provavelmente ansiava em voltar para casa, mas por respeito à esposa e a noiva não tinha dito nada.
— Seu marido está um pouco inquieto. Vá com ele. Ficarei bem, não se preocupe. Tenho que cumprimentar mais algumas pessoas de qualquer forma.
Regina estreitou os olhos. Talvez fosse por estar de noite, mas seus olhos pareciam ainda mais escuros nesse dia.
— Prometa que será forte e que irá aproveitar muito bem sua lua-de-mel?
Katherine conseguiu sorrir. A parte da lua-de-mel ao menos ela poderia prometer. É claro que iria aproveitar.
— Sim. Prometo.
— Até mais! Vejo-a em alguns dias.
— Até. — Kate murmurou.
E em seguida voltou-se para os convidados. Ela teria que decidir se iria encarar Lady Flemming e suas filhas ou Odelia Abbey e... Por Deus. O Barão de Baltz? De novo?!
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