Lord Crentown estava prestes a surtar.
Ele definitivamente não era um bom procurador e também não estava se divertindo.
Thomas não sabia exatamente quanto tempo havia se passado, mas pela expressão de Lady Abbey teve certeza que foram bem mais do que trinta segundos e consequentemente seus companheiros tiveram mais tempo até encontrar um esconderijo adequado. Os jardins estavam completamente vazios, ao menos perto da árvore onde contara. Os canteiros de flores também e o caminho que levava até a entrada da casa igualmente. Ele estava procurando há cerca de dois minutos e há um passo de surtar.
Nenhuma das mulheres parecia muito interessada em ajuda-lo. Lady Cecile conversava com Mary e Gemina totalmente alheia à brincadeira, enquanto as mais jovens faziam questão de observá-lo com olhar julgador. De vez em quando Thomas enviava uma suplica á Millicent ou Primrose que fingiam não ver ou simplesmente ignoravam. Era interessante ver o conde de Scarbury colapsando.
Quando ele estava prestes a desistir — e nem ao menos havia adentrado ao bosque — ouviu um barulho próximo há uma das mesas espalhadas pelos jardins. Atrás dela uma garotinha de cerca de onze anos escondia-se. Ela tinha um laço muito bonito no topo da cabeça e um olhar que lembrava completamente Lady Katherine.
— Beverly! — Lord Crentown exclamou.
Dois segundos depois Lady Beverly disparara em direção à árvore. Praga! Ele havia se esquecido de uma das partes principais: ele deveria contar até três e dizer o nome de quem encontrou na mesma árvore. Thomas tentou correr para alcança-la, mas quando chegou Beverly já havia cumprido com sua missão.
Lady Abbey sorriu.
— Você esqueceu de...
— Sim, sim — resmungou ofegante — Agora eu sei disso.
Primrose deu ombros.
— Pamela está escondida atrás de alguma daquelas árvores — Prim apontou. Thomas estreitou os olhos. — Sou irmã dela e sendo assim atrapalha-la na vida é um dever meu.
Lord Crentown agradeceu. Pelo menos ele conseguiria garantir encontrar algum dos participantes. Sorrateiramente ele aproximou-se do lugar indicado por Lady Primrose até encontrar uma moça que aparentemente chamava-se Pamela. Ela nem se esforçou em correr, pois sabia que seu esforço não valia tanto.
— Um, dois, três para Lady Pamela... — Thomas deu ombros — Não tenho ideia de qual seja o sobrenome dela.
Depois disso as coisas desenrolaram-se com mais facilidade. Ele conseguiu encontrar Odelia, Heather, dois primos das garotas, uma das amigas de Lady Florence e travou uma disputa acirrada com Lord Abbey. Infelizmente quem ele mais desejava vencer — Lady Katherine — conseguiu salvar-se por conta. Quando ele retornava para a árvore lá estava ela, sorrindo de maneira vitoriosa apoiada no tronco.
Ele estava ofegante. Cansado. Não se lembrava de ficar tão cansado assim na infância, mas era aceitável já que agora não tinha mais oito anos e sim vinte e oito. Kate ao contrário dele ainda parecia estar radiante. Claro! Ela não estava correndo pela imensa propriedade à procura de um bando de crianças e jovens escondidos entre árvores, bancos e arbustos.
— É a vez da prima Pamela agora! — Florence declarou.
Pamela arrastou-se até a árvore com admirável má vontade. Primrose piscou para Lord Crentown que retribuiu com um singelo sorriso que dizia sempre que precisar. Katherine cruzou os braços.
— Você deve contar... — Florence dizia, mas foi interrompida.
— Contar até trinta e depois ir procurar. Quando encontrar voltar até a árvore e dizer o nome da pessoa — Pamela repetiu — Sim, Florence. Eu sei as regras.
Lady Florence respirou fundo e olhou para Lord Crentown de maneira incrédula.
— Como as pessoas conseguem ser rudes comigo em meu próprio aniversário?
— Realmente é algo terrível, Lady Florence.
— Um, dois, três, quatro — Pamela iniciou — Cincoseisseteoitonove...
— Rápido! — A aniversariante correu.
Inicialmente Lord Crentown ficou confuso. Ele decidiu seguir a maioria dos competidores que iam em direção ao bosque e lembrou-se das regras. Ficar apenas no inicio e não afastar-se das trilhas. Era uma regra compreensível, é claro, ninguém gostaria que as crianças perdessem-se naquela imensidão de árvores e animais desconhecidos.
Ele encontrou abrigo atrás de uma das árvores mais expeças e coincidentemente ao lado da irmã. Heather estava com os cabelos ruivos presos de maneira fofa no topo da cabeça. Dois pares de tranças laterais chegavam até o resto das madeixas, deixando o visual ainda mais rebuscado, mesmo estando em uma casa de campo. Seu vestido era arroxeado e ela tinha em mãos...
— O que é isso, Heather?
A irmã assustou-se. Quando constatou que se tratava de Lord Crentown revirou os olhos.
— Você me assustou — respondeu — e isso são biscoitos.
Thomas estreitou os olhos. A irmã atirou-lhe um.
— Onde você conseguiu biscoitos?
— Obviamente com Lady Abbey. Ela nunca deixaria ninguém passar fome.
— Então porque ela passa?
— Ah, Thomas! — Ela bufou — Não é porque uma mulher é magra que ela não come.
— Eu sei, estou brincando.
— Não consigo saber quando está brincando ou não. Seu tom de voz raramente demonst... Oh, cale-se! Há alguém vindo!
Thomas quase retrucou dizendo que era ela que deveria calar-se, mas pelo bem de seu espirito esportivo decidiu obedecer às ordens da irmã e continuar calado. Lady Pamela AlgumaCoisa estava passando por ali. Obviamente observava todos os lados, porém verdadeiramente não parecia muito interessada em participar do jogo. Uma pena, pois Lord Crentown estava começando a acha-lo interessante.
E para deixa-lo mais interessante ainda decidiu ajudar a irmã. Pegou uma frutinha caída no chão e quando percebeu que era a hora certa atirou na irmã que estava distraída observando a procuradora. No instante que a fruta caiu sobre o cabelo de Heather e ela levou as mãos até lá, Thomas sussurrou:
— Ei, irmã! Cuidado com essa... vespa.
Heather surtaria com qualquer animal, mas principalmente com uma vespa. Ela gritou e chacoalhou-se, bagunçando todo o cabelo e infelizmente desmanchando o belo penteado. Era uma pena, mas feito por um bem maior.
— Lady Heather Crentown! — Pamela gritou, voltando para a árvore. — Encontrada!
Lady Heather parou de debater-se assim que pegou a fruta nas mãos. Ela olhou para o irmão como quem quisesse esgana-lo (porque ela realmente queria).
Thomas foi logo atrás de Lady Pamela. Escondeu-se aos arredores e assim que ela retornou para a trilha do bosque, ele salvou-se na árvore. Lady Katherine chegou logo depois e foi à vez de Thomas devolver o mesmo olhar que ela havia enviado para ele na outra rodada. De vitorioso.
— Sorte de principiante — Kate murmurou — Um, dois, três para Katherine!
Lord Crentown arqueou uma das sobrancelhas.
— Não sou um principiante. Tive uma infância bem agitada.
— Porém certamente não tem tanta experiência quanto eu.
— E ainda assim cheguei primeiro que você. Olhe que maravilha! — Sorriu.
Katherine deu ombros, fingindo não se importar.
— Continua sendo sorte.
Thomas arqueou uma das sobrancelhas. Olhou para Katherine estendeu a mão. Kate não a tocou como previsto. Ainda.
— Apostaremos a próxima rodada. Quem chegar aqui primeiro sem ser visto vence.
— Apostaremos o que? — Katherine indagou
— Nada. Você não se contenta apenas com o prazer de vencer? — Thomas respondeu — Neste caso de perder.
— Geralmente não sinto prazer em vencer as pessoas, é apenas indiferente. Exceto Lord Crentown. — Ela comprimiu os lábios — Eu adoraria vencê-lo.
Thomas teve que desviar o olhar. Por que Katherine fazia essas coisas com ele? Por que cumpria os lábios para em seguida pronunciar adoraria de uma maneira tão... Erótica? Certo. Ele sabia que seu tom era de uma provocação comum, que se dizia exclusivamente ao jogo, mas era impossível não fantasiar com suas palavras. Ela adoraria vencê-lo. O que mais adoraria fazer com ele? Precisava descobrir, mas não podia.
Kate deu ombros quando percebeu que ele não responderia nada. Pouco depois Odelia correu em direção à eles sendo perseguida por Pamela e em seguida por Florence. E o interessante de se pontuar era que Florence não parecia interessada em chegar antes que Pamela. Ela estava interessada em chegar antes que Odelia.
Por sorte Thomas e Katherine conseguiram desviar a tempo. Nos segundos seguintes a árvore virou uma bagunça. Florence até pisou no pé da irmã de proposito. Katherine olhou para Lady Cecile que estava ocupada demais folheando uma revista com a irmã e a cunhada.
— Tanto faz — Pamela deu ombros — A próxima a procurar será Lady Heather Crentown. Primrose, me substitua por favor.
Florence saltitou.
— Primrose!
— Êee. — Primrose comemorou.
Katherine estava empenhada em ganhar de Thomas. Logo Heather apoiou-se na árvore, tampou os olhos e começou — graças ao bom Deus! — contar lentamente até trinta. Novamente todos os participantes voltaram a correr procurando um bom esconderijo e Lady Katherine infelizmente atrasou-se um pouco.
Primeiro pensou em esconder-se o mais próxima possível para ser a primeira a salvar-se no jogo, porém quanto mais perto, mais fácil seria de ser descoberta. No meio do caminho desistiu de se esconder atrás de uma das mesas e correu em direção à trilha. As árvores com os troncos mais espessos já estavam ocupadas, os canteiros de flores eram poucos e não havia muito além dos arbustos. Felizmente ela encontrou um arbusto grande e bem folhado não muito longe dali.
O problema era que aquele lugar já estava ocupado. Lady Florence e Lady Abigail estavam por ali, bem próximas. Abigail estava sentada no chão, encolhida tentando ocupar o mínimo espaço possível, enquanto Florence estava ajoelhada logo atrás dela. Ambas conversaram baixinho, orelha a orelha, e demoraram um pouco para perceber a presença de Kate. A mais velha chegou a estreitar os olhos. Quando Florence viu a irmã chegou a ficar vermelha — talvez de irritação, talvez de vergonha.
Ela se levantou e encarou Katherine.
— Saia daqui, Kate! — Bravejou — Procure outro lugar, pois aqui já é nosso esconderijo.
Abigail sorriu fraco, envergonhada com a situação. Lady Katherine acabou relevando.
Em outras ocasiões Katherine teria contestado, talvez até dado um peteleco na orelha da irmã, mas como estava em uma situação perigosa soube que o melhor a fazer era continuar. Heather já havia saído e conseguia ouvi-la há alguns metros, procurando nos canteiros de rosas antes do bosque, mas logo ela estaria na trilha. Katherine correu. Correu para o mais longe possível — e talvez até demais. Ela não teve tempo para pensar muito, atirou-se no primeiro lugar que viu: um arbusto há cerca de dez metros da trilha principal e com algumas folhagens na frente. Relativamente afastado de todo o resto, porém tecnicamente ainda nas normas.
Lady Katherine apenas não contava que novamente houvesse alguém ali além dela.
Qual seria a probabilidade?
— Ai! — Thomas reclamou ao receber uma cotovelada de Katherine que se atirou em cima dele.
— L-Lord Crentown. — Katherine encolheu-se — Ache outro lugar! Eu já estou aqui.
Thomas pareceu incrédulo. Certo, não fui uma coisa muito inteligente para se dizer visando a situação que estavam.
— Eu estava aqui primeiro!
— Não me importo!
Katherine cruzou os braços. Há alguns bons metros ouviu uma voz infantil gritando. Provavelmente seus primos mais novos já haviam sido descobertos. Não demoraria muito para os encontrarem.
— Você não pode ficar aqui, Lord Crentown — Katherine sorriu com superioridade — Não vê que estamos sozinhos e consideravelmente afastados dos outros? Não é uma atitude muito nobre.
Thomas deu ombros. Ele espiou entre um pequeno buraco no arbusto.
— Boa tentativa, Katherine, mas não. Continuarei aqui.
Ela bufou. Sem querer parecer bruta o empurrou, tentando tira-lo de trás dos arbustos, mas ele não recuou. Thomas era um homem adulto, forte e com um ótimo porte, não seria expulso de trás da moita por uma jovem como ela. Porém Katherine não se deu por vencida. O empurrou com mais força e ele começou a ter que se esforçar para não sair do lugar. Ela continuou investindo, até que por fim, para tentar afasta-la dele acabou sem querer gerando o efeito contrario. Ele se afastou e ela sem ter onde apoiar-se foi para em cima dele.
Ouviram alguns passos ali perto. Calaram-se no mesmo instante e naquela mesma posição. Thomas quase deitado inteiramente no chão, com as pernas um pouco abertas e Katherine entre elas, segurando-se com as duas mãos uma de cada lado de seu corpo, apoiando-se no chão tentando permanecer o mais longe possível dele. E com olhos fechados.
Katherine não conseguiu abri-los. Não conseguia abrir os olhos e encarar Lord Crentown na sua frente. E ela nem poderia dizer que não sabia o porquê. O motivo era óbvio. Tratava-se de Lord Crentown e querendo ou não, ela lutava contra o que sentia por ele. Negava-se a acreditar que poderia estar apaixonada por um homem como ele. Não que não fosse uma virtude ser Thomas Crentown, mas era difícil para Katherine aceitar que aquilo era real. Que ela se daria ao luxo de desejar o irmão da melhor amiga.
Não deveria ser assim. Ele deveria ter retornado para Londres, ficado feliz em conhecer Katherine pela amizade que mantivera com a irmã por tantos anos e cada um seguiria seu caminho. Ele encontraria uma esposa bonita, sóbria e muito bem preparada para se casar com ele e Katherine continuaria com seus devaneios adolescentes sobre amor, paixão, homens perfeitos e borboletas no estômago. Aquelas malditas borboletas que insistiam em dançar em seu estômago sempre que Lord Crentown aproximava-se.
Era injusto! Ele nunca gostaria de uma mulher como ela. Katherine era desastrada, não tinha talentos nem virtudes, não era um exemplo de modelo cristão de perdão ou misericórdia e com certeza não tinha a sobriedade que ele procurava em uma condessa. Era apenas a sonhadora e tola Katherine. Ela tinha total conhecimento disso. Não aceitaria mais uma vez ter seu coração machucado por um homem que não a merecia.
— Katherine... — Thomas sussurrou.
Ela abriu os olhos. Abriu os olhos e institivamente afastou-se. Não conseguiu ficar cara a cara com ele. Não conseguiu fitar por muito tempo aqueles olhos verdes sem que fosse impulsiva novamente e o beijasse. Ele provavelmente não a deixaria ser tola duas vezes seguidas.
— Deveria ser alguma toupeira andando, não Heather. — Katherine disse. Ela desviou o olhar dele.
Thomas respirou fundo. Estava grato por Katherine ter saído de cima dele antes que alguém acabasse se empolgando por ali e gerasse um constrangimento entre os dois. Por Deus! Katherine o acharia um maníaco com o mínimo sinal do que ele realmente sentia. Uma moça como ela nunca compreenderia seu desejo secreto de deita-la sobre aquelas folhagens e torna-la sua ali mesmo.
Quer dizer, não durante uma brincadeira de esconde-esconde.
— Temos toupeiras aqui? — Ele estreitou os olhos.
— Por que não teríamos? — Katherine deu ombros.
Eles calaram-se. Thomas moveu-se desconfortável. Era difícil manter o controle perto dela ultimamente.
— Eu... — Katherine suspirou — Thomas, aproveitando que estamos aqui, eu gostaria de pedir perdão por algo.
— Você não fez nada que me devesse perdão, Katherine.
Ela assentiu. Tentou demonstrar indiferença, mas só aparentou ser uma garota mimada. Cruzou os braços e sentou-se, por fim, confortavelmente atrás da moita. Não era uma posição que poderia espiar qualquer aproximação, mas com certeza estava bem escondida ali.
— Não é que eu deva pedir perdão, mas não acho justa a maneira como eu te tratei há duas noites. Eu estava um pouco... Bem, estava transtornada por causa da Srta. Foster e do Sr. Rodger. Acabei sendo indelicada com você. É isto.
Lord Crentown assentiu. É claro que ele a perdoaria. Diferente dela ele sim era um modelo cristão de perdão e misericórdia.
— Eu a compreendo, Katherine. Com certeza não passei pelo mesmo que passou, mas me esforço para colocar-me em seu lugar. É difícil lidar com isso ainda mais com um homem que ama. — Ele interrompeu-se — Digo, um homem que amou.
— Nunca o amei, Thomas. Eu apenas estava cega pela perspectiva de conseguir um bom casamento. Você certamente sabe que sou uma pessoa impulsiva.
Lord Crentown assentiu. É claro que sabia. Ela...
— Sim, eu sei — murmurou — Do contrário não haveria me beijado.
Katherine engasgou com o nada. Ela não estava referindo-se ao beijo. Tudo o que ela fazia era impulsivo, inclusive atirar-se atrás de um arbusto sem ao menos checar se havia alguém ali. Se alguém tivesse por ventura decido deixar um espeto virado para cima atrás ela provavelmente estaria morta, pois não havia pensando antes de atirar-se ali.
Ela pensou que eles nunca mais falariam daquilo.
— Ah, sim — concordou — Eu o beijei. Peço perdão. Não consegui me desculpar no dia. Foi uma conduta inadmissível para uma dama e blá blá blá. Eu sei.
— Não se preocupe. Você mesmo disse que não significou nada.
Oras, como ele era tolo. Como um beijo poderia não significar nada para uma mulher? Como um beijo não poderia significar nada para Katherine? Ela havia dito para si mesma cerca de quarenta e duas vezes que só havia feito aquilo por carência emocional, mas era obvio que não fora por isso. Ela o beijou, pois sentiu que deveria fazê-lo. Sentiu-se amada, protegida, compreendida com ele. Não havia como expressar seu amor de outra maneira.
Seu... Amor?
— Eu o beijei porque senti que deveria beijá-lo, Lord Crentown. Algo dentro de mim disse isso. Faz parte de minha impulsividade escutar demais meu coração.
Thomas a fitou. Katherine conseguiu encara-lo também. Ele entreabriu os lábios algumas vezes antes de por fim conseguir se pronunciar.
— Seu coração pediu para que me beijasse?
— Sim, sou tola. — Suspirou — Já havia feito isso uma vez antes com o Você-Sabe-Quem e não me orgulho disso. Não foi como nosso beijo. Não durou mais do que dois segundos, mas existiu. É engraçado como tenho dezenove anos e nunca fui beijada.
Thomas estava confuso. Ele arqueou uma sobrancelha. Era completamente sedutor quando fazia isso.
— Como não? — Lord Crentown tentou ser delicado com as palavras — Você acabou de confessar que já fez isso duas vezes.
— Beijei dois rapazes em duas ocasiões diferentes, mas nenhum deles nunca me beijou.
Ok. Thomas sentiu-se ofendido com isso. Ele olhou para Katherine esperando que ela desse alguma explicação, mas ela não o fez. Voltou a olhar para a o nada, provavelmente já imersa novamente em seus próprios devaneios.
— Bem, apenas permita-me dizer que isso não é verdade.
Kate virou-se para ele.
— Como não? Fui eu quem o beijou.
— Porém certamente não fez isso sozinha. Eu não sou covarde para negar que nosso beijo foi reciproco. Meu coração mandou em mim tanto quanto o seu mandou em você.
Ela se lembrava perfeitamente do beijo. Lembrava-se das mãos dele percorrendo seu corpo e os lábios vorazes invadindo os seus. Ele não foi suave e muito menos gentil, desbravou-a com a boca. Mas nunca havia parado para pensar que isso não era o normal. Nunca havia pensado que ele estava retribuindo seu beijo.
— H-Hum... — Lady Katherine sentiu um pingo de apavoro — Mas fui eu quem o beijou primeiro. Eu quem avançou em seus lábios. Se não fosse por mim...
— Eu nunca teria tido coragem de beija-la. — Completou.
— Mas era um desejo seu, Lord Crentown?
— Certamente.
Katherine pensou que havia entendido errado.
— Era um desejo seu me beijar, Lord Crentown? — Repetiu. — Seria inacreditável.
— Sim, Katherine. Por que eu não gostaria de beija-la? Sempre tive a consciência de que você não nutre nenhum sentimento por mim então inevitavelmente mantive meu respeito, mas seria muito atrevimento considerar inacreditável que alguém desejasse beijar uma mulher como você.
— Uma mulher como eu? — Katherine conseguiu rir — Uma mulher desastrada, sem muitos atributos e que pisou em seu pé algumas vezes durante a dança?
Ela havia pisado em seu pé? Thomas não tinha certeza disso. Em suas lembranças ela havia sido perfeita.
— Uma mulher como você. — Concordou — Divertida, com muitos atributos e uma beleza estonteante. Katherine você é simplesmente autentica. Diferente de todas as mulheres que conheci, não apenas em Londres, mas no mundo inteiro. Se eu vou para um baile encontro dezenas de moças iguais, mas você, você é única. Seu coração é imenso, seus sentimentos poesia, sua beleza uma dadiva. Eu nunca me senti tão indignado quando soube o que Rodger fez para você, pois um homem tem que ser muito tolo para deixar você ir embora. Ninguém nunca encontra alguém que ao menos se assemelhe a você em todo o mundo.
Ele suspirou. O que estava dizendo? Ela provavelmente estava apavorada por dentro, apesar de apenas o olhar com os olhos... Marejados?
— Apenas... — Thomas suspirou — Não se refira a si mesma como uma mulher sem atributos quando na verdade é uma das pessoas mais extraordinárias que eu conheci em minha vida.
Katherine riu. Ela não poderia acreditar no que ele estava dizendo. Seus olhares se fixaram e ela não pode para de fita-lo como se ele estivesse fora de si.
— Thomas, o que está dizendo? Sou eu... Katherine. — Respirou fundo — Não sou o que você descreveu. Não sou extraordinária e muito menos tenho uma beleza estonteante.
— Ah, faça-me o favor! Como você não conhece reconhecer como é maravilhosa, Katherine? Não consigo olha-la por mais de dez segundos sem sentir meu corpo pulsar. Em minha opinião não há ninguém que se compare a você. Aos seus olhos cativantes, seu cabelo castanho, sua pele clara e seu corpo delicado. E seu sorriso, por Deus, como não tenha consciência de como seu sorriso é maravilhoso? Minhas pernas ficam bambas sempre que você sorri para mim.
Ela sorriu.
— Desse jeito?
— Katherine...
— Eu só... Por que você nunca me disse isso, Thomas? Eu não fazia ideia. Estou simplesmente perplexa. Você sempre foi tão sóbrio, tão polido e um modelo perfeito de cavalheiro. Nunca imaginaria que... Oh.
— Que eu estaria apaixonado por você?
— Você está?
— Bem... — Ele sorriu. Era inevitável não sorrir com aquele assunto. — Eu acho que sim.
— Eu também acho que sim.
— Acha que está apaixonada por mim, Katherine?
Ela não respondeu. Não poderia. Ele se aproximou dela e tocou em seu rosto com sua mão quente. Apenas aquele toque fez com que todos os pelos de Katherine se eriçassem e ela sentiu como se uma corrente elétrica percorresse todo seu corpo. Ergueu os olhos em direção os dele. Thomas permitia-se contemplar de perto cada parte de seu rosto. Ela sorriu, apenas para que ele pudesse admirar objeto de sua tamanha devoção.
E então a beijou.
Thomas. A. Beijou.
Katherine foi beijada.
Katherine Valentine Abbey foi beijada por um homem!
Pela primeira vez em toda sua vida estava recebendo um beijo. Ele havia a beijado. Ele. Thomas tomou a iniciativa, tocou em seu rosto e trouxe para perto de si, roçando seus lábios. As borboletas do estomago de Katherine fizeram uma festa e com muita música. Ela mal podia aguentar de emoção! Entrelaçou os braços ao redor de seu pescoço e atirou-se em cima dele, ficando a mercê de seus braços.
Foi um beijo muito diferente do primeiro. Dessa vez havia carinho, uma paixão sub-humana e muito amor. Depois que se declarara para Katherine, Thomas sentiu um alivio em seu peito, e agora, consumava sua declaração em um beijo. Sua pele estava quente e ansiava cada vez mais por seus lábios. Suas mãos percorriam os longos cabelos de Katherine que por sua vez ainda estavam presos. Como ele gostaria de vê-la sem aquelas malditas presilhas! Como ele gostaria de vê-la sem nada!
Involuntariamente ela estava em cima dele. Quase na mesma posição de quando se empurravam há alguns minutos. Entre suas pernas, Katherine deixava que as mãos de Thomas percorressem suas costas até chegarem à curva de suas nádegas. Ela arfava com seu toque. Aprofundava o beijo e deixava-se sentir cada centímetro disponível para seu toque.
Thomas apertou-a. Katherine ofegou com seu toque em uma confirmação de que gostava das mãos firmes de Lord Crentown. Thomas puxou seu vestido mais para baixo, deixando parte de seu colo exposto. Ele levou as mãos até seu corpete, apalpando seus seios por cima do tecido e ela não sabia qual reação deveria ter além de pressionar mais ainda seus lábios contra os dele.
Beijaram-se tanto que ela ficou sem ar. Teve que se separar para respirar e ele aproveitou o momento para beijar seu corpo. Desceu pelo queixo, foi em direção ao pescoço e no fim, parou em seu colo. Depositou vários beijos por ali, mas por respeito, deteve-se no desejo de abaixar seu corpete por completo. Desejava tê-lo feito, mas não pôde. Não ali, não agora. Ele estava transtornado e aparentemente ela também.
Katherine o fitava com os lábios entreabertos. Ela não sabia se falava algo ou mergulhava novamente nele em uma busca por mais. Naquele momento só podia fita-lo. Só podia observar seus traços e desejar que em um futu...
— KATHERINE! — Cecile gritou quase desmaiando.
Titia Mary teve que segura-la.
— Mamãe. — Lady Katherine fez uma careta.
— Katherine! — A mãe bradou mais uma vez — Levante-se AGORA!
Ela não precisou dizer duas vezes. Cinco segundos depois Katherine já estava de pé e razoavelmente aceitável. Ela alisou o vestido tirando vestígios de grama, folhas, gravetos e Thomas.
— E-Eu não acredito... Você. E Lord Crentown... Estávamos procurando-os há minutos...
Ela realmente estava quase desmaiando. Titia Gemina segurou de um lado e Mary do outro. Mary olhou para a sobrinha tentando compreender a situação, mas em vão.
— Vai ter que se casar com ela. — Mary disse direcionando-se a Lord Crentown.
Oh!
Gemina assentiu.
— Depois disso. Sim, com certeza. Não há outra opção.
Agora era Katherine quem queria desmaiar.
Cecile estava paralisada, sem reação alguma e sem condições de dizer qualquer coisa. As mulheres olharam para a única mulher totalmente sóbria e que ainda não havia se pronunciado: Lady Abbey. Millicent ao fundo mantinha-se serena e observava Katherine como quem dizia: deu merda. Titia Mary suplicou com o olhar para que ela dissesse alguma coisa. Lady Abbey suspirou.
— Certamente. — Concordou.
Cecile respirou fundo. As companheiras afrouxaram um pouco.
— Não há alternativa a não ser casamento — pronunciou com pesar.
Katherine não sabia o que fazer. Olhou para todos, desesperada.
— Nós... Não... Quer dizer, estávamos apenas nos escondendo e...
— Não se preocupem quanto a isso. — Thomas afirmou, interrompendo-a. — Nos casaremos o mais breve possível.
Katherine calou-se.
O que?
Olhou-o exasperada.
Ela abriu a boca para pestanejar, mas o choque aquela tarde estava sendo mais do que ela poderia aguentar. Ela simplesmente fechou os olhos e... Caiu no gramado.
Lady Katherine Abbey estava desmaiada.
E aparentemente, noiva.
•••
E aí, meus amores? O que acharam? Ficaram surpresos, odiaram, amaram??? Vamos conversar :)
Ah, e uma perguntinha também. O que vocês acham de hot? Pulam, lêem? Porque um passarinho me disse que talvez haja algo parecido em um certo próximo capítulo...
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