C A P Í T U L O XVI
Lady Florence se ressentia facilmente.
Ela passou todo o percurso de Londres até Haverstone emburrada. Talvez a tivessem mimado demais. Depois que Katherine nasceu demorou-se mais cinco anos até que a mãe tivesse novamente um bebê em seus braços, e considerando Florence como o bebê, era compreensível o fato dela não estar feliz por ninguém ligar para seu aniversário.
A festa em Haverstone seria uma comemoração atrasada do casamento de Arthur com Millicent, além de uma forma de manter a influencia da família nessa temporada social. O que a garota não entendia era porque Lord Abbey precisava de uma festa gigantesca e ela teria somente uma comemoração intima um dia depois que os convidados tivessem ido embora. Ela faria quatorze. Mais dois debutaria, mais dez seria considerada a maior artista da Inglaterra. E ela não tinha uma festa com quatrocentos convidados.
Não era justo.
— Mas e o Barão de Baltz? — Odelia perguntou, checando a lista de convidados.
Katherine pensou um pouco.
— Ele confirmou presença, mas se ele realmente se feriu cavalgando, receio que não vá poder comparecer.
— Uma pena. Ele conta boas piadas.
— Desde quando você escuta as piadas do barão, Odelia? — Os olhos de Kate escorregaram até a irmã.
Beverly moveu-se desconfortável no banco, esticando-se, mas não acordando. A governanta afastou-se quando sentiu o contato da garota em seu braço. Ela era detestável.
— Eu escuto muitas coisas, Kate. Você não tem ideia.
— Você tem doze anos.
— Vocês podem, por favor, focar no que realmente importa? — Florence olhou incrédula para as irmãs. — Meu aniversário é daqui oito dias.
— E você tem dezenove. São números, Katherine. Apenas números. — Odelia continuou, ignorando totalmente Florence.
— Não quando você tem doze anos. Isso significa que você tem apenas doze anos.
— Sou uma pessoa de vida social relevante, oras.
— Odelia, você não tem uma vida social.
— Será que a insensibilidade é natural do ser humano? — Florence murmurou, dramatizando e encostando a cabeça ao vidro para observar o trotar dos cavalos.
A carruagem balançou bruscamente. Desde o acidente de Arthur as garotas ficaram mais preocupadas com os passeios, principalmente quando eles eram em direção a Haverstone. As estradas não eram de má qualidade, elas eram semelhantes às outras do resto do país, porém depois de verem de perto o drama do irmão, todo cuidado era pouco.
Lady Beverly acordou com o movimento. Ela levou as mãozinhas fechadas até os olhos e os coçou. Depois se espreguiçou, quase batendo os braços na Sra. Markham, que com sorte conseguiu desviar-se a tempo. Como esperado não demorou mais de dez segundos até que a caçula pusesse a entoar sua frase preferida durante as viagens.
— Já chegamos?
— Não. — Odelia foi categórica.
— E agora? Já chegamos? Já chegamos? Já chegamos?
A outra suspirou. Aproximou-se do ouvido de Kate e sussurrou.
— Se nós a atirássemos da carruagem em movimento será que ela se machucaria muito?
Lady Katherine decidiu ignorar.
— Chegaremos depois do almoço provavelmente. Se não me engano a próxima parada está bem próxima. — Ela lembrava-se vagamente do percurso. A carruagem havia acabado de passar por uma estribaria. — Depois disso só mais umas duas horas e estaremos lá.
— Vamos jogar um jogo depois então! — Beverly sorriu. Ela havia acordado com um entusiasmo admirável. — Ihu!
— Irei na outra carruagem. — Katherine avisou. — Lady Abbey virá aqui e eu irei um pouco com Arthur. Nós precisamos... Conversar.
Odelia estreitou os olhos. Lady Katherine preparou-se naquele instante para o comentário imprevisível, porém provavelmente contestador, que sua irmã faria.
— Você deveria deixar os dois conversarem, Katherine. Eles que são casados.
— Ou se beijarem. — Beverly comentou rindo.
A Sra. Markham olhou para ela em um tom de repreensão. No instante seguinte o sorriso brincalhão de Lady Beverly desapareceu e deu lugar a uma expressão séria e recatada que combinava muito mais com uma duquesa de oitenta anos do que com ela, porém era isso que a nova governanta cobrava de suas pupilas. Florence revirou os olhos. Ela não suportava a Sra. Markham. Não que suas irmãs gostassem dela, mas o sentimento de repulsa que Florence cultivava era mais profundo.
A carruagem diminui a velocidade como sempre fazia quando entrava em uma área com casas. O vilarejo era pequeno, mas havia pessoas andando na rua, algumas vendas e residências. Todas se concentraram em olhar para fora depois de tantas horas vendo apenas plantas. Algumas crianças corriam brincando com uma roda solta e outras faziam uma ciranda na frente de uma carroça com várias verduras. Beverly quis brincar.
Chegava a ser triste. As meninas tinham amizades muito limitadas. Elas nunca correram livres pelos vilarejos como aquelas crianças faziam. Por mais que amassem a Srta. Foster — que esteve com elas pela maior parte do tempo — ela sempre a vigiou, cuidou e impediu que se comportassem de maneira inadequada. E com a Sra. Markham era ainda pior.
Era triste saber que elas estavam virando moças, prestes a debutar, e nunca haviam experimentado pequenas liberdades tão comuns para várias crianças, mas era inevitável. Algumas perdiam a infância em fábricas, outras por regras incontestáveis da sociedade, e outras, apenas aproveitavam a liberdade burguesa tão distante da aristocracia.
— A estalagem é logo ali na frente. — Lady Katherine declarou, puxando a memória. — Eu lembro que paramos ali da última vez.
— Ótimo. — Beverly murmurou — Estou com fome.
— Se me desobedecerem não vou deixar que saiam da carruagem — a governanta avisou.
Lady Katherine a fitou. A Sra. Markham olhou para ela também. Seu olhar era desafiador, como se apenas observa-la fosse uma ofensa, porém Katherine não hesitou. Ergueu o queixo e disse compassadamente:
— Elas sairão dessa carruagem de qualquer forma, pois elas também precisam comer, independente de terem ou não a obedecido.
— Mas mocinha... — Markham começou, mas logo foi interrompida por Katherine.
— E não me repreenda. Seus cuidados são dirigidos para minhas irmãs menores, não para mim. — Sorriu. — Obrigada.
A carruagem parou. A Sra. Markham não ousou responder Lady Katherine. Poucos segundos depois o cocheiro apareceu abrindo a porta e oferecendo a mão para auxiliar as garotas na decida. Beverly tocou em sua mão, pois se sentia uma princesa caminhando para seu palácio. Odelia apoiou-se em seu braço e Florence dispensou ajuda. Lady Katherine por outro lado nem precisou de auxilio, pois antes mesmo de ter a chance de receber a ajuda já havia pisado em falso e já ia em direção ao chão. Por sorte Lord Abbey estava lá e conseguiu impedi-la de tocar seus belos lábios na terra.
— Ah, eu sou um desastre. — Kate murmurou.
Arthur a soltou.
— Sim, você é.
Katherine o fuzilou com olhar.
— Você não tinha que concordar.
— Não sou um homem inclinado a mentiras.
A Sra. Markham pegou na mão das mais novas e começou a caminhar em direção a estalagem onde Lady Cecile já estava. Katherine também deveria ir, mas antes disso decidiu deixar algumas coisas claras com o irmão.
— Não se se Lady Abbey mencionou, mas na volta irei a sua carruagem. Eu quero conversar com você a sós.
— Minha esposa concordou com isso? Ela se calou o percurso inteiro e disse que está com cabeça latejando. Não sei se ela está com paciência para as meninas.
Lord Abbey olhou para as irmãs há alguns metros. Agora Lady Odelia havia encontrado um inseto novo no chão e estava tentando captura-lo para sua coleção enquanto a governanta brigava com ela, Beverly gritava de medo e Florence assistia a situação visivelmente enojada.
— Ela já havia concordado. Sem contar que já deixei as meninas previamente avisadas. Elas sabem como agir com Millicent. Já se acostumaram.
Millicent descia apenas agora de sua carruagem. A acompanhante que havia vindo em outro veículo estava ao seu lado, arrumando a barra de seu vestido e depois a gola. O tecido já estava até amassado depois de passar várias horas dentro do veículo, provavelmente dormindo. A pele dela brilhava em contato com o sol. Elas caminharam também em direção à estalagem.
— Irei com nossas irmãs almoçar. — Kate avisou — Vejo você depois. E tente, por favor, não se atrasar.
— É uma tentação.
— Até logo, Arthur.
E Katherine disparou em direção as irmãs. Agarrou o braço de Florence e em poucos segundos as duas desapareceram para dentro da grande construção.
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Katherine estava indignada.
Ela sabia que deveria estar preparada para eventuais poças de lama, mas ela estava tão preocupada em saborear seu bolo com pedaços de fruta que nem percebeu pouco antes de entrar na carruagem que havia uma poça bem a sua frente.
Entrou no veículo praguejando e erguendo a barra do vestido, toda lamacenta, que espalhou os resíduos pela tapeçaria. Lord Abbey não se surpreendeu. Em silêncio observou a irmã se acomodar com dificuldade, segurando sua edição do jornal de Julian Stanford na frente do rosto.
Lady Katherine suspirou.
— Creio que você tenha tido um acidente do lado de fora, não? — O irmão indagou, mesmo que sua pergunta fosse mais uma provocação.
— Não acredito que meu bolo caiu no chão. Ele estava tão bom que eu não vi aquela maldita poça!
Arthur a repreendeu.
— Não diga essas palavras.
— Não seja hipócrita. — Katherine acomodou-se em seu banco. Eles estavam um de frente para o outro — Você pretende dormir nessas próximas duas horas? Diga que não.
— Eu não acho que seja possível dormir em sua presença.
Katherine levou a mão até a boca, ofendida. Havia uma almofada ali que ela usou para acomodar-se melhor. Apoiou-se próxima a janela e estendeu parte da perna na parte que sobrou no banco. Arthur também estava confortável com os pés estendidos e sem o pesado paletó que usava sempre que saia da carruagem. Era bom finalmente estar perto de alguém que ela não precisasse impressionar.
— Temos que conversar sobre algumas coisas.
Lord Abbey assentiu. Ele estava entretido demais com uma matéria sobre como andava a economia da França desde a restauração dos Bourbon para ouvir a irmã lamacenta. Katherine, com toda delicadeza que não possuía, cutucou o irmão com o pé cheio de lama. Arthur revirou os olhos.
Ele deixou o jornal em cima de seu banco e fitou a irmã.
— Espero que seja algo importante. Importante ao ponto de você ter que sujar minha calça para isso.
— É sobre Lady Abbey.
Lord Abbey estreitou os olhos. Isso foi o suficiente para concentrar toda sua atenção.
— O que houve com Millicent?
Lady Katherine assoprou as unhas.
— Engraçado que agora você parece preocupado com ela.
— Eu sempre me preocupei com Lady Abbey. Inclusive quando estava me recuperando em Haverstone eu não parava de expressar o quanto estava apreensivo para saber como ela estava se adaptando em Londres e como estava ansioso por finalmente conhecê-la.
— Não pareceu isso quando você flertou com Danisha Collins em nossa frente e depois desapareceu com ela por vários minutos.
— Você só pode estar brincando comigo, Katherine. Não há nada entre a Srta. Collins e eu. Sou completamente devotado à minha esposa.
— Não é isso que ela disse.
— E o que ela te disse? — Arthur estreitou os olhos.
— Ela me contou que você não... — Katherine interrompeu-se.
De repente seu rosto ficou mais vermelho do que uma pimenta. Ela mordeu os lábios e olhou para baixo, desviando o contato visual que estava mantendo com o irmão. Por instante Katherine esqueceu-se de que estava entrando em um assunto proibido e que de fato Lady Abbey nem deveria ter mencionado.
Mulheres solteiras não deveriam saber o que ocorre na cama entre um homem e uma mulher, mas elas sabiam. Não com todos os detalhes íntimos de um casal, mas sabiam. Katherine nasceu em uma família grande e com várias primas que se casaram durante sua adolescência. Uma vez ou outra ela escutava algumas conversas ou algumas delas deixavam escapar algum comentário inapropriado para Katherine que guardava com toda atenção. Além das criadas. Katherine sempre foi uma menina petulante. Quando a camareira Diana Bross mencionou que viajou com o marido para a Escócia na lua-de-mel Katherine a pressionou até o final para que ela desse mais detalhes sobre a viagem — e ela não era exatamente sobre a viagem que ela queria saber.
De qualquer forma era difícil conversar sobre isso, principalmente com o irmão mais velho. Lady Abbey provavelmente nem se lembrava do que havia dito para Katherine aquela noite, pois se lembrasse, provavelmente faria questão de tentar apagar a memória da cunhada.
— Katherine. — Arthur chamou. — Continue. O que ela contou?
— Hum...
— Katherine.
— Ela não me deu muitos detalhes. — Declarou — Mas ela disse que você não cumpre seus deveres matrimoniais, pois está ocupado demais com a Srta. Collins.
— O quê? — Lord Abbey e Lady Cecile pronunciaram no mesmo instante.
A mãe dos dois estava na porta da carruagem, já prestes a entrar quando pegou o final da história. Sua pressão estava endurecida, mas não era claro se ela estava furiosa com Katherine ou com Arthur. Cecile terminou de entrar. Fechou a porta da carruagem e deu sinal para o cocheiro esperar mais alguns minutos enquanto os filhos permaneciam em silêncio — quase sem respirar.
De repente Katherine decidiu que observar a manga do vestido era uma ótima coisa para se fazer nesse instante.
Lady Cecile sentou-se no lugar onde antes os pés da filha ocupavam. Ela estendeu o vestido escuro sobre o banco e fitou o filho que a essa altura poderia até tremer de medo da mãe. Não importa quantos nos qualquer um da prole dos Abbey tivesse. Sempre que Cecile fazia aquela expressão... Bem, havia um motivo para se preocupar.
— Você não ia à carruagem com as outras mulheres? — Arthur perguntou.
— Katherine, por favor, leia o livro que eu trouxe e me conte depois o que leu. — Ela estendeu um folhetim que só mulheres de meia-idade gostam para a filha. Em seguida encarou Arthur e quase sussurrou — Como assim você não está cumprindo os deveres conjugais com Lady Abbey?!
Tudo bem que até seu sussurro era alto. Katherine embarcou na leitura sobre as seis esposas de Henry VIII no século XIX.
— Eu... Eu...
— Eu não pedi que você a amasse, que vocês se apaixonassem nem nada disso, apenas que cumprisse com seu dever como marido. Agora você não faz isso, pois está caindo de amores por uma moça como qualquer outra de Londres?
Lord Abbey abriu a boca. A mãe não o deu trégua.
— Uma mulher como Danisha você encontra em qualquer lugar da Inglaterra. Bonita, simpática e com dinheiro, mas alguém como Millicent não. Ela se impõe, sabe como ser uma marquesa e apesar de tudo, continua ao seu lado como sua esposa sem em nenhum momento hesitar. Não posso acreditar que você não está dormindo com sua esposa por caprichos! Arthur Abbey você não merece o destino que preparamos para você porque eu percebo ago...
— Mamãe. — Arthur a interrompeu pronunciando as palavras entre os dentes. — Eu não tenho nada com a Srta. Collins. Eu a garanto.
— Não ache que sou tola, Arthur. Vocês dois já têm história desde a temporada passada. Eu deveria saber que isso iria acontecer e que a pobrezinha da Lady Abbey iria sofrer com as infidelidades do marido logo no começo do casamento. Ela não merece isso. Não, não, de forma alguma.
— Mamãe. Isso que a senhora diz não tem nenhum fundo de verdade.
Por mais incrível que parecesse Katherine conseguia se concentrar na briga entre Catarina de Aragão e Ana Bolena ao mesmo tempo em que escutava a conversa dos dois.
— Não tem?
— Não.
— Pois muito que bem! — Cecile levantou-se com tanta rapidez que até bateu a cabeça em um suporte — Só passei para ver vocês antes de partir. Vejo vocês em Haverstone. Katherine, me dê meu livro. Arthur, honre com suas responsabilidades.
E como um pássaro zarpou de dentro da carruagem. Ela partiu logo em seguida.
Katherine estendeu-se novamente no sofá. Ela ficou um pouco triste por ter a leitura interrompida, mas estava feliz por seu cérebro não estar mais sobrecarregado tentando executar mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Arthur ainda parecia um pouco desnorteado. Não que isso fosse ajudar, mas Katherine achou uma boa ideia olhar para o rosto do irmão.
— Eu sei que você estava escutando a conversa. Você é intrometida.
— Vocês não sabem sussurrar.
— Apenas... — Ele suspirou — Não acredite em tudo que mamãe disse, certo? Nem no que Millicent disse.
— Os argumentos de Lady Abbey são convincentes.
— Eu não me aproximo dela, pois tenho medo! — Ele cuspiu as palavras.
Katherine não entendeu.
— Como?
— Isso não é assunto para você.
— Como?
— Eu disse que não é um assunto que se diz a respeito de você, Katherine.
— Mas...
— Olhe para ela...— Arthur começou a falar. Ok. Talvez fosse um pouco assunto para ela. — Ela é... Não sei. Ela é bonita, serena e...Imponente? Nem sei qual diabo de palavra usar. Mamãe até concorda comigo e olhe que ela é mais fadada a criticar as pessoas do que elogiar. E também é fria. Eu não consigo ficar muito perto dela. Sinto-me incapaz.
Katherine não sabia o que dizer. Ela apenas encarou os próprios pés no assoalho.
— Talvez seja verdade... — Arthur deu ombros, acomodando-se na poltrona e cessando o contato visual. — Talvez seja verdade que os homens realmente devem ter medo de mulheres poderosas. — Ele fechou os olhos — Bem, é só isso. Vou descansar um pouco.
Era claro que não era só isso, mas isso era tudo que sua irmã poderia ouvir. Ele não poderia contar para ela como foi quando a viu nas noites de núpcias, com os lábios entreabertos, o corpo nu e os braços em volta de seu pescoço, pressionando-o para mais próximo de si. Como sua pele alva, os olhos verdes e boca rosada o atraíram de maneira descomunal. Naquele momento, para ele, nem Danisha, nem a mulher mais bonita de Londres e até mesmo Afrodite não chegariam aos pés de Millicent.
E ele sentiu-se incapaz. Ao vê-la depois, dormindo singelamente ao seu lado ele se sentiu indigno de tê-la. Quer dizer, ele era Arthur. O Arthur raquítico, afável e que recentemente quase havia morrido em um acidente. Ele ainda tinha marcas, tanto psicológicas quanto físicas que não queria que Millicent soubesse. Ele não queria que ela soubesse que ele é um homem frágil, com uma ferida ao lado da barriga e uma perna travada, enquanto ela era a personificação de tudo que uma mulher poderosa deveria ter. A beleza, a sabedoria e a inexpressividade. O que era de fato um traço da personalidade de Millicent — a dificuldade em demonstrar os sentimentos — fez com que Arthur concluísse que aquilo não se tratava dela, mas sim dele, e que a esposa não apreciava a sua companhia.
Em um redemoinho de emoções ninguém parecia entender que o problema era a insegurança mútua. O medo de ser insuficiente. Assim, ambos individualmente, concluíram de maneira errônea que estavam sendo tratados com o terrível sentimento da rejeição, quando na verdade, um ansiava ferozmente pela presença do outro no leito matrimonial e na vida.
As coisas seriam tão mais fáceis se eles simplesmente conversassem um com o outro? Talvez. Mas a vida não tem graça quando as coisas vêm facilmente. Todos precisam de um pouco de drama para animar a existência.
E em matéria de drama os Abbey iam muito bem.
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