C A P Í T U L O XII
Lady Katherine dormiu.
Por muitas horas.
Logo após regressar da casa de campo, no dia anterior, Katherine não hesitou em subir para seu quarto, tomar um rápido e refrescante banho, para que em seguida, deitasse em sua cama e dormisse até o dia seguinte.
Todo seu sono era no mínimo compreensível. Além de ter algumas noites de insônia com os Crentown, por não estar em sua cama, dormir tarde e estar exausta - e às vezes dolorida - das atividades da tarde, ela acabou não dormindo muito. Como Lord Abbey e ela optaram por não passar uma noite em alguma estalagem, eles tiveram que se contentar com algumas sonecas na carruagem, o que não era muito confortável e raramente durava tempo suficiente para sanar com o sono. Assim, depois que fechou os olhos naquela tarde, ela somente voltou a abri-los no dia seguinte.
Lady Katherine acordou um pouco desorientada. Sentia-se um tanto sonolenta ainda, mas as horas de sono foram em geral revigorantes. Ela cambaleou até seu criado mudo, lavou o rosto, pediu para que sua criada de quarto a ajudasse a colocar o vestido e os sapatos, para no fim, descer saltitante em direção a sala de jantar para tomar o desjejum com a família.
Suas irmãs ainda não estavam prontas. Katherine constatou no momento em que passou em frente do quarto das irmãs e ouviu Odelia gritando que não conseguia encontrar suas meias. Ela ignorou, e continuou caminho em direção ao andar de baixo, onde estavam apenas Lady Cecile e Lady Abbey.
Lady Cecile estava debruçada a frente da nora, conversando com ela quase em um sussurro, enquanto Millicent esboçava um singelo semblante de pavor genuíno. Os olhos estavam arregalados, os lábios secos e o rosto tão vermelho que ela poderia ser comparada a uma pimenta. Lady Katherine, um tanto sensata, constatou que seria melhor aproximar-se lentamente para não interrompê-las.
- O que eu quero dizer, querida... - Lady Cecile continuava, engasgando-se com as palavras. - É que estou feliz de que vocês tenham se entendido...
Lady Abbey olhou para a sogra.
- Compreendo.
- Eu sabia que meu filho seria capaz de honrar com os seus deveres. Ele estava cansado, mas estamos faland... Ah! Bom dia, minha filha. Como está?
Imediatamente Lady Cecile mudou de postura e trocou de assunto. Katherine chegou a rir ao ver o alivio nos olhos de Millicent. Ela não queria ser indelicada, mas não era sua culpa de que havia chegado bem no momento em que a mãe queria se certificar de que o casamento havia sido consumado. Não que Katherine soubesse plenamente o que era ter um casamento consumado, mas com o tempo ela foi adquirindo algumas informações e tendo uma ideia mais complexa da situação. E pelo menos ao julgar pela vividez de Lady Abbey, aquilo não deveria ser algo ruim.
Millicent estava radiante.
Katherine precisava de um marido.
Porém aquilo não era assunto para Lady Katherine. Bem, por enquanto não. No momento a filha mais velha apenas sentou-se ao seu lugar, cumprimentou as familiares e pôs-se a esperar por menos de dois minutos que as irmãs descessem. Não tardou para que ruídos agudos começassem a ficar mais estridentes e para que os passos no assoalho ficassem cada vez mais próximos.
A primeira que surgiu na sala, cantarolando, foi Beverly. Lady Beverly estava perfeitamente arrumada com lacinhos no topo da cabeça, um vestido cor de rosa e meias brancas - recém lavadas e então brilhosas. Era triste pensar de que em menos de trinta minutos seu visual já estaria destruído, assim como o das irmãs, que contavam com uma energia surpreendente ás nove horas da manhã.
Em seguida Lady Odelia e Lady Florence apareceram. Katherine decidiu que era a hora exata no qual deveria olhar para o próprio prato visando evitar qualquer contato visual com a Srta. Foster. Pelo menos por enquanto, esse seria o plano de Lady Katherine, fingir que a governanta não existia. Talvez, quando por fim tomasse coragem, elas conversariam sobre o que havia ocorrido no outro dia. Enquanto a coragem não vinha os olhos de Katherine fixavam-se no prato vazio.
O verdadeiro problema foi que a dita Srta. Foster não apareceu. Florence começou a tagarelar logo cedo, explicando o porquê de não conseguir dormir essa noite, depois de ter um terrível sonho com a cabeça de Luís XVI. Era um sonho interessante, Lady Florence já estava na parte em que a cabeça do rei da França desembarcava sem querer no Império Japonês, quando uma voz rouca e firme a interrompeu, repreendendo-a e pedindo silêncio em mesa. Katherine virou-se imediatamente procurando a origem da voz até chocar-se com uma mulher de meia-idade e cabelos alaranjados.
Usando roupas de serviço.
A mulher fitou Lady Katherine sem dizer nenhuma palavra. Seu olhar era apavorante. Sem emoção, sem remorso, sem empatia. Não exatamente vazio, como muitas vezes era o de Lady Abbey. Ao contrario. Cheio. Completamente controlador e possessivo. Katherine odiou isso.
Lady Cecile coçou a garganta.
- Oh! - A mãe sorriu - Ainda não tive a oportunidade de dar a noticia para Katherine. Minha filha essa é a Sra. Markham. Ela é a nova governanta de vocês.
Katherine estaria no chão, caso não estivesse sentada. Ela não sabia como que agir. Estava perplexa. Abriu a boca, não se moveu, não conseguia falar. Havia um nó imenso em sua garganta.
- Como assim? - Kate disse com toda a voz que conseguiu sair de sua boca - D-Desde quando?
Flory levou a mão ao coração.
- Você acredita que a Srta. Foster nos deixou? - Florence choramingou - Apenas com uma carta ela se despediu de nós e nunca mais apareceu.
- Eu chorei por três noites seguidas. - Beverly declarou.
Odelia também queria contribuir para a conversa, mas ela amava aquele bolo de baunilha.
Lady Katherine fitou a mãe e Lady Abbey. As duas não diziam nada, mas o olhar já entregava tudo. Elas eram as culpadas. Não conseguiam olhar para os olhos marejados de Katherine e tentavam disfarçar, olhando para o prato ou colocando um pouco de açúcar em cima dos doces.
Até que por fim os olhos de Millicent se encontraram com os de Katherine.
- Você disse que não contaria para mamãe! - Katherine bradou.
Lady Abbey não se moveu. Deu ombros e terminou de ajeitar seus doces por ordem crescente em cima da prataria.
- Eu não poderia não contar isso, Katherine. O que você relatou foi um erro grave e que certamente merecia as corretas punições. Eu estaria sendo totalmente injusta comigo mesma e indo contra os meus valores se deixasse um episódio como esse passar em branco.
Lady Katherine chorou.
- Oh, não. Não é assim que as coisas funcionam, Millicent! - Ela se levantou.
- Katherine Valentine Abbey! - Lady Cecile repreendeu - Olhe os seus modos. Estamos em mesa. Eu sou a mãe e nunca deixaria que minhas filhas fossem educadas por uma mulher com o comportamento tão reprovável quanto o da Srta. Foster. Eu a quis longe de minha casa e não me arrependo por isso. Agora, felizmente, a Sra. Markham cumpre com todos os requisitos para ser uma eximia governanta.
Inclusive ser feia.
As meninas estavam em silêncio. Até mesmo Lady Odelia havia desistido de seu bolo de baunilha. Os olhos de Beverly estavam marejando-se novamente quando Florence decidiu ser a porta-voz das meninas. Com a voz baixa e hesitante, ela perguntou:
- Sobre o que vocês estão falando?
- Nada! - Cecile declarou. Em seguida olhou para Lady Abbey e em seguida Lady Katherine. - Esse não é um assunto para ser tratado em uma mesa do desjejum.
- Vou para meu quarto. - Katherine se levantou.
- Vá.
Lady Katherine correu escadas acima novamente e com a mesma urgência que se atirou na cama há horas atrás querendo dormir ela atirava-se agora, com o mesmo sentimento de antes. Ela queria apagar. Esquecer-se daquilo.
Esquecer-se de tudo, menos da Srta. Foster.
🕎🕎🕎
Infelizmente a nova soneca de Katherine durou muito menos do que a primeira. Ela havia dispensado o almoço e estava tão deprimida que de qualquer forma não conseguiria comer nada, por isso optou por ficar em sua cama pelo máximo de tempo possível. Ela havia tentado ler um pouco, fitou o teto do cômodo por vários minutos, chorou por alguns outros, para por fim, apenas permanecer deitada refletindo em todas aquelas coisas insanas que haviam acontecido no último mês.
O casamento de Arthur e seu acidente, Lady Abbey passando a morar com ela, a festa na casa de campo com os Crentown, o fim trágico de seu flerte com Neval Rodger. Era surreal pensar que tudo isso havia acontecido em um período de tempo tão curto e que ela ainda tinha a temporada inteira pela frente. Ainda mais agora que a única chance aparente que ela tinha para se casar havia desaparecido - junto com a Srta. Foster.
Como se não bastasse o próprio sentimento de culpa que Katherine sentia, Lady Florence decidiu ajudar. Ela entrou sorrateiramente no quarto da irmã, com os olhos vermelhos e com as mechas claras grudadas na bochecha em contato com as lágrimas. Florence, mais do que nunca, parecia fora de si. Seu olhar era vazio, sua respiração exasperada e suas mãos tremiam impulsivamente.
- Você! - Florence apontou para a irmã.
Lady Katherine abriu os olhos enquanto murmurava. A claridade da tarde a cegou por alguns instantes. O sol brilhava com tanta intensidade que Kate não entendia como as milhares de lágrimas da irmã não evaporavam.
- Eu? - Katherine indagou, sentando-se confusa na cama e coçando os olhos - O que houve?
Florence respirou fundo. Por alguns instantes Katherine pensou que a irmã estava se preparando para interpretar algum soneto de Shakespeare, mas Florence estava longe de fazer isso. Ela ficou nas pontas dos pés, com graça e elegância agarrou o As Aventuras de Lady Dudley no alto da estante, e como uma bela dama, atirou o livro contra Katherine.
Felizmente para Kate, Florence era melhor com dons artísticos do que com atletismo. Ela errou e acertou a parede, mas como uma verdadeira Abbey nunca desiste ela voltou para a estante e finalmente conseguiu acertar a irmã com um livro de receitas.
- Florence! - A mais velha ralhou, esquivando-se da terceira investida. - Qual é seu problema?!
- Você, Katherine! - Ela tirou outro livro - Você! Você é meu maior problema.
- Não diga asneiras. O que eu a fiz, Florence? Eu passei meu dia inteiro deitada nessa cama e não troquei ao menos uma palavra com você. Se for para me acusar, faça isso por um motivo justo.
As lágrimas voltaram a correr pelo rosto de Florence. As duas eram muito parecidas e não somente em aparência. Era claro que tinham suas divergências. Katherine poderia ser desajeitada enquanto Florence fosse graciosa com quase tudo que fazia, principalmente quando o assunto era dança e canto, mas em outros quesitos elas eram mais próximas do que qualquer uma ali.
Eram intensas. Transbordavam sentimentos em cada palavra, cada sussurro, cada toque. Gritavam com o olhar, choravam com a alma e provavelmente todo esse excesso de sentimentalismo as levaria para a ruína.
- A culpa é sua! - Os olhos de Florence não cessavam com as lágrimas - Você, Katherine, fez com que a Srta. Foster fosse embora. Você tirou de mim minha amada Jane!
Katherine engasgou. Engasgou com a própria respiração e afogou-se em seus pensamentos. O que ela poderia dizer? Ela sabia exatamente que era sua culpa e que nada poderia fazer. O problema era que a irmã não era nada cuidadosa com as palavras e ao invés de ajuda-la, apenas piorava sua situação.
- Quem a disse? - Kate perguntou.
- Eu ouvi a conversa de mamãe de Arthur. Eles estavam comentando o porquê da Srta. Foster ir embora e disseram que foi um pedido seu porque ela estava beijando o seu noivinho de quinta.
- Eu não pedi para que a mandassem embora! - Lady Katherine defendeu-se - Eu só estava deprimida. Eu tinha o direito de estar deprimida. Na verdade, Florence, eu tenho. Ela era minha mais fiel amiga e pensei que amava o Sr. Rodger. Você é nova demais para entender o que é amar alguém, então tente ao menos não me julgar.
Florence ficou ultrajada. Verdadeiramente ofendida. Ela negou com a cabeça e se afastou dois passos, totalmente fora de si. Suas lágrimas finalmente pararam de correr e sua expressão de tristeza deu lugar a um profundo ressentimento.
- Não cabe a você, Katherine, decidir quando eu posso ou não amar alguém. O amor não depende de idade. Não depende de classe, não depende de nome, não depende de outros. Depende apenas de você. E eu não ser noiva da Srta. Foster não significava que eu não a amasse. Eram amores diferentes, mas verdadeiros.
- Eu não quis dizer isso, Florence. Eu quis dizer que eu fiquei triste com o que a Srta. Foster fez. Você deve beijar apenas quem ama, e eu o amava. - Kate apoiou-se na cabeceira da cama - Mas eu nunca quis que Jane fosse afastada de nós. Eu farei o possível para trazê-la de volta e é isso que importa!
Lady Florence riu sarcasticamente. Katherine encolheu-se na cama. Por mais que Florence estivesse prestes a completar catorze anos e ainda gostasse de brincar de casinha com as irmãs no final da tarde, ela sabia que havia algo de especial na irmã. Sabia que era impossível poupar palavras à Florence sendo que Florence conhecia todo o dicionário e que ela mais do que ciente do que estava acontecendo ali.
- Não, Katherine, você não poderá trazê-la de volta. É mais do que óbvio que Lady Abbey nunca permitiria. Nossa cunhada é uma megera em pele de cordeiro.
Ela caminhou pelo quarto da irmã sem tirar os olhos sorrateiros de Katherine.
- Segundo, já tentamos trazê-la de volta. Quer dizer, Odelia e eu tentamos. Somos uma boa dupla, mas mesmo assim nada foi possível. Não conseguimos localiza-la de maneira alguma. Como ainda acreditávamos que ela havia partido por espontânea vontade, também não tínhamos nenhum ponto de referencia. Pensamos inclusive que ela havia nos trocado e estivesse trabalhando para outra família, mas nada.
- Ela deve estar em alguma pensão. - Foi a única coisa que Katherine conseguia sugerir.
- Odelia e eu entramos em contato com o dono de três na região. Se ela está em uma pensão, não é por aqui. O que é horrível já que nós moramos na área mais respeitável de Londres e se ela estivesse por aqui eu poderia ao menos saber que ela está bem.
Katherine pensou em dizer que estar hospedada na área nobre de Londres não era garantia de segurança para mulher nenhuma, mas para não apavorar mais ainda a irmã, apenas indagou:
- Como vocês fizeram isso?
Florence fingiu que não ouviu a pergunta. Katherine estreitou os olhos. Elas não tinham treze e doze anos?
- Nós também pensamos em outra possibilidade.
Lady Katherine esperou uma continuação. E esperou. E esperou mais ainda, porém era visível que as coisas não iriam funcionar assim. Florence estava magoada e aparentemente decidida a não contar nada a não ser que a irmã fizesse por merecer.
- Florence, por favor, me diga. Estou implorando, vê?
- Você não merece minha bondade.
- Florence...
- Pensamos que ela poderia ter ido morar novamente com a família, mas nós não temos muitas informações sobre seu passado. Imagino que com você, por serem mais próximas e terem conversas mais francas, ela tenha revelado suas origens. Se ela estiver com os pais podemos envia-los algumas cartas e pedir que Beverly desenhe vários corações.
- Muito pouco. - Katherine confessou, dando ombros - Jane nunca gostou de falar sobre o passado. A única coisa que ela já me disse foi sobre suas irmãs.
Florence a fitou. Suas lágrimas haviam cessado consideravelmente, mas ainda havia ressentimento em seu olhar. Por mais que ela soubesse que a irmã estava apaixonada por Neval, ela achava injusto a Srta. Foster ter ido embora. Por Deus! A Srta. Foster a criou. Era como uma mãe para ela. Quando Cecile estava ocupada com futilidades foi ela quem deu amor e carinho para ela. Florence só precisava entender o porquê de Jane ter sido tão tola ao pont...
- Charlotte e Lettice. - Katherine disse. - São os nomes delas. É a única informação que tenho.
- Vamos procura-las. Jane, Charlotte e Lettice Foster. Alguém deve conhecer essas moças. Se a Srta. Foster conseguiu o emprego como nossa governanta certamente foi criada com uma boa educação e consequentemente seus pais devem ter o mínimo prestigio. Nós apenas devemos encontrar o restante dos Foster.
- Certo. - Lady Katherine suspirou. - O Sr. Rodger irá me visitar em breve. Ele disse queria me fazer um pedido. Bem, isso não importa no momento. Ele deve ter alguma informação sobre o paradeiro dela. Se eles realmente estavam próximos devem ter tido outra comunicação.
- Um pedido? - Florence estreitou os olhos.
- Ele dizia que queria me fazer um pedido em uma carta que me enviou enquanto estava no campo.
- Se ele a pedir em casamento, não aceite. - Florence ordenou.
Lady Katherine chegou a rir.
- Você está autoritária demais.
- Você seria tola se aceitasse, apenas. - Lady Florence a fitou. - Ele já traiu sua confiança uma vez. Quem dirá que não fará novamente? Um traidor será sempre um traidor.
Katherine olhou estupefata para a irmã. Era difícil acreditar que uma pessoa daquele tamanho era tão inteligente e conversava com tamanha propriedade. Podiam afirmar que ela era até mesmo mais madura que Kate. Sua frase ficou ecoando na cabeça dela.
- Você tem certeza que tem treze anos, Flory?
Florence sorriu com superioridade.
- Quase quatorze - disse como se quase quatorze fosse realmente um numero.
Katherine estava prestes a responder quando alguém bateu na porta. As duas se calaram imediatamente. Ficaram tão apreensivas que nem mesmo suas respirações eram audíveis. Lady Katherine dirigiu-se até a porta e abriu por conta, deparando-se assim, com o mordomo.
- Sr. Branson. - Katherine assentiu.
- A milady tem visitas.
Florence já arregalou seus olhos. Se Kate conhecia bem a irmã ela já estava tramando alguma coisa para o Sr. Rodger. Sem dúvida Lady Florence era a mais civilizada entre o trio mais novo, porém isso não significava muito visando o fato de que nenhuma das três poderia ser tomada como exemplo de bom comportamento.
Bem, se alguma de suas irmãs expulsasse o Sr. Rodger da Casa Abbey, Katherine não ficaria brava. Pelo contrário, ela agradeceria eternamente as irmãs por poupa-la de vê-lo. Ela sabia que sua visita era eminente, assim como constava em seu bilhete enviado na casa de campo, porém ainda não estava preparada para aquilo. Não saberia novamente como agir, nem o que dizer, nem como ao menos respirar. Tudo se repetiria, os sentimentos voltariam a tona, porém além da ansiedade e da paixão, o rancor estaria incluso.
E se, por Deus, ele realmente a pedisse em casamento ela não saberia como agir. Não sabia se devia perdoa-lo ou seguiria em frente com sua vida até encontrar outro pretendente. E se Lady Cecile fosse testemunha da proposta? Como recusar, mais uma vez, um pedido de casamento no qual ela estava desesperada por receber? Não era fácil. Havia milhares de pessoas com problemas muito maiores do que de Lady Katherine, mas para ela, casar-se ou não com um homem que beijou sua governanta era o maior dilema que havia enfrentado em toda sua vida.
- Lady Katherine. - O Sr. Branson interrompeu sua transe - Lord Crentown está a esperando na sala de recepções.
Branson fez uma mesura e retirou-se. Florence estreitou os olhos.
- Quem? - A mais nova espiou atravessou a porta - O irmão de Lady Heather está aqui?
Katherine piscou algumas vezes.
- Aparentemente sim.
- Oh! - Florence respirou fundo. - Vou avisar para Odelia e Beverly então.
Katherine pensou em retrucar e dizer que Lord Crentown estava lá para vê-la, não a suas irmãs, mas ela não foi capaz de dizer isso, pois afinal, nem ela sabia o que havia ocasionado a visita de Thomas. Eles tinham se visto pela última vez na casa de campo e ele, a propósito, havia sido rude com Lady Katherine nos últimos momentos que passaram juntos. É claro que Katherine fez o possível para não levar suas atitudes para o âmbito pessoal. Provavelmente ele estava em um dia ruim e cheio de tarefas a realizar sendo o anfitrião, mas mesmo assim, ela não enxergava nenhum motivo plausível que o teria trazido até ali.
A não ser...
Katherine escutou um som familiar vindo do andar de baixo. Um som extremamente prazeroso.
Au! Au!
- Estou descendo. Tentem não me atrapalhar! - Exclamou, quase saltitando de alegria.
Ela foi correndo em direção as escadas. Zeus estava ali! Ela queria tanto vê-lo de novo. Estava tão deprimida que acreditava que apenas uma companhia animal seria capaz de anima-la. Katherine estava prestes a descer os degraus quando sentiu a mão da irmã segurando em um de seus braços.
- Ei, Kate. - Florence chamou.
Lady Florence estava séria. Talvez até tímida ou receosa. Por alguns instantes o coração de Katherine acalmou-se.
- Sim?
- Você promete que se souber algo da Srta. Foster você me avisará? E que não irá, de forma alguma, encontra-la sem que eu esteja junto?
Era uma promessa interessante. Talvez comprometedora. Katherine pensou em dizer que não poderia prometer isso já que não sabia o que viria pela frente ou em quais condições encontraria a governanta, mas viu nos olhos da irmã o quão importante era para ela essa promessa.
- Sim, eu prometo. Nós vamos encontra-la juntas. - Ela sorriu fraco. - Mesmo que a Srta. Foster esteja na Sibéria.
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