C A P Í T U L O XI
A Casa Abbey, em Londres, estava um caos.
E a própria Lady Abbey estava à beira de um colapso nervoso.
Aos vinte e dois anos.
Por quase uma semana ela teve que lidar basicamente em tempo integral com três meninas descontroladas e visivelmente infelizes. Tudo havia começado no dia seguinte a partida da Srta. Foster. Como ela havia deixado a casa e não tinha uma substituta, Lady Abbey encarou a missão de encontrar uma nova governanta para suas cunhadinhas o mais rápido possível.
Porém isso não era uma tarefa fácil. Quer dizer, não quando a contratante era uma pessoa tão exigente quanto Lady Abbey. A governanta em questão deveria falar no mínimo três línguas fluentemente, ter conhecimento de todas as matérias básicas, elevado em história, geografia e matemática, saber as regras da sociedade, não ser bonita — para evitar futuros tumultos — e claro, agradar Lady Abbey. Sendo assim, mesmo após receber várias interessadas, ela precisou de cinco dias completos até encontrar alguém adequada para o papel.
Por cinco dias e cinco noites Millicent sofreu. Eram gritos intermináveis, choros descontrolados, objetos valiosos sendo quebrados e ela até havia recebido uma mordida.
Os dentes de Beverly eram tortos.
Era mais do que óbvio que Millicent não iria deixar que o episódio entre a Srta. Foster e o Sr. Rodger passasse em branco. Após Katherine deixar o quarto da cunhada naquela noite de quarta-feira, Millicent dormiu. Dormiu serenamente, como um verdadeiro anjo — caído — até o dia seguinte, quando bem cedo levantou-se da cama e foi resolver seus problemas — ou melhor, os de Katherine — antes que a casa toda estivesse de pé.
Ela lavou o rosto e vestiu seu vestido da manhã. Uma peça em um tom acinzentado de azul, com a típica gola alta. Em seguida pediu para que uma criada prendesse seu cabelo e caminhou serenamente até a ala dos criados, que nesse horário, estavam acordando para começar o trabalho. Seu sapato em contato com o assoalho ecoava, assustando alguns criados que conversavam no corredor e fazia com que outros estremecessem de medo quando ela passava. E Millicent definitivamente amava isso. Já que de fato nunca fora amada, sempre gostou de ser temida.
Ela abriu a porta do quarto de Jane, que a essa altura, já estava de pé e guardava as suas mechas loiras em um chapéu encaixado perfeitamente no topo da cabeça. A governanta não disse nada, apenas a fitou em silêncio.
— Você tem uma hora para deixar essa casa, Srta. Foster. — Lady Abbey declarou.
Respeitosamente Jane abaixou a cabeça e assentiu.
— Sim, Lady Abbey.
— Trate de fazer isso antes que as meninas acordem. Não quero tumulto. — Millicent deu ombros. Ela deixou um envelope na bancada que ficava ao lado da porta. — Aqui está seu salário de todo o mês. Fui muito benevolente em cedê-la tanto dinheiro. Agora vá e nunca mais volte a pisar nesta casa.
A Srta. Foster respirou fundo. Sua respiração já estava ficando pesada e por Deus, como aquilo estava doendo! Um aperto enorme começava a se formar em seu peito.
— Ah, já estava me esquecendo... — Lady Abbey deu as costas para ela — Aprenda qual é o seu lugar como uma empregada se não quiser ir parar na sarjeta.
E depois disso partiu. A Srta. Foster não protestou, retrucou ou tentou se defender, ela sabia que o que havia feito era inadmissível e não precisava ficar remoendo seu próprio remorso. Mas mesmo assim seu choro agudo foi perceptível por todo corredor. Assim que Lady Abbey passou, algumas criadas mais próximas de Jane correram para seu quarto, buscando consola-la.
Mas no fim Jane cumpriu seu ultimato. Deixou a casa em completo silêncio e o melhor, bem antes que as antigas pupilas acordassem. Elas dormiram por mais algumas horas, assim como a mãe, que só se pôs acordar quando nada da Srta. Foster restava na Casa Abbey.
Lady Cecile caminhou até a cozinha, ainda sonolenta e com o cabelo razoavelmente desgrenhado. Ela procurava tomar um copo de leite antes do desjejum quando deu de cara com a nora, sentada na extremidade da mesa, conversando com a cozinheira e bebendo... Cecile não tinha ideia do que ela estava bebendo.
— Querida... — A matriarca se aproximou — O que está fazendo aqui? Ainda é tão cedo.
Millie deu ombros.
— Tive que acordar cedo hoje.
— O que é isso em seu copo?
Millicent estendeu o braço até perto da sogra. Cecile estreitou os olhos.
— É água. E limão.
— Oh, querida. Não beba isso.
— Ajuda com a pele.
— Não, minha amada, não ajuda. — Cecile suspirou — Enfim, eu pensei que você ficaria na cama até tarde hoje. Depois de caminhar tanto por Soho ontem você deveria estar exausta. Pegou tanto sol que eu até me preocupei com você.
Lady Abbey olhou para Cecile com atenção. Ela não se lembrava da última vez que ouvira alguém dizer aquilo para ela. Eu me preocupei com você. Quando alguém havia verdadeiramente se preocupado com ela?
— Pensei que a Srta. Foster poderia levar as meninas lá hoje. Elas precisam encomendar vestidos novos e comprar alguns sapatos, talvez joias. Estou pensando em dar um jantar e elas certamente devem participar, mesmo que não a mesa conosco. Florence talvez, mas não estou certa de que as out...
— Ah! — Millicent interrompeu — Eu ainda não a disse. Mandei a Srta. Foster embora.
Lady Cecile calou-se. Ela estava em reação.
— Como? — Ela piscou repetidas vezes — Eu disse claramente para você que a Srta. Foster, minhas camareiras e o Sr. Branson você não poderia em hipótese alguma mandar embora! — Bravejou.
— Lady Cecile — Millicent assoprou as unhas com uma paciência invejável — A Srta. Foster teve uma conduta inteiramente inadequada. Seria impertinente e inadmissível mantê-la aqui. Isso vai contra meus princípios.
Cecile estreitou os olhos.
— Ela estava beijando o Sr. Rodger — Millicent esclareceu.
A mais velha quase caiu para trás. Só não caiu, pois havia um balcão ali. Sua visão ficou turva e na escuridão ela teve uma visão. Um casamento voando para bem longe da Casa Abbey.
— Katherine sabe disso? Oh Deus!
— Foi ela mesma quem me contou.
— Sinto que vou desmaiar... — Cecile agarrou o braço de Millicent. Millicent olhou para a sogra sem mover um dedo.
— Oh, Cecile, por Deus, não faça isso.
Ela mal conseguia ficar em pé. Suas pernas estavam bambas...
— Isso não é possível... — Cecile levou a mão até a testa.
— Certamente é. — Millicent deu ombros.
— As garotas ficarão tão desoladas...
— Diremos a elas que a Srta. Foster partiu na calada da noite e deixou apenas uma carta se despedindo. — Lady Abbey bebeu mais de sua mistura estranha e problemática. — Com certeza elas vão querer ler a carta, mas diremos que ela não é para crianças, mas ela disse que as ama muito e que sentirá muito a falta delas. Simples.
Lady Cecile teve que concordar. Não havia outra saída. Assim elas cumpriram com o combinado e disseram isso para as meninas, que obviamente, não ficaram nada satisfeitas com a situação.
Beverly a mordeu três dias depois.
Elas estavam brincando no parque.
Era de conhecimento geral que Millicent não teve uma infância muito feliz. Em outras palavras, ela não tinha consciência plena do que significava de fato brincar com crianças. Sendo assim, ela era competitiva e estava disposta a fazer de tudo para ganhar, mesmo que sua principal adversária fosse uma menininha de dez anos.
Odelia e Florence já haviam desistido da corrida há vários minutos, mas nem Lady Abbey nem Lady Beverly pareciam estar dispostas a fazer o mesmo. Millicent que sempre estava bem arrumada, com o cabelo muito bem preso e o vestido bem ajeitado, agora parecia ter cedido à urgência de vencer a Campeã dos Abbey nas Corridas no Hyde Park.
Lady Cecile não estava ali. A mãe havia saído para realizar uma visita de condolências para uma amiga em Mayfair e havia deixado as garotas sobre a tutela de Lady Abbey e da babá delas, porém a babá cancelou de última hora e Millicent ficou responsável por cuidar das cunhadas. Elas já haviam superado parte do luto pela partida de sua governanta. Agora elas não estavam como no primeiro dia, chorando e implorando por sua volta, nesse momento o sentimento de tristeza já havia sido substituído pela raiva, e elas a destilavam para todos os lados.
Como estava impossível ficar em casa com as crianças, Lady Abbey chamou a acompanhante e as levou para um relaxante passeio no parque. Ela só não se lembrava com clareza como a deliciosa missão de alimentar os patos havia se transformado em uma corrida mortal e extremamente competitiva.
— Isso é patético! — Florence lembrou.
As duas irmãs mais velhas estavam sentadas embaixo de uma árvore, alimentando os patos e conversando totalmente entediadas, enquanto as outras duas estavam perto de uma clareira, discutindo pela milésima vez quem havia ganhado a corrida. Por sorte o parque estava quase vazio, assim não havia nenhum curioso para observa-las brigando.
Não havia nenhum juiz, assim, as próprias competidoras tinham que decidir quem havia chegado primeiro na área marcada. Millicent dizia que era ela. Ela era bem mais alta e assim, suas pernas eram maiores e poderiam correr mais rápido. Beverly não concordava. Ela poderia ser menos, mas tinha mais disposição e seu vestido era mais leve, podendo se movimentar com maior velocidade.
— Vamos correr até a beira da lagoa e decidir — Beverly sugeriu, pronta para disparar na frente.
— Não, perto da lagoa eu não vou. Podemos cair lá. Se você cair dentro daquele lago eu definitivamente não vou pular para ajuda-la.
— É raso. Eu já entrei lá dentro inclusive e mal chegou na minha cintura. Só que minha mãe me deixou de castigo depois.
— Não.
— A Srta. Foster correria até o lago comigo.
— A Srta. Foster foi embora.
— Você é má, Lady Abbey! — Beverly choramingou.
— Já!
Millicent correu até o outro ponto. Ela havia disparado antes de Beverly, que permaneceu confusa por um bom tempo, sem perceber que havia sido enganada e a corrida já havia começado. Com a força multiplicada pela raiva que sentia no momento ela correu com sua velocidade máxima e agarrou a cunhada pelo pulso, faltando poucos passos até que chegasse na linha de chegada.
— Vai Beverly! — Florence torceu.
— Vai Mimi! — Odelia torceu, não por que queria que ela ganhasse, mas por que queria que Beverly perdesse.
E também porque queria ser do contra.
— Solte-me! — Millicent chacoalhou o braço que a caçula recusava a soltar.
— Não!
— Solte-me!
— Não!
— SOLTE-ME!
— NÃO!
— É por isso que a sua governanta foi embora. Por que você é muito teimosa!
E então Beverly a mordeu.
Cravou os dentes do braço de Lady Abbey que chegou a gritar pela dor. Quase que com impulso ela puxou o braço e empurrou Beverly, que caiu exatamente em uma região lamacenta, que ainda guardava resíduos da ultima chuva. Mas claro que Beverly era rápida e fez questão de puxar Millicent com ela.
Florence e Odelia correram na direção delas. De repente o tédio que sentiam havia desaparecido.
— Oh, Deus! — Flory riu — Vocês estão arruinadas.
— Que nojo. — Odelia, a que criava insetos, disse.
Lady Abbey respirou fundo. Florence continuava rindo, mas para demonstrar maturidade como a irmã mais velha, estendeu a mão para ajudar a cunhada a levantar. Mas Millicent não gostava que rissem dela, por isso, tratou de trazer Florence para a lama junto com ela.
— A não! Meu vestido magenta! — Ela fez uma careta. — Agora vou ter que comprar outros cinco.
— Você sujou um — Beverly comentou brincando com a terra.
— Mas eu quero mais cinco.
— Uhu! — Odelia atirou-se ao lado delas.
Millicent olhou indignada para Lia, que ao invés de tentar manter-se a única limpa, pulou na lama junto com as outras.
— O que se passa em sua cabeça?!
Odelia deu ombros.
— Eu estava me sentindo excluída. Eu era a única limpa.
Millicent decidiu não comentar. Beverly adorou o ponto de vista da irmã. Até atacou mais lama nela, sujando mais ainda seu vestido, e o rosto e o cabelo de todo mundo também. Lady Abbey revidou. Já que seu cabelo estava fazendo involuntariamente um tratamento com terra, ela decidiu que seria justo que a caçula mordedora fizesse também. Ela atirou lama nela.
E inevitavelmente uma guerra começou.
Uma guerra molhada, suja, mas completamente divertida.
E que arruinou algumas roupas.
🕎🕎🕎
A substituta da Srta. Foster cumpria com todos os requisitos.
Inclusive o de não ser bonita.
A Sra. Markham tinha cabelos alaranjados, dentes tortos, um nariz grande e uma verruga assustadora perto do lábio superior. E quase cem anos.
Não, ela não tinha cem anos ainda, mas como Odelia costumava dizer, quanto mais desagradável a pessoa é, por mais tempo ela vive. A Sra. Markham tinha quarenta anos e disposição de alguém do dobro de sua idade. Ela passava a maior parte do tempo pedindo para que as garotas sentassem, ficassem quietas, e lessem um livro ou resolvessem algum exercício de matemática. Em nenhum momento parecia estar disposta ajuda-las a realizar algum passeio.
As três sentiam muita falta de Jane. Principalmente Florence, que como já era mais velha quando a Srta. Foster começou a trabalhar para os Abbey, envolveu-se ainda mais emocionalmente com ela do que as irmãs. E porque Florence Abbey era assim. Cheia de altos e baixos, ela gostava de viver os sentimentos intensamente, e por muito tempo dedicou todo seu amor para a governanta. Odelia também estava triste, mas em comparação com a irmã caçula, era até suportável. Beverly não sabia ser como as irmãs mais velhas. Beverly definitivamente não conseguia ficar quieta, lamentar em silêncio e guardar as boas memórias que teve com Jane. Ela queria Jane ali e não desistiria com facilidade de seu objetivo. E enquanto ela não voltasse ela estava disposta a chorar quantas lágrimas fossem preciso.
A família toda — e a nova governanta — estava reunida na sala de estar naquela tarde. Lady Cecile e Lady Abbey discutiam sobre a possibilidade ir ou não para o sarau de Lady Flemming no domingo enquanto as mais novas estavam reunidas com o proposito de fazer roupinhas novas para as bonecas. E claro que Lady Beverly era a mais animada com a atividade. A Sra. Markham as vigiava como uma águia, prestando atenção até mesmo no que elas falavam, repreendendo qualquer mínimo deslize.
Florence revirou os olhos.
— Deveríamos estar no parque hoje — ela sussurrou em uma altura que apenas Odelia poderia ouvir.
Lady Odelia suspirou. Terminou de costurar um laço na barra do vestidinho e virou-se discretamente para a irmã.
— Não adianta pedir para que ela nos leve lá. Ela disse que podemos pegar uma insolação. Que desculpa ridícula! — Lia cochichou — Já fomos tantas vezes com a Srta. Foster no parque e estamos vivas até hoje. Ela está com preguiça de andar até lá isso sim.
— Ela quer nos prender em uma torre... — Lady Florence resmungou.
A sala de estar estava em um corredor que dava para o hall de entrada da Casa Abbey em Londres. Colocada estrategicamente de lá era possível ver o movimento da rua, escutar, além de perceber quando alguém estava chegando à casa. Uma carruagem parou do lado de fora, mas a principio as meninas pensaram que foi apenas um acaso. Poucos segundos depois alguém estava na porta.
— Oh, que maravilha! — Odelia exclamou em um tom quase cínico — Eu espero que seja o nosso herói, o Sr. Rodger, vindo levar-nos para um passeio até o Hyde Park.
— Não há motivos para ele vir até aqui hoje, Lia. — Florence por pouco não se furou com a agulha — Katherine nem ao menos está em casa e nós duas sabemos que ele não vem nos visitar porque adora ouvir Beverly falando sobre suas bonecas.
Lady Odelia deu ombros.
— Não importa o motivo que o traz. Importa que no final ele nos tire daqui.
Sr. Branson, o mordomo, bateu na porta duas vezes antes de abri-la. Ele fez uma mesura para as lady's e em seguidaanunciou:
— Milady's. Lord Abbey e Lady Katherine acabaram de chegar de viagem. Eles as esperam no hall de entrada.
Em seguida houve histeria coletiva.
Lady Cecile levantou-se imediatamente e não soube o que fazer. Ela ansiava em correr e abraçar o filho depois de tanto tempo, mas teve que conter as três filhas menores que já avançavam para fora da sala em uma velocidade descomunal. Elas sentiam tanta falta do irmão quanto a mãe e não podiam esperar para vê-lo.
Florence já estava cruzando a porta quando a mãe a segurou pelos ombros.
— Esperem as três! Iremos juntas — Lady Cecile avisou — Por favor, não pulem em cima de seu irmão. Ele está bem, mas não inteiramente recuperado. Seremos muito cuidadosas e carinhosas com ele.
As garotas concordaram com a cabeça. Estavam prontas para partir, a não ser por Lady Abbey, que nem havia levantado de sua poltrona.
Millicent estava em estado de choque. Primeiro por que ela não imaginava que veria o marido tão cedo. A previsão de chegada deles era para o dia seguinte, não para o inicio de tarde. Provavelmente eles haviam desistido de passar uma noite em alguma pousada e seguiram viagem sem aviso prévio. Assim, ela não estava psicologicamente preparada para encontra-lo. Muito menos fisicamente. Ela estava bonita, mas bonita como sempre. Não usava nenhum perfume especial, nenhuma roupa esvoaçante nem um penteado elaborado. Era a mesma Lady Abbey do último mês inteiro. Lady Abbey do vestido escuro, cabelo parcialmente preso e estabilidade emocional quase nula.
— Eu... — Millicent não conseguia se mover — Eu não sei se consigo vê-lo agora. Eu não me preparei. Estou usando a mesma roupa de quanto acordei. Vou me trocar, talvez tomar um banho, depois desço com vocês.
Lady Cecile discordou imediatamente. Soltou os ombros de Florence — que não saiu da sala — e ofereceu a mão para ajudar a nora a levantar.
— Não temos tempo para isso. Meu filho está de volta! — Ela não conseguia conter a emoção — E ele já a viu antes. Com certeza ficaria muito feliz se a esposa o recepcionasse agora.
— Você está linda. — Odelia foi gentil em acrescentar.
Millicent levantou-se. Não porque concordava com as palavras de Odelia. Na verdade ela já havia aceitado a muitos anos que nunca seria considerada a maior beldade de Londres. Ela tentava se manter bonita, mas algo em sua cabeça sempre dizia que ainda não era suficiente. Dizia que ela não era magra suficiente, que seus olhos não verdes o suficiente, que sua pele não brilhante o suficiente e que ela não era suficiente.
Lady Abbey segurou nas mãos de Odelia e Beverly enquanto a mãe disparou na frente. Em poucos segundos elas chegaram ao hall de entrada e deram de frente com o Arthur muito diferente do que haviam imaginado. Primeiro, ele não estava com uma bengala se arrastando pelo chão da propriedade e muito menos gemia de dor com o mínimo contato. Lord Abbey estava abaixado próximo à escada, procurando algo em sua mala, enquanto Lady Katherine estava sentada ao seu lado, tirando os sapatos.
Arthur virou-se no momento em que ouviu o grito abafado de sua mãe. Ele deixou sua mala de lado e esperou que a mãe viesse ao seu encontro com uma rapidez surpreendente. Ela abraçou o filho, beijou sua testa e disse palavras carinhosas ao seu ouvido. Apesar de ser uma mãe rigorosa, Cecile não hesitava em demonstrar todo o amor que sentia por sua prole, principalmente depois de tudo que havia ocorrido. Ela seria eternamente grata por seu filho estar vivo! Naquele momento Lord Abbey era o ser mais importante de sua vida.
— Eu estou bem, mamãe — Arthur sorriu — Um pouco dolorido, mas completamente disposto e nada manco.
— Rezamos tanto por sua melhora, meu amor... — Lady Cecile engoliu seco — Como é bom tê-lo conosco!
Lord Abbey beijou a mão da mãe com muito amor. Ele estava pronto para respondê-la com palavras carinhosas quando sentiu algo o abraçando por trás. Olhou para baixo e viu cerca de quatro mãos ao redor de sua cintura, quase perto de sua ferida, mas ele não sentiu nada. Estava tão inundado pela felicidade de ver suas pequenas tanto tempo depois que dor nenhuma importava. Ele queria abraçar muito as irmãs.
Florence e Beverly estavam abraçando-o. Odelia estava por perto, mas não o agarrava. Ela poderia fazer isso depois, por enquanto ela não disposta a disputar espaço com as irmãs. Elas teriam Arthur por um bom tempo. Eles moravam juntos e provavelmente continuariam morando até quando elas se casassem. Se elas se cassassem. Para ela não havia urgência. Ninguém ali ousaria pensar em perder Arthur novamente.
— Ei, ei! — Lord Abbey riu do desespero das garotas. — Um abraço de cada vez. Há o suficiente de mim para as duas.
Florence afastou Beverly com as mãos e abraçou o irmão. Em seguida Beverly aproximou-se e desobedecendo totalmente o aviso da mãe, pulou em cima do irmão, que correspondeu ao seu gesto e ergueu em seu colo por alguns segundos. Quando ela voltou ao chão Odelia viu oportunidade para se aproximar. Ela depositou um singelo beijo na bochecha do irmão e sorriu.
— Estamos felizes por você não ter morrido — Lady Odelia disse.
Apesar de ser extremamente indiscreta, ela disse a verdade. Sua voz, mais do que nunca, gritava sinceridade. Ela amava o irmão.
Lady Cecile tossiu.
— Estamos felizes por você estar vivo! — Beverly tentou.
— Estamos felizes por você estar melhor — Florence foi a mais sensata — Nós escrevemos muitas cartas para você contando do nosso dia-a-dia quando você estava longe. Queremos que leia conosco.
— Nós fizemos desenhos e compramos presentes também! — Beverly saltitou.
Lord Abbey abaixou-se na altura delas. Elas estavam entusiasmadas para encher o irmão com tudo que haviam preparado. Principalmente para o bolo de boas-vindas que ainda deveria ser feito. Eles passariam bons momentos com glacê.
— Tudo isso para mim? — Arthur sorriu — Eu certamente tenho as melhores irmãs do mundo.
Katherine, que não estava participando da conversa, mas escutava, manifestou-se:
— Eu concordo!
Lord Abbey revirou os olhos. Virou-se para trás procurando a irmão para fazer um comentário sarcástico, mas ela já não estava sentada ali. Ele moveu o olhar, procurando-a pelo cômodo, mas não a encontrou. Foi quando a viu.
Encolhida, próxima a entrada, estava Millicent Abbey. Até o momento Arthur não havia notado sua presença e agora ele constava que isso foi bom. Ele não teria aguentado todos aqueles abraços se suas pernas estivessem tão bambas quanto estavam agora. Ele estava enfeitiçado, hipnotizado e completamente fissurado por aquela mulher. Sua pele pálida, o olhar misterioso e aqueles lábios desenhavam-se com imensa perfeição.
Sem o véu cobrindo seu rosto Lady Abbey era infinitamente mais bonita.
E Arthur não sabia como lidar com isso. Seu coração acelerou, apoiou-se na escada e a fitou em silêncio, esperando que se manifestasse. Com calma Millicent aproximou-se. Ela olhou para o chão, ficou há bons centímetros de distância do marido e abaixou-se em singela mesura.
— Lord Abbey. — Sua voz estava em um tom anormalmente baixo. — Fico feliz que tenha melhorado.
Arthur Abbey concordou. Ela ergueu a cabeça e o fitou. Fitou os olhos oceânicos do marido por alguns segundos, mas não fez nada além. Ela não podia abraça-lo e muito menos beijá-lo. Ela nem ao menos sabia se ele queria que ela fizesse isso.
Mas por Deus!
Como ele queria.
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