C A P Í T U L O I V
— Katherine! — Millicent rosnou — Não! Não! Não!
— Mimi você está exagerando.
— Não. Me. Chame. De. Mimi. — Ela realmente rosnou dessa vez.
Com um estrondo Lady Cecile entrou no cômodo, desesperada. Ela usava uma roupa confortável, geralmente usada para dormir e seus cabelos estavam presos em uma touca, ajudando a concluir que na verdade as duas haviam interrompido o descanso vespertino da matriarca.
— O que está acontecendo aqui?! — A mãe não perguntou. Gritou.
— Nada. — Kate afirmou.
— Foi Katherine! — Millicent acusou.
— Eu? — Lady Katherine levou as mãos ao peito, mostrando estar ofendida.
— Sua filha está tentando me assustar com esse animal. Ela...Ela...
— Não estou não! — Katherine pôs-se a defender — Eu estou cuidando deste cãozinho que Heather deixou comigo enquanto foi ao ateliê, mas logo buscará. Eu simplesmente achei que seria uma boa ideia mostra-lo para Lady Abbey, mas parece que ela não se sente muito a vontade com animais.
Cecile não disse nada. Ela cruzou os braços e esperou que a filha se desculpasse pelo desconforto, porém Lady Katherine fingiu que não tinha entendido o recado. Enquanto isso Millicent voltou a sua pose de dama da alta sociedade londrina. Sentou-se novamente em sua poltrona, endireitou a postura e voltou a bordar algumas flores pelo resto da tarde, como havia planejado antes de ser atacada por aquele monstro terrível.
O cãozinho latiu. Au au.
— Lady Abbey. — O mordomo chamou.
— Sim, Sr. Branson? — Katherine voltou-se para ele.
— Eu sinto muito, mas vieram buscar o cão.
— Pois já era hora! — Millicent resmungou.
Lady Katherine levantou-se e seguiu o mordomo cantarolando. Ela estava triste por ter que deixar o filhotinho, mas sabia que ele estaria em boas mãos com Heather. Ela nunca tinha tido a oportunidade de ter um cão, exceto os do pai no campo, mas tinha dois gatos sem contar com o que Lady Abbey havia trazido de Manchester com ela. Eles tinham uma casa espaçosa, mas criar um cão em Londres para os filhos nunca foi uma opção considerada pelos marqueses.
O Sr. Branson conduziu a jovem até a porta. Sorridente ele abriu e afastou-se um passo, para deixar que Lady Katherine conversasse com a visita. Katherine estava prestes a convidar Heather para entrar, tomar um pouco de chá e espiar as novas compras quando percebeu que quem pairava sobre sua soleira definitivamente não era Lady Heather Crentown.
— Boa tarde. — O rapaz abaixou-se em um comprimento.
Katherine estreitou os olhos, desconfiada, porém repetiu o mesmo comprimento cortês.
— Hum, boa tarde. — Ela acariciou os pelos do cão ainda sem retirar os olhos dele.
— Eu vim buscar o cão de minha irmã. Ela passaria aqui depois da ida as lojas, porém creio que elas andaram tanto no sol que Heather acabou com uma leve insolação. — Explicou. Em seguida, ao dar-se conta da confusão da moça em sua frente, pôs-se a apresentar-se. — Nós já nos conhecemos, mas creio que faça muito tempo. Sou eu, Thomas Crentown. Conhecemo-nos quando milady era mais nova e eu ainda frequentava a propriedade de meus pais em Londres.
Não.
Não podia ser.
Aquele não podia ser Tommy. Aquele não era Thomas Crentown, o conde.
— Perdão, eu... — Katherine não sabia o que dizer. — Hum... — Ela estava um pouco confusa. — Aqui. Aqui está o cãozinho. Eu já estava pensando que ele iria passar a noite aqui em casa.
Lady Katherine tentou sorrir enquanto Lord Crentown realmente estava rindo. Ele estendeu as mãos, pegando o animal em seu colo com genuíno cuidado e estava prestes a fazer uma mesura de agradecimento quando Lady Cecile apareceu. Maravilha. Agora a mãe usava um casaco sobre seu vestido de dormir e o cabelo não estava mais envolto em sua toca. Não estava maravilhosa, mas já bastava estar apresentável para o rapaz.
— Oh, Deus! — Cecile sorriu. — O Conde de Scarbury! Por favor, entre.
— A senhora deve ser a famosa Lady Cecile. Fico feliz em conhecê-la, porém temo que deva ir. Logo ficará tarde. —Agradeço verdadeiramente o convite.
— Ah, não pense nisso. Sua irmã frequenta essa casa há dez anos e há dez anos ouvimos falar maravilhas sobre você. Seria um prazer imenso sermos agraciadas com sua presença.
A mãe olhou para a filha, pedindo uma confirmação, mas a voz de Katherine mal saia de sua boca. Então ela apenas murmurou:
— Certo.
— Bem... — Thomas pareceu tentado. — Sendo assim não posso negar seu convite, milady.
E então ele entrou. Com cuidado subiu o ultimo degrau da soleira da propriedade dos Abbey e adentrou na bela propriedade. Imediatamente Lord Crentwon se impôs ao ambiente, mesmo não parecendo a primeira vista um homem muito seguro de si. Quer dizer, ele era adorável. Adorável até demais. Tinha olhos verdes e brilhantes como os da irmã, cabelo em um tom castanho-avermelhado, lábios graciosos e um sorriso tímido estampado. Nem de longe ele era alguém como o Sr. Rodger, simpático, jovial e que arrebatava as mulheres com uma piscada de olhos — e também um libertino, mas como de costume, isso não era comentado. Lord Crentown parecia ser apenas polido e reservado.
— Minha irmã também já me disse maravilhas sobre sua família, Lady Cecile Abbey. — Ele continuou, concentrando-se na matriarca enquanto Katherine apenas os seguia. — Foi maravilhoso para mim, que passei tanto tempo longe, saber que minha irmã era bem acolhida em Londres.
— O senhor estava na Itália, certo? — Katherine perguntou, tomando frente para guia-lo até a Sala de Recepções.
— Sim. Eu passei a maior parte do tempo depois que sai de Cambridge na Itália, porém no último ano eu fiz uma viagem pelo mundo. França, Noruega, Rússia, as Índias...
Lady Katherine suspirou. Lord Crentown estreitou os olhos, mas sorriu um tanto confuso. Lady Cecile apenas respirou fundo.
— Minha filha mais velha é uma aventureira. Se deixassem, ela teria um mapa desenhado em seu vestido. É culpa dos livros, eu sempre digo.
— Não acho que o mapa seja uma má ideia. — Kate sorriu. — Seria uma nova moda.
— São países maravilhosos. — Dessa vez a concentração de Thomas estava na Abbey mais nova. — Quanto mais ao Oriente, mais exóticos. A Índia era incrível, mas o que me surpreendeu mesmo foi a Rússia.
— Espero que o senhor não tenha ido durante o inverno, Lord Crentown. — Katherine comentou com uma pitada de humor. Em seguida abriu a porta do cômodo. — Para Napoleão não foi uma boa escolha.
Lord Crentown concordou com uma risada contornada. Ele entrou na sala e sentou-se no lugar indicado pela marquesa-viúva que estava entusiasmada em demasia com a visita. Tanto que assim que se acomodaram ela correu a procura de alguma criada para pedir que trouxessem chá, mesmo Thomas tendo insistido que seria apenas uma visita breve e já estava de partida.
— Conte mais sobre sua viagem, Lord Crentown.
— Visitei a Rússia na primavera. Foi interessante ver o momento em que as pessoas deixavam o conforto de suas casas para voltar a vida ao ar livre. Eles adoram sol quando o veem. — Katherine escutava tudo com extrema atenção. Crentown não conseguia falar sem demonstrar altos e baixos, conforme a história fluía. — Mas nada se compara á Paris. Eles estão sempre nos parques, nas ruas, por todos os lados. Isso deixa a cidade ainda mais bela.
— Paris deve ser linda! — Lady Katherine conseguia escutar os murmúrios em francês há centenas de quilômetros.
E talvez o barulho da guilhotina também, mas devia ser só uma leve impressão.
— Sem dúvida. O idioma também, mesmo que eu não o domine como deveria.
Katherine sorriu de maneira travessa. Como Jane havia constatado, Katherine adorava se exibir.
— J’aime parler Français.
Lord Crentown até curvou-se em mesura. Uma criada trouxe o chá e serviu.
— Trés bien, Mademoiselle Abbey.
O cão que caminhava pelo cômodo voltou para perto de Katherine. Ele era pequeno, bem cuidado e muito fofinho. Provavelmente era de alguém por ali, mas Heather havia se precipitado e decidido tomar conta dele, mesmo que o filhotinho parecesse mais interessado em estar junto Lady Katherine.
— Ei! — Kate tentou afasta-lo com cuidado — Agora você vai voltar para Lady Heather. Ela é muito fofa e carinhosa. E provavelmente vai vestir algumas roupinhas em você.
— A senhorita gostou dele? — Lord Crentown pareceu preocupado com o apego emocional de Katherine.
— Oh, não. Não. — Lady Katherine Abbey disse, mas não era bem verdade — Quer dizer, eu o adorei, mas estava tomando conta para Heather. É dela.
— Minha irmã sempre pensa com a razão, não a emoção. Ele provavelmente deve pertencer a alguém. — Ele murmurou.
Katherine não poderia negar. Conhecer alguém tão bem quanto ela conhecia Lady Heather Crentown possibilitava também compreender sua mente. E Thomas, sendo sete anos mais velho do que a irmã, a viu crescer e a viu traçando sua personalidade. Ele sabia como Heather deixava-se levar por coisas fofas, gorduchas e com cheirinho de baunilha.
— Bem, ela me disse que eles estava sozinho na rua, mas não sei. Ela estava bem eufórica na verdade. Creio sua mãe tenha a concedido uma mesada extra para laços.
Thomas concordou com a cabeça. A criada aproximou-se, trazendo mais chá, porém ele impediu que ela o servisse e prolongasse sua estadia ali. Seria de fato uma visita rápida, ele ainda tinha coisas para resolver depois que deixasse o pobrezinho nas mãos da irmã. E Lady Cecile nem havia retornado. Ela estava no andar de cima tentando escolher o melhor vestido para recepcionar o conde.
— Foi uma maravilha passar esses momentos com Lady Katherine. — Ele disse com educação, olhando fixamente em seus olhos a ponto de deixar Katherine rubra. — Mas devo ir. Não posso me estender.
— Claro, Lord Crentown. Ficamos felizes com sua visita.
Ele aproximou-se de Katherine e lhe pediu a mão. Ela estendeu-as em sua direção e deixou que depositasse ali um beijo. Ela lembrou-se de quando Rodger fez a mesma coisa, mesmo que a sensação tivesse sido diferente. E ela não sabia exatamente qual era a diferença.
— Sinta-se convidado para retornar aqui. Minha mãe, principalmente, está ansiosa para conhecê-lo melhor. Ela adora sua irmã.
Thomas concordou. Ele estava um pouco... Nervoso? Engolia seco, suas mãos tremiam e sempre que olhava para Katherine a fitava de uma maneira curiosa. Não ofensiva, já que ele era um rapaz sem dúvida muito respeitoso, mas sim diferente. Ele estava intrigado.
— Sr. Branson! — Katherine chamou. — Acompanhe Vossa Senhoria, por favor?
Lord Crentown curvou-se em mesura.
— Até breve, Lady Katherine Abbey. Diga a sua mãe que tudo estava maravilhoso. Obrigado.
— Até breve, Lord Crentown. — Sorriu fraco.
E ele saiu, pegando o cãozinho em seu colo.
Humpf.
Agora Katherine poderia escolher um chapéu para usar no próximo passeio com Rodger no Hyde Park em paz.
🕎🕎🕎
Participar ativamente da temporada de Londres não era para todos.
Não que elas, as pobres moças ricas londrinas fossem as pessoas que mais sofressem na terra, mas como a maioria estava completamente alheia aos verdadeiros problemas da sociedade, assim, ter uma semana cheia de bailes já era uma ótima deixa para reclamar.
Katherine por outro lado estava amando essa temporada muito mais do que a anterior. Talvez por Heather estar muito mais ativa ou por ser sempre uma boa oportunidade de conversar em público com o Sr. Rodger. A essa altura, depois de terem sido vistos juntos caminhando pelo Hyde Park, o cortejo de Lady Katherine já era um assunto comentado por todos no salão. E ela, pela primeira vez na vida, adorou ser o centro das atenções.
Dessa vez não falavam dela por sua fatídica e terrível apresentação de clarinete aos treze anos, nem por suas danças mal sucedidas nas últimas duas temporadas e nem por seu quadro exposto no sarau da família há dois anos. Nessas situações todos perceberam que a maior qualidade de Katherine era seu carisma, mas que nem sempre era muito notado, afinal, parecia que naqueles últimos anos todas as garotas mais lindas e talentosas de Londres decidiram buscar um marido.
— Você tem uma melhor amiga, Lady Abbey? — Heather perguntou sem tirar os olhos dos petiscos de atum da lady.
— Hum, não. — Millicent deu ombros e empurrou o prato para perto de Lady Heather. — São seus.
Heather não precisou ouvir duas vezes. Aproveitou que sua mãe estava longe para comer o máximo que conseguia — enquanto claro, falava.
— Como não? — Ela expressou curiosidade.
— Eu nunca tive amigas. Quer dizer, tinha as filhas do Sr. Edgar Manson, mas eu nunca gostei delas e elas só iam à minha casa para destruir meus brinquedos.
— Eu também não era muito sociável. — Heather colocou dois petiscos na boca de uma vez — Katherine é minha única amiga de verdade. Eu não sei por que não sou muito popular. Minha mãe diz que sou amável.
— Estão voando um pouco de farelos de sua boca direto para meus olhos. — Millicent disse. — Realmente, uma moça amável.
Heather sorriu.
— Você quer? — Ela ofereceu a comida.
— Não obrigada.
— Estão ótimos. Você deveria comer.
Lady Abbey sorriu amarelo. Ela não gostava do cheiro de peixe.
Ás vezes nem de comer.
Katherine gostava, mas estava evitando desde que ouviu uma mulher comentar perto das mesas que o cheiro atrapalhava o marido quando ele ia beija-la. Ela não queria criar um impedimento entre o Sr. Rodger e ela, então decidiu apenas focar nos pedaços de bolo, cuidadosamente decorados com chantilly e frutas. Ela havia pegado um de morango que parecia estar saboroso.
— Oh, meu Deus Katherine! Você está simplesmente magnifica neste vestido.
Era Danisha Collins. Ela radiava entusiasmo e também estava muito bonita. Seus cabelos eram loiros de um tom muito claro, os olhos acinzentados e o nariz arrebitado. O baile dessa noite era na casa de sua família, organizado em homenagem à mãe, uma mulher norueguesa que havia se casado com um homem de Londres e desde então moravam ali. Ela se parecia muito com a mãe em seus traços nórdicos, porém não trouxe consigo a frieza do norte, pelo contrário, para muitos Danisha era uma das pessoas mais calorosas e amáveis da temporada.
— E você, Heather... — Danisha vacilou — Você, hum, fica bem nesse tom de laranja.
Heather definitivamente não ficava bem em laranja. E ela percebeu isso. Não era a intenção da Srta. Collins ferir os sentimentos de Heather, Danisha sempre tentava ser gentil com suas palavras, mas Lady Heather sabia que não tinha um bom senso para cores, por isso apenas assentiu com um sorriso.
— Obrigada, Danisha. Você está deslumbrante como sempre. — Katherine sorriu. Virou-se para direção de Millicent, que tomava limonada enquanto observava tudo. — Essa é Lady Abbey. Vocês ainda não foram apresentadas. Lady, essa é a Srta. Collins, antiga amiga da família.
A expressão de Danisha mudou. Ela abriu a boca, surpresa, e seu sorriso transformou-se em um cortes.
— Oh, prazer Lady Abbey. Fico surpresa em vê-la. Não havia a imaginado assim.
Millicent estreitou os olhos.
— Você costumava me imaginar, Srta. Collins?
Danisha fez uma careta, mas no fim riu, exalando simpatia. Ela entoava um som engraçado quando ria. Porém gracioso, assim como ela.
— Ouvimos muito sobre você antes de sua chegada em Londres. Estávamos na expectativa. Logo terá ideia de como sua nova família é amada por aqui.
— Você é tão gentil, Danisha. — Lady Katherine agradeceu — Mas é verdade. Foram meses de preparativos.
— Em Manchester também, não tenham dúvidas. — Millicent acrescentou — Não pensem que é fácil montar um enxoval.
— Pensei que sua mãe tinha montado, Millicent — Kate estava surpresa.
— Sim. Depois eu olhei, achei a maioria das coisas terríveis e tive que refazer todas as compras.
A Srta. Collins resistiu a vontade de rir. Ela mordeu os lábios e em seguida acrescentou novas palavras ao tópico.
— Meu enxoval começou a ser montado quando eu nasci. Sendo assim há várias coisas lá que eu amava com dez anos, mas hoje nem tanto. — Ela chegou a fazer uma careta ao se lembrar das peças — Espero que quando eu for me casar meu marido tenha paciência já que com certeza eu vou desejar refazê-lo.
Danisha estava solteira porque queria. Ela já havia recebidos mais pedidos de casamento do que poderia contar em uma mão. Alguns, extremamente importantes, como por exemplo, de um visconde e de um filho de um duque, porém eles foram negados. Sendo considerada a melhor partido dessa temporada — e da anterior também — era fácil para uma mulher radiante como ela conseguir qualquer homem. Só restava que algum deles conquistasse verdadeiramente seu coração também.
— Eu nem tenho ideia do que deve ter em um enxoval. Biscoitos entram nisso também? — Lady Heather murmurou.
Millicent quis revirar os olhos. Danisha olhou para ela, abafando um riso, mas em seguida seu olhar parou em alguém e apressadamente ela pôs-se a despedir.
— Oh, minha irmã está conversando com o duque ali. Eu nem havia os visto. Devo ir, miladies. — Ela alisou a saia de seu vestido — E foi um prazer conhece-la Lady Abbey. Desejo-te tudo de bom para seu casamento. Sem dúvida está com uma das famílias incrível. Até logo!
— Até! — Heather finalmente comeu o último petisco — Onde tem mais, Lady Abbey?
— Perto daquela mulher com o chapéu horroroso.
Katherine bufou.
— Que cruel, milady. Ela é uma senhora.
— Oh. — Millicent cerrou os olhos — Eu não vi. Mas de qualquer forma o chapéu ainda é horroso, ops, o Sr. Rodgers.
— Sr. Rodger? — Katherine corrigiu. — E o que tem ele?
Heather encontrou biscoitos.
— Atrás de vo... — Millie tossiu — Atrás de você tem água. Oh, olá Sr. Rodger. Nós nem o vimos chegar.
— Boa tarde, miladies. — Neval sorriu — Estava ansioso para revê-las. Quando será nosso próximo passeio?
— No sol da tarde? Nunca. — Millicent murmurou — Quer dizer, você está convidado para tomar um chá da tarde em minha casa quando preferir.
Katherine bebeu sua limonada um pouco incomodada como aquilo soava. Minha casa. Era estranho ouvir alguém que não fosse ela, os irmãos ou os pais se referindo a propriedade deles como minha casa. Obviamente ela entendia a posição que ela estava, mas era difícil para Katherine aceitar que sua casa agora era comandada por uma mulher três anos mais velha do que ela e com um caráter duvidoso. Por mais que já estivesse colocando Lady Abbey em boas graças... Algo não parecia certo. Não parecia certo a casa ser dela. Deveria ser deles. Nossa.
Arthur deveria estar lá.
— Seria ótimo. — Kate disse — Um chá da tarde.
— Claro. Beverly prometeu me mostrar um desenho que ela fez. — Rodger comentou.
— Oh, — Katherine suspirou — pensei que seria sem minhas irmãs. Acho que devemos ser poupados de gritos.
— Hum, sim... — Millicent gesticulou — Katherine poderia tocar um pouco de piano também.
Ótimo, a Srta. Abbey pensou, agora qual desculpa terei?
— Não sou boa com piano.
— Pensei que tivesse feito aulas — Millicent deu ombros.
— Sim, eu fiz. Só que não sou boa com piano.
— Nem com dança. — Heather sentiu a necessidade de acrescentar.
— Infelizmente. — Katherine mordeu os lábios. — Mas acho que ‘’saber tocar’’ varia muito. O que pode ser bom aos meus ouvidos pode ser horrível ao de outra pessoa. Para Heather posso estar desafinada e fora de ritmo, mas para mim, posso estar soando ótima.
— Hum, eu não acho que seja tão relativo assim. — Millicent fez uma expressão torta.
— Talvez o ruim possa na verdade ser o bom, mas as pessoas escolheram errado.
— Oh. Não concordo, mas não me importo o suficiente para elaborar um motivo. — Lady Abbey deu ombros —Lady Heather, pode me mostrar onde encontrou esses biscoitos?
Heather deu pulinhos de felicidade. Ela poderia pegar mais!
— Sim, sim! Venha comigo.
Assim, Katherine e Neval ficaram sozinhos novamente. A última vez que isso havia acontecido foi em circunstâncias um pouco distintas. Quando ela havia o beijado. E ele havia retribuído. Desde então sempre estavam sendo vigiados por alguém, naquele momento, também provavelmente, porém ao menos ninguém podia escutar a conversa dos dois.
Lady Katherine ficou vermelha. Ruborizou-se primeiro pelo silêncio e segundo pelo olhar do Sr. Rodger, fixado em seu rosto, consumindo sua alma. Eles estavam bem próximos, até mais do que o indicado, porém seus pés estavam fixos no chão e ela não poderia de forma alguma afastar-se de Neval Rodger. Ela o amava! Era o oficial! No dia seguinte poderia ser publicado em todos periódicos de Londres. Era impossível alguém provar que aquilo não era real.
— Amanhã vou te levar flores. — Neval falou. Até baixo demais. Oh Deus!
A mente de Kate estava: wdnjanfjksnjknfks.
— Leve, por favor. Eu nem as vi, mas já sei que são lindas.
— Sua mãe não vai se importar?
— Ela vai amar tanto quanto eu.
— Certo. — Ele suspirou — Amanhã a tarde.
— Perfeito. Minhas irmãs não estarão em casa, então acho que não seremos atrapalhados.
Katherine deixou suas palavras no ar. Bebeu mais um pouco de limonada, na intenção de ocultar seu sorriso travesso.
— Amanhã?
— Sim, todas quintas elas saem durante a tarde.
Neval estreitou os olhos.
— Amanhã é quinta? Deus! Estou com a cabeça na lua.
Kate riu.
— Sim, quinta.
— Sexta então. — Ele olhou para os lados, provavelmente procurando bisbilhoteiros — Amanhã vou a Soho, mas sexta estarei lá sem falta. E com suas flores brancas. Agora tenho que ir. Lady Flemming está começando a ficar intrigada com nossa conversa. Com licença.
Katherine despediu-se. Infelizmente eles não teriam oportunidade de ficar sozinhos e ela provavelmente não poderia repetir os beijos. Era uma pena, já que ela desejava. Depois de enfeitiçada uma vez por aqueles lábios, era impossível resistir à vontade de tocá-los novamente.
Ela esperava que tudo ocorresse bem e com rapidez. Do jeito que as coisas caminhavam, depois do encontro no próximo dia Neval já deveria pedir ela em noivado, antes que os rumores começassem. Assim poderiam logo marcar a data para o casamento, ela prepararia seu enxoval, e com sorte, até o agosto já estariam casados.
Ela não perdia por esperar.
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