Capítulo 2
Uma moça se encontra diante do espelho, penteando seus cabelos negros, nos quais batiam na altura dos seus ombros e caíam como uma cortina pesada, que contornava seu rosto.
Movimentos automáticos e um tanto que retóricos se seguiam um após o outro.
Deixou a escova de lado para encarar mais uma vez seu reflexo. Seus olhos vagando por seu corpo, travado ali naquela cadeira e então voltando para observar o próprio olhar refletido naquele espelho.
Então ela empurrou as rodas da cadeira com os braços para se aproximar da janela de seu quarto, olhando o mar que ao longe banhava a areia da praia com ondas agitadas e cheias de espuma.
A chuva veranil sendo arrastada pelo vento fazia o céu acinzentado chorar daquele dia, gritar por meio dos trovões a sua ira e revolta. Os lampejos dos raios completavam a cena, como se alguém dentro das nuvens estivesse jogando e quebrando cada objeto que encontrava pela frente.
Sua mente não poupava usar as asas sua imaginação lhe davam. Podia imaginar vários motivos para que este senhor feito de nuvens estivesse irado.
Se perdeu por muitos minutos assim, apenas imaginando. Se distraiu tanto que nem reparou em sua mãe que a observava da porta do quarto.
Colocou a mão na roda da cadeira e a movimentou, procurando se direcionar ao interior do cômodo novamente, se deparando o com a mulher que a encarava.
Sorriu sem sentir vontade de sorrir, seus olhos ainda estavam vermelhos pela chuva que ocorreu em seu interior quando acordou naquela manhã.
– Vim aqui te acordar e arrumar, mas pelo visto já fez isso sozinha. – a mulher sorriu, um sorriso esperançoso e claramente orgulhoso.
A moça concordou e alargou seu próprio sorriso.
Uma sensação de alívio também a consumia, não por ter realizando tal feito, mas por sua pele não deixar a mostra nenhuma escoriação da queda que levou enquanto tentava se levantar.
Se sentiu orgulhosa da pele avermelhada, em um tom que muito lembrava argila, que herdou de sua mãe. A mesma, somada com os olhos escuros como pérolas negras e os cabelos, não deixavam sombra de dúvida que tinha puxado muitas das características indígenas dos seus antepassados por parte de mãe.
A mulher se moveu e parou por detrás das costas da garota, segurando sua cadeira e a empurrando com sutileza.
A moça suspirou fundo. Desde o dia em que a cadeira virou sua companheira, a insatisfação possuía sua alma todas as vezes que alguém se oferecia para empurra-la.
Sabia que só estavam tentando ajudar. Sabia que ela precisava de ajuda. Mas isso não a fazia se sentir melhor, pelo contrário. Se sentia inválida assim.
Lembranças do dia em que metade de seu corpo, junto com a sinceridade do seu sorriso adormeceu, voltam rápidos como os relâmpagos que cortam o céu do lado de fora.
Estava cansada de reviver aquele momento todos os dias, já fazia um ano que isto era parte de sua rotina.
Sua cadeira foi guiada para a sala de jantar, posicionada no lugar vago da mesa, separado especificamente para que fosse colocada ali.
A mulher saiu e se sentou em seu próprio lugar.
Uma empregada começou a servir o café, preenchendo a xícara, antes vazia, com o líquido escuro.
O bolo foi cortado e servido, assim como os demais alimentos à mesa, o silêncio sendo quebrado apenas pelo som dos talheres.
A moça olhou para a jarra de suco. Desejou pedir para que alguém a servisse, mas não o fez. Apenas continuou sua refeição com os alimentos que lhe foram entregues, pensando em como era mais agradáveis poder pegar o que bem entendesse sozinha.
– Evelyn ligou querendo saber se vai à festa dela. – a voz de sua mãe a fez levantar os olhos de sua própria comida.
– Não sei, queria descansar um pouco este fim de semana. – Depois de um pequeno silêncio, Yandara conta. A colher empurrando os pedaços de fruta da salada pela pequena tigela de porcelana.
– Descansar mais? Está brincando, para descansar mais do que já faz, somente morta.
O talher da moça tilintou, se desprendendo de suas mãos e deslizando por seus dedos, chocando-se contra o recipiente.
Ambas ficaram em silêncio novamente.
– Não vou. – foi o que ela disse. A voz baixa, mas ao mesmo tempo decidida.
– Faz o quê? Uma semana, duas que não sai desta casa? Por favor, vá a festa da sua prima.
Ela continuou com o rosto abaixando, levantando apenas os olhos para encara-la.
– Ah, claro. Talvez eu dance um pouco lá. – debochou. Ambas já estavam visivelmente irritadas naquele momento.
– Não continuarei discutindo com você sobre isso. – Disse a mãe, voltando a degustar de seu café da manhã. – Porém apenas penso que deveria ir. Seus amigos estão preocupados com você.
Yandara suspirou, finalmente deixando os alimentos de aroma cítrico de lado. Amigos?
– Me deixe pensar, está bem?
A outra sorriu, sentindo que já estavam dando algum passo e continuo sua refeição. Quando estava quase acabando, a menina rapidamente tratou de pedir licença e afastar sua cadeira, conduzindo-a de volta para o quarto.
Sorriu internamente de alívio quando sua mãe não ofereceu-se para ajudar na tarefa, mas apenas continuou comendo e digitando algo em seu celular.
Talvez devesse ir para a festa.
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