Capítulo 19 - Elite
A Seleção estava ainda mais acirrada. Benjamin era muito seletivo e em um mês já estava com sua Elite formada.
Mesmo não querendo parecer convencida, Audrey sabia que estaria entre elas. Seu relacionamento com Benjamin estava cada vez mais forte, mas não era certo se gabar, pois ele saía com as outras também.
Sua mãe voltara a falar com ela por cartas e telefonemas, e Amberly sempre a mantinha informada de tudo a cada envelope que era entregue em seu quarto. Sua irmã continuava trabalhando como modelo e dispensando caras bonitos como sempre gostava de fazer.
Audrey dividia seus dias entre as aulas de Anne, passar um tempo com as garotas e com Benjamin.
Além das aulas, as Selecionadas já haviam feito diversos trabalhos. Organizaram algumas festas. Com Hellen como sua dupla, fizeram uma gloriosa recepção para a rainha da Itália e suas filhas, que tinham vindo à Illéa depois de tanto tempo após desfazer a aliança entre os países. As garotas estavam extremamente nervosas, mas deu tudo certo. Tão certo que as Italianas marcaram novas reuniões com os representantes de Illéa.
Audrey e Benjamin estavam fazendo um piquenique no jardim, um hábito que haviam cultivado nas últimas semanas, e que era sempre mais prazeroso sem a vigilância das câmeras dos jornalistas, sedentos por notícias sobre o avanço da Seleção. Com a ajuda do pessoal da cozinha eles tinham conseguido comidas simples e deliciosas. Escolheram o lugar mais escondido do vasto jardim.
Audrey evitava perguntar sobre as outras garotas. Confiava em seus sentimentos e não queria se aborrecer à toa. Ela sabia que Benjamin saía e beijava outras, mas o que ela poderia fazer? A Seleção era dele. Ele quem deveria escolher e para isso precisava conhecer todas e, para sua tristeza, isso envolvia beijos e encontros que sempre partiam seu coração. A dor era inevitável, mas ela procurava não ficar ciúmes. Ele não havia a escolhido oficialmente, então não havia traição. Era algo que ela precisava suportar se quisesse continuar na Seleção.
— Você parece cansado — Audrey comentou, bebendo um pouco do suco.
Benjamin deu de ombros.
— Tive muitas reuniões hoje de manhã.
— Não gosta muito delas?
Ele torceu o nariz.
— Não gosto muito dessa parte, mas é inevitável. Vou ser obrigado a aguentar reuniões de orçamento e planos militares para o resto da minha vida. Fui treinado para isso.
— Vai dar tudo certo. Seu pai faz isso parecer tão fácil.
Benjamin riu consigo mesmo.
— Parece, mas não é. Ele está muito cansado. Sei que não está com pressa para me passar a coroa, mas... — a frase morreu em seus lábios.
— Mas...
— Mas nada — ele disse, colocando um pequeno morango na boca dela, fazendo-a rir. Claramente interrompendo o assunto.
— Não se preocupe. Tenho certeza que você será um rei tão maravilhoso quanto seu pai.
Não era segredo que ela desconhecia muito da família Schreave, mas aquelas semanas no castelo a fizeram enxergar os bons e os maus governantes que existiam naquele palácio, chegando a conclusão o quão bom Rei Maxon era para a população, na medida do possível, afinal, nenhum governo é perfeito.
— E você pretende estar aqui para ver? — Benjamin perguntou, se aproximando de Audrey com um sorriso travesso, bagunçando a toalha estendida no chão.
— Com certeza — ela falou cheia de expectativa, puxando-o para um beijo com gosto de morango. — Benjamin — Audrey disse quando ele se afastou. — Quem eram as garotas da Elite na Seleção do seu pai? Você as conhece?
— Por que está me perguntando isso? — ele quis saber.
Audrey deu ombros.
— Curiosidade.
— Bom, meu pai não gosta de falar muito sobre isso, mas me lembro que uma vez perguntei algo semelhante, e ele me disse alguns nomes. Além da minha mãe teve a Madame Marlee — Benjamin disse. — Elise Whisks também foi da Elite e depois de ser eliminada se tornou nossa embaixadora na Nova Ásia, eu já a vi algumas vezes. — Ela ajudou muito o meu pai e teve um grande papel no fim da guerra entre os dois países — ele prosseguiu. — A outra foi uma... — ele segurou a risada. — Segundo meu pai ela era terrível! Vivia sabotando as outras garotas e tentava seduzi-lo de todas as maneiras possíveis, ele acha graça disso hoje em dia. — De imediato Thiffany veio à cabeça de Audrey. — O nome dela é Celeste.
— Celeste? — Audrey perguntou, franzindo as sobrancelhas.
— Sim — ele confirmou. — Você a conhece?
— Minha mãe tem uma amiga com esse nome — ela respondeu. — Mas é um nome comum, e além disso a Celeste que eu conheço jamais faria essas coisas — argumentei.
Tia Celeste, como Amberly e Audrey a chamavam, nunca seria capaz de coisas assim. Sabotagens e seduções passavam bem longe da personalidade dela.
— A outra se chamava Natalia ou Natalie, algo assim, ela não foi exatamente eliminada.
— Como assim?
— Ela desistiu da competição, depois que os rebeldes assassinaram a irmã dela. — Ao ver a expressão assustada de Audrey, Benjamin acrescentou: — Tudo bem, não precisa se preocupar. Amberly e sua mãe estão seguras — ele a tranquilizou.
— E a outra? — ela perguntou, tentando afastar os maus pensamentos.
Benjamin suspirou, buscando as lembranças da conversa com o pai no fundo da mente.
— A última eu não lembro direito do nome, ele não fala muito sobre ela, não deve ter sido importante — ele disse.
— Ou pelo contrário, pode ter sido muito importante.
— Não gosto de pensar nisso, é estranho imaginar meu pai se casando com outra pessoa que não a minha mãe. — Audrey concordou com a cabeça. — E sua mãe? Ela tinha idade para entrar na Seleção?
— Ela tinha, mas não quis.
— Por que não?
— Ela queria se casar com meu pai, mesmo ele sendo de uma Casta mais baixa. Deve ter sido um escândalo! — Audrey respondeu, rindo. — Mas eles eram apaixonados desde a adolescência, pelo que eu sei, e decidiram se casar por amor.
— Mas você é Dois — Não foi uma pergunta.
Ela assentiu.
— Meu pai foi para o recrutamento e se tornou soldado. Ele morreu em combate, era seu último. Minha mãe ficou desolada quando recebeu a notícia e o choque foi tão grande que ela acabou dando à luz no mesmo dia — Engoliu em seco. — Foi difícil para minha mãe criar duas meninas sozinha, não por questões financeiras, mas... — Fechou os olhos com força obrigando as lágrimas a recuarem, nunca tinha falado sobre esse assunto com alguém, mas Benjamin, se alguma forma, a fazia se sentir confortável para abrir seu coração. — Digamos que eu fui a mais "revoltada". — Ela desenhou aspas no ar com os dedos. — No começo eu culpava minha mãe pela morte do meu pai, eu sei que é ridículo e, acredite, não me orgulho disso, mas eu a culpava por não ter pago para tirá-lo do exército. A maioria das famílias da Dois e da Três fazem isso. Foi bem complicado, mas depois eu comecei a entender, pedi perdão a ela. Eu sabia que ela não tinha culpa de nada, e sofria tanto quanto eu pela perda. Meu pai era o amor da vida dela.
"Minha mãe era Cinco e ele era Seis, hoje em dia eu percebo que a riqueza dela não faz diferença, a Casta não mudou quem ela é. Ela me contava como era difícil quando um filho de alguma vizinha ia para a guerra e não voltava mais, e revelou como eles tinham raiva dos Dois e Três por poderem burlar o recrutamento a troco de dinheiro. Meu pai não quis sair, quis ser justo, o problema é que a vida não foi justa com ele."
Benjamin se inclinou sobre Audrey e afastou as lágrimas cálidas que caíam de seus olhos, com o mais suave dos toques.
— Agora estou começando a entender de onde você surgiu — ele murmurou, acariciando seu rosto. — Sua mãe fez um ótimo trabalho, não vejo a hora de conhecê-la. — Esse pequeno comentário fez Audrey erguer os olhos, ansiosa. — E não se culpe pela rebeldia, eu também tive uma infância difícil — Benjamin admitiu.
— Você brigava com o seu pai? — ela perguntou, incapaz de imaginar os dois discutindo.
— Não exatamente. Às vezes eu ficava com raiva por ser cercado de babás e tutoras ao invés de uma mãe, mas Madame Marlee sempre esteva lá para me amparar. Mas nunca tive coragem de erguer a voz para o meu pai. — Ele olhou para os pés. — A tristeza dele era sempre maior do que a minha.
Esse era mais um ponto que eles tinham em comum. Sempre que Audrey ficava irritada com sua mãe, pensava na dor dela. A dor de ter perdido o grande amor de sua vida, e em troca ter ganhado duas filhas e uma Casta mais alta, dádivas que não poderia dividir com o marido.
Agora Audrey a entendia mais do que nunca. Seu coração se apertava quando às vezes á noite, seu peito doía quando ela imaginava como ficaria se algo de ruim acontecesse com Benjamin, ou se eles se separassem, mesmo que seus sentimentos não fossem tão sólidos assim. Ou será que eram?
Á noite, antes do Jornal Oficial, pediram para que as meninas da Elite fossem ao Grande Salão, e não para o estúdio.
Audrey não entendeu bem o porquê até chegar lá. Haviam mesas espalhadas e algumas garotas conversavam distraídas. No canto do Salão o Rei conversava em particular com Luna, Benjamin estava junto deles.
Ela caminhou até a mesa onde Gabriela, Hellen e Maya estavam e logo fui perguntando.
— O que está acontecendo?
— O rei está conversando com cada uma das meninas. — Gabriela disse, sem encará-la.
— Para quê? — indagou.
— Para conhecer cada uma melhor, é claro. Uma das garotas aqui será sua nora em algumas semanas — Maya respondeu com uma certa expectativa na voz, que se refletia no olhar das outras garotas.
Mais algumas garotas foram falar com o Rei, até que Benjamin foi buscá-la, segurando sua mão durante o caminho. Ela gostou disso.
Audrey ficou bem menos nervosa do que pensava, o Rei perguntou algumas trivialidades até chegar em sua família e suas ocupações. Conversar com as garotas seria bem mais interessante do que ler suas fichas.
— Qual a ocupação de sua família? — ele perguntou despreocupadamente.
— Bom, minha mãe e eu trabalhamos com música, e minha irmã é modelo.
— As pessoas da sua família são todas da mesma casta? — ele quis saber, agora com a expressão um pouco mais séria.
— Não, não — ela negou com um sorriso. Era uma confusão! — Minha mãe America, minha irmã Amberly e eu somos Dois, minha avó Magda e minha tia May são Cinco, minha tia Kenna e sua família são Quatro, meu tio Gerad é Três e meu tio Kota também é Dois, mas não por casamento, ele comprou o título — disparou.
Quando deu por si, percebeu que estava falando demais, e o Rei franziu o cenho. Parecia até um pouco pálido.
No jantar, Josie fez todos largarem os garfos para dar um grande anúncio: sua festa de aniversário aconteceria na semana seguinte, mas que o presente não seria apenas para ela.
— Meu pai e eu concordamos que está na hora de conhecer suas famílias, e Josie concordou em disponibilizar sua festa de aniversário para isso — Benjamin acrescentou, sorrindo para suas Selecionadas — Na semana que vem traremos suas famílias Elite para participarem da festa do palácio.
Audrey ficou absorta da euforia que tomou conta da Sala de Jantar, estava presa em seu próprio mundo de ansiedade e alegria. Finalmente veria sua mãe e sua irmã depois de tanto tempo!
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