- Cumulonimbus -
Não chore, não chore, no claro céu azul,
As nuvens derivam, não importa quão longe
Dizem que existem algumas pessoas que são como as nuvens.
Que quando elas vão embora, o dia se torna lindo.
Eu sempre achei que era uma dessas nuvens.
Eu nunca gostara da escola. Me entediava. Era cansativo e opressivo ficar horas e horas sentado naquela carteira dura ouvindo os professores falarem infinitamente. 90% das coisas que eles falavam não me interessavam nem um pouco. Enquanto eu estava lá, tudo que queria era voltar para casa e treinar baixo. Desde que descobrira o instrumento, minha cabeça só ficava naquilo e eu queria ter uma banda. Queria ter uma banda. A escola era terrível. A escola me torturava com ensinamentos intermináveis, trigonometrias, vocabulários e línguas estrangeiras. O pior de tudo, no entanto, eram as moralizações e convenções.
"Você pode fazer isso" "você não pode fazer isso" "isso é certo" "isso é errado". Claro, havia a lógica do bom senso. No entanto, quem havia decidido aquelas coisas? Quem havia decidido que os melhores alunos eram aqueles que melhores submetiam ao sistema e aos professores? Por que havia tantas regras e tantos livros didáticos? Por que havia tanta pressão?
Não que eu odiasse aprender. Aprender era algo totalmente diferente. Aprender a tocar baixo, por exemplo, era incrível. E até mesmo algumas coisas que eu aprendia na escola eu gostava. Como as aulas da Srta. Mittens.
A Srta. Mittens era uma ruiva repleta de sardas. Acho que ela tinha mais sardas que todas as pessoas juntas do mundo. Seu cabelo estava sempre desgrenhado e ela usava óculos grandes e com lentes enormes, deixando seus olhos verdes gigantes iguais aos de um inseto. Talvez fosse por isso que eu, com meus onze anos, sempre gostara dela. Ela ensinava Geografia, o que parecia um pouco mais útil do que Álgebra ou Física. E numa aula de Geografia, ela nos ensinou sobre nuvens.
Há vários tipos de nuvens. Eu me lembro da maioria, apesar de ter sido há muito tempo; mas eu com certeza nunca me esqueceria da cumulonimbus. Elas são aquelas nuvens enormes que parecem montanhas de longe, mas quando se está bem embaixo delas, só parecem um lençol escuro infinito. É sempre aquela que causa tempestades fortes, com raios e trovões. Quando a Srta. Mittens explicou sobre a cumulonimbus, algo se acendeu dentro de mim.
Era eu.
Aquela nuvem que causava tempestades, distúrbios, trovões por onde quer que passasse. Aquela nuvem enorme, que só observada de longe podia fazer algum sentido porque de perto era uma confusão total. Ninguém queria se aproximar das cumulonimbus. Ninguém queria ficar perto dela quando a tempestade começava. Todos fugiam e se abrigavam quando ela se aproximava. Não era uma tarde bonita no parque. Nunca era um dia agradável e cheio de sorrisos.
Era apena cinza, trovões, e gotas frias e duras atingindo qualquer coisa que estivesse em seus caminhos.
Por essa minha perfeita identificação com a cumulonimbus, eu muitas vezes me via classificando as outras pessoas ao meu redor como nuvens. Às vezes como insetos, porque eu gostava dos insetos também. Talvez por isso eu tivesse gostado tanto da Srta. Mittens. Mas no geral, eu associava as pessoas com nuvens. Mitch poderia ser uma cumulonimbus também, mas para mim ele era mais uma congestus, cuja forma vertical indicava profunda instabilidade. Já o Howl, para mim, parecia uma altostratus. São aquelas parecidas com um lençol cinzento, às vezes até azulado, uma nuvem que mal parece uma nuvem em um dia claro e aberto. E elas sempre, sempre, têm uma parte fina em que nos revelam um pouquinho do sol.
Mas existe ela.
E eu não tenho ideia de como classifica-la.
A primeira vez que vi Mavis Blue eu achei que ela fosse uma cirrostratus. Essas nuvens dão ao céu um aspecto sonolento, leitoso. São como um véu transparente que encobrem o azul, mas não o escondem por completo. Ela tinha grandes olhos azuis, cobertos por lentes grossíssimas, como a Srta. Mittens. Vai ver que é por isso que eu a notei, pra começo de conversa. Ela era meio desengonçada, com um pescoço comprido, que parecia ainda maior porque seus cabelos batiam na nuca, mesmo com um pedaço deles preso desajeitadamente num tufo que mal poderia ser chamado de rabo de cavalo. Eles tinham uma cor meio acinzentada, só que eram loiros. Eu não sabia bem que diabos de cor era aquela. Mas ela estava envolta em um poncho marrom, com meia calça cinza e um crocs horroroso branco. Seu nariz estava avermelhado, porque era primavera e os pólens das árvores incomodavam seu nariz, pelo que eu ouvi ela dizer ao homem da livraria, depois de ter que ouvir "saúde" três vezes porque não parava de espirrar. Por causa da sua alergia, seus olhos estavam inchados e isso lhe dava o aspecto leitoso que uma cirrostratus tinha para mim. Ela falava anasalado e fungava com frequência enquanto agradecia e pegava sua sacola de livros, apenas para logo em seguida derrubá-la no chão, fazendo-os esparramarem-se pelo chão.
Com uma indiferença de quem já vira aquela cena milhares de vezes, Mavis Blue abaixou-se para recolhê-los, e eu, como simples passante da cena que estava ao seu lado, me vi na obrigação de me abaixar e ajuda-la. Seus olhos azuis, revestidos por pálpebras inchadas e as lentes grossíssimas, encararam-me enquanto ela empurrava a ponte dos óculos para cima do nariz, com dedos brancos e muito finos. Perguntei-me se ela iria me reconhecer, já que eu havia saído da retenção há pouco tempo e vários jornais andavam estampando a minha cara. Aquilo ia me deixar bastante desconfortável se acontecesse, porque eu já havia percebido mais cedo que havia sido um erro ter saído de casa sem nenhum tipo de disfarce, já que os olhares tortos me perseguiram por toda parte.
Depois que eu a ajudei a recolher os livros, levantamo-nos e eu os entreguei para ela em silêncio. Ela continuava a me encarar, um tanto curiosa. Decidi ser mais rápido.
— Qual seu nome? — uma pergunta simples. Um tanto invasiva. Quem era eu para querer saber da vida dela, dessa garota esquisita e leitosa. Era só para eu não sair perdendo, não sair desconfortável. O que é que eu estava fazendo?
Ela me disse que era Mavis Blue. Eu ri da cara dela, achando que era um tipo de nome artístico. E então, envergonhado, desejando que um véu me cobrisse até meu caminho de casa, eu saí, sem olhar mais uma vez para Mavis Blue.
Se eu tivesse olhado melhor para ela no primeiro dia, com menos preconceito e menos focado em sua alergia aos pólens e em seu jeito leitoso, talvez não tivesse demorado tanto para reconhece-la no segundo dia. No segundo dia, achei que ela fosse uma stratocumulus. Seu aspecto esbranquiçado ou cinzento, ainda meio leitoso, se mantinha; como são associadas a chuvas fracas, quando vi Mavis Blue através do vidro de um café, escondida por um guarda-chuva verde, foi na stratocumulus que pensei. Dessa vez, seu cabelo estava solto, batendo em seu queixo. A cor parecia mais castanha, e ela tinha uma franja que cobria apenas um terço de sua testa, expondo suas delineadas sobrancelhas. Acho que o que me fez demorar mais para reconhecê-la foi a ausência dos óculos – dessa vez, seus olhos azuis inquietos estavam nus. Seu pescoço ainda parecia extremamente comprido, no entanto.
Eu acho que ela me reconheceu. Porque meu rosto era conhecido e a tragédia do Mitch tinha acabado de acontecer, então estávamos todos de volta na mídia. Eu gostaria que a Compass~ fosse mais reconhecida por coisas boas do que ruins, mas acho que era simplesmente nosso carma. Depois de entrar no café que eu estava, para se proteger da chuva, ela veio com o guarda-chuva pingando no chão até a mesa em frente a minha, que estava vazia, e sentou de frente para mim. Sua pele era lisa como a casca de um pêssego e eu quis tocá-la. Seus olhos estavam delineados, assim como os lábios, marcados por um sutil vermelho tijolo fosco. Mavis Blue era linda e estava sentada à minha frente. Talvez fosse um engano classifica-la como uma stratocumulus. Ela provavelmente era apenas uma nimbus, toda detalhada, branca, imensa, linda. E eu continuava sendo uma cumulonimbus. A tempestade, o frio, os trovões. Talvez fosse isso o carma da Compass~.
— Você não é o Chad? — ouvi uma voz, saindo da minha divagação sobre nuvens e carma, e olhei para os intensos olhos azuis de Mavis Blue. Blue, blue, blue eyes, Mavis Blue, let me sing to you, cantarolei em minha mente. Sorri, sem graça.
— Sou, Mavis Blue. — falei, sem pretensão nenhuma de esconder que me lembrava muito bem da Mavis Blue de algum tempo atrás. É simplesmente engraçado como algumas coisas a gente não se esquece. Eu não me esqueci das nuvens e suas classificações, nem de Mavis Blue. Mas que nuvem seria ela?
— Uau. Você realmente se lembra. — ela arqueou as sobrancelhas, sem pedir permissão acomodando-se agora na mesma mesa que eu, à minha frente. A mesa que ela ocupara segundos antes quando entrara com seu guarda-chuva pingando estava agora com um casal e uma criança menor. O café que ela pedira, transbordando da xícara média, já viera diretamente para nossa mesa.
— É difícil esquecer quando uma pessoa derruba aquele tanto de livros bem no seu pé. — comentei, bebericando meu chá preto e observando a chuva se intensificar ao bater na janela. Aquele não era um mero chuvisco. Era uma tempestade. E acima de nós estava eu. Uma cumulonimbus. Como se pra provar minha teoria, um trovão ressoou a distância. Mavis Blue falava algo, mas eu olhava para fora, para o cinzento e escuro dia que era inundado, pelas pessoas apressadas fugindo e cobrindo-se.
— Chad Lynn? — de repente sua voz soando meu nome acordou-me e puxou-me para fora da janela, fazendo-me voltar à blue, blue, Mavis Blue. — É no mínimo gentil prestar atenção no que as pessoas estão falando. Você tomou alguma coisa? — ela me olhou estranho, provavelmente pensando nas notícias sobre as drogas, as bebidas e todas as coisas ruins que aconteciam. Eu ri pelo nariz, finalizando meu chá preto.
— Mavis Blue... Blue, blue, blue eyes, Mavis Blue, let me sing to you. — cantarolei de novo, dessa vez em voz alta, fazendo-a franzir as sobrancelhas. — Que nuvem é você, Mavis Blue? — perguntei. Arrisquei-me a fazer a pergunta, porque estava curioso. Eu não conseguia descobrir que nuvem era ela, e eu sabia que nunca mais a veria de novo. Então eu precisava saber.
— Nuvem? — eu acho que se eu não estivesse tão melancólico por dentro, eu teria rido do jeito confuso e assustado com que ela me encarava. Mas eu não riria. Eu apenas suspirei. Suspirei, recostando-me e olhando mais uma vez para fora da janela, sabendo que ela me achava um louco. Um louco drogado, como aquilo que todos os jornais sempre diziam sobre mim. Talvez fosse verdade. Era verdade, não era? Se todos diziam. Acabaria aqui, Mavis Blue. Foi bom te conhecer, blue eyes.
No entanto, não acabara.
— Que nuvem é você? — ela perguntou, subitamente. Encarei-a, surpreso. Depois, ri. Ri como quem não tem mais nada a perder, ri como um derrotado. Mavis Blue me vencera, com seus olhos azuis delineados e sua pele de pêssego. Eu queria tocar aquele rosto. Mas eu nunca poderia.
— Eu sou uma cumulonimbus. — respondi, apontando para fora como um exemplo. — Sou escuro. Sou cinza. Trago tempestades, trovões, raios. Trago medo. Trago irritação e deixo o ambiente ruim. Ninguém fica numa tempestade. — contei, levantando-me para ir embora, assim como todos faziam ao começar a chover. — Eu queria saber que nuvem é você, Mavis Blue. Mas realmente não consigo descobrir. E se você não ficar longe, vai acabar inundada pela tempestade.
Acenei então para ela, e aquela foi a última vez que vi Mavis Blue dos olhos azuis.
Eu observava o céu claro, com pequenas nuvens brancas flutuando e passando por ele, muito distantes de mim. Depois de Mavis Blue, eu não conseguia mais classificar as pessoas em nuvens. É como se eu tivesse ficado preso ao enigma que ela era. Muita coisa aconteceu depois daquilo, e a imagem da Compass~ finalmente melhorou. Mas eu não vi mais Mavis Blue, e não sabia que nuvem ela era. Não conseguia tirar aquilo da cabeça. Howl me ouviu cantarolando a música que havia murmurado para ela naquele dia chuvoso no café, mas eu me recusei a transformá-la em algo. Eu não sabia nada sobre Mavis Blue. Eu não podia lê-la e fingir classifica-la em uma nuvem sendo que não a conhecia. Aquilo que eu fizera aquele tempo todo perdera o sentido, perdera a razão. Eu não sabia quem eram as pessoas que eu classificava em nuvens. Eu não sabia quem era Mavis Blue. Além de seus cabelos de cor indefinida e seus olhos azuis, a pele de pêssego que eu nunca cheguei a tocar, quem era Mavis Blue?
Certamente não era saudável aquela fixação. Eu podia muito bem ir atrás dela e conhece-la melhor, entretanto aquilo seria arrastá-la para uma tempestade. Howl fizera isso com Annabelle — eu descobrira que Howl também podia ser tempestade, apesar de ser mais como aquelas de verão que o chão cheira gostoso e você se sente aquecido e sorri enquanto corre pela cidade. Annabelle aceitara aquela tempestade. Eu e Mitch aceitávamos aquilo, e aceitávamos Howl quando ele era garoa também. Contudo, eu não podia forçar Mavis Blue a aceitar uma tempestade gelada, daquelas que ninguém gosta. Isso só para descobrir que nuvem ela era. Eu sabia que havia limites para egoísmo.
Uma bola acertou minha cabeça, de leve, como se tivesse vindo rolando. Virei-me para trás e uma criança desengonçada corria com suas perninhas curtas até mim para recuperar seu brinquedo. O parque estava lotado então eu não podia culpa-lo de atingir alguém. Depois de devolver-lhe a bola, sentei e peguei o violão, esfregando os olhos. Encarar o céu me deixava sonolento, nenhuma música vinha de inspiração naquele raro dia ensolarado de Londres. Talvez eu realmente fosse uma pessoa das chuvas, afinal.
Olhei ao redor, buscando alguma inspiração, quando a vi vindo até mim. Ela marchava como se estivesse determinada a capturar algum animal selvagem. Seus cabelos agora batiam no ombro, e ela usava os famigerados óculos de lentes grossíssimas da primeira vez que nos encontramos. Os olhos azuis revelavam sua determinação e eu nem pude me mover até que ela se ajoelhou na minha frente.
— Mavis Blue. — sussurrei, quase incrédulo. Eu não achava que a veria de novo e me despedira dela justamente com esse propósito.
— Chad Lynn. — ela arqueou uma sobrancelha. Continuava linda. Uma mescla do meu primeiro e segundo encontro com ela, uma nuvem misteriosa que eu não sabia definir. — A cumulonimbus. — Mavis Blue disse com um sorriso de canto e eu definitivamente devo ter feito a maior cara de surpresa da história. Com certeza aquela nossa conversa estranha a tinha marcado, mas eu não imaginaria que ela retornaria assim subitamente e traria tudo à tona depois de tanto tempo. Como eu continuava sem palavras, ela cruzou as pernas, sentando-se mais confortavelmente e jogando seu cabelo para trás, continuando o monólogo. — Sabe, eu fui pesquisar de nuvens depois que você falou disso comigo. Eu nem sei direito por quê. Só fui.
— Mavis Blue, você é uma garota estranha. — foi o que consegui soltar, rindo logo depois. Ela deu ombros, não ligando para minha reação.
— Fale-me mais sobre isso, Lynn. — rolou os olhos, logo então seguindo para o que queria dizer. — Eu estava com medo de ser algum tipo de droga que você estava tomando, ou coisa assim. Eu nem sei por que eu ligava tanto. Acho que te encontrar daquela forma e te ouvir falando daquelas coisas me tocou. Sei lá. — ela falou, seus olhos azuis sem desviar dos meus por um segundo sequer. Mavis Blue mantinha sua determinação. — Pode ser porque você cantou a música. Eu esperei achando que ela tocaria nas rádios e você viria até mim. Mas isso nunca aconteceu. Então eu vim até você.
Encarei-a estupefato com sua ousadia. Eu não conhecia Mavis Blue. E ela conhecia apenas o espelho de mim que a mídia criava, eles refletiam só aquilo que queriam. Aquilo tudo era uma bagunça. Era por isso que era melhor ela ter ficado longe de mim como eu pretendia. Como a cumulonimbus, eu só podia atrair as pessoas quando elas estavam longe de mim e tinham alguma chance de me enxergar por inteiro; no entanto, quando se estava perto, só havia chuva, trovões e uma massa acinzentada. Falei isso para ela, mais uma vez. Ela manteve-se séria.
— Sabe, Chad Lynn. — ela disse, chamando-me me pelo meu nome e sobrenome, como eu fazia chamando-a de Mavis Blue apenas porque amara a sonoridade daquele nome desde que eu achara que ele era um nome artístico. — Você se diz ser uma cumulonimbus, mas como julga isso? Como julga suas próprias tempestades? Seus próprios trovões? Quem é você, Chad Lynn? — ela perguntou, fazendo-me focar em todos os detalhes da garota à minha frente enquanto elaborava a resposta. Quem eu era? Eu era aquele que trazia má sorte e distúrbios para a banda. Eu era aquele que fazia as pessoas sofrerem, se esconderem.
— Eu não sei. — resmunguei, cortando a conversa pelo caminho mais rápido. Puxei a capa do violão e comecei a guarda-lo.
— Eu queria saber que tipo de nuvem eu era. — Mavis Blue continuou, colocando a mão sobre o violão e me impedindo de continuar a fugir. — Pra te responder. Pra te ver mais uma vez e te responder direito o que você queria saber aquele dia. Você não parava de olhar a chuva caindo, e eu podia ver que você se identificava com ela, e eu queria poder te dizer que eu era também uma cumulonimbus para você não se sentir daquela forma. Mas sabe o que eu descobri?
— O que? — perguntei, vendo que ela pausou e não pretendia continuar até que eu interagisse com ela. Eu estava de certa forma curioso. Outra pessoa sendo cumulonimbus? Eu acho que nunca havia classificado alguém assim. Mavis Blue me olhou com gentis olhos azuis antes de responder.
— Que nós não somos nuvens, Chad. — foi sua brilhante conclusão. Eu sabia desde o começo que eu estava tratando de metáforas e não necessariamente de nuvens em si. Eu podia ter me perdido na obsessão de buscar identificação em uma forma, mas eu sabia que era apenas aquilo. Uma identificação. Eu não era literalmente uma cumulonimbus. Eu estava prestes a retrucar com algum comentário rude quando ela prosseguiu, surpreendendo-me: — Nós somos céus.
— Céus? — balbuciei, sem entender aquilo. Ela sorriu, largando finalmente meu violão pois sabia que agora eu não fugiria. Ouviria seu argumento, enquanto sentia o cheiro quente de seus cabelos ao som e perdia-me em seus olhos azuis.
— Sim. Nós somos céus, e às vezes somos azuis claros e límpidos, mas às vezes somos tempestades. Somos mais do que azuis, somos várias cores ao nascer e ao pôr-do-sol. Humanos não são apenas um estado de algo tão efêmero quanto a nuvem. Nenhuma tempestade dura para sempre. Nem mesmo você. — Mavis Blue sorriu.
Fiquei chocado com sua linha de raciocínio. Não porque era idiota, mas considerando todas as mudanças das pessoas, seria ridículo que realmente fôssemos algo tão efêmero quanto nuvens, como ela mesma apontara. Era incrivelmente genial.
E de repente tudo fez sentido para mim.
Mavis Blue. Blue, blue, blue eyes, Mavis Blue, let me sing to you...
Mavis Blue não era nuvem nenhuma. Por isso não conseguira classifica-la. Eu queria coloca-la numa mesma categoria que eu, de forma egoísta, numa visão metafórica limitada, sem ver que Mavis Blue era o próprio dia lindo.
E eu também. Eu era um céu. Um céu quase constantemente nublado, chuvoso, escuro. Mas não queria dizer que não havia dias limpos, dias ensolarados, dias bonitos.
— Além do mais, Chad Lynn — e eu continuei surpreso que ainda houvesse mais, mas sua proximidade de repente engoliu todas as minhas palavras e eu pude apenas segurar a respiração tentando não desviar os olhos de seus olhos celestes para sua boca convidativa de onde as mais doces palavras saíam em seguida, dizendo: — há pessoas que gostam de tempestades. Eu pessoalmente amo as cumulonimbus.
{ F I M }
Nota da autora: Chegamos ao segundo conto! A ideia seria que este fosse o conto da Maddy, na ordem de postagem, mas por imprevistos que expliquei no meu grupo do Facebook (Histórias da Anne~) eu tive que acabar postando o especial do Chad.
Esse é o conto que mais gostei por enquanto então espero que também tenham gostado!
Semana que vem seguiremos com o calendário que postei no grupo, e virá o conto da Maddy.
Espero que tenham gostado e aproveitem essa pequena continuaçãozinha de UNEV!
Gostaria também de desejar boas festas a todos vocês leitores maravilhosos que fizeram do meu 2016 um ano incrível também. Espero que 2017 possa nos trazer muitos outros momentos juntos e especiais! <3
Um grande beijo,
Anne
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