Capítulo I
Sentada, com as pernas cruzadas como índio se encontrava Dara. Com uma roupa velha e rasgada, óculos de grau e rodeadas de folhas e livros, a menina tentava pensar sobre o que de fato queria.
Queria dizer sobre tantas coisas, tantos problemas sociais, tantos temas polêmicos... A questão era "Qual tema escolher, entre tantos, que precisavam ser estudados?"
E então foi aí, só aí, que uma luzinha acendeu e ela encontrou a solução. Falar sobre tudo.
- Como não pensei nisso antes? Puta merda, eu sou uma gênia!
Falando sozinha, o que já era um hábito da menina, começou a rabiscar os cantos dos papéis, anotando números e por fim, juntando-os em uma pilha.
Depois de tudo amontoado, Dandara pegou uma folha em branco, que havia dentro de sua pasta coberta de glitter e assim, finalmente deu nome a sua obra de arte: "Um mundo surreal".
A ideia era simples, mas nada prática.
Uma peça de teatro.
Isso mesmo, você não leu errado.
Provavelmente a garota, que não batia bem da cabeça, havia perdido algum parafuso quando bebê. Sei lá, talvez ela tenha batido a cabeça, mas aí eu já não posso afirmar, pois, nessa época, eu também havia acabado de nascer. Voltando ao foco...
A cabeça da adolescente parecia rodar no lugar e sair uma pequena fumacinha, de tanto que ela pensava.
Três problemas da sua lista haviam sido riscados. Ela havia encontrado uma solução sobre o tema, havia decidido o que ia fazer e já havia encontrado um nome.
No mundo de hoje, mesmo com a sociedade atual, não observamos respeito e nem amor ao próximo.
A prova disso é claramente a homofobia, o machismo, o racismo... Se Dara queria falar sobre tudo isso, ela precisaria do que? Isso mesmo meu amigo. Diversidade.
Entretanto, porém, todavia, é aí que mora o quarto problema. Como, repito, como ela iria montar um elenco com aqueles alunos?
Opa! Esqueci-me de um detalhe. Reformulando. Como ela iria montar um elenco, com diversidade, digo, total diversidade, com aqueles alunos?
É. Acredito que deu para entender o drama.
Ao contrário do peso e da responsabilidade de seus atos, Dara ainda sorria. Ela tinha plena consciência do que ela tinha que fazer, sabia o tamanho desafio que tinha em mãos, mas adorava resolver problemas. Esse seria apenas mais um.
Continuando com seu plano, extremamente maluco, a mulata começou enfim, pôr em prática. Nada daria certo sem uma história, certo?
Com uma caneta entre os dedos e um caderno velho, Dara iniciou seu processo de escrita.
Depois de duas horas consecutivas escrevendo, a pequena escritora já tinha uma base do que queria e de quantos personagens ela teria.
Jogou-se na cama, estava cansada e com um pouco de dor de cabeça, mas não queria parar por ali. Ainda tinha que listar seus personagens com algumas, improváveis, mas ainda assim, opções.
Olhando para o teto, cheio de estrelas, do seu quarto, começou a fazer uma nota mental da sua primeira personagem.
Uma garota de pele branca e cabelo preto, que frequenta os famosos bailes funk e que não possui um agradável, só que não, apelido.
A vadia rodada.
Sim. Vocês estão lendo certo novamente. Se Dandara queria causar, ela iria fazer isso com mais peso do que o "necessário", ela mostraria realidades. Começando pelo machismo e a opressão feminina que sempre, sempre presenciamos.
Pensando nas alunas que possuíam essas características, ele encontrou facilmente três meninas.
Ela queria algo com representatividade, portanto, precisaria buscar um reflexo da garota criada com ela.
Dalila Santos.
Susana da Silva.
Marilia Oliveira.
Três opções inalcançáveis.
A mulata praguejou ao avaliar suas chances de convencer qualquer uma delas a participar. Torceu a boca, pensando, reavaliando, e seu resultado foi pior que o anterior.
Dalila tinha uma personalidade um pouco... Arisca? Ela não procurava nada assim.
Já Susana, apesar de ter todas as características físicas parecidas, ela não tinha os mesmos atos que a garota inventada.
Sobrando assim, Marilia.
- AAA! Droga! Você tem que parar de abraçar desafios, Dandara - se levantou da cama enquanto falava consigo mesmo.
Andava pelo seu quarto sem parar, pensando e pensando sobre o que fazer.
Tudo em Marília coincide para o plano dar certo, mas... Como chegar na garota?
Decidindo não remoer antes da hora, parou de andar e foi até sua cama. Pegou um papel e escreveu na primeira linha o número um, sendo seguido pelo nome "Marilia Oliveira".
Deixando sua cama uma pura bagunça, foi para o banheiro para se banhar.
Quando a água quente caiu sobre o cabelo cacheado, a garota sentiu todo o peso de seus pensamentos escorrerem, assim como a água, para o ralo.
"Tudo daria certo.
Tudo daria certo.
Tudo daria certo."
Repetiu seu mantra até o término do seu banho, escovar seus dentes e se deitar para dormir.
"Tudo daria certo."
Esse era o seu, apenas seu, sempre!
Em meio a claridade, calor e lambidas no rosto, Dara acordou. Como sempre havia deixado a cortina aberta, estrategicamente, para acordar sem atrasos e claro, Skoop, seu cachorrinho nunca deixaria a menina se atrasar. Ele era seu despertador mais eficiente.
Sentando-se na cama, ela fez carinho no pequenino, atrás das orelhas peludas, como sabia que ele gostava.
Isso é um pouco de leite eram sua recompensa por ser o melhor amigo dela. O único, para ser mais exata.
Deixando a preguiça de lado levantou-se e foi escovar seus dentes.
Enquanto realizava tal atividade se olhava no espelho. O rosto inchado, o cabelo bagunçado e a expressão de sono, sem contar nas marcas roxas abaixo de seus olhos.
Ela, com toda certeza, deveria ter dormido mais cedo.
Lavou seu rosto como fazia todas as manhãs e prendeu os fios rebeldes do cabelo, para enfim, ir tomar café da manhã. Necessitava com todas as suas forças de um xícara de café.
Era sábado, o dia estava tranquilo, sua mãe estava trabalhando e seu pai... Bom, seu pai não aparecia já fazia um tempo, bastante tempo.
Decidiu por fim não tomar um café da manhã reforçado e pegou apenas o tão desejado café, voltado para o seu quarto. Ainda tinha uma lista para fazer.
Contando com a primeira personagem e ela mesma, teriam um grupo de oito adolescentes.
Sentou novamente sobre sua cama, que agora estava ainda mais bagunçada e começou a pensar sobre a terceira peça do tabuleiro.
Basicamente, era uma menina magra, sem muitas curvas, seios ou coisa do tipo. Loira, cabelo longo e bem simpática. Essa já havia sido baseada em alguém específico.
Melissa Santana.
A garota era quase um anjo. Era conhecida por todos e conversava com quase todos, mais por influência do seu grupo social, claro. Era uma garota doce, não fazia discriminações , mas de fato, as sofria.
No mesmo papel que havia listado o primeiro nome, escreveu esse embaixo, do mesmo jeito.
Já tinha a "vadia", nossa como é ruim dizer isso, mas enfim. Já tinha decidido quem faria o papel da "vadia rodada" e o da "Magra sem curvas". Portanto, foi para o próximo componente.
O negro e nerd.
Não tinha muitas descrições, não havia criado ainda. Na sua escola a grande maioria tinha certa quantidade de melanina. Poucos eram brancos realmente, portanto, deixou para descrever depois de escolher o "alvo".
Já tinha um em mente, mas tinha medo das consequências. Tinha certeza que receberia um sim, mas isso a traria problemas.
Peter Souza.
Ele havia sido seu amigo de infância e até mesmo, seu primeiro amor, mas nem morta que ela assumiria isso. Tudo daria certo entre os dois, eram muito compatíveis. Porém, Dara o afastou irracionalmente, diga-se de passagem, mas afastou.
No entanto, se ela foi até ali, iria se arriscar, certo?
Não se esquecendo da sociedade LGBT+, havia duas peças muito importantes nesse grupo. O gay e a lésbica, inseparáveis. Também não havia descrito aparências físicas, preferiu ser mais vaga, pois, a quantidade de LGBTQIA era escassa, teria que tomar cuidado na hora das descrições.
Esticou as pernas e se ajeitou na cama enquanto pensava. Seu café já começava esfriar, então se apressou em tomá-lo.
Avaliando todos os gays da sua escola, ela encontrou apenas dois, um negro e um loiro. Ela já havia encontrado o negro da história, então escolheu o loiro para tal papel, o amado e estressado Alan Costa.
Já sobre as lésbicas, havia apenas uma. Larissa Lima.
Essa seria fácil. Amava artes cênicas e era uma das que sempre implorava por eventos em São Hermano.
Faltavam apenas dois escolhidos. A escolha não precisava ser feita. As opções eram únicas. Para o papel do clássico e padrão Menino popular e rei da escola, a única opção seria Pietro Bragança. Sim, até o maldito nome do garoto era bonito. Ele era uma das pessoas impossíveis de ser conquistadas, mas desistir não era uma opção.
E o último papel, mas não menos importante, "a excluída estranha" teria que ser interpretada pela amada Valentina Rodrigues. O único problema seria fazer a menina se soltar em público. Ela quase travava quando alguém chegava perto dela, tamanha timidez.
Enfim, quarta etapa concluída. Todos os escolhidos já tinham o nome marcado em uma folha, seu café já tinha terminado e ela já começava a ficar com aquela dorzinha de fome no estômago.
Ter apetite bom não era nada legal.
Fora a fome que aumentava gradativamente, a menina tinha outro problema para solucionar.
Que estratégia usar para conseguir um sim de todos os "alvos"?
Oie, nenéns. Voltei com o primeiro capítulo. Gostaram?
Surpresa no próximo capítulo🥵
Quem pegou as referências, pegou!
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Qualquer erro de ortografia, me avise!
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