
Capítulo 20 - Bem Vinda, Geovana!
Eu estava sentada na minha cama, arrumando as poucas peças de roupa que eu possuía, quando alguém tocou na porta.
Imaginei ser Narcisa, para me pedir que eu fizesse alguma coisa, então nem me levantei para abrir.
– Pode entrar! – eu falei alto, para que ela pudesse ouvir.
No entanto, quem eu vi abrir a porta e olhar para dentro do quarto com cautela, foi Luca Hagi.
Meu coração voltou a acelerar e eu amaldiçoei aquele órgão do meu corpo. Voltei também a perguntar para o destino por que ele havia feito aquilo comigo.
Eu estava quase conseguindo não pensar mais em Bucareste e tudo que eu havia vivido desde lá, quando Luca apareceu na minha frente, reacendendo tudo.
– A Narcisa falou que eu poderia vir falar com você por um momento... – ele disse, parecendo sem graça e sem jeito.
– Você já está indo? – eu perguntei, sentindo uma angústia apertar meu peito, ao pensar em vê-lo partir.
A verdade era que eu nunca havia me sentido tão solitária na minha vida. Eu era muito independente e gostava daquilo, mas naquele momento, me sentia tão vulnerável e carente, vivendo isolada naquele lugar ermo.
Minha luz parecia ter se apagado, agora que eu não tinha nenhuma aventura para viver e nem nada para investigar.
– Ainda não! – ele disse, apertando os lábios, como alguém que não se sente confortável. – Você ainda não vai se ver livre de mim!
– Eu não quis dizer isso! – eu falei, sem saber mais o que dizer.
Luca caminhou até a mim e sentou na minha cama, buscou o meu olhar e eu o encarei, sentindo meu estômago se revirar.
– Eu decidi que não ia mais te procurar e nem tentar entender o que houve, mas aí nos encontramos por acaso e eu não consigo pensar em outra coisa: – ele falou e eu congelei, ao perceber que Luca queria falar sobre a noite em que havíamos transado – por que você foi embora e nem se despediu?
– Porque era o certo a se fazer, Luca! – eu falei, sentindo que não aguentaria conversar por muito mais tempo. – Eu sou procurada por umas das facções criminosas mais antigas e ainda por cima, grávida de um de seus membros! Você não aceitaria simplesmente se eu falasse que iria embora sozinha!
– Mas eu lhe disse que nada disso importava, Isabella! – ele falou e eu vi angústia em seus olhos.
– Mas para mim importa, pois foi por minha causa que você quase foi morto em um espancamento e foi também por minha causa, que você quase foi condenado por um assassinato! – eu falei, sentindo que choraria em breve.
Naquele instante a certeza de que a máfia nunca desistiria de procurar por sua herdeira, me deixou desesperada.
Não importava para onde eu fosse, eles viriam atrás.
Eu me sentia esgotada. Eu queria apenas ser livre para viver a minha vida.
– Nada disso foi culpa sua de verdade! – ele falou e então pegou minhas mãos, percebendo então com assombro, como elas estavam calejadas, cheias de bolhas e feridas abertas. – O que é isso?
Eu puxei minhas mãos, como se ele pudesse queimá-las com o olhar.
– Eu passo a maior parte do meu dia lavando batatas e cenouras – eu falei, como se aquilo não fosse realmente nada. – Os produtos são meio agressivos!
– É isso que você faz aqui? – ele perguntou, se mostrando preocupado. – Isabella, você está apática, cheia de olheiras e suas mãos estão destruídas!
Eu me levantei, sentindo-me acuada, como um bicho enjaulado.
– É a única coisa que eu consegui, Luca! – falei com sinceridade. – E não reclamo, pois sobrevivi com segurança até aqui, graças à generosidade dessas pessoas em me acolher!
Luca saiu do quarto, com uma expressão de fúria no rosto. Eu corri atrás dele, para evitar que fizesse uma burrada.
– Como vocês ousam deixar uma grávida trabalhar até a exaustão? – Luca berrou, apontando um dedo acusatório para Crin.
– Está tudo bem, Luca! – eu clamei, sentindo uma forte pontada na barriga naquele instante.
Ignorei a dor, pois estava nervosa demais naquele momento. Meu raciocínio estava lento e abalado.
– Ela aceitou o serviço, rapaz! – disse Crin, que já não estava mais com uma expressão amigável no rosto.
– Vocês vão parar de escravizar ela ou então vou deixar que as ovelhas de vocês viajem de uma vez para o inferno! – Luca berrou, enquanto a chuva caía forte e impiedosa.
Logo tudo viraria um lamaçal e então seria impossível sair dali. Eu dei um passo em direção a Luca, para tentar fazê-lo se acalmar e foi então, que senti de uma só vez, um líquido escorrer pelas minhas pernas, molhando as minhas meias e meu vestido.
Olhei para baixo, percebendo então com assombro que a minha bolsa havia estourado e que a dor que eu sentira não era de nervoso, mas sim, porque minha filha escolhia aquele momento tenso, para vir ao mundo.
Luca olhou para mim e então pareceu ficar estarrecido, esquecendo até mesmo da briga, na qual estivera tão empenhado.
– A Geovana vai nascer! – eu berrei, enquanto sentia mais dor ondular pelo meu corpo.
Narcisa olhou pela janela e percebeu que tudo estava muito enlameado e que carro nenhum sairia dali daquele jeito.
– Aqui em Săpânța não tem hospital e a parteira mora bem distante daqui! – anunciou a senhora, que já previa que o caos tomaria conta da sua casa.
– Está tudo enlameado, Luca! – eu falei, deixando o desespero tomar conta da minha voz. – Não dá para sair daqui!
Luca me encarou por um instante, parecendo pensar. Ele se aproximou de mim, colocando as mãos nos meus ombros.
– Eu preciso que confie em mim, Isabella! – ele falou e buscou confirmação nos meus olhos. – Eu nunca fiz isso com um ser humano antes, mas eu farei o seu parto. Confie em mim, que eu trarei a Geovana ao mundo!
Eu apenas acenei com a cabeça, começando a chorar, com medo das incertezas.
Em seguida, envolta em dor e suando muito, Luca me levou até a cama, me deixando ali deitada, enquanto buscava sua maleta de primeiros socorros.
Eu pude ouvi-lo gritar instruções para Narcisa, que prontamente respondeu, dizendo que arrumarias panos limpos e que ferveria bastante água.
Luca voltou ao quarto e estava com uma expressão séria e concentrada no rosto. E incrivelmente eu só não estava ligando porque contra tudo o que eu queria, eu confiava naquele rapaz.
Ele ajeitou minha cabeça no travesseiro e em seguida posicionou algumas almofadas, embaixo do meu quadril. Eu gemia e chorava, enquanto sentia a dor me açoitar, com cada vez mais força e também com mais frequência.
Luca pediu para que eu abrisse bem as pernas e então retirou minha calcinha molhada pelo líquido amniótico. Quando ele tocou em minha intimidade, medindo minha dilatação, senti uma dor quase insuportável me atravessar.
Peguei um pedaço do meu próprio vestido e mordi com força, contendo a vontade de gritar.
– Você está com sorte, pois já posso começar a ver a Geovana! – ele falou, tentando me incentivar a ser forte e resistir. – Ela está mesmo decidida a vir ao mundo!
Narcisa entrou no quarto e limpou meu suor com um pano morno e em seguida, me deu sua mão gorducha para que eu apertasse.
Eu achei que quebraria os dedos da senhora, de tanta dor que eu sentia.
– Vamos, força Bella! – pediu Luca. – Empurra com mais força que ela vai vir!
Quanto mais força eu fazia, mais parecia que algo me rasgava por dentro. Era uma dor tão lancinante, que eu achei que não aguentaria.
– Mais um pouco, Bella! – gritou Luca, que estava perdido no meio das minhas pernas. – Empurre mais, pois ela está vindo!
E depois de um tempo, que eu não pude precisar, e que mais parecia uma eternidade sentindo agonia e dor, eu pude ouvir o choro de Geovana pela primeira vez. E naquele instante, não havia mais medo ou incerteza, somente muitas lágrimas de emoção, alegria e amor.
Luca cortou o cordão umbilical e levantando de onde estivera exaustivamente sentado, levou a minha filha, diretamente para os meus braços.
– Seja muito bem vinda, Geovana! – ele disse e em seguida voltou ao posto, para me livrar da placenta e então depois gentilmente me limpou com um pano quente.
Eu olhei para minha filha pela primeira vez e tudo que eu senti foi tão maravilhoso, que eu jamais poderia descrever ou imaginar aquele mix de sentimentos e sensações.
Se eu precisasse, passaria mil vezes por aquela dor, só para ter ela em meus braços.
Eu então olhei para Luca, que apesar de sujo, suado e exausto, mantinha um sorriso bobo na face.
– Obrigada! – eu sussurrei, sabendo que a partir daquele momento, eu e ele estaríamos ainda mais ligados, por aquele momento mágico.
E pela primeira vez, eu não quis lutar contra o sentimento de entrega e conexão que eu sentia, quando estava ao lado de Luca Hagi.
Eu apenas queria vivê-lo.
Meu Deus, a Geovana nasceu!
E agora? O que será da Bella e da bebê?
Beijos da Thay
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