
Capítulo 15 - Mágoa (Luca)
Acordei assustado, sem saber aonde estava. No entanto, tive a certeza de que alguém estava a me cutucar de leve no ombro.
Olhei ao redor, me sentindo grogue e atordoado e ao ver as paredes de pedra e a face de Irina a me encarar, me lembrei de tudo que havia acontecido.
Meu corpo doía e minha cabeça parecia pesada naquele momento. Eu havia esgotado todas as minhas forças no dia anterior, chegando ao fundo da exaustão.
No entanto, ao me lembrar de tudo que eu e Isabella havíamos feito naquele cômodo sombrio, meu coração se aqueceu instantaneamente. Um sorriso travesso surgiu nos meus lábios, de forma espontânea e eu percebi que havia valido à pena ficar tão esgotado.
Irina me observou, com uma sobrancelha arqueada, mas eu a ignorei, voltando meu olhar para o cômodo, procurando Isabella.
– Cadê a Bella? – eu perguntei, ao ver que ela não estava ali.
Eu confiava em Irina e Ygor, mas logo fiquei em alerta, sentindo um dissabor me tomar, ao pensar que qualquer coisa poderia ter acontecido com Isabella enquanto eu dormia.
– Eu não sei – Irina falou e deu de ombros, me fazendo ficar irritado. – Ela fugiu antes mesmo que eu voltasse para avisar que a barra estava limpa! Os mafiosos quebraram tudo, mas eu e Ygor também conseguimos nos esconder!
Eu me ergui de uma só vez na cama, sentindo dores em todos os lugares imagináveis do meu corpo.
Lutei contra a vontade de me deitar novamente, para acalmar a dor que eu sentia naquele instante.
Parecia que naquele segundo, tudo doía o dobro do que no dia anterior e aquilo me deixava um pouco zonzo.
– Como assim a Isabella fugiu? – eu perguntei, completamente desconfiado.
– Ela encontrou uma passagem e fugiu – Irina falou, apontando para uma grade caída no chão, que revelava um pequeno buraco quadrado na parede. – Eu mesma sempre acreditei que a grade estava presa ali, mas sua amiga descobriu que não, indo então embora!
Eu caminhei com dificuldade e observei o buraco, por onde agora entrava um pouco de luz. O local dava diretamente para um matagal que havia nos fundos da propriedade.
Eu fiquei atordoado, me perguntando por que ela faria isso, se arriscando completamente. Então eu logo me lembrei de como Isabella havia ficado um pouco arisca e fechada, depois de tudo que havia acontecido entre a gente.
No entanto, eu não conseguia crer que ela havia partido, mesmo depois de toda química que havíamos partilhado, ao fazer amor.
Eu fiquei calado e congelado por alguns segundos, me sentindo despedaçado e incapaz. Quando me virei para Irina, não consegui esconder minha mágoa e decepção.
É verdade que eu sentia uma atração quase descomunal por Isabella, mas se ela me pedisse, olhando dentro dos meus olhos, eu não ultrapassaria nenhum limite que não quisesse. Eu preferia sufocar de desejo do que nunca mais ver ela.
Por mais que eu morresse por dentro, eu preferia ficar ao lado dela sem poder tocá-la, do que ficar distante, sofrendo sem saber de sua segurança.
Eu estava confuso demais, pois Isabella havia demonstrado gostar tanto do meu toque... Mas então, por que ela se colocaria em perigo juntamente com a filha que carregava no ventre?
– Ela deixou suas roupas e pertences ali, mas levou a mochila – Irina avisou, me tirando de dentro dos meus devaneios.
– Eu preciso ir atrás dela! – eu falei, saindo do entorpecimento e de repente, ficando agitado demais.
Irina colocou uma mão sobre o meu ombro, me pedindo para ficar calmo.
– Não faça uma loucura dessas, Luca! – ela pediu, usando um tom sério comigo. – Você não tem como saber aonde ela está e não se esqueça de que está sendo procurado pela polícia. A Isabella não quis a sua companhia e você precisa aceitar isso!
As palavras dela bateram em mim e doeram mais que o espancamento. Eu procurava motivos para não acreditar em Irina, mas era difícil, diante de tantas evidências.
Se Isabella me quisesse por perto, teria ficado ali, comigo.
– Você tem certeza que ela fugiu? – eu perguntei, tentando me enganar. – Será que a máfia não encontrou a passagem e a obrigou a sair?
Irina balançou a cabeça, como se eu fosse tolo demais. E talvez eu fosse mesmo!
– Se eles tivessem feito isso, não perderiam tempo em executar todos nós! – falou Irina, com impaciência. – E Ygor vigiou a casa depois que eles partiram. Não esteve mais ninguém aqui!
Eu sentei na cama, colocando o rosto entre as mãos. Eu estava exausto, tanto física quanto mentalmente.
Sentia muita vontade de chorar, mas não queria que Irina me visse em estado tão deplorável.
– Eu não consigo acreditar que aquela maluca fez isso! – eu lamentei, mais para mim do que para Irina.
– Mas fez e você não será louco de arriscar ir para a cadeia por causa de alguém que nem se importa com você e nem ao menos te quer por perto! – Irina falou, de forma direta. – A polícia está em toda parte e se você sair por aí, procurando ela que nem um desvairado, vai acabar na cadeia!
Naquele instante Ygor desceu as escadas com sua expressão impenetrável de sempre. Meu amigo sempre fora o mais sensato de todos nós, então acreditei quando ele disse:
– Dessa vez a minha irmã tem razão – falou ele. – Essa garota fugiu durante a noite, de maneira fria, sem nem lhe agradecer por tudo o que fez por ela. Isabella arruinou sua carreira e o seu futuro, para depois, simplesmente te deixar para trás. Então se você sair daqui e se arriscar, não conte comigo, caso seja preso e pode apostar que será, pois a polícia está atrás de vocês!
Naquele instante a tristeza se transformou em raiva e mágoa, tornando o clima em algo pesado, ali naquela câmara de pedra.
– Talvez ela só tenha usado você, enquanto era necessário ou útil... – falou Irina, que terminava de enterrar a minha mente, no mais profundo sofrimento.
Eu não conseguia acreditar que a noite do dia anterior houvesse sido uma mentira ou uma farsa, mas não sabia o que fazer com meus sentimentos naquele instante.
Sempre que eu havia confiado muito em alguém, havia sido jogado no fundo do poço e naquele instante, não parecia ser diferente.
Por que eu deveria confiar em Isabella, sendo que ela quis me afastar tantas vezes?
Eu não tinha resposta para aquela pergunta e para nada mais que envolvesse aquela italiana. Mas o que eu deveria fazer era ter um pouco de brio e seguir com a minha vida, que havia desmoronado, quase me enterrando por completo.
Como eu iria provar que era inocente? Será que eu teria que fugir do meu próprio país e me enfiar em uma ilha deserta?
– Vamos sair daqui! – falou Ygor e sua voz me tirou do meu próprio devaneio. – Você precisa comer algo e depois vamos ver o que podemos fazer.
Eu subi as escadas mais como um zumbi, do que como um homem. Eu estava destruído e começava a sentir ódio da vida, por brincar tanto com meus sentimentos.
Irina pegou minhas coisas, mas eu tive vontade de jogar tudo fora, pois tudo me lembrava de Isabella e também me fazia pensar na apunhalada que ela havia me dado, indo embora sem nem me dizer adeus.
Mas se eu parasse para refletir, ela já tinha tentado me repelir tantas vezes, que já era para eu ter esperado que um dia, Isabella simplesmente sumiria.
Havia sido eu quem havia me enganado àquele ponto.
– Eu quero voltar para Bucareste! – eu falei de maneira fria, sem me importar que a máfia ou a polícia me encontrassem.
Eu estava tão irado comigo e com a minha falta de inteligência, que seria bom ser punido naquele instante.
Por que é que eu havia confiado numa forasteira que estava se escondendo de bandidos?
Decidi que não deixaria mais meu coração me guiar, pois aquele órgão do meu corpo era burro e ingênuo.
– Você não acha que é arriscado? – perguntou Irina. – Você pode ficar aqui por quanto tempo quiser!
Mas eu não queria. Eu queria ir embora o mais rápido possível dali. Quando chegasse a Bucareste, procuraria Ian e veria como meu amigo poderia me salvar da cilada em que eu havia me metido.
Resolvi esquecer que um dia havia conhecido e encontrado Isabella. E eu faria isso, nem que fosse a última coisa que eu fizesse.
– Eu quero ir para casa e ver se o Ian pode me ajudar de alguma forma – eu falei, sem demonstrar emoções.
– Eu acho que consigo te levar até lá, sem que sejamos pegos – Ygor anunciou, respeitando a minha vontade.
– Ótimo! – eu falei, pegando meus documentos, mas deixando as roupas. – Jogue todas elas fora, Irina. E obrigado por tudo!
Irina acenou com a cabeça e então eu e Ygor fomos para a garagem, de onde ele tirou um grande chapéu de feltro e um óculos de sol, de dentro de um baú.
– Coloque isso e tente agir o mais normal possível! – ele falou, me entregando os itens.
Eu fiz o que ele pediu, sem me importar se era arriscado. Em seguida, entramos no carro de Ygor, saindo dali em alta velocidade.
E conforme fomos andando pelas ruas, percebi que não havia nem sinal da máfia ou da polícia.
Mas afastei aqueles pensamentos da minha mente, pois tudo aquilo faria parte do passado a partir daquele instante.
Eu não queria saber de nada que me lembrasse de Isabella Gatto.
Boa noite!
Então é isso mesmo? Luca e Isabella estão mesmo separados.
O que será que vai acontecer?
Beijos da Thay
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