3.2
Isso faz eu me sentir nervosa. Você tem aquele olhar em seus olhos...
- BANNERS.
Jacob e eu nos entreolhamos, assustados e confusos. Os sons das sirenes preenchem o ambiente e eu sei na mesma hora, que a minha decisão de ficar em casa teria sido mais sábia.
Os paramédicos mandam as pessoas se afastarem do corpo, por mais que ele já esteja sem vida. Não tive coragem de ver quem era, mas vi os cabelos loiros esparramados pelo carpete negro, que agora tem uma grande mancha vermelha, escura e seca.
Seguro no braço de Jacob por instinto, sentindo os olhares em nós. Ele tira o braço do meu lado e eu engulo em seco, com medo de ele realmente ser o babaca que todos descrevem, na frente dos outros. Ele passa os braços ao redor da minha cintura e começa a caminhar para fora comigo, instruindo-me a não levantar o olhar. É isso o que eu faço. Não olho.
Estou apavorada por deixá-lo ver que eu também sou sensível, já que desde que nos conhecemos eu sempre tive pulso forte, mas algo me diz que eu posso confiar nele. Tem algo apitando na minha cabeça, dizendo que ele é como eu. Carrega alguns traumas e se esconde atrás do rótulo de babaca egocêntrico.
Ele abre a porta do carro para mim e eu entro, ainda sem olhar para trás. Quando finalmente prendo o cinto de segurança ao redor do meu corpo, consigo respirar normalmente e olhar para frente. Jacob faz o mesmo, ligando o carro e dando ré.
O meu celular vibra e eu o pego, vendo que tem algumas mensagens do meu pai e dos meus novos amigos. Não os culpo por terem me deixado sozinha na festa, eles só queriam se divertir e não tinham como saber que eu sinto pânico em ser observada. Respondo que eu estou bem e que já estou indo para casa. Amanhã eu lido melhor com eles.
— Você está bem? — Jacob pergunta, segurando em minha mão.
— Sim — respondo, encarando a janela.
— Está com fome?
Paro de encarar a janela e começo a encará-lo, que está com um olhar sereno e um vestígio de sorriso no rosto.
— Um pouco. Achei que ia me empanturrar nessa festa, mas me enganei — confesso e ele ri. Deveria rir mais vezes, ele fica bonito rindo.
— Conheço um lugar que tem o melhor chocolate quente do mundo — ele comenta, trocando de marcha e me encarando por breves segundos.
— Que fique bem claro que será só chocolate quente, lamento informar — ressalto, voltando à minha personalidade habitual.
— Tudo bem, Ana — ele concorda e eu reprimo um grito. Ele pronuncia o meu nome de uma forma tão linda, fofa e doce.
Seguimos boa parte do caminho em silêncio, apenas escutando a música que está tocando no rádio. Uma dos Beatles, o que me faz sorrir. Se eu fosse uma garota "normal", já estaria dizendo que temos uma coisa em comum. Porém, eu estou bem longe de ser uma garota "normal".
Jacob estaciona em frente a uma espécie de lanchonete, que me surpreende por dois motivos: primeiro, não é vermelha. Segundo, não tem o nome Red. Começo a rir sozinha e ele me encara com curiosidade no olhar, não confusão.
O bad boy sorri e só então eu percebo como ele está bonito hoje. Suas tatuagens estão realçadas e mais bonitas do que nunca, graças a camisa branca e as calças pretas, junto com a jaqueta preta de couro. O ar casual combina com ele.
Entramos no lugar e eu automaticamente lembro do Pop 's de Riverdale, uma série que eu era fanática, mas que me desencantou depois de alguns episódios. As mesas são brancas e as poltronas pretas, o que me faz sorrir. Também não é vermelho, amém.
Ele me guia até uma mesa e nos sentamos, um de frente para o outro. Jacob me fita com curiosidade e cautela, ele é um dos únicos garotos que não me encara com nojo. Gosto disso. Gosto do olhar dele.
— Perdeu alguma coisa? — brinco, tentando descontrair. Ele une as sobrancelhas em confusão e umedece os lábios. Foco o olhar na sua tatuagem de cruz, querendo saber o significado por trás dela.
— Como?
— É uma expressão. Quando alguém está te encarando muito, você pergunta: "perdeu alguma coisa na minha cara?" ou "perdeu alguma coisa?". — explico e noto que ele não desviou os olhos da minha boca.
— Demais! — ele elogia, desviando o olhar para o lado.
— É — concordo.
Uma garçonete veio até nós e anotou os nossos pedidos. O dele foi bem bizarro, porque é meio nojento pensar em chocolate quente com batata frita, mas ele pediu para mim também, prometendo que se eu não gostasse me daria 100 pratas.
— Já vai deixando as 100 pratas aí na mesa, garotão — provoco e ele sorri.
— Bad boy, garotão — ele começa, aproximando-se mais de mim. — Aposto que o próximo apelido será amor.
Gargalho alto, chamando a atenção de algumas pessoas. Coloco as mãos na boca, tentando conter um pouco do som escandaloso. Jacob está rindo também, mas não tanto quanto eu. Queria ter um pouco da sua autoestima.
— Você é a pessoa mais convencida que eu conheço — conto, quando a garçonete coloca os nossos pedidos na mesa.
— Eu posso até ser convencido, mas sempre estou certo — ele assegura, dando de ombros e sorrindo. — Pode provar.
Faço exatamente isso. Relutante, tomo um pouco do chocolate quente, que aquece o meu corpo nessa noite fria. Em seguida, mordo uma batata e vejo que a combinação não é ruim ou nojenta, na verdade, é muito bom.
Quem diria, Jacob.
— Horrível — tento fazer uma careta, mas o meu sorriso não permite. — Quero o meu dinheiro.
— É feio mentir, Ana — ele repreende e eu sorrio ainda mais, não conseguindo me conter. Droga. O jeito que ele fala "Ana" me faz querer apertar as suas bochechas.
— Tudo bem. Admito que isso é muito bom, só perde para o bom e velho hambúrguer — confesso e ele sorri, um sorriso debochado.
— Eu sei.
Ele dá de ombros, ainda com o sorrisinho idiota. Reviro os olhos e como mais um pouco.
— Convencido.
Continuamos comendo em silêncio por alguns minutos, até que o meu celular toca. Vejo que é o nome do Tom brilhando na tela e franzo a testa, estranhando o porquê de ele me ligar a essa hora.
— Oi, Tom.
— Ana? Onde você está? — ele pergunta. Parece preocupado.
— Qual é o nome desse lugar? — pergunto para o Jacob, tampando o microfone do celular com a mão. Não prestei atenção na placa. Ele sibila "beb 's". — Beb 's, com o Jacob.
— Você está ferrada, Ana — Tom avisa e eu fico ainda mais confusa. — A garota que caiu da escada, não foi um acidente, foi proposital. Agora eles estão investigando um homicídio e nem é culposo, é doloso.
— Nossa! Mas por que eu estou ferrada? — pergunto, ainda sem entender.
— Como, por quê? — ele praticamente grita. — Você e o Jacob foram os únicos que saíram de forma suspeita antes da polícia chegar, a demon queen fez questão de ressaltar isso.
— Ah, meu Deus — murmuro, juntando as peças.
Agora somos os principais suspeitos, podem achar que jogamos aquela garota da escada. Merda.
— Pois é. Seu pai está aqui na delegacia, provavelmente tentando ligar pra você — Tom conta, preocupado. — Venham para cá, antes que coloquem a foto de vocês dois nos jornais como fugitivos.
— Tudo bem. Estamos indo — aviso e desligo.
Jacob vê o pânico em meu olhar e me encara, assustado.
— Está tudo bem?
— Não, estamos ferrados — conto e ele entrelaça as nossas mãos, fazendo o meu coração pulsar mais rápido. A adrenalina dessa história deve estar me afetando.
— Por quê?
— A garota que caiu da escada morreu. A polícia descobriu que ela foi empurrada e estão investigando o caso como homicídio doloso, somos os principais suspeitos, Jacob — revelo e ele fica pálido, percebendo a merda que fizemos.
— Fomos embora de uma possível cena de crime. — Ele entende e eu confirmo com a cabeça.
Seja o que for ou como for, eu estou mais ferrada do que ele. Só pelo fato de ser negra vão descartar quase totalmente a hipótese de ser ele, para focarem em mim. E é aí que entram os malditos padrões.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro