15 | L ou E?
Você não é um alvo tão fácil. Um minuto eu te conheço, e no outro não.
- SVRCINA.
Quebra-cabeças geralmente são a distração predileta para pessoas com um nível elevado de QI. Para alguns é uma terapia, para outros um estresse adicional, para mim é um desafio.
Com todas as informações que tenho, estou tentando montar uma linha cronológica que faça sentido, sentada no chão do meu quarto, com apenas o brilho do computador iluminando o ambiente. Não consegui dormir porque meu cérebro a todo momento me incomodava com uma suposição diferente, foi então que tive a brilhante ideia de transferi-las para o bom e velho arquivo.
Tom e Lisa fizeram o quadro de suspeitos físico, o meu está sendo virtual, mas posso afirmar que comecei com muito mais pistas do que eles tinham na época. Meu novo dilema é: Lisa ou Evangeline? Lisa e Evangeline? As duas juntas ou separadas? Cúmplices ou rivais?
Minha mente está concentrada em reunir todas as informações desde o incidente com Louise, a garota que caiu da escada. O último mistério da Agatha Christie que li, me fez refletir que coincidências nem sempre são apenas isso, e que muitas vezes há a possibilidade de mais de uma pessoa estar envolvida em um crime.
A única certeza que tenho é que nenhum crime é perfeito e que o assassino sempre deixa pistas, assim como ele sempre segue um padrão, querendo ou não. A menos que seja mais de uma pessoa, o que claramente é o caso.
A ligação que encontrei entre os crimes foi: todos aconteceram em ambientes agitados, como festas. A única exceção foi a morte de Henry, que ocorreu na escola, mas com o mesmo propósito. O assassino, ou neste caso, assassina, gosta de chamar a atenção e assim enviar mensagens para seus próximos alvos.
Quando Beatrice supostamente se suicidou, todos os seus amigos haviam marcado uma festinha particular na mansão de Courtney. Quando Louise morreu, estava acontecendo a festa de "boas-vindas" de Evangeline. Na vez de Henry, foi em um ambiente onde estavam muitas pessoas. Com Courtney foi na minha festa de ano novo.
Já a forma como morreram não segue uma sequência exata. Beatrice foi enforcada, Louise empurrada de uma escada, Henry baleado, Courtney esfaqueada e jogada na piscina.
Agora contando com os sustos em forma de avisos. Scarlett possivelmente tentou me empurrar do penhasco e alguém nocauteou Michelle na festa de Halloween.
Meu cérebro está agitado, os olhos frenéticos lendo as linhas escritas, a ansiedade sendo descontada na unha do polegar. Preciso encontrar uma solução ou possíveis teorias. Talvez esteja óbvio demais, assim como todos os casos de crimes solucionados por detetives.
Olho o calendário e no mesmo momento uma mensagem chega em meu privado. Abro e vejo o convite para o baile de inverno daqui há uma semana. 17 de janeiro de 2019. Um arrepio me cerca, assim como uma sensação terrível.
A ocasião perfeita para outro assassinato, para um fim a guerra... Arregalo os olhos, imprimindo o arquivo e acendendo a luz. Descobri quem são os responsáveis pelos assassinatos! Como não pude ver antes?
Calço o primeiro par de botas que encontro pela frente, pegando o casaco grosso e confortável, acompanhado pelo cachecol laranja. Guardo o celular na bolsinha, pegando o capacete da minha bicicleta e as chaves de casa.
Arrumo tudo e ligo os faróis improvisados, pedalando até a casa do Tom, que não fica muito longe dali. Quando chego em seu jardim, deixo a bicicleta encostada perto da porta e ligo para ele, que graças aos céus estava acordado.
Quando a porta é aberta, vejo sua cara assustada ao avaliar minhas roupas e minha respiração ofegante.
— Meu pai! Quem morreu desta vez?
— A pergunta deveria ser "quem vai morrer desta vez?".
Entro em sua casa, tirando o capacete e deixando na mesinha perto da escadaria.
— Ana, você foi oficialmente promovida a assassina da moda. Meus parabéns! — ele brinca e eu dou risada, vendo que estou com uma bota preta e a outra branca.
— Fiz a descoberta do século e não podia esperar até amanhecer.
Ele franze o cenho e fecha a porta. Subo as escadas sem convite formal e ele me segue. Entro em seu escritório personalizado, vendo que ele já havia arrumado o quadro de suspeitos.
Tiro o papel do bolso do casaco e entrego para ele, que fica mais confuso ainda.
— L ou E?
— Isso. Lisa ou Evangeline.
Arranco todos os alfinetes e todas as fotos do quadro, ajoelhando-me e deixando tudo no chão. Organizo como: vítimas à esquerda, assassino no meio e suspeitos à direita.
Começo pela foto de Beatrice, Louise, Henry e Courtney, respectivamente, na área das vítimas. Em seguida, coloco a minha foto e a de Michelle, já que quase fomos mortas também. Pego as fotos de Evangeline, Lisa, Zayn e Scarlet, colocando-as ao lado dos suspeitos.
— Ai! Que merda — ele murmura, terminando de ler o que estava no papel, encarando-me.
— É, eu tive a mesma reação.
Levanto-me com a caneta, própria para quadros, em mãos.
— Explique essa sua teoria.
— Simples. Essas pessoas aqui. — Aponto para as vítimas. — Foram mortas por essas aqui. — Aponto para os culpados e Tom me encara, com confusão brilhando em seus olhos.
— Isso é tão confuso, não tem nada de simples aí.
— Antes de tudo, precisamos entender que Zayn e Scarlett são apenas cobaias, então eles continuam aqui — afirmo, apontando para suas fotos. — Já essas duas, são as principais assassinas, travando uma guerra entre si.
Retiro as fotos de Lisa e Evangeline da lista dos suspeitos, colocando-as no meio e escrevendo "vs" entre elas.
— Estou entendendo — ele concorda, balançando a cabeça.
— Para Evangeline, há duas explicações. Número um: ela tem distúrbios mentais que giram em torno da psicopatia. Número dois: ela agiu dessa forma por impulso de adolescente, talvez até mesmo inveja e ciúmes.
— Não sei qual das duas é mais maluca e se encaixa melhor.
— Pensa, Tom. Ela realmente matou Beatrice, porque todas as provas apontam para ela. Provavelmente o pai de Jacob, que foi advogado dela na época, sabia disso, mas a acobertou tão bem que o caso foi encerrado. Agora, por qual motivo ela fez o que fez?
Tom arregala os olhos, correndo até a gaveta da mesinha e a revirando. Em seguida, ele busca por todas as caixas disponíveis naquele lugar.
— Droga! O diário está com a Lisa, mas me lembro de uma parte que Beatrice desconfiava que Evangeline tinha inveja de Lisa, por ter uma vida mais estável. Aquelas anotações pareciam besteira para mim na época, mas agora faz muito sentido. Talvez a sua segunda suposição esteja correta, Ana. A demon queen tinha inveja da rainha do caos, por isso tirou Beatrice dela, fazendo tanto terror psicológico que desencadeou até transtorno alimentar na garota.
Confirmo com a cabeça, empolgada por estarmos desvendando esse mistério aos poucos.
— Você já tentou investigar a ficha da Louise? Quem eram os pais, que vínculo tinha com o grupinho. Aquele veredicto que Zayn a empurrou sem querer nunca me desceu.
— Nunca investiguei a fundo, mas consigo acessar sua ficha escolar através do jornal.
Meu amigo se senta na cadeira da mesinha, abrindo seu computador. Fico atrás dele, apoiada na cadeira e ele move o mouse até uma pasta, clicando no arquivo. Abro a boca ao ver o nome de tanta gente.
— Tenho acesso a isso porque dirijo o jornal e confiam em mim.
— Eles são malucos então — brinco e ele ri.
— Aqui está. Louise Clark-Gutemberg.
Ele aperta o arquivo, que abre o documento em pdf com a ficha de Louise. Seus pais são o juiz Richard Gutemberg e a modelo Liv Clark. Arregalo os olhos, com uma teoria em minha mente.
— Tom, você lembra o nome do juiz que cuidou do caso da Beatrice?
— Não, mas esse sobrenome Gutemberg não me é estranho.
Saio de perto de Tom e me sento em um dos pufes. Envio uma mensagem para Jacob, confirmando se foi esse o juiz que cuidou do caso de Beatrice, porque se for, nós acabamos de encontrar outra ligação que precisa ser provada.
— Você está pensando no mesmo que eu, não está?
— Se você estiver pensando que foi esse o juiz do caso e que ele deve ter algum envolvimento com essa sujeira, perdendo a filha como consequência, então sim. Estamos pensando a mesma coisa — ele alega e eu confirmo com a cabeça.
— Minha cabeça vai explodir com tanta informação.
Ele se levanta e pega a garrafa de vinho branco que nem vi que estava ali, entregando-me juntamente da taça.
— Ajuda a pensar. Vamos precisar.
— Obrigada.
Sirvo minha taça e tomo alguns goles, apreciando o álcool — que agora já não queima tanto — descer pela minha garganta. Meu celular apita e vejo que Jacob respondeu, assim como vejo que já são quase 05h da manhã. Preciso estar em casa antes das 06h, que é quando meu pai acorda.
Abro nossa conversa e vejo que ele confirmou, fazendo com que meu corpo gele. Agradeço e aviso que explicarei depois.
— Sim, foi ele. Esse é o juiz do caso.
— Bingo! — Tom exclama, fazendo algumas anotações. — Vou tentar entrar em contato com a família, quem sabe eu não consiga arrancar informações deles como consegui com a mãe de Henry.
— Se nossa teoria estiver certa, nós já temos motivos para acusá-la, Tom!
— Exato. Devemos lembrar também que o caso de Henry ainda está em investigação, então uma coisa vai ligando a outra. Se ela tiver algo a ver com a morte de Louise, mesmo que por meio de Zayn, já é motivo suficiente para ter envolvimento com Henry.
— O que confirmaria a teoria da inveja e faria sentido a que vem no outro tópico daí — aponto para o papel ainda em suas mãos.
— Que Lisa matou Courtney para revidar — ele completa e eu concordo com a cabeça.
— Mas ainda tem a possibilidade dela ter nos manipulado para chegar onde queria, ou seja, no baile da semana que vem — sugiro.
Tom suspirou, concordando, pensativo.
— Ela não me pareceu manipuladora em nenhum momento. Quando começamos a trabalhar juntos ela só disse que queria ver Evangeline na cadeia, pagando pelos seus atos. Nunca disse que iria fazer justiça com as próprias mãos.
— Sherlock disse que o mundo está cheio de coisas óbvias que não vemos. Todo esse mistério pode estar se resumindo unicamente a isso.
— Sim, é verdade. A solução está assustadoramente fácil, mas todos os mistérios são assim para quem tem inteligência, não é? — Ele questiona e eu gargalho, confirmando.
Há tantas possibilidades, tantas suposições, mas isso parece fazer tanto sentido...
— Antes desse baile temos que comprovar se nossas suspeitas estão mesmo certas, porque se estiverem, sabemos que terá a tentativa de algo grande.
Tom pega a garrafa de vinho, virando-a de uma vez só e me entregando para fazer o mesmo.
— A morte de uma das rainhas.
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