13 | Ano novo, alvos novos
Antes de brincar com fogo, pense duas vezes. E se você se queimar, não fique surpreso.
- Robin Schulz.
Encaro meu reflexo no espelho, abotoando a camisa preta e bagunçando meus fios castanhos. Calço os tênis igualmente negros, que fazem um ótimo contraste com a calça preta e o blazer brilhante da mesma cor. Pego o relógio, ajustando-o no pulso e respiro fundo.
Não consigo entender o porquê de toda essa baboseira com cor, mas a brasileira deixou bem claro no convite que cada convidado deveria decidir entre cores frias, que fossem brilhosas e cintilantes. Sei que não foi ideia dela, mas sim do Tom, já que é ele quem ama todas essas coisas cheias de glamour.
Ficamos arquitetando este plano há um bom tempo e estamos confiantes de que hoje descobriremos quem é o principal envolvido, assim como decifraremos como ele ou ela age.
Em uma de nossas reuniões, estávamos pensando onde poderia ser a festa de ano-novo, já que a maioria das pessoas não passa com a família, mas sim com amigos, bebendo e dançando — especialmente adolescentes inconsequentes fazendo merda.
Na minha casa não poderia ser, devido à minha mãe e seu quadro. Na de Lisa também não, por causa do desmaio na escola. Tom não pôde graças à festa de halloween. Michelle e Scarlett também não. Então sobrou para a escritora, que informou que demos sorte, já que o pai viajou para a capital no dia 30 e não passará a virada com ela.
As meninas se juntaram para começar os preparativos no começo da semana, com toda a decoração e listas de coisas para a festa. Dividimos as tarefas entre cada um do nosso novo grupo e Scarlett finalmente deu as caras, sem nenhuma evidência de braço quebrado ou algo que confirmasse a teoria da Ana de que a amiga realmente era a garota maluca do penhasco.
De qualquer forma, eu e Scarlett ficamos responsáveis pelas bebidas, já que temos o melhor gosto para isso, e fiz algumas perguntas. Ela não me pareceu mentir quando contou sobre a estadia em Ottawa com a madrinha e pelo que me contou, precisou viajar de emergência porque a mulher adoeceu e precisava de ajuda.
Ouço o barulho da campainha e depois algumas vozes. Franzo o cenho, porque não estava esperando ninguém. Ana e eu achamos melhor manter distância na festa porque, para todos os efeitos, não fizemos as pazes ainda, e então relaxo ao lembrar de Lisa, que pediu para irmos juntos.
Termino de esguichar um pouco do meu perfume favorito e coloco o celular no bolso, abotoando o blazer e deixando parte do colete e gravata à mostra.
Ao sair do quarto, Morales me avisa que meus amigos me esperam na sala principal, deixando-me ainda mais confuso.
Desço as escadas, ajustando a manga do blazer e viro a cabeça ao ouvir uma risada que conheço bem. Só pode ser brincadeira.
Zayn, Courtney, Evangeline, Lisa e Jullie estão sentados no meu sofá, todos rindo e conversando, com exceção da loira, que parece terrivelmente indiferente a toda a situação alheia.
Forço um sorriso, anunciando minha presença e Zayn se levanta, abrindo o blazer prateado e brilhante — que contrasta muito bem com o restante do visual formal —, dando uma voltinha, rindo. Ele me dá um abraço rápido e alguns tapinhas nas costas.
— Que surpresa ver vocês aqui. Não combinamos nada — falo, tentando soar o mais normal que consigo.
— Ah! Qual é, Jacob. Que eu saiba todos somos bem-vindos aqui e não precisamos de convite.
Zayn sorri, desafiando-me a contrariar sua fala, mas apenas concordo com a cabeça.
Volto meu olhar para a ruiva, que se levanta para exibir seu vestido extremamente justo e brilhante de cor verde água, combinando perfeitamente com os fios alaranjados presos em um coque formal, contrastando com a maquiagem igualmente verde. Essa é definitivamente a cor dela. Uma pena que não seja boa pessoa.
— Concordo com você, Zayn, mas não me lembro de ter dito que ela é bem-vinda aqui.
Ergo uma sobrancelha, apontando a ruiva com a cabeça, desafiando-o.
— Ah! Por favor. Vamos logo para essa festa antes que eu termine de esgotar a minha paciência — Evangeline pede, levantando-se e arrumando seu vestido rosa-brilhante, que tem uma parte mais longa na coxa esquerda e um decote que desperta a imaginação.
Lisa se levanta, sendo a primeira a caminhar até a porta com uma postura admirável. Seu longo vestido dourado e transparente chamam a atenção por onde passa, contrastando com a pele pálida e os fios igualmente dourados.
Courtney segue Evangeline e os demais para fora também, obrigando-me a acompanhá-los e julgar o pedaço de pano lilás que ela usa. Seu bom gosto nunca foi um ponto admirável.
— Podem ir na frente, vou no carro da Lisa — comunico, passando o braço ao redor dos ombros da loirinha.
Evangeline e Zayn trocam olhares cúmplices e desconfiados, murmurando algo como "tudo bem" e entrando na BMW azul dele. Courtney acompanha Jullie em seu carro e os dois veículos saem em direção a pista, acelerando.
Lisa respira fundo, colocando os fios dourados atrás da orelha e tentando sorrir.
— Não fazia ideia de que eles passariam aqui antes.
— Imaginei.
Entramos em seu carro e ela liga o motor, acelerando e dirigindo em direção a casa da escritora. Envio-lhe uma mensagem avisando que estou chegando e ela concorda.
Depois de alguns minutos dirigindo, a loirinha ao meu lado estaciona ao lado dos outros inúmeros carros na rua em que Ana mora. Uma música alta e animada já ecoa por toda a rua e me pergunto como os vizinhos não foram reclamar, ou chamar a polícia ainda.
Tiro o cinto de segurança, encarando Lisa, que respira fundo e arruma a alça do vestido dourado. Sei que ela anda com muita coisa na cabeça ultimamente e isso me preocupa para caramba.
Descemos do carro e ela aciona o alarme, ficando ao meu lado. Encaramos o sobrado que parece brilhar — graças a todos os reflexos de glitter das roupas — e ofereço o braço para ela. Lisa segura em meu braço e entramos na casa, que estava com o portão aberto graças aos adolescentes fumando seus cigarros.
Percebo que a porta principal está trancada e a sala sem nenhuma luz acesa, recordando-me de quando vim até aqui para fazermos o trabalho de literatura juntos. Parece que fazem meses e, ao mesmo tempo, que foi ontem. Como pode?
Lisa me puxa em direção ao corredor bem iluminado que deve levar aos fundos do casarão, onde a música está mais alta. Há tantas pessoas aqui que mal consigo contar, e tanto brilho cintilante faz minha cabeça doer. Nossos "amigos" acenam para nós e caminhamos até a enorme mesa com as mais variadas comidas. As meninas capricharam.
— Preciso admitir que a preta se superou.
Trinco o maxilar, segurando-me para não jogar Evangeline na piscina perto de nós. Pergunto-me como pude deixá-la me cegar por tanto tempo, como fui tão facilmente manipulado por essa cobra.
— É. Parece que ela sabe o que faz — concorda Lisa, entrando em seu jogo sujo.
Noto uma figura brilhante e lilás caminhando até nós, deparando-me com Tom, que está sorrindo de um canto a outro. Trocamos rápidos olhares cúmplices que dizem que tudo está de acordo com o plano e ele pega uma taça de champanhe que um garçom está servindo. Senhor! Contrataram até garçons?
— Boa noite! Bonde do mal. Gostando da festa?
Seguro-me para não rir do apelido lançado por ele, que bebe seu champanhe debochadamente.
— Até que dá para o gasto — Jullie avalia.
— Que bom, linda. Divirtam-se.
Assim como veio, ele vai embora, passando entre as inúmeras pessoas. Ainda não vi Ana, nem Michelle e Scarlett.
— Vou ao banheiro — informo.
Lisa me lança um olhar repreendedor por deixá-la sozinha com eles, mas em seguida pega uma taça de champanhe e vira de uma vez só, pegando outra em seguida.
Entro na casa pela porta da cozinha, vendo que há algumas pessoas por aqui também. Caminho até as escadas que ficam na sala e tomo a liberdade de subir, com o coração acompanhando as batidas de "Sugar", que está extremamente alta.
Ouço risadas vindo do andar de cima e encontro quatro portas, surpreso pelo tamanho do espaço, é como se tivesse outra sala aqui. Sigo até uma placa que diz "O Brasil é muito melhor", não fazendo ideia da tradução. Conheço um pouco de espanhol, mas são mais diferentes do que parecem.
Bato na porta e demora alguns segundos, mas alguém logo a destranca e revela a imagem dos cachos de Ana, que estão presos no alto de sua cabeça. Seus lábios estão pintados com um batom vermelho-escuro e meus olhos descem até seu corpo, perdendo o fôlego ao analisar o vestido que se agarra às suas curvas.
O vestido é preto assim como toda a minha roupa, com pedrinhas brilhantes por toda a sua extensão. O que me atrai mesmo é a fenda, que deixa a perna negra e macia à mostra.
— Tem uma babinha aqui — ela brinca, apontando para a própria bochecha.
— Me deixou até sem ar, escritora.
— Hm! O que não é muito difícil, não é?
Damos risada e ela abre mais a porta do quarto, deixando-me entrar.
O ambiente é muito diferente do que imaginei, especialmente pela presença marcante da cor laranja, que eu particularmente detesto.
— Imaginou um quarto amarelo, verde e azul, cheio de bandeirinhas do Brasil?
Dou risada, negando com a cabeça e me aproximando dela. Enlaço sua cintura com os meus braços e ela sorri, encarando a porta aberta atrás de nós.
Solto-a apenas para fechar a porta e logo volto a segurá-la, avançando em seus lábios macios. Com todo o alvoroço para a preparação da festa mal nos vimos, e ficar longe dela nesse evento será uma tortura ainda maior.
— Jacob, acabei de me arrumar...
— Uhm. Eu te ajudo depois — garanto, beijando seu pescoço, sentindo-a arfar.
Batidas na porta nos interromperam de cometer outra loucura e resmungo um xingamento.
— Quem é?
— Eu, Michelle.
Ana passa por mim e abre a porta, falando alguma coisa com a garota e fechando a porta em seguida.
— Acho que temos alguns minutinhos antes de descermos.
Sorrio para ela e volto a beijá-la, tomando cuidado com o vestido.
ᚔᚔ
Alguns minutos depois já estamos de volta à área principal onde estão reunidas algumas pessoas. A música continua estridente e animada, com alguns jovens pulando e outros bebendo. Não consigo encontrar Lisa, mas vejo Evangeline e Zayn em uma conversa aparentemente sensual. Estranho...
Ana me encara disfarçadamente e se aproxima de Tom, que está conversando com Flynn e Michelle. Não há sinal de Jullie e Scarlett também.
Um garçom passa por mim com uma bandeja em seu braço. Pego uma taça, apreciando o doce sabor do champanhe se misturando ao álcool. Noto que Zayn e Evangeline sumiram, então, sem nem pensar, aproximo-me da escritora e seus amigos.
Flynn me encara e percebo que eu estava certo. Ele tem algo com Tom.
— Onde estão as meninas? — Ana pergunta, bebendo o líquido de sua taça.
— Scarlett disse que ia ao banheiro, mas já faz um tempo — Michelle responde, dando de ombros.
— Lisa passou por mim mais cedo, ela estava precisando de ar — avisa Flynn.
Confirmo com a cabeça, sentindo que algo muito ruim está prestes a acontecer bem debaixo de nossos narizes. Avalio melhor os trajes escolhidos por Michelle e Flynn. A garota usa um vestido prateado curtíssimo e com um decote. Mesmo sendo curto e decotado, a peça é folgada em seu corpo, dando um ar de riqueza. Já o rapaz está com um blazer dourado brilhante, combinando com as calças e sapatos escuros.
Ana olha em volta meio apreensiva e percebo que talvez ela esteja sentindo o mesmo que eu.
— Faltam cinco minutos para a meia-noite! — Alguém grita e todos gritam em resposta.
Sorrio, bebendo mais um pouco do espumante. Don't Worry começa a tocar e todos engatam em uma dança divertida e nada sincronizada.
— Eu amo essa música! Segura a minha bebida aqui, baby.
O rapaz entrega a taça para Flynn, que balança a cabeça em negativa e ri. Tom puxa Michelle e Ana, que vão em relutância, avisando que não sabem dançar.
Agora que reparei que a fenda na coxa esquerda da Ana revela quase demais e que há um objeto dourado que chama a atenção. Não sei bem o que é, mas combinou perfeitamente com ela e seu tom de pele.
Juntos no meio dos outros jovens, Tom começa alguns passos, apontando para cima e para o chão seguindo as batidas da música animada. Fico ao lado de Flynn, observando o rapaz mostrando seus dons na pista.
Algumas pessoas começam a imitar os passos de Tom, que agora está chacoalhando os ombros de um lado para o outro. Michelle o segue, rindo alto e fazendo sua roupa balançar à medida que dança. Ana dá alguns passinhos tímidos, mas logo se solta e começa a rir com os amigos.
Na parte solo, Tom fica no centro da roda, dublando o cantor e fazendo alguns movimentos como se fosse um rapper profissional. Ele abre o blazer enquanto joga o corpo para frente e logo o fecha outra vez, voltando a dançar com as outras pessoas.
Como em uma cena de filme, todos apontam para o céu e para o chão, indo de um lado para outro, em uma sintonia invejável.
— Eles são ótimos — comento, rindo, e Flynn concorda.
— Principalmente ele.
Meu amigo aponta para Tom, com um sorrisinho ladino no rosto e eu sorrio em resposta. Sem se importar com o que os demais fossem pensar, Ana e Tom nos puxam para dançar com eles e todos rimos, seguindo os passos do Tom.
Chacoalho o corpo de um lado para o outro, ainda segurando minha taça, e Ana, que parece estar um pouco alterada graças a todas as taças de champanhe que ingeriu, começa a dançar segurando em meu blazer. Olho ao redor, mas ainda não há sinal dos meus "amigos".
Quando a música chega ao fim, todos aplaudem forte, rindo e pegando Tom no colo, como um artista em sua multidão. Outra música animada começa a tocar, mas desta vez nos afastamos.
— Um minuto! — Alguém grita.
Sorrio, mas uma sensação terrível invade meu estômago. Aproximo-me da escritora e pergunto em seu ouvido:
— Você viu Evangeline, Jullie, Lisa e Courtney?
— Não — ela sussurra de volta.
A contagem regressiva se inicia e Evangeline aparece com Zayn, parando ao lado de Jullie, que estava ali o tempo todo. Então ela viu toda a dança. Ótimo. Isso explica seu olhar fulminante.
— Dez! Nove! Oito! Sete! Seis!
As pessoas começam a gritar e Scarlett finalmente aparece, com seu vestido justíssimo, com aparência de couro. Não deixo de notar que o tom de vermelho combinou perfeitamente com seus cabelos.
Fogos explodem iluminando o céu escuro e fazendo barulhos estridentes. Todos gritam em comemoração. Isso está parecendo o Canada Day no 1° de julho.
Uma música que nunca ouvi antes começa a tocar e sua letra me soa uma indireta, principalmente na parte em que diz:
"Você não sabe que eu sou perigosa? Fogo queimando em meu sangue."
— Isso soa como Lisa — Scarlett opina e logo vemos nossa amiga se juntando a nós.
Sua postura está mais ereta do que o normal e sua expressão dura como pedra. Ela está totalmente indiferente, assim como fica algumas vezes.
Quando a música chega ao seu refrão alguém grita. Um grito desesperado e incrédulo. Encaro Lisa, que sorri, e desafia Evangeline com um olhar, que ergue a sobrancelha.
— Tem um corpo na piscina! — A garota que gritou revela.
Todos nos viramos imediatamente na direção da enorme piscina de Ana, vendo um corpo boiar e a tintura vermelha o cercar. Ah. Meu. Deus!
— Tem um corpo na minha piscina — Ana sibila, desacreditada.
Aproximamo-nos e vemos o vestido roxo brilhante, sem saber quem é, já que muitas pessoas vestiram roxo esta noite. Quando Zayn tira o corpo da água e podemos ver seu rosto, meu sangue gela e os olhos arregalam.
Olho direto para Evangeline e Jullie, que engolem em seco e caminham na direção da amiga, fazendo a massagem cardíaca. Tiro o blazer para ajudá-los, afinal, mesmo não nos dando bem, Courtney faz parte da minha vida em alguns momentos.
Antes de seguir, encaro Lisa, que continua observando a cena com sua expressão frívola. A cabeça erguida, os olhos verdes com uma camada congelada e os braços cruzados. Ela me encara, com um sorriso ladino e murmura:
— Ano novo, alvos novos.
A revelação parece explodir meu cérebro e minhas mãos começam a tremer, junto ao sangue que com certeza se esvai.
— Foi você?
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