Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

11.3

E eu não me importo se eu perder um pouco de sangue a caminho da salvação. Lutarei com a força que tenho até morrer!

- Cynthia Erivo.

Tudo o que ouço agora são zumbidos altos e irritantes. Minha mente está em transe há alguns dias, assim como meu corpo que vem ativando o piloto automático. Faz dois dias que Dalila foi morta por quem supostamente deveria protegê-la e as outras autoridades não fizeram nada, apenas afastaram os culpados de seus distintivos.

Olho-me no espelho e me pergunto até quando o meu pessoal será morto injustamente. Questiono-me até quando precisaremos ter medo de sair na rua e sermos confundidos com ladrões, feitas de brinquedinhos sexuais e alvos de piadas nojentas. Dói! A dor é insuportável, mas não quero chorar. Não mais.

Olho as minhas redes sociais pela última vez, vendo todos os posts indignados sobre o ocorrido, posts pedindo justiça por Dalila e todos os outros. Pesquiso se será no centro de Toronto mesmo e mando uma mensagem para o pessoal, confirmando.

Desço as escadas e me parte o coração não sentir o aroma delicioso da comida de Dalila, o que ela mais gostava de fazer. Meu pai está com um semblante triste, os olhos cheios de lágrimas e as mãos mexendo uma panela em círculos. Quando ele me vê, força uma expressão comum, oferecendo-me um sorriso. Sorrio para ele e me aproximo, abraçando-o.

Meu pai afaga meus cabelos e suspira pesadamente. Ele se sente culpado, sei que se sente. Foi ele quem pediu para ela ir até aquela loja e agora pensa que deveria ter sido ele em seu lugar, o que machuca meu coração ainda mais.

— Estou fazendo macarrão — ele murmura, desanimado.

Aperto os olhos, impedindo que as lágrimas me vençam e balanço a cabeça, concordando.

— Vou ao centro com o pessoal, preciso resolver algumas coisas — conto e ele me encara apreensivo.

— Você não vai participar da manifestação que estão organizando, vai?

— Vou! — Confesso e ele assume uma carranca.

— Você não vai, Ana. Eles não hesitarão em atirar em mais negros.

— Pai, eles não vão atirar em mim — acalmo-o, tentando acreditar nisso. — Não me importo se perder um pouco de sangue a caminho da liberdade.

— Ana, não estou brincando!

— Eu também não, pai. Mas é por causa dessas manifestações que eu posso ir à escola hoje, que temos nossos direitos, apesar de serem precários. Eu preciso fazer isso. Preciso falar por quem não pode mais — desabafo, com o coração pulsando fortemente.

Ele tenta me impedir mais algumas vezes, mas continuo firme na minha decisão, fazendo-o ceder depois de inúmeras tentativas.

Fecho o portão e caminho até a esquina onde o carro do Jacob está estacionado. Fecho a jaqueta preta e respiro fundo, sentindo o vento soprar violentamente contra o meu rosto. O inverno está tenebroso e as ruas cobertas por uma fina camada de gelo.

Entro em seu Jeep, que está em uma temperatura ambiente graças ao aquecedor. Ele sorri para mim, apertando a minha mão e eu suspiro, lembrando de Dalila. Ela foi a mãe que eu não tive, foi a minha melhor amiga durante muito tempo. Ela sempre me apoiava em tudo, sempre me ouvia dizer sobre clichês, decepções. Quem será essa pessoa agora que ela se foi para sempre?

Ele desliga o botão vermelho com o símbolo de "atenção" e acelera enquanto mando mensagem para os nossos amigos perguntando se eles também irão. Todos dizem que sim, menos Scarlett que está em Ottawa com a madrinha resolvendo alguns problemas.

Passamos na casa do Tom, seguido pela de Lisa e a de Michelle. Sabemos que não corremos riscos de sermos vistos juntos já que o ex grupinho de amigos do Jacob e Lisa jamais iriam a uma manifestação, principalmente sendo preconceituosos da forma como são.

— Você está bem? — Chelle pergunta, apertando meu ombro.

Balanço a cabeça, afirmando que sim, mas na verdade nem sei se estou ou não. Minha mente está confusa, eu estou confusa e ainda tem todos os problemas que nos rodeiam.

Tom e Jacob estão conversando sobre alguma coisa a ver com a temporada de Hóquei, provavelmente para distrair esse clima ruim, mas não dou muita atenção.

Chegamos ao centro de Toronto, onde estão algumas pessoas com roupas pretas, rostos pintados, bandeiras com o nome "Black lives matter" balançando ao contato com o vento, cartazes e fotos de vítimas.

Fico arrepiada com a quantidade de pessoas e objetos de protesto.

Estacionamos em uma calçada aleatória e saímos, pegando alguns cartazes que fizemos e nos misturando ao povo. Vejo alguns policiais na área e o meu sangue ferve, com a dor se misturando a raiva. Sinto vontade de caminhar até eles e gritar até a voz sumir, mas sei que não posso culpá-los. Nem todos têm culpa.

Jacob parece perceber, porque segura a minha mão, apertando-a e sorrindo para mim. Seguimos mais a frente e vejo um cartaz, dizendo "justiça por Dalila dos Santos". Seguro as lágrimas e me misturo à multidão, que está indignada.

Caminhamos segurando as placas, bandeiras e cartazes. Meus amigos estão logo atrás de mim e quando a multidão para, percebo uma barreira policial. Engulo em seco e noto algumas pessoas os desafiando, aproximando-se e gritando coisas como "Police violence is not the solution!"¹ e "Keep your disgusting prejudices to yourself!"¹ Junto-me a eles e os meus amigos me encaram com o olhar repreendedor, dizendo que não é uma boa ideia. Ignoro-os movida pela adrenalina.

O coro que está se formando com as frases citadas anteriormente me arrepia da cabeça aos pés, assim como o eco que está fazendo. Os policiais parecem prontos para alguma coisa, mas não sei ao certo para quê.

A imagem de Dalila sendo levada pela ambulância naquela reportagem da televisão me volta à mente e grito mais alto com eles quando começam a dizer "black lives matter". Todos estamos cansados de tanta injustiça por quem deveria supostamente nos proteger, já não podemos mais confiar nesses homens fardados, que podem fazer tanto estrago.

Lágrimas borram a minha pintura facial que carrega essa luta conhecida, combinando com as minhas mãos trêmulas segurando o cartaz. A sensação de que algo dará errado me invade, mas a ignoro.

Meus amigos cutucam meu ombro quando as pessoas começam a invadir a área dos policiais. Os homens fardados dizem algo no rádio e depois o caos começa, como em um passe mágico.

Disparos são ouvidos e ecoam pelos arredores, assustando a maioria dos manifestantes como em um filme. Alguns policiais partem para cima de manifestantes, outros tentam fomentar a situação e tudo se transforma em uma verdadeira bagunça.

Pessoas gritando, correndo, chorando. Disparos. Carros saindo a toda velocidade. Repórteres cobrindo toda a área para não perder nenhum detalhe. Não consigo me mexer, estou imóvel, atônita demais.

Sinto meu braço ser puxado, mas não deixo de encarar a cena à minha frente. Alguns manifestantes estão jogando bombas de fumaça caseira nos policiais, que atiram sem freio. Creio que sejam balas de borracha, mas isso não impede de machucar seriamente alguém inocente.

— Ana, precisamos ir! — Ouço Lisa dizer, puxando meu braço outra vez.

Saio do transe e o mundo começa a ter sua velocidade comum outra vez. Corro com eles até o carro de Jacob, mas uma bala perdida o atinge no braço, fazendo-o perder o equilíbrio e gemer de dor. Olho para trás e vejo alguns policiais vindo em nossa direção. Entro em pânico. Eles estão muito perto.

— Lisa, a chave no bolso dele. Michelle, abre a porta traseira — mando alto demais.

Lisa pega a chave do bolso de Jacob com cuidado, entrando no banco do motorista e ligando o carro. Chelle corre até a porta traseira, enquanto Tom e eu apoiamos os braços dele em nossos ombros. Os policiais atiram outra vez e pega de raspão no braço de Tom, que se desestabiliza.

Conseguimos entrar e mal fechamos a porta, quando Lisa tira o pé da embreagem e acelera cantando pneu.

Respiramos aliviados e relaxamos, com a adrenalina ainda comandando nossos corpos.

— Caramba! O que foi isso? — Chelle pergunta, ofegante, saindo de cima de nós e indo até o banco da frente com Lisa.

— Violência policial. É assim que alguns deles lidam com manifestações — respondo, culpada por tê-los arrastado para essa confusão.

— Merda! Essa bala de borracha deve doer tanto quanto uma comum.

Olho o braço dele que está sangrando e uma dúvida me rodeia.

— Será que isso é mesmo uma bala de borracha?

— Acho que sim, a quantidade de sangue seria maior se não fosse — Tom opina.

— De qualquer forma é bom levar ele ao hospital, precisam tirar isso daí.

Sem dizer mais nada, a loirinha dirige rumo ao hospital, pegando outro caminho.

— Sinto muito por ter metido vocês nessa.

— Nós não deixaríamos você sozinha nessa, escritora — Jacob sorri, gemendo de dor.

— Pois é, imagina se não estivéssemos lá? — Tom pergunta, fazendo uma careta.

— Ela estaria perdida — completa Jacob.

Sorrio para ele, que sorri de volta, seguido por uma careta de dor. Chegamos ao hospital e ajudamos Jacob a sair do carro, acompanhando-o até um certo local, depois os enfermeiros tomam a frente.

Sentamo-nos em um dos bancos de espera e suspiramos, sentindo um imenso alívio por estarmos todos inteiros e vivos. Olho para a televisão e vejo que o jornal já começou a contar sobre o ocorrido e então me lembro do meu pai, que deve estar desesperado.

Como não consegui comprar outro celular desde que deixei meus pertences no penhasco, peço o celular de um dos meus amigos emprestado e ligo para ele, indo até uma área mais reservada. Afirmo que está tudo bem e sorrio quando ele diz que me quer em casa dentro de 20 minutos, aliviado.

Encerro a ligação e olho para frente, pronta para retornar para onde eu estava, quando vejo Courtney saindo de uma sala com uma senhora. Seu braço está engessado e usa uma tipoia como apoio. Entro em choque e flashes do que aconteceu no penhasco me voltam à mente.

— Não brinca!


Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro