Capítulo 1 - Parte I
Ele podia estar longe dali.
Disperso no novo estilo de vida, engolido pelo sistema. Com dinheiro, drogas e garotas ao seu dispor. Aproveitar a fama era sonho de qualquer um, ser reconhecido e respeitado. Toda a gama de possibilidades era sedutor até mesmo para Peter Stein. Aos 22 anos, o ator iniciante começou a ganhar espaço na mídia e no tapete vermelho com o filme da Netflix "Um cara para minha amiga" que renderam interesse nele em uma série de filmes.
Com dinheiro em mãos e trabalhos garantidos nos próximos dois anos, ele ainda assim optou por permanecer na casa dos pais em Los Angeles. Amor e conforto que eram árduos de desistir. Seus pais, Lena e Langdon Stein, sempre foram figuras de exemplo que o motivaram a ser uma pessoa melhor. Um bom cristão. Sua irmã mais velha, Charlotte, por outro lado, era quem o mantinha em alerta para qualquer brincadeira. Eles tinham um bom relacionamento, companheirismo apesar de eventuais brigas como qualquer relacionamento.
Peter tinha um rosto muito parecido com o pai, traços marcantes, olhos cor de avelã. O cabelos castanho escuro ondulado dava certo trabalho durante algumas manhãs, pois seus cachos eram rebeldes. Em seu queixo, uma pequena cicatriz que estava há anos ali, já esquecia de sua existência apesar de algumas fãs acharem um charme.
Isso ele nunca entenderia.
Tendências.
Talvez em alguns meses, elas esqueceriam quem Peter era. Ao se deparar com ele na rua, não seria reconhecido. Era comum de acontecer com subcelebridades o tempo todo. Um dia estão com os holofotes em sua direção com a atenção de todos ao seu redor, em outro são apenas meros figurantes na magnitude hollywoodiana.
Na verdade, ele pouco se importava com isso. Gostava de atuar por amor à arte, não pela fama. Chegando a fazer inúmeras peças de teatro na época de escola, Peter sentia-se bem no palco e mais ainda em frente às câmeras. Era natural a intimidade que ele tinha, comportando-se sem timidez. Bastava alguns minutos para incorporar o personagem.
Seu empresário, Edmund Murs, era um britânico que instigava cada vez mais as qualidades artísticas do jovem. Via potencial naquele meio juvenil que ansiava em ver Peter nas telas, principalmente com a menor quantidade de roupas possíveis. O ator trabalhou bastante no físico como foi solicitado nas gravações.
— Estarei passando na sua casa às seis — disse Edmund enquanto dirigia. — Você precisa ir para uma sessão de fotos bem cedo, — ele ajeitou os óculos escuros que impediam, em parte, a luz de atrapalhar sua visão — depois iremos até o escritório de Quinn.
A advogada de Peter — e de mais incontáveis famosos — era Leia Quinn, uma excelente profissional, uma mãe carinhosa e uma bela mulher. Também era esposa de Murs, mas seu empresário gostava de separar bem as coisas. Trabalho era assunto sério para o britânico, por isso, constantemente lembrava a Peter a importância de se manter na linha para continuar com projetos na agenda.
Diretores não querem contratar atores problemáticos.
— Certo — confirmou ele no banco traseiro ao olhar pela janela, avistando a rua de sua casa. Em seu fone de ouvido tocava Chocolate de The 1975.
— Sei que você tinha planos de sair no sábado com seus amigos — disse Murs. — Quem sabe no domingo?
Um silêncio desconfortável surgiu no veículo.
— Ah, tem o culto — lembrou ele antes que Peter se pronunciasse. — Bom, próximo final de semanas também vai ser difícil, já que estaremos em Nova Iorque.
— Quando vai ser o voo? — inquiriu enquanto pegava o telefone e confirmava a agenda virtual.
— Quinta à noite.
O carro estacionou com destreza na calçada da casa Stein. Murs olhou para trás, encarando o jovem ator que estava distraído no telefone.
— Não esqueça — ele apontou para Peter com um tom divertido. — Que horas vou passar aqui amanhã?
— Seis — respondeu ele no mesmo espírito. — Eu poderia ir com o meu carro.
A sobrancelha de Murs arqueou.
— E arriscar seu atraso? — respondeu levemente com ironia. — Não, obrigado.
Peter suspirou.
— Whoa, whoa, whoa! — soltou o som enfático. — Quando vai me perdoar daquela vez?
A maldita vez que ele decidiu dormir na casa da ex um dia antes das gravações. Sair daquela cama foi uma das tarefas mais difíceis que Peter teve que executar. Lábios carnudos, cabelos loiros, olhos reluzentes o deixaram preso por horas confinado no quarto. Ele não tinha que reclamar, não fora obrigado a estar lá, entretanto, bastou para não chegar a tempo para seus compromissos, deixando seu empresário severamente irritado.
— Talvez quando você estiver beirando os cinquenta — replicou Murs com desgosto. — E se você não for um daqueles atores consagrados que ainda assim dão trabalho, chegando cinco horas depois do marcado.
— Estarei pronto no horário — disse por fim.
Pegando sua mochila, ele saiu do carro. A luz do pôr do sol criava tons de vermelho no céu enquanto, em terra, dava uma cor salmão à casa clara de dois andares de Peter. Grandes janelas na sala deixavam a vida e a beleza externa do jardim circular no ambiente. A harmonia entre cores e a administração da casa era competência para Sra. Stein que tinha maior prazer em dedicar seu tempo nas benfeitorias do lar.
O barulho repentino logo ao lado do ator chamou sua atenção. Era um caminhão de mudanças que estava estacionado na garagem da casa vizinha, a movimentação de caixas foi a origem do barulho. Três homens deslocando móveis com bastante agilidade tornavam o trabalho mais eficiente. Peter, então, lembrou que os Hiddleston haviam mudado para Londres na semana anterior, pois Sr. Hiddleston tinha conseguido uma promoção no jornal.
Desde esse momento, a residência ficou vazia, silenciosa como jamais foi. Os quatro filhos do casal animavam o bairro, contrastando a tranquilidade que passou a reinar após a saída deles. O filho mais velho da família, Erick, era amigo de Peter, ambos tinham a mesma idade e frequentaram a mesma escola.
Agora, Stein tinha um novo vizinho que gostava de móveis coloridos e exóticos — que ele mesmo pôde ver em alguns minutos que ficou no lado de fora —, como a estátua de um menino pequeno urinando. O item tirou um riso divertido dele, fazendo-o até cogitar uma apresentação ao recém-chegado. Uma mistura de educação e curiosidade que não foram o suficientes para que Peter desistisse em nome do cansaço pós-gravações. Uma vez que o filme rendia cenas à noite, seu horário de sono foi alterado.
Completamente disperso nem percebeu que Murs não estava mais lá. Decidiu, por fim, entrar em casa que vibrava ao som de Woman Like Me do grupo britânico, Little Mix. Os fones de ouvido eram insignificantes em comparação à música vinda da televisão da sala, dando a Peter apenas uma justificativa plausível do que estava acontecendo. Charlotte estava fazendo exercícios. Ele mal andou pela casa quando deparou-se com os aeróbicos entusiasmados de sua irmã.
Ela poderia ter feito isso pela manhã como o de costume, entretanto, às vezes, havia compromissos que exigiam que Charlie estivesse cedo no trabalho. O final da tarde era a segunda alternativa, dando aos vizinhos a oportunidade de saber que existia uma louca dos exercícios entre os Steins. Nem Peter que frequentava diariamente — ou quase — a academia era daquele nível.
Seguindo para a sala de piso em madeira acinzentada com móveis em tons de terra e um grande e felpudo tapete capuccino, Peter deixou a mochila no sofá creme. Charlotte parecia tão imersa na atividade que não percebeu quando seu irmão chegou por trás e lhe deu um susto. De imediato, ela gritou, empurrando o corpo estranho para longe que caiu em risos na poltrona de couro marrom que estava próxima.
— Pare com isso, Peter! — disse a mulher com cabelos castanhos longos presos em um rabo de cavalo. — Eu ainda vou ter um infarto com essas suas brincadeiras.
— Não exagere, Charlie — retrutou ele. — Sua cara foi impagável.
O divertimento no rosto do irmão deixou Charlotte enfuriada. Peter adorava criar aquela atmosfera tranquila e cheia de sorrisos, uma energia como aquela não deveria ser apagada, por isso, a Stein decidiu respirar fundo e limitar-se a fuzilá-lo com o olhar. A junção de risos e a música estridente fez com que Lena aparecesse da cozinha equipada com um avental e uma colher de madeira.
— O que foi, crianças? — indagou a matriarca, um pouco preocupada.
— Peter — apressou-se Charlotte ao cruzar os braços.
O jovem ator levantou-se, seguindo até a mãe para dar-lhe um beijo carinhoso em sua bochecha. A doçura fez com que Lena sorrisse, esquecendo o que a filha havia indicado.
— Tudo bem, querido? — disse ela com ternura. Olhando para a filha, completou: — Diminui o som, Charlie. Não consigo escutar meus próprios pensamentos.
A morena arqueou a sobrancelha. Sua mão pegou o controle que estava sobre a mesa de centro de vidro sem protesto. O som cessou repentinamente, porém, Peter e Lena estavam distraídos demais para perceberem.
— Como foram as gravações? — Lena alternava o olhar entre os olhos do filho e a roupa que ela mesma estava tirando alguns fiapos que ficaram presos ao tecido.
— Tranquilas — respondeu preguiçosamente. — Ei, mãe. Eu vi que o vizinho novo chegou.
Ela juntou as mãos e abriu um largo sorriso.
— Sim, sim! — disse, animada. — Eu...
O som do alarme da cozinha soou pelo cômodo, interrompendo a Stein.
— O jantar! — ela virou-se e foi até o fogão.
Como era uma cozinha aberta, Peter a viu tirar o chester com luvas. O cheiro encantador tomou conta das narinas dele, fazendo-o salivar. Ele poderia comer em diferentes restaurantes ao redor do mundo, mas sua preferência sempre seria as delícias feitas por sua mãe.
Espero que tenham gostado! Deixe seu voto e comentário para ajudar no feedback, por favor. Próxima sexta, lanço a segunda parte. Confesso que vai valer a pena a espera. Att
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