Capítulo Três
Percy Williams:
Continuei ali com Rony, esperando que Dana terminasse de se arrumar para o ensaio de fotos. A conversa havia se desviado para um caminho divertido, até que ela se lembrou de algo importante.
— Mas ainda quero saber o que você fez ontem à noite — disse Dana, apontando o dedo para mim enquanto saía pela porta.
— Não foi nada demais! — gritei de volta, já antecipando as provocações.
— Não? E o que esses chupões estão dizendo? — Rony comentou, cutucando minhas costas. Eu me virei, irritado, e lhe dei um tapa na nuca.
— Ei, isso doeu! — ele reclamou, fazendo uma careta.
— Impossível, sou mais fraco que você! — respondi, revirando os olhos.
— Não vou contar nada, mas você pode cobrir com a maquiagem que a Dana deixa aqui em casa — Rony disse, rindo. Justo quando falávamos sobre isso, a porta se abriu novamente, e os pais de Rony entraram.
A senhora Potter era uma mulher elegante, com longos cabelos castanhos e um terno vinho que destacava sua figura. Ela acenou para nós e se aproximou, enquanto o senhor Potter, uma versão mais velha de Rony, usava um terno cinza clássico.
— Percy, quanto tempo! — exclamou a senhora Potter, seus olhos rapidamente caindo em direção ao meu pescoço. Eu me senti envergonhado. — Não se preocupe, querido. Isso é algo normal hoje em dia. Devia ver o que eu deixei no pescoço do meu marido.
O clima ficou leve, mas eu não consegui evitar um rubor no rosto. Rony apenas sorriu, tentando segurar a risada. A conversa seguiu com os pais de Rony perguntando sobre nossas atividades e se tudo estava bem, enquanto eu tentava manter a compostura, pensando em como esconder os sinais da noite anterior.
— Querida — o marido dela disse, tentando mudar de assunto.
— Informações demais — Rony comentou com uma careta.
— Podemos parar com esse assunto? Mas por que vocês dois estão de terno? — perguntei, curioso.
— Tínhamos um evento de um amigo e escolhemos algo clássico. Você sabe como odeio vestidos de gala — disse a senhora Potter. — Mas como foi a festa de vocês ontem?
— Boa, na medida do possível, e eu pedi a Dana oficialmente em namoro — Rony revelou, fazendo a mãe dele comemorar.
— Parabéns, querido! — ela exclamou, com um sorriso radiante.
— Parabéns, mas achei que você seria um pouco mais emotivo dessa vez. Lembra como pediu para sair com você usando fogos de artifício? — O pai de Rony fez uma observação, e eu ri.
— Aquilo foi fofo e escandaloso de um jeito especial — comentei, revirando os olhos. — Ah, e pode devolver o cartão de acesso dos quartos para a Dana depois. Sei que você vai vê-la mais tarde.
— Por que não devolveu antes dela sair? — Rony perguntou.
— Simples. Se eu desse agora, ela teria o risco de deixar no estúdio de fotografia — expliquei. — Já dei meu desabafo por terem me deixado de lado ontem e me deixado beber à vontade.
— Mas teve uma coisa ótima na noite — a senhora Potter disse com um sorriso travesso, deixando no ar uma expectativa que me deixou curioso.
— A Dana... — comecei, já pressentindo o desastre.
— Sim, ela me disse que faz um tempo que você não recebe uma "visitinha" naquela área, desde o seu último namoro — a senhora Potter comentou casualmente, com um sorriso cúmplice. — Faz o quê, uns três anos já?
Eu senti o calor subir pelo meu rosto em uma mistura de vergonha e indignação.
— Agora é oficial, vou esganar a Dana! — falei, frustrado, enquanto Rony segurava a risada ao meu lado.
— Querido, estamos só brincando — a senhora Potter disse, dando um tapinha leve no meu ombro. — Todos precisam de um pouco de diversão às vezes.
— Não com a minha vida pessoal exposta desse jeito! — retruquei, já pensando em como iria encarar Dana na próxima vez que a visse.
Rony finalmente explodiu em risadas, se apoiando no braço do sofá para se equilibrar.
— Cara, relaxa! A Dana só está se divertindo às suas custas, como sempre — ele disse, ainda rindo.
Eu cruzei os braços, tentando manter a dignidade, mas era difícil ignorar a combinação de vergonha e raiva que estava borbulhando dentro de mim.
Por que a Dana sempre fazia isso?
Eu sabia que ela tinha o coração no lugar certo, mas às vezes, ela passava dos limites.
— Ela precisa aprender a ficar de boca fechada sobre certas coisas... — murmurei, bufando.
— Bem, acho que o problema não é tanto o que ela disse, mas o fato de que você ficou corado como um tomate — o senhor Potter comentou, entrando na brincadeira. — Isso só dá mais munição para ela.
— Exatamente! Você precisa aprender a não reagir tanto — Rony acrescentou, ainda se divertindo.
— Sim, como se fosse fácil... — resmunguei, ainda com a ideia de esganar a Dana na cabeça. — Além do mais, minha vida pessoal não é assunto para ser debatido entre amigos e pais. Tem coisas que são privadas, sabe?
— Nós somos praticamente sua família também — a senhora Potter disse com um sorriso gentil, tentando amenizar a situação. — E, além disso, quem sabe essa "visitinha" seja o começo de algo bom? Você não precisa se sentir tão pressionado por isso.
Suspirei, finalmente relaxando um pouco. Eles tinham razão, de certa forma. Dana sempre foi assim, e essa era a dinâmica entre nós — provocação e afeto disfarçado de brincadeiras.
— Talvez... — respondi, mais calmo. — Só que da próxima vez, eu vou revidar. Ela que se prepare.
Rony bateu palmas, ainda sorrindo.
— Isso! Quero só ver o que vai fazer! — ele brincou, já esperando pelo próximo round entre mim e Dana.
Com a tensão finalmente diminuída, a conversa passou para outros assuntos, enquanto o clima leve e familiar voltava a dominar o ambiente. Apesar de tudo, era bom estar entre amigos que, mesmo com suas brincadeiras, se importavam de verdade.
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Voltei para o meu apartamento, exausto, e me joguei no sofá da sala. Mal me acomodei e senti meu celular vibrar. Atendi sem pensar duas vezes.
— Oi, maninho! — Meu irmão Calvin gritou do outro lado, me pegando de surpresa com o barulho que vinha de fundo. Parecia que estavam em uma festa.
— O que é essa confusão aí? — perguntei, tentando entender o caos do outro lado da linha.
— Estamos fazendo um teatrinho para as crianças! Vou te mandar uma foto depois, tá uma zona, mas está super divertido! — Calvin respondeu, com sua voz animada, quase cantando as palavras. — E você? O que andou fazendo?
— Acabei de chegar em casa... estava na casa de um amigo — respondi, tentando manter a voz casual. Mas, como sempre, Calvin era rápido para captar qualquer detalhe.
— Ah, é? Um amigo, hein? — ele provocou, rindo. — O que mais aconteceu por lá? Tem alguma história interessante para contar?
Revirei os olhos, sorrindo. Era típico dele puxar conversa desse jeito, sempre tentando descobrir qualquer novidade.
— Nada demais, só conversa e... algumas risadas. Não tem nada de interessante, vai por mim — menti, sem querer entrar nos detalhes da noite. Afinal, já tinha sido exposto o suficiente por hoje.
— Sei, sei... — ele disse, claramente desconfiado, mas preferiu não insistir. — Bom, vou te mandar a foto do teatro, foi muito legal! As crianças estão amando.
— Quero ver mesmo. Espero que vocês não tenham assustado ninguém dessa vez — brinquei, enquanto me ajeitava no sofá.
— Prometo que não. Foi tudo tranquilo... mais ou menos. — Calvin riu do outro lado, e eu podia imaginar a cena de caos e diversão que estava acontecendo.
Conversa fiada ou não, era bom ouvir a voz do meu irmão e sentir o carinho que ele sempre transmitia, mesmo à distância.
— Oi, pai — ouvi Calvin dizer do outro lado da linha. — Estou falando com o Percy. — Logo em seguida, ele voltou a falar comigo. — Nosso pai perguntou quando você vai vir nos visitar.
Suspirei, sabendo que já estava devendo essa visita há algum tempo.
— Eu juro que vou tentar ir neste final de semana. Finalmente consegui organizar um pouco do meu trabalho — falei, tentando soar convincente. Calvin deu a resposta para nosso pai, e pude ouvir o murmúrio de aprovação no fundo.
Enquanto falava, levantei do sofá, esticando os braços.
— Na verdade... — continuei, pensando melhor. — Acho que posso ficar de hoje até segunda de manhã. Só vou precisar entrar na empresa na parte da tarde, então dá tempo de passar mais tempo com vocês.
— Sério? Isso vai ser ótimo! — Calvin respondeu animado. — Nosso pai vai ficar super feliz, ele estava falando de você esses dias, reclamando que já faz um tempinho desde a última vez que te vimos.
— Pois é, eu sei... — disse, sentindo uma pontada de culpa por ter ficado tanto tempo sem visitá-los. — Então, vou arrumar minhas coisas e, se tudo der certo, estou aí em algumas horas.
— Perfeito! Vamos te esperar. Vou preparar algo especial para quando você chegar — Calvin respondeu, animado. Eu podia imaginar a alegria no rosto dele e de nosso pai.
— Só não exagera na comida, hein — brinquei, já sabendo que ele adorava preparar um banquete quando alguém vinha de visita.
Desliguei o telefone, com um sorriso no rosto, me sentindo mais leve. Era sempre bom ter a chance de passar tempo com a família, ainda mais depois das últimas semanas tão corridas.
Fiz uma pequena mochila, colocando dentro tudo o que eu precisaria para o fim de semana. Verifiquei se estava com a carteira, celular e carregador, peguei meu casaco e chamei um táxi. Enquanto esperava, respirei fundo, sentindo uma leve excitação por finalmente conseguir visitar minha família depois de tanto tempo.
O táxi chegou em poucos minutos, e em breve já estava a caminho da estação de ônibus. Era uma viagem curta, apenas uma hora e meia, e se eu pegasse o próximo ônibus, chegaria a tempo para o café da tarde. A ideia de me sentar com Calvin e nosso pai, tomando café e conversando, parecia acolhedora e tranquila.
Assim que cheguei à estação, comprei a passagem e me acomodei no ônibus, sentindo-me cada vez mais animado com a ideia de uma pausa do trabalho e a chance de estar com eles novamente. A paisagem pela janela começou a passar rapidamente, e o som suave do motor do ônibus embalava meus pensamentos. Finalmente, um momento para respirar e estar com a família.
Enquanto o ônibus percorria as estradas, observei a paisagem se transformar. A correria da cidade foi ficando para trás, dando lugar a campos abertos e pequenas casas espalhadas. A viagem, embora curta, me ofereceu a pausa que eu precisava para reorganizar meus pensamentos. O simples fato de estar indo encontrar minha família já trazia uma sensação de paz.
Ao chegar na estação final, desci do ônibus e respirei fundo o ar fresco. Peguei minha mochila e chamei outro táxi para me levar até a casa do meu pai. O caminho familiar era reconfortante, e, ao ver as primeiras árvores do quintal da casa, um sorriso se espalhou pelo meu rosto.
Assim que o táxi parou, avistei Calvin na varanda, acenando animado. Saí do carro com a mochila no ombro e, antes mesmo de alcançar a porta, ele já tinha corrido até mim, me abraçando com entusiasmo.
— Finalmente, maninho! — ele disse, rindo.
— Eu disse que viria, né? — brinquei, retribuindo o abraço.
Logo em seguida, nosso pai apareceu na porta, com aquele sorriso caloroso que eu tanto sentia falta.
— Bem-vindo de volta, filho — ele disse, abrindo os braços para me receber.
— É bom estar de volta, pai — respondi, entrando e sentindo o cheiro familiar do café recém-passado.
O café da tarde já estava na mesa, simples e acolhedor, exatamente o que eu precisava. Sentamos juntos, conversamos sobre tudo o que havia acontecido nas últimas semanas, rimos das piadas de Calvin e, por um momento, o tempo pareceu desacelerar. Estar com eles me lembrou do que realmente importa: família.
Naquela tarde, cercado por amor e tranquilidade, percebi que, não importa o quanto o trabalho ou a vida possam nos afastar, sempre haverá um lugar ao qual podemos voltar. E, naquele momento, soube que havia voltado para o meu.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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