Capítulo Seis
Lohan Wilson:
— Está tudo bem? — Percy perguntou, analisando meu rosto com uma preocupação genuína.
Eu respirei fundo, tentando reunir coragem para dizer o que precisava ser dito. Então, finalmente, as palavras saíram.
— O bebê é meu — falei, com a voz firme, mas meu coração disparava.
Os olhos de Percy se arregalaram, seu corpo se enrijeceu com o choque da revelação.
— Quando você planejava me contar? — acrescentei, minha voz mais baixa agora, mas carregada de emoção. Eu não sabia o que viria a seguir, mas ali, naquele momento, toda a verdade finalmente estava exposta.
— O quê? — Ouvi Dana e Rony praticamente gritando atrás de mim. Em um piscar de olhos, minha irmã se colocou entre nós, balançando a cabeça, enquanto olhava discretamente para Gina, que estava visivelmente confusa com o que eu acabara de dizer, seus olhos indo de mim para Percy, tentando entender o que estava acontecendo.
— Antes de dizer qualquer coisa, lembre-se de que sua filha está aqui — Dana falou com firmeza, seu olhar incisivo fixo em mim. — Querida, que tal a gente ir ver outra coisa?
Rony rapidamente se adiantou, tentando desviar a atenção de Gina. — Gina, que tal irmos ver alguns brinquedos? Ouvi dizer que a loja de brinquedos colocou um daqueles pisos de piano, igual aos dos filmes, onde as pessoas tocam música ao andar sobre eles.
Gina hesitou por alguns segundos, avaliando a proposta, mas acabou aceitando com um sorriso. Ela disparou em direção à loja de brinquedos.
— Gina, espera! — Rony gritou, correndo atrás dela como se sua vida dependesse disso.
O silêncio que se seguiu entre nós três foi denso, quase palpável. Percy, que estava quieto até então, começou a tremer visivelmente. Seus olhos brilhavam com o nervosismo, e ele deu um passo para trás, tentando ganhar espaço.
— Eu... não sabia como te contar — ele disse, a voz fraca, suas mãos tremendo ligeiramente.
A tensão no meu peito explodiu, e antes que pudesse me controlar, agarrei o braço dele com mais força do que deveria.
— Me responde, Percy. Como você pode sequer pensar que eu não iria querer saber sobre aquilo? Que você está grávido e achou que eu simplesmente não ia querer saber de nada? — minha voz saiu mais ríspida do que eu pretendia, cada palavra carregada de frustração.
Percy olhou para mim, os olhos arregalados, seu corpo rígido sob o meu toque. Por um segundo, ele pareceu estar à beira das lágrimas.
— Lohan, solta ele! — Dana interveio, sua voz cortante. — A culpa não é só dele. Ele estava confuso, não sabia o que fazer. E sejamos honestos, você não é exatamente o melhor ouvinte desde o início.
Senti a mão de Dana pousar no meu ombro, o gesto cheio de preocupação e autoridade ao mesmo tempo. Eu sabia que ela estava certa, sabia que minha reação não estava ajudando. Lentamente, soltei Percy, que se afastou alguns passos, ainda tremendo.
— Eu... eu pensei que era só uma noite, que você nem se importaria... — Percy sussurrou, sem me encarar diretamente. — Eu nunca planejei esconder isso para sempre, só não sabia como contar.
— Não estou te cobrando desculpas ou algo assim — falei, imediatamente afastando a mão de Dana e rindo amargamente, enquanto me afastava de Percy bruscamente. — Mas você sabe como eu estou me sentindo. Me sinto a pior pessoa do mundo por ter me deixado seduzir, e agora... tudo piora quando descubro que o amigo da minha irmã está grávido de mim, e nem sequer quis me contar da primeira vez que nos encontramos de novo.
Percy estava visivelmente envergonhado, e o olhar de Dana em minha direção me dizia que eu talvez tivesse passado um pouco dos limites. Ela estava com aquela expressão que usava quando sabia que eu estava exagerando, mas ainda assim, não queria se intrometer diretamente.
Eu sentia como se toda a minha vida tivesse sido uma grande piada até aquele momento.
Desde sempre, trabalhei duro para alcançar tudo o que nossa família esperava de mim. Fui à Universidade, me esforcei para erguer o nome que tanto valorizavam. Abandonei meu sonho de me tornar artista, tudo para preservar o status da família, para não manchar o nome que tanto prezavam. Ao longo dos anos, empurrei para longe meus próprios desejos, tentando me moldar ao que nosso pai desejava, tentando agradar aquelas famílias de classe alta que só importavam com aparências.
E, como resultado, tudo o que ganhei foi ser conhecido como alguém frio, incapaz de lidar com os problemas que realmente importam. Eu me tornei exatamente o que eles queriam, mas, ao mesmo tempo, perdi a parte de mim que importava. Agora, tudo isso parecia desmoronar diante de mim, como se todo o meu esforço tivesse sido em vão.
— Dana, você não entende o que estou passando — falei, minha voz mais baixa, tentando conter a frustração. — Então, por favor, cuide da Gina. Eu preciso de um momento para pensar. — Virei-me para Percy e Dana, tentando controlar a confusão interna. — Você podia ao menos ter me contado ontem, na festa.
Eu sabia que não era justo jogar todas as minhas frustrações em Percy ou Dana. As escolhas que me trouxeram até aqui foram minhas. Eu havia cavado a minha própria cova, e agora estava preso nela, sem saber como sair. Estava esgotado, sem forças para continuar fingindo que tudo estava sob controle.
Sem dizer mais nada, virei-me e saí dali, caminhando o mais rápido possível para longe de Percy, Dana, e toda aquela confusão. Eu precisava de ar, precisava de espaço para entender o que fazer a seguir.
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Tudo isso me fez lembrar de Rochelle, a mãe da Gina. Nós éramos colegas de trabalho durante todos os três anos do ensino médio, e desde cedo estabelecemos uma amizade sólida, uma conexão que resistiu aos altos e baixos da vida. Entramos na mesma faculdade e, com o tempo, criamos um acordo: se ambos chegássemos aos trinta e quatro anos solteiros, nos casaríamos.
Quando nos formamos, mantivemos contato, e à medida que a idade avançava, o romance entre nós floresceu naturalmente. Não foi um daqueles amores arrebatadores, mas um tipo de companheirismo profundo, onde um encontrava apoio no outro. Foi assim que, juntos, tomamos a decisão de ter Gina. A ideia de criar uma criança parecia a evolução natural do que tínhamos, e Rochelle e eu concordamos em cuidar dela da melhor forma possível. Eu ainda administrava a empresa da família, e Rochelle ajudava na criação da nossa filha, dividindo as responsabilidades.
No entanto, nossa relação nunca foi física. Optamos por seguir o caminho da fertilização in vitro, uma escolha que parecia prática e sensata para nós. A fertilização in vitro é uma das técnicas mais complexas de Reprodução Assistida. Basicamente, consiste em fecundar o óvulo e o espermatozoide em um ambiente laboratorial, formando embriões que, depois, são cultivados, selecionados e transferidos para o útero.
Apesar de termos criado Gina com tanto carinho, o peso de nossas escolhas me assombra até hoje. Quando Rochelle faleceu, a culpa se instalou em mim de uma forma que nunca consegui superar. Sinto que a prendi em uma relação que, no fundo, não era o que ela merecia ou o que ela realmente queria. Eu me pergunto, constantemente, se ela teria sido mais feliz se tivesse escolhido outro caminho, se eu não a tivesse arrastado para um acordo que, embora prático, talvez não tenha sido justo para ela.
Essa culpa nunca vai embora, porque sei que nunca terei a chance de me desculpar verdadeiramente. Eu a perdi, e essa dor, misturada à culpa, é algo com que ainda luto, mesmo agora, enquanto tento ser o melhor pai possível para Gina.
Senti alguém pegar no meu braço e, ao me virar, encontrei Percy ali, com um sorriso meio sem graça, claramente nervoso.
— Me desculpa por não ter te contado antes, ou simplesmente não ter ido até você ontem para dizer o que estava acontecendo. Ainda nem sei como encontrar as palavras certas — ele começou, a voz hesitante. — Estou em choque por ser pai de primeira viagem e nem acreditava que iria te ver de novo. Quando te vi ontem na festa, confesso que tentei esquecer do assunto por alguns segundos... e também não queria que você pensasse que eu sou algum tipo de interesseiro.
Eu o olhei, desconfiado. Apesar da honestidade na voz dele, a confusão e o caos daquela situação ainda pesavam sobre mim. No entanto, antes que eu pudesse responder, Percy se afastou um pouco e estendeu a mão, tentando quebrar o gelo.
— Que tal começarmos de novo? — disse, com um sorriso tímido. — Sou Percy Williams, o futuro pai do seu bebê e amigo da sua irmã.
Não consegui evitar rir do jeito desajeitado dele. A sinceridade e a tentativa de fazer as pazes, por mais inusitada que fosse a situação, me desarmaram um pouco.
— Acho que você já ouviu bastante sobre mim, graças à minha irmã — falei, brincando, e Percy riu junto, o que aliviou um pouco a tensão entre nós. — Então... você está grávido. Mas, sabe, você pode...
Antes que eu terminasse a frase, Percy me olhou de um jeito tão irritado que me fez congelar no lugar. Engoli em seco, sem conseguir completar o pensamento.
— Nem pense em terminar essas palavras — ele interrompeu, com uma firmeza surpreendente. — Eu adoro crianças, sou ótimo com elas, e sempre quis ser pai em algum momento da minha vida. Não me arrependo disso. — Ele disse isso com tanta convicção que eu me senti um pouco tolo por ter insinuado o contrário.
Em seguida, Percy se aproximou de mim, sem hesitar, como se estivesse decidido a mostrar que ele estava tão comprometido quanto eu deveria estar.
— Só quero que a gente faça isso direito, Lohan — ele continuou, agora com a voz mais calma. — Vamos fazer o melhor por essa criança.
— Vai ser uma confusão — admiti, olhando para o chão e soltando um suspiro. — E a Gina vai ser difícil de explicar... uma vez ela me perguntou de onde vêm os bebês, e eu disse que acontece quando um casal se ama muito.
Percy riu, aquela risada que ele solta quando algo o diverte genuinamente.
— Ah, vai ser uma confusão — ele repetiu, ainda rindo.
— Valeu por dizer isso — falei, e por alguma razão, senti um leve calor subir pelo meu rosto, uma mistura de vergonha e alívio. — E sobre a criança... vou ajudar com tudo o que você precisar. Não vou te deixar lidar com isso sozinho.
Percy riu novamente, dessa vez olhando para mim de um jeito meio divertido.
— Você e sua irmã são muito parecidos quando se trata de ajudar os outros. Dá para ver claramente enquanto conversamos — disse ele, pegando minha mão, o gesto repentino me pegou desprevenido, mas foi reconfortante. — Sobre o bebê, acho que podemos ir conversando sobre a melhor maneira de criar essa criança juntos.
— Afinal, somos pais solteiros agora — falei, arrancando outra risada dele. — Claro, eu sou um multimilionário... e você é...
— Analista de planejamento de custos — Percy completou, fazendo uma expressão pensativa. — Mas se você considerar o meu pai... tecnicamente, sou rico também. Já ouviu falar de Allan Jones?
Meu queixo caiu ao ouvir o nome, e ele percebeu minha surpresa.
— Sim, Allan Jones é meu pai. Ainda não contei a ele sobre a gravidez, e posso garantir que ele não vai gostar nem um pouco quando souber o que aconteceu entre a gente — Percy disse, meio brincando, meio sério.
— Me diz uma coisa — comecei, ainda processando a informação. — O Allan é realmente o monstro que as pessoas dizem por aí? Ouvi rumores de que ele só se importa com a própria família e é implacável com todo o resto.
Percy riu tão alto que algumas pessoas ao redor começaram a nos olhar, curiosas.
— Não, ele não é um monstro. Na verdade, ele é como um animalzinho fofinho com quem conhece bem — Percy respondeu, e meu coração, que parecia estar acelerado de nervosismo, finalmente se acalmou um pouco. — Mas... quando alguém se vira contra as pessoas que ele ama, aí sim ele vira o demônio que os jornais adoram pintar.
Meu coração voltou a disparar, e por um momento, achei que poderia desmaiar. Percy rapidamente me segurou, percebendo meu mal-estar.
— Isso ajudou a acalmar os meus pensamentos... só que não — falei secamente, tentando esconder o pânico que começava a surgir.
Percy deu um tapinha no meu ombro, sorrindo de um jeito tranquilizador.
— Relaxe, vamos lidar com isso juntos.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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