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Capítulo 5 - Ossos do Ofício

Are we out of the woods yet?
Are we in the clear yet?
In the clear yet? Good

Capítulo 5
Ossos do Ofício

Pela milésima vez naquela mesma manhã, eu me arrependia de ter escolhido aquele terno. Talvez o pior de tudo fosse a confusão profunda na minha cabeça sobre algo tão besta quanto o que eu vestiria e a culpa que vinha junto de não conseguir tomar uma decisão sem a questionar em seguida. Mas ainda podia sentir meu peito se apertar com o medo de ter errado logo no primeiro passo que dava ao voltar ao trabalho.

Era exatamente esse o problema. Eu voltava ao trabalho. Depois de um final de semana intenso estudando o possível dos meus livros e ficando cada vez mais confusa sobre nossa Constituição, jurisprudências e emendas sem fim, finalmente tinha chegado ao limite das minhas desculpas. Não podia mais adiar minha volta ao escritório. Não queria mais passar o dia em casa e ouvir Max e Juliana insistindo que eu tinha que voltar.

Não admitiria isso para ninguém - nem a mim mesma, - mas ele era uma grande razão de eu ter colocado um despertador essa manhã, levantado e vindo para cá. Depois de passar o final do meu aniversário todo juntando aliados ao perguntar para cada pessoa na mesa se eles concordavam com ele que eu devia voltar ao trabalho, Max fez questão de aumentar a pressão. E mamãe ajudou.

"Você ama seu trabalho, Bridget," ela disse, enquanto a gente comia bolo. "Se tem um lugar que vai te ajudar a recuperar a memória, é no escritório."

"Seria bom se você recuperasse mesmo a memória logo," Max completou. "E você precisa garantir sua vaga. Não concordam?"

Todo mundo assentiu. Só Thomas que se mantinha propositalmente fora da conversa.

Mais do que o enorme terno cinza claro e fácil de sujar que eu vestia, me arrependia de ter colocado o anel de noivado. Não tinha nenhum sinal de que ele estava insatisfeito com nosso relacionamento que ia mais devagar que provavelmente foi quando começamos a sair, não como ele estava com meus novos hábitos sedentários. Eu não usava o anel por ele, nem por realmente já sentir vontade de usar. Pior do que o sentir entre meus dedos, e me lembrar de que ainda não tinha me apaixonado por ele de novo, seria ter que explicar para estranhos por que eu não reconhecia meu noivo, por que até achava ele agradável, mas não sentia ainda nem rastro do amor que devia ter levado a Bridget de noventa e nove a aceitar precisar comprar um vestido de noiva.

Tinha que ter alguma coisa nele que me fizesse amá-lo, não é? Se eu o tinha encontrado na faculdade, lhe dado uma chance e lhe deixado me conquistar, tinha que ter uma razão. Na hora em que ele se ajoelhou para mim, decidi falar sim. Podia não saber quem eu tinha me tornado, mas não havia a possibilidade de eu ter mudado tanto, a ponto de ter aceitado me casar com ele sem realmente estar apaixonada por ele.

Ou tinha?

Tentei respirar fundo, mas até o ar daquele elevador silencioso e desconfortável parecia rarefeito. Talvez fosse o fato de que subíamos fazia dez minutos e ainda não tínhamos chegado ao andar do meu escritório de advocacia. Ou talvez fosse porque, a cada vez que eu tentava respirar fundo, só acaba hiperventilando.

Passei a mão que não segurava a maleta pela minha barriga, em cima do blazer gigante, sentindo seus botões. Precisava me lembrar de não comer nada durante o máximo de tempo possível. Do jeito que eu era, acabaria derrubando um suco em minha roupa na primeira hora. Se não fosse ridículo o suficiente já eu estar usando uma roupa tão séria, tinha certeza de que logo provaria que não deveria ter um guarda-roupa cheio de peças caras, claras e adultas.

Roupas que Max provavelmente tinha comprado para mim, como o apartamento.

Soltei todo o ar que tinha quando percebi que minha vista ameaçava ficar turva. Não podia pensar naquilo agora. Não quando eu ouvia o apito do elevador avisando que tínhamos parado no andar número 23. Só mais dois e eu teria que sair dali. Mais dois e eu teria que provar que ainda conseguiria sobreviver como advogada.

Aproveitei que mais algumas pessoas saíam do elevador para me esconder no fundo, abraçando não muito discretamente minha maleta, tentando me lembrar de todos os casos que carregava nela.

A maioria não era grande. Precisava checar com algum colega, mas, segundo o que tinha pesquisado, poderia adiar a maioria dos cíveis contra empresas pequenas, poderia passar os das grandes para alguém. Não era ideal, mas era melhor do que fazer alguma besteira. Tinha um só que me assustava.

Pelo que pude ler nas minhas próprias anotações, a vasta maioria do que eu cuidava eram processos cíveis mesmo, pequenos e não muito lucrativos. Mas meu caderno de bolso vinha ganhando cada vez mais anotações em vermelho sobre um caso que parecia ser de um divórcio. E devia ser grande. Bem grande. As palavras exatas que tinha usado para nomear as partes envolvidas eram Leão e Águia. Dois animais que seriam terrivelmente assustadores já na teoria, mas ficavam ainda piores quando eu percebia que só tinham sido usados porque o nome das pessoas envolvidas era conhecido demais para se perder em blocos de anotações quaisquer.

Não percebi sozinha, na verdade. No meu aniversário, Milena, que se identificou como minha assistente, me ligou para perguntar quando eu voltaria para o trabalho e se ela deveria avisar que eu não participaria da reunião sobre esse caso com Melissa Lockwood, uma das sócias do escritório. Por sorte - ou azar, - a reunião era hoje. E, quando a porta finalmente se abriu no vigésimo quinto andar e meus olhos encontraram seu nome brilhando na parede contrária a nós, senti como se levasse um soco na boca do estômago.

Eu não conseguiria fazer aquilo. Nunca! O que estava pensando?! Decorar alguns livros, algumas jurisprudências aleatórias e eu poderia voltar ao trabalho? Eu mal conseguia me equilibrar nos saltos bem baixos que tinha escolhido para vestir! Mal conseguia pedir licença para as outras pessoas no elevador para sair antes da porta fechar na minha cara. Como esperava encarar uma das sócias do escritório - a única mulher! - em uma reunião sobre clientes cujo nome eu nem sabia?

Schmidt, Harrison e Lockwood brilhavam em prata, reluzindo a luz fria acima de minha cabeça quando ouvi a porta do elevador fechando atrás de mim. Sentia outras pessoas batendo em meus ombros e quase me jogando no chão por estar no caminho. Mas eu não conseguia me mexer. Mal tinha conseguido sair do elevador de tão bambas que minhas pernas estavam. Se não fosse por todas as outras pessoas que tinham descido ali ao mesmo tempo, eu provavelmente estaria indo para o vigésimo sexto andar, me escondendo no fundo daquela caixa de metal.

Talvez eu ainda pudesse voltar para lá, pensei. Talvez pudesse encontrar a porta que levasse às escadas. Ainda dava tempo de sair dali. Eu estava a um passo da porta do elevador, metros de distância da mesa dos recepcionistas. Ainda podia fugir. Ainda dava tem-

"Bridget!" Assim que a voz estridente chegou ao meu ouvido, fechei meus olhos, torcendo para estar imaginando coisas. Antes que soubesse o que estava fazendo, me virava de costas, encolhendo meus ombros. Mas a voz me alcançou, junto com sua dona. "Bridget?" Dessa vez, como se questionasse minha presença, ela não parecia tão estridente. "Sou eu, Milena."

Abri meus olhos para encarar a garota que não parecia ter mais de vinte anos e senti na hora que não seria tão difícil assim ter que ir ao trabalho. Ela me sorriu, me fazendo sentir outra vez que ela estava do meu lado. Talvez eu conseguisse ter uma aliada ali.

Ela era pequena, baixinha, o que era bastante estranho. Nunca tinha tido amiga alguma mais baixa que eu, normalmente tinha que ver todo mundo de baixo.

"Já ia te ligar para perguntar se precisava que eu mandasse um carro para te buscar," ela disse, sorrindo até com seus olhos redondos e naturalmente arregalados. "Não sei se teve tempo de aprender a dirigir outra vez. Ou se esqueceu. Não sei como funciona bem isso de amnésia."

A palavra me fez estremecer um pouco, mas até que foi bom. Desde que tinha pisado naquele andar, vinha sentindo meus músculos se contraindo. Talvez minha própria repulsa à minha condição me ajudasse a ficar menos paralisada. Além de que era até legal saber que alguém pelo menos tentava entender como era perder minha memória.

"Não sei dirigir," foi como lhe respondi. Ela assentiu, entendendo. "Max me trouxe," não sei por que, mas senti que lhe devia essa explicação. Sorri logo em seguida, mais para mim mesma do que para ela, tentando me esquecer de como o caminho de casa até ali tinha sido terrivelmente silencioso.

Talvez aprender a dirigir devesse estar no topo da minha lista de coisas para fazer.

"E como ele está?" Ela não devia querer saber, já que se inclinava na direção da porta que devia levar aos escritórios. Devia achar que estava na hora de nós sairmos dali, mas eu nem sabia se estava preparada!

"Ótimo," falei, sem mexer um único músculo para indicar que a acompanharia se saísse de lá agora. "Um pouco abalado, por causa dos playoffs, mas ainda muito orgulhoso do seu time." As palavras desenrolaram pela minha língua tão automaticamente, que nem saberia dizer se tinham ido na ordem certa. Aquela resposta já tinha sido desgastada com vendedores do supermercado na esquina da minha casa, o barista do outro lado da rua e até o revisteiro que tinha me chamado sem eu nem ter parado em sua banca. Sem contar com os vizinhos, que não pareciam se importar de me ouvir falar as mesmas palavras todas as vezes.

Segundo o assistente de relações públicas do time e Juliana, eu não poderia falar nada diferente nem se realmente me interessasse por futebol americano ou me importasse com o que tinha acontecido. Precisava ter cuidado. Hoje em dia, pessoas carregavam gravadores que cabiam na palma da mão e usavam para vender notícia a jornais de fofocas ou esportivos. Se não bastasse me sentir perdida o tempo todo, precisava também ficar atenta quando falava de Max.

"É, meu pai ficou realmente devastado," Milena respondeu. "Mas então," ela juntou as mãos à sua frente, como se tivesse a intenção de bater palma, mas resolveu mudar de ideia no último segundo, "está pronta para voltar?"

Eu sorri para mascarar o enjoo que sentia, e ela entendeu aquilo como um sim, se virando de vez e esperando que eu a seguisse. Enquanto dava os primeiros passos, eu ainda me perguntava se podia voltar atrás, dizer que não estava preparada. Mas pior do que encarar aquele dia seria voltar para casa e provar para Max que eu tinha medo de assumir minhas responsabilidades.

Eu só precisava sobreviver. Só isso. E tinha a forte impressão de que Milena me ajudaria nisso.

Ela já estava nessa missão. Começou já os primeiros passos me apresentando cada sala como se fosse meu primeiro dia - e, de certo modo, era. Sala de reuniões de clientes de alto escalão, salas de reuniões para os estagiários, que fazia um barulho tão alto que só podia vir de impressoras. Sala para os paralegais, lotada de pilhas de papéis, várias portas que davam às salas de arquivo, área dos advogados que trabalhavam em cubículos e não tinham tempo nem para olhar direito para mim e então, finalmente, os corredores para aqueles que tinham salas próprias.

Na frente de cada porta tinha uma mesa para os assistentes, mas quase nenhuma estava ocupada. Eles corriam por todos os lados, voltando para as mesas para buscar um papel, atender um telefone, checar um pager. Diferente dos advogados nos cubículos, todos ali nos notaram, sorriram para nós e me disseram que estavam felizes de ver que eu estava de volta.

Devolvi cada cumprimento educadamente, me inclinando depois na direção de Milena para ouvir o nome de cada um. Quando finalmente paramos na frente de uma porta, já tinha esquecido de todos. Ela a abriu quando percebeu que eu hesitava em pegar na maçaneta e indicou para que entrasse.

Esperava encontrar outra sala de reuniões, mas parecia ser um escritório normal. Pelo tamanho, a vista e quanto eu apostaria que tinha custado cada móvel ali, inclusive o sofá ao lado do bar no canto, presumi que era de Melissa Lockwood.

Olhei meu relógio de pulso na hora, com medo de já estar atrasada. Mas ainda tinha duas horas para quando eu tinha anotado que era a reunião - duas horas com as quais eu estava contando para revisar o que podia do caso com Milena. Só de pensar que eles teriam adiantado a reunião e que eu teria que participar sem saber o que estava acontecendo me fez enjoar de novo. Pela primeira vez, realmente achei que fosse passar mal bem ali, na sala de um dos sócios.

Meu mal-estar foi a única coisa que me fez dar os passos que tinha entre a porta e a cadeira que ficava de frente para a grande poltrona ali. Tudo ficaria melhor se eu me sentasse e respirasse fundo, pensei, deixando minhas pernas moles me soltarem. Aproveitei para trazer minha maleta de volta ao colo e a abraçar.

Estava para me virar para Milena e perguntar pelo menos os nomes do casal que estava tentando se separar, quando ela foi mais rápida que eu:

"O que está fazendo?" Perguntou, e eu balancei a cabeça.

Sim, eu sabia que não deveria estar ali, praticamente colocando minha cabeça entre as pernas. Nem deveria apertar minha maleta com tanta força, pois podia amassar o couro que Max provavelmente tinha comprado para mim. Mas, ao invés de me levantar ou me ajeitar na cadeira e me sentar como adulta, franzi minhas sobrancelhas para Milena intensamente, torcendo para que ela, que nem devia poder beber legalmente ainda, me entendesse.

"Não sei se estou pronta para tudo isso agora," falei.

Ela balançou a cabeça, fazendo uma expressão um tanto compreensiva. "Não precisa se preocupar," disse, "sua primeira reunião é só às dez." Dando a volta na mesa, ela começou a mexer no computador.

Eu olhei para os lados, confusa. "Então, o que a gente está fazendo aqui?"

Ela não tirou os olhos da tela. "Sua reunião é às dez, mas você ainda precisa começar a trabalhar. Agora, desse lado da mesa," disse, indicando com o dedo.

Apesar de sua voz ainda compreensiva e com a clara intenção de me animar, senti que era uma ordem. Sabia que, teoricamente, ela era minha assistente, mas era impossível não a ver como quase minha chefe. Então, logo me esforcei para levantar e ir ficar ao seu lado.

Meus olhos foram primeiro para a tela do computador, coberta em azul e nuvens, além de ter um símbolo colorido no meio que eu sabia ser da marca dele, como o nosso em casa, mas logo fui atraída para os porta-retratos em cima da mesa.

Nem tinha parado para pensar neles ou em que tipo de foto Melissa Lockwood teria ali quando os via de costas. Mas o rosto que eu tinha pesquisado na rede não estava presente em nenhuma das fotos ali. Era o meu que estampava todas, acompanhado de minha mãe e, em quase todas, Max.

Peguei o porta-retratos mais próximo, onde ele e eu abraçávamos um casal e todos nós estávamos vestidos com camisas dos Jets. Era possível que aquela fosse a minha sala? Que eu não estivesse ali para uma reunião, mas porque era onde eu trabalhava?

Olhei de lado para Milena para lhe perguntar, mas antes que pudesse, atrás dela, notei um diploma emoldurado e pendurado na parede. Deixei o porta-retratos na mesa para chegar mais perto dele, vendo ali estampado meu nome. Bridget Marie Thorne. Universidade de Nova York.

Eu não tinha conseguido entrar na minha primeira opção. Já sabia disso. Mas como tinha então conseguido uma sala só para mim? Como alguém conseguiria isso sem ter feito parte da Ivy League?

"Essa é a linha da internet," a voz de Milena chamou minha intenção para ela indicando um fio azul grosso. "E essa é a do telefone. Se precisar usar a impressora, pode me chamar. Se não for urgente, eu levo aos estagiários para não fazer muito barulho e eles mesmos tirarem os picotes."

Concordei com a cabeça de leve, sem saber direito assimilar as informações. Mas, quando vi que ela dava a volta na mesa, senti um pânico me crescer no peito. Ela estava indo embora. Eu ficaria sozinha ali dentro. Fazendo o quê?

"Milena, espera," antes mesmo que eu terminasse de falar, ela se sentava na frente da mesa.

Ah, sim. Ela não estava indo embora.

"Algum problema?" Perguntou.

Sorri. "Não," e então me sentei na enorme poltrona marrom de couro, mais por derrota e confusão do que por sentir que era meu direito como dona daquela sala. Devia parecer bem caricata às minhas costas. "Só que," comecei outra vez, "como você sabe, eu perdi a memória," torcia dentro da minha cabeça para ela não falar outra vez a palavra com A, "então não lembro bem como as coisas acontecem por aqui. Ou por que eu tenho uma sala."

Pela primeira vez desde que a tinha conhecido naquela manhã - ou re-conhecido, - ela franziu a testa para mim realmente confusa.

"Como assim, por que tem uma sala?"

Se seria idiota eu falar aquilo? Talvez. Mas, de todas as pessoas em minha vida, talvez ela fosse a única a entender ou saber me responder.

"Eu só tenho," parei por um segundo para me lembrar do número exato, "vinte e seis anos. E estudei na Universidade de Nova York, que não é ruim, nem nada, nem sei onde você estuda-"

"Columbia," ela disse, me cortando e me fazendo quase perder o que eu ia dizer.

Fiquei a observando, sem saber continuar. "Então," acabei falando. Até ela estudava em uma universidade da Ivy League. "Como eu estou aqui? O que eu fiz de tão incrível para já ter minha própria sala? Escrevi algum texto revolucionário na faculdade?"

Ela parecia tão perdida quanto eu me sentia a cada pergunta e só pôde balançar a cabeça. "Eu não sei te responder," falou. "É uma honra para mim trabalhar com a senhorita," correu para continuar, aquele título me fazendo recuar de leve. "Só posso dizer que parece merecer a sala que tem."

Eu sorri, insatisfeita. Não era aquilo que queria. Precisava de mais. Precisava de algo concreto. Mas ela claramente não podia mesmo me ajudar.

"Talvez eu merecesse antes," falei, "mas agora vou precisar de alguém para me guiar de volta."

Seu sorriso natural voltou ao rosto. "Não se preocupe," disse. "Senhorita Lockwood deixou um memorando falando que você podia convidar outro advogado do seu mesmo ano para te ajudar. E eu fiz isso daqui," ela se esticou por cima da mesa para abrir a pasta que me esperava à minha frente.

Eram fotos do site da empresa com nomes de cada um, suas faculdades e casos mais importantes dentro da empresa.

"Como devo escolher?" Perguntei.

Ela deu de ombros. "Não os conheço, então isso terá que ser com a senhorita. Mas eles todos ficam na área principal, depois das salas de arquivos. Pode ir ver qual está disponível, ou chamar o que mais te agradar."



Fazia já vinte minutos que eu estava de pé na parede mais distante de todos os cubículos, só assistindo cada advogado trabalhar em seus próprios casos, tentando pensar em um jeito de convidar um deles para me ajudar no meu. Segundo Milena, qualquer um aceitaria. Todos queriam participar de um divórcio tão importante, entre duas pessoas cujos nomes eu ainda desconhecia. Eu só precisava chegar perto de um, qualquer um, sorrir e o convidar.

Mas todos que percebiam minha presença me olhavam estranho e, quando eu tentava sorrir, eles desviavam o rosto com tanta vontade, que apostaria estarem revirando os olhos.

Quando uma garota morena estava passando pela minha frente, pela milésima vez, eu tentei fazer algum contato visual que não a fizesse me ignorar, mas não funcionou. Pelo contrário, ela me olhou como a pessoa mais inconveniente do mundo, talvez questionando o que eu estava fazendo ali, me empurrando contra a parede, discretamente deslizando na direção do começo do corredor que dava na minha sala, na intenção de chegar cada vez mais perto de sair correndo de lá.

Eles já deviam todos saber do que tinha acontecido comigo, pensei quando a próxima mulher me olhou como um animal em exibição e o cara ao seu lado a acompanhou. Tinha que ser isso. Eu era a esquisita que tinha perdido sua memória. Mesmo que o caso fosse incrível, ninguém queria ter que trabalhar comigo. Eu tinha uma sala, eles dividiam uma área barulhenta. Por que eles teriam que pegar na minha mão e me ajudar?

Minha vontade era de desaparecer. Queria que a parede ali me engolisse, me empurrava contra ela com quase força o suficiente para que acontecesse. Seria melhor ir à reunião às cegas, ou levar Milena comigo. Ela me garantiu que não podia, mas eu ainda poderia insistir. Tudo seria melhor do que ter que chegar em algum desses advogados e implorar para que me ajudassem. Quanto mais tempo eu passava ali, mais eles pareciam tirar sarro de mim dentro de suas cabeças. E aquilo era insuportável. O barulho era insuportável. Eu não queria que rissem de mim! Não queria nem que estivessem pensando em mim! Como poderia falar com algum deles?

Eu precisava sair dali. Precisava ligar para alguém! Como queria poder falar com Leanne! Ou minha mãe!

Ou Thomas, pensei. Thomas seria perfeito! Eu tinha o telefone dele agora na agenda eletrônica que Max tinha me dado de aniversário. Podia perguntar para a Milena se ela sabia mexer para me ajudar a ligar para ele. Precisava falar com ele! Só ele entenderia minha desgraça de estar ali.

Quando já estava pronta para virar e voltar o mais rápido possível para a minha sala, ouvi alguém bufando do meu lado, um barulho que me assustou a ponto de quase dar um salto.

"Quanto tempo mais você está planejando ficar aí?" Era a garota morena que tinha passado por mim alguns minutos atrás. Ela tinha as mãos nas cinturas e, apesar de ter sido terrivelmente direta, não parecia esperar uma resposta.

"Eu, hãn..." tentei encontrar alguma palavra, mas nada saía.

Ela respirou tão fundo, que quase bufava de novo. "Do que você precisa?" Perguntou, um tanto impaciente.

Pisquei várias vezes, quase sem conseguir me lembrar do que tinha me levado ali. "De um advogado," foi o jeito estúpido que encontrei de lhe responder. Até eu quis tirar sarro de mim mesma. "Leão v. Águia," corri para completar.

Seus olhos arregalaram na hora, logo apertando na minha direção, como se buscasse em minha feição indícios de que eu estava brincando.

"Está bem," ela acabou dizendo, dando de ombros. "Mas nós vamos trabalhar na sua sala." E então ela deu as costas, foi até uma mesa e pegou alguns papéis, um celular e o que devia ser uma agenda eletrônica também e começou a andar na direção do corredor, parando só para me perguntar: "Você vem ou não?"



Seu nome é Savanah Edwards, foi a primeira de sua classe na Universidade de Yale, mas cresceu em Nova York e fazia questão de construir carreira aqui. Ela entrou na empresa no mesmo ano que eu e, apesar de não ter usado nenhuma palavra tão significativa, pareceu esperar que eu lesse algo mais nas entrelinhas.

"Então você não sabe mais ser advogada e precisa de alguém que faça todo o trabalho por você?" Ela questionou, depois que minha sessão de perguntas sobre ela tinha acabado.

"Não," corri para falar. "Só preciso de alguém para me ajudar no começo."

Não sabia se era verdade. Sentia em meu peito que provavelmente precisaria dela para sempre. Mas sorri e torci para convencê-la. Não teria coragem nem de sair dessa sala sozinha de novo, quem diria ir atrás de outro advogado.

"Se você diz," ela respondeu, como um jeito de aceitar sem se dar por vencida. "Mas eu faço questão de estar presente em todas as reuniões. E falar no tribunal se Lockwood nos deixar tomar a primeira cadeira."

"Feito," falei, sem hesitar. Não queria nem pensar na possibilidade de ter que falar com um juiz.

Ela me mirou por um tempo, como se me analisasse e tentasse descobrir se eu a estava enganando em alguma coisa. Devia ser algo bem especial para eu deixar que ela tomasse tão fácil.

"Não lembro exatamente como é estar dentro de um tribunal," admiti, apesar de não querer ter que explicar tudo desde o começo. "É melhor que você fale mesmo."

Ela assentiu, como se mal pudesse me ouvir, mas chegasse a uma conclusão em sua cabeça. "Então você perdeu a memória mesmo," falou, parecendo pensar em voz alta.

"Sim," ela não precisava da minha resposta, mas eu disse mesmo assim.

Savanah suspirou. "Uau," soltou, se ajeitando na cadeira, abaixando os olhos por alguns segundos e então voltando a me mirar. "Estávamos apostando que tinha criado essa desculpa só para fugir desse caso."

"Como é que é?"

"Ou quanto tempo você levaria essa história adiante. Sabe, porque achávamos que era só uma história qualquer."

"Não!" Agora eu estava realmente ofendida. "Quem faz esse tipo de coisa?"

Ela deu de ombros, apesar de aparentar ter uma resposta pronta que se forçava a engolir.

"E qual o problema desse caso?"

"Você não se lembra nem disso?"

"Eu perdi dez anos de memória," falei, me arrependendo logo em seguida. "Se esse caso não começou em 1989, eu não me lembro dele."

Eu esperava qualquer reação, qualquer uma. Menos a risada que ela tentou segurar e acabou soltando pela minha sala.

"Espera," pediu, uma mão tampando a boca só por alguns segundos. "1989? Quantos anos você acha que tem?"

"Vinte e seis," falei, cruzando os braços na defensiva. Por que tive que falar que esqueci de dez anos?

"Ah, sim. Claro," ela balançou a cabeça para si mesma. "Esquecer dez anos," falou, parecendo pensar outra vez em voz alta. "Que bizarro."

"Exatamente," rebati.

Qualquer rastro de sua risada foi desaparecendo, ela foi ficando mais séria, até respirar fundo, me mirar e perguntar: "Como aconteceu?"

"Acidente de carro."

Ela assentiu, como um sinal de que tinha entendido. "Você estava dirigindo?"

Assim que abri a boca, percebi que queria dizer que não sabia dirigir. Mas me parei a tempo.

"Não," falei ao invés. "Não sabem quem estava. Quem quer que fosse desapareceu antes que fosse descoberto."

Agora sim sua expressão divertida não dava nem sinal de já ter existido. De toda a tragédia na qual minha vida tinha se tornado, aquela parecia ser a mais séria para ela. E ainda era a que eu mais queria esquecer.

"De qualquer jeito," falei, respirando fundo e olhando no meu relógio de pulso. "Quem é o casal desse caso?"

Ela parecia ainda inclinada a continuar a conversa do acidente, mas acabou se dando por vencida. "Águia, como é conhecida por entre os corredores, é Kathlyn Ferris, personalidade da televisão. E o Leão é Adrian Ferris."

Foi inevitável franzir minhas sobrancelhas. "De onde eu conheço esses nomes?"

Savanah sorriu, um pouco convencida.

E então inclinou-se para a frente, alcançando o porta-retratos que estava deitado na minha mesa. "Daqui," ela disse, me indicando a foto que Max e eu dividíamos com um casal. "Esse é Adrian Ferris. Companheiro de time do seu noivo."

Tirei o porta-retratos da sua mão na hora. "Não," falei, baixo e para mim.

Mas ela ouviu. "Sim," disse. "Até agora, nós estamos conseguindo manter fora da mídia. Mas logo será impossível."

"E por que vai a tribunal?" Perguntei, enquanto ainda tentava reconhecer algum mínimo detalhe da mulher que me abraçava na foto. "Por que não conseguem decidir sem precisar se apresentar a um juiz?"

"Uma palavra," Savanah disse. "Filhos."

Mesmo que ela quisesse falar outras, na mesma hora a porta do meu escritório se abriu. Nunca soube nada direito sobre escritórios, mas a minha assistente não deveria ter me avisado antes?

O homem que passou pela porta não parecia achar que precisava daquilo. Ele sorriu de orelha a orelha ao dar passos largos e certeiros até chegar ao meu lado. "Bridget," disse com convicção como se precisasse provar que me conhecia ou só cancelar qualquer outra conversa que se atrevesse a começar ali. "Já estávamos com saudades de você!"

Sua mão enorme ao meu lado esperava uma reação. A primeira coisa que eu fiz foi olhar para Savanah, que discretamente revirava os olhos sem paciência e sem parecer estar afim de me ajudar a reconhecê-lo.

"Eu também estava," falei, me levantando como podia e aceitando sua mão.

Logo aquele aperto virou um abraço ainda mais desconfortável.

"É bom tê-la de volta," ele disse, ao me soltar. Seu rosto parecia familiar, mas ele não parava de se mexer por tempo o suficiente para eu reconhecê-lo. "E bem a tempo, hein?" Apontou rapidamente seu dedo para mim, e, apesar de seu jeito descontraído, só me fez sentir ainda mais deslocada. "Adrian Ferris insiste em tê-la no seu time!"

Sua risada pela referência nada cômica ecoou pela sala enquanto ele desviava os olhos e encontrava Savanah pela primeira.

"Edwards," falou rapidamente.

E então ela respondeu, me indicando pela primeira vez quem ele era. "Schmidt."

Senti minhas pernas amolecerem na hora.

Schmidt. O primeiro dos nomes da empresa. O mais importante. Aquele que tinha começado tudo.

Por isso eu não o reconhecia, mas ele ainda era familiar! Tinha pesquisado na rede sobre a empresa, mas sua foto no site devia ser bem do começo, quando ele ainda era muito mais novo!

Ele olhou para mim enquanto eu ainda tentava compreender como era importante tê-lo ali, esperando uma resposta ou uma reação minha.

"É-é uma honra," sorri para disfarçar minha confusão, e ele nem pareceu perceber.

"Ah, não seja modesta," rebateu, apoiando sua mão pesada nas minhas costas como um técnico faria com seu jogador. "Você nos trouxe nossa maior conta! Aliás, as duas maiores," ele me olhou de lado, a proximidade de toda sua pessoa me fazendo encolher, "e dos dois maiores craques do Jets. Aliás," me soltou de uma vez, segurando meus ombros com as duas mãos e me mirando como quem realmente estava preocupado. "Como vai Max? Deve ter ficado arrasado!"

Depois de tanta confusão, senti aquele momento paralisar no tempo, de tão repentino e absurdo que era. Tudo acontecendo tão rápido, o sócio mais importante da empresa logo na minha frente, com uma intimidade que eu antes não daria para quase ninguém, falando quase sozinho, sem nem me deixar raciocinar, e agora finalmente deixando que o silêncio reinasse na sala. Até Savanah devia me observar, esperando minha resposta. Mas era o único momento em que eu podia parar, respirar e tentar pensar. Ou chegar perto disso.

Pude ver os segundos que eu gastava e prolongava sendo refletidos nos olhos de Schmidt, que a cada um estranhava mais minha falta de reação. Ainda que eu quisesse criar frases, usar as já estudadas ou falar qualquer coisa mesmo, nada parecia sair da minha boca. Schmidt até me soltou antes que eu conseguisse me recuperar.

"Está tudo bem, Bridget?" Perguntou, me olhando como se minha falta de reação fosse ofensiva a ele.

"Sim," isso, pelo menos, consegui falar.

E, ainda que não ele não tivesse feito muita questão de dar atenção para ela até então, foi Savanah que o respondeu.

"Ela sofreu um acidente, perdeu a memória," disse. "Ainda está tentando se localizar."

"Ah, sim," ele assentiu, pensativo e bem mais calmo do que antes, bem menos intenso, talvez até decepcionado. "Claro, claro. Eu entendo," e então ele virou de volta para mim, agora evitando me tocar. "O que você precisar, pode vir me falar, está bem? Queremos fazer sua volta ser o mais agradável possível."

Não saberia dizer se estava sendo sincero ou não. Mas, naquela hora, não importava.

"Está bem," respondi, já torcendo e contando os segundos para ele sair dali.

Ele logo achou que era a hora, começando a dar passos laterais, desconfortável e provavelmente sem saber como agir com aquela situação. Só parou na porta para me pedir para mandar lembranças a Max e dizer que eles precisavam marcar outra sessão de golfe. E então deixou que Savanah e eu ficássemos sozinhas outra vez.

Eu me soltei com tudo na poltrona, bufando meu nervosismo.

"Quando foi que minha vida ficou tão confusa?" Perguntei, ainda tentando acreditar que tudo aquilo tinha acontecido.

"Se quiser trocar, estou aqui," ela levantou a mão no ar, logo a abaixando e abrindo a primeira das pastas do caso do companheiro de time de Max.

E, por alguma razão que não eu consegui identificar, tive a impressão de que falava sério. Muito sério.

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